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EF Perus-Pirapora e Cia Brasileira de Cimento Portland S.A

Foto 28 Exemplo de instalação de banheiro seco na residência de um dos moradores da

4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.2 Histórico de Ocupação da Região

4.2.5 EF Perus-Pirapora e Cia Brasileira de Cimento Portland S.A

A Estrada de Ferro Perus-Pirapora (Figura 10) tem sua história vinculada às explorações de cal na região compreendida entre Caieiras e Cajamar concentradas,

principalmente, no bairro do Gato Preto, na altura do km 36 da via Anhanguera, pela família dos Beneducci, na propriedade de Arthur Moraes Jamebiro Costa.

Segundo Siqueira (2001):

(...) em 1909, um grupo de empresários – Clemente Neidhart, Mario Tibiriçá e Sylvio de Campos – criam com os Beneducci, uma empresa mista para exploração da cal produzida no Gato Preto. Com o intuito de transportar o produto final até a estação Perus solicitaram autorização ao Governo do Estado para construir uma ferrovia ligando a Estação de Perus ao distrito de Pirapora[64] com o alegado objetivo

de atender os romeiros que se dirigiam ao santuário. Os pleiteantes aventavam, também, a possibilidade de posteriormente prosseguir rumo a Parnaíba e Jundiuvira, localidade às margens do Rio Tietê. Em abril de 1910,[65] o Estado deu a concessão para a formação da Cia. Industrial Estrada de Ferro Perus a Pirapora

Os trabalhos de construção foram realizados entre 1911 e 1914, com os trilhos implantados em paralelo ao leito do Rio Juquery e do Córrego Ajuá (ou Perus), seu afluente. Entretanto, pouco depois do km 15, a linha foi bruscamente desviada para o Norte, na direção do bairro de Gato Preto, área então sob jurisdição do Município de Parnaíba, em flagrante contradição com o processo 39-7-1909. O suposto destino ficaria apenas no nome: Companhia Industrial Estrada de Ferro Perus-Pirapora (CIEFP), depois Estrada de Ferro Perus-Pirapora (EFPP). (SIQUEIRA, 2001, p.25- 26)

Conforme consta nos dados fornecidos em documento da própria Companhia25, “em agosto de 1924 formou-se a Companhia Brasileira de Cimento Portland S. A., numa sociedade composta de brasileiros, com interesses ligados a Companhia Industrial Estrada de Ferro Perus-Pirapora, e os associados do doutor M. M. Smith, sendo então nomeado o seu primeiro presidente, o doutor Sylvio de Campos, o Doutor Arthur Moreira Jambeiro Costa para vice-presidente e o Dr. Smith para o cargo de diretor-gerente”.

As atividades foram iniciadas em 1926, mesmo ano da venda da ferrovia aos proprietários canadenses da fábrica de Perus. No ano anterior, havia sido aberta a pedreira em Água Fria, que até então pertencia ao município de Santana de Parnaíba. Na década de 1940, devido à existência de outro distrito no município de São Paulo com o mesmo nome, Água Fria passa a ser denominado como Cajamar.

A eletricidade necessária ao funcionamento da fábrica, com exceção dos setores alimentados por queima de óleo combustível, como no caso dos fornos, demandava uma linha de alta tensão da Light & Power Company, com o qual Sylvio de Campos26 tinha relações

25 Informação obtida a partir do trabalho de Siqueira (2001); a fonte dos dados descritos referem-se ao documento da

Companhia Brasileira de Cimento Portland Perus datado dos anos de 1920, reproduzido no nº 35 do Jornal de Perus/Jornal do Jaraguá, setembro de 1987, p. 1

26Conforme apresenta Siqueira (2001): “Dr. Sylvio de Campos” (1884-1962). Advogado formado pela Faculdade do Largo

São Francisco, deputado federal eleito pelo Partido Republicano Paulista (l924-30) e, novamente, em 1946-51; Constituinte em 1946; Sylvio era filho de Bernardino de Campos, Presidente do Estado em 1902-1904, e irmão de Carlos de Campos, ocupante do mesmo cargo em 1924-l927. Seu curriculo enquanto lider empresarial inclui participação na criação na Light e no planejamento de grandes avenidas do Prefeito Prestes Maia nos anos 30/40. (DPH, 1992, p. 40; Gordinho, l990, p. 48-56, FGV, 1984).

muito próximas. Dessa forma, foram construídos ramais a partir do tronco Parnaíba-Jundiaí, inaugurado em 1921. O trecho entre Caieiras e Perus foi concluído em 1925. A energia vinha da usina hidrelétrica de Parnaíba Edgard de Souza.

Surgiram, então, vilas operárias, em Perus, nos anos de 1920 e 1930 (Vila Triângulo, Vila Portland; Vila Operária, Vila Inácio e Vila Hungaresa), em função da expressividade populacional, Perus foi transformado em Distrito de Paz, em 1934, separando-se do da Freguesia do Ó27.

Em relação ao padrão de ocupação urbana, Caio Prado Jr. (1989) apud Siqueira (2001) observa que em l935:

(...) em outras direções de São Paulo, norte, nordeste, leste, para os lados da Serra da Cantareira, Guarulhos e Mogi das Cruzes, os arredores da cidade também se animam, mas em ponto menor e com caráter às vezes diverso... Veem-se mais hortaliças, sobretudo para os lados de Mogi; as frutas, na Serra da Cantareira; as flores, nos arredores e nas proximidades de Guarulhos. E, ao lado dessa atividade agrícola, aparecem... núcleos de povoamento operário. São pequenos satélites esparsos da cidade, para cujas industrias convergem diariamente os seus habitantes, e que, embora isolados do campo e afastados do centro, são antes bairros urbanos do que distrito rurais, porque as habitações se erguem ali em terrenos vazios, onde nenhuma cultura ou outras instalações denotam o aproveitamento agrário da região. Essa fixação de populações nitidamente urbanas, operarias na maioria, em zonas que pareciam a primeira vista mais próprias para núcleos rurais explica-se pelas linhas da Central do Brasil, que comunicam essas zonas diretamente com o principal setor industrial de São Paulo, que se estende dentro da cidade ao longo da estrada de ferro. (PRADO JUNIOR, l989, p. 85-6)

Assim, a exploração do minério em Cajamar originou os primeiros núcleos habitacionais, as vilas residenciais dos operários. A primeira vila foi construída ao lado da pedreira dos Pires, já demolida; depois, foi construída a Vila do Acampamento e por último a Vila Nova.

Segundo Schneider (2008) o controle de preços do cimento por parte do governo federal, forçou a campanha, de capital estrangeiro, a vender a empresa em 1951. Interessaram- se pela compra o Grupo Francisco Matarazzo, o Grupo Votorantin, e José João Abdalla, então secretário do Trabalho do governo Ademar de Barros. A família J.J. Abdalla se tornou proprietária da fábrica.

Siqueira (2001) retrata, em seu trabalho de pesquisa, as greves operárias da Companhia de Cimentos Portland Perus, que, a partir de 1951, tem seu controle acionário transferido para o Grupo Abdalla. A essa época, a expansão da capacidade produtiva, alienada da ampliação da infraestrutura de alimentação, submetendo o maquinário a níveis destrutivos de operação, levantaram uma série de questionamentos, por parte dos operários, quanto à

forma de gestão da empresa. Houve, então, a adoção de um plano de medidas técnicas alternativas, implementadas pelos trabalhadores, gerando uma situação de dualidade de poder dentro da companhia.

Em 1962, uma greve iniciada em solidariedade a trabalhadores de outras firmas de Abdalla derivou para uma luta direta pela desapropriação de Perus com vista a implantar uma cogestão Estado/Operários. A paralisação foi derrotada, com profundas sequelas no meio popular, parcialmente sanada com a reintegração dos operários estáveis em 1969. A esta altura, porem, o futuro da fábrica já estava comprometido pelo desgaste dos equipamentos, quadro que o confisco federal em 1973 não reverteu. A empresa voltaria para a iniciativa privada em 1980 já praticamente liquidada, e funcionaria de forma agonizante até o fechamento em 1987. (SIQUEIRA, 2001, p.03)

Em relação ao desfecho histórico da empresa, assim Schneider (2008) apresenta: Com o desenvolvimento da cidade de São Paulo, o bairro de Perus, que cresceu ao lado da fábrica, começou a ter sérios problemas de poluição; era muito grande a quantidade de pó expelido pelas chaminés da fábrica, em virtude dos equipamentos obsoletos. Em 1974, a companhia foi incorporada ao patrimônio nacional, e na década de 1980 foi adquirida por um consórcio de empresas. Todavia, nessa mesma década, encerrou as atividades; movimentos populares e o Ministério Público exigiam o fim da poluição provocada pela fábrica. (SCHNEIDER, 2008, p.24)