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CAPÍTULO 1: MÍDIA, SOCIEDADE EEDUCAÇÃO

1.2 MÍDIA E SOCIEDADE

A todo momento a espécie humana vem sendo surpreendida por constantes inovações da área tecnológica, sobretudo aquelas oriundas da eletrônica e da informática, que possibilitam, entre outras coisas, produzir, processar, transmitir e acessar um volume imenso de informações. Neste momento impar de nossa trajetória, encontramo-nos frente a frente com a era das intercomunicações.

Dowbor (2001) afirma que, se o século XX foi o século da produção industrial, dos bens de consumo duráveis, da produção em grande escala, o século XXI ficará marcado na história como o século da informação, da sociedade do conhecimento.

Essa grande quantidade de informações que nos chega diuturnamente através dos diferentes meios de comunicação, ao mesmo tempo em que nos causa certo atordoamento, permite-nos estabelecer, mesmo que de forma fragmentada, uma maior relação de intimidade com temas e assuntos antes dominados por alguns poucos especialistas. Assim tem sido nos campos da ciência, da tecnologia, da política, da educação, das artes, dos esportes, das relações internacionais e, mais recentemente, nos assuntos que envolvem as questões ambientais.

Segundo Coleman (1996, p. 14):

[...] esta interligação eficiente de pessoas, ideias e situações, a obtenção de novos padrões de conhecimentos, o reforço das identidades grupais, a possibilidade de pessoas poderem partilhar uma perspectiva comungante de acontecimentos nacionais ou internacionais de grande alcance, se caracterizam como vantagens decorrentes dos avanços proporcionados pelo fortalecimento dos meios de comunicação de massa.

No entanto, um dos grandes problemas que necessita ser enfrentado, na visão de Coleman (1996, p. 15), é a forma como a mídia

tem tratado as questões de interesse social. Para ele:

[...] a mídia não tem cultivado abordagens em profundidade, conspirando algumas vezes contra a densidade do que é histórico, excitando o preenchimento do tempo com novos e ligeiros conteúdos ou com entretenimentos inconsequentes, estabelecendo um ritmo de imagens e textos que condiciona um rápido deslocamento da atenção, evitando que seus usuários pensem acerca do que assistem e vivenciam.

Essa parece ser também a posição de Costa (2002 apud MORAIS, 2004, p. 134), quando afirma que o que transparece para a sociedade é a dificuldade cada vez maior de atribuir sentido ao grande número de noticias, dados, informes e imagens que não cessam de chegar a todo instante.

Esses posicionamentos levam a crer que um dos grandes problemas vivenciados pela sociedade em sua relação cotidiana com a mídia não está no fato de esta dispor de muitas ou poucas informações, mas sim em conseguir depurá-las, para que possam ser adequadamente utilizadas. Diante de tantas informações irrelevantes e desconexas, é preciso que as pessoas estejam preparadas para saber identificar quais serão mais úteis ao atendimento de seus interesses, sejam estes individuais ou coletivos.

De acordo com Morais (2004), essa multiplicidade de fatos informativos não resulta necessariamente num aperfeiçoamento do cidadão, nem em seu conhecimento sobre o mundo. Para ele, é essa avalanche de informações que dificulta nossa capacidade de discernir e entender a complexidade do mundo moderno, com um olhar sobre as coisas que são essenciais.

Bianchetti (2001, p. 57) destaca que uma grande quantidade de informações disponibilizadas à população não se traduz necessariamente em garantia de conhecimento. Sobre o excesso de informações, o autor comenta que mesmo nos países ricos, em que se dispõe de muitos meios e cuja população tem facilidades em acessá-las, isso não resulta na aquisição de conhecimentos. Argumenta que, assim como a luz em excesso cega e barulho acima de determinado número de decibéis ensurdece, pode-se afirmar que um grande volume de informações acaba intoxicando.

tona uma grande variedade de fatos e acontecimentos, em muitas situações de maneira fragmentada e descontextualizada e numa velocidade cada vez maior, pode vir, no meu entendimento, contribuir para ampliação do processo de alienação da sociedade. Na medida em que se estabelece esse permanente bombardeio de informações, torna-se cada vez mais difícil fazer com que os indivíduos reflitam sobre os problemas reais em que estão envolvidos e que busquem alternativas para solucioná-los.

Tal preocupação também é manifestada por Morin (1986, p. 31). Ao discutir a direção e os métodos adotados pelos meios de comunicação, o autor afirma que estamos sendo submetidos a três males: a super-informação, a sub-informação e a pseudo-informação.

Ao utilizar a expressão super-informação, o autor quer se referir à superabundância de informações a que estamos sendo submetidos todos os dias através da mídia. Para ele, esse excesso acaba abafando a própria informação, pois ficamos sujeitos ao rebentar ininterrupto de acontecimentos sobre os quais não temos nem tempo de meditar, porque são logo substituídos por outros. Para Morin (1986, p. 31), enquanto a informação dá forma às coisas, a super-informação nos submerge. Ao invés de vermos, de percebermos os contornos, as arestas, daquilo que os fenômenos trazem, ficamos cegos dentro de uma nuvem de informações.

Ao se referir à sub-informação, o autor deixa claro tratar-se da informação desqualificada, vazia de conteúdo, por vezes incompleta, empobrecida, descontextualizada. É possível relacionar esse tipo de informação à que se limita em confirmar aquilo que é previsível.

Ao estabelecer a expressão “pseudo-informação”, Morin (1986) atribui a esta significados como desinformação ou contra-informação. De acordo com Wels e Simões (2004), o termo pseudo-informação usado por Morin (1986), traduz a idéia de falso, em oposição à característica de verdade que deve estar contida na informação de qualidade.

Apesar de considerar que não existem testes para detectar a boa e a má informação, a verídica e a falsa, Morin (1986) afirma que é possível superar essa questão ao se estar atento às informações, lendo e discernindo seus conteúdos, mesmo que para isso seja necessário um difícil e aleatório esforço de decodificação.

Não obstante todas essas preocupações manifestadas em relação à forma de atuação dos meios de comunicação de massa em seu relacionamento cotidiano com a sociedade, uma questão que não pode

ser negada é a de que jamais a humanidade assistiu à tão profunda evolução como a que se verifica nos últimos anos, com a implantação e o fortalecimento dos sistemas comunicacionais em nível global.

De acordo com Fernandes e Sousa (2002), os meios de comunicação têm imprimido velocidade, ubiquidade e penetrabilidade às mensagens, tornando-as poderosas em escalas e níveis jamais alcançados. Para esses autores, “hoje, mais do que nunca, a mídia tem exercido um fascínio sobre os indivíduos, e consequentemente sobre as relações sociais, políticas e econômicas. “Sobre essa questão argumentam que:

[...] a participação dos meios de comunicação na difusão do conhecimento é mediática, ou seja, atuam como referencial do mundo exterior, um sistema de representações que interage com o conhecimento pessoal direto, adquirido pelo indivíduo, por meio de sua formação cultural, convivência social e experiência própria (FERNANDES; SOUSA, 2002, p. 2).

Nessa mesma linha, Morais (2004) afirma que a mediação promovida pela mídia desempenha um papel significativo na sociedade contemporânea. Atribui essa importância ao fato de a mídia constituir e difundir representações sociais que contribuem para formar condutas, orientar as comunicações sociais e estabelecer um conjunto de princípios construído interativamente e compartilhado pelos diferentes grupos sociais para compreender e transformar a realidade.

Essa mediação defendida por Morais (2004), somente se consolida e se fortalece quando a mídia, ao exercer sua função de informar e de divulgar os acontecimentos, o faz observando princípios que favoreçam a participação da sociedade nas questões que dizem respeito a seus interesses e a suas necessidades.

De acordo com Abreu (2006), é através da mídia que grande parte da população toma conhecimento de aspectos da realidade à qual não tem acesso direto através da experiência. Nesse sentido é possível afirmar que a mídia, com toda sua força e penetrabilidade, contribui efetivamente para a interação de diferentes grupos sociais, ainda que essa interação não seja partilhada no mesmo ambiente espacial/temporal.

Sandano (2007, p. 7) reforça os posicionamentos anteriores ao afirmar que:

[...] a mídia contribui para a abertura de relações sociais intra-grupais, como as que urgem ser estabelecidas entre a sociedade urbana e a sociedade rural, entre os que percorrem o espaço globalizado na temporalidade do instantâneo e os que vivenciam a temporalidade dos ciclos naturais em um espaço geograficamente definido.

Para esse autor, é através da mediação exercida pela mídia que se ampliam os canais de diálogo que favorecem o exercício da cidadania entre os grupos sociais organizados e os que ainda não possuem meios de vocalizar suas ideias, medos, anseios, dilemas, alegrias e problemas.