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Os sistemas produtivos da Comuna da Terra “Irmã Alberta”

Foto 28 Exemplo de instalação de banheiro seco na residência de um dos moradores da

4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.2 Histórico de Ocupação da Região

4.3.5 Os sistemas produtivos da Comuna da Terra “Irmã Alberta”

No período de 2011 e 2012 foram realizadas entrevistas qualitativas, cujo modelo segue nos Anexos, para o levantamento de dados referentes aos sistemas produtivos adotados nos lotes individuais e nas áreas de produção coletiva; caracterização do meio físico; bem como o perfil socioeconômico das famílias. Alguns moradores negaram-se a responder e outros estavam ausentes nos dias de campo.

A área de produção coletiva destinada a cada família assentada equivale a 10.000 m2, em geral, agrupadas em áreas contíguas em cada núcleo do assentamento. A área de produção individual corresponde a cerca de 5.000 m2.

Embora a Comuna da Terra tenha em sua proposta a busca por um modelo de agricultura menos agressivo ao meio ambiente, confere-se que o modelo de agricultura convencional pautado no uso de insumos sintéticos, sementes híbridas, manejo convencionais, como o gradeamento e tombamento do solo é a prática mais usual por parte dos assentados. Há ainda, a aplicação de corretivos de acidez e adubação, que ocorrem antes do plantio subsequente. As informações acerca dos insumos empregados foi sintetizada no Gráfico 01, a seguir.

Nota-se que há uma combinação de técnicas convencionais, como o uso de herbicidas e fertilizantes químicos, e de técnicas advindas do sistema de produção orgânica, como o uso de caldas e da adubação verde, por exemplo.

Gráfico 1 - Tipos de insumos utilizados na produção agrícola, na Comuna da Terra “Irmã Alberta” e respectivos núcleos, distrito de Perus, município de São Paulo/SP.

A prática da agricultura orgânica é expressiva, sobretudo nos Núcleos 02 e 03, que apresentam melhores condições topográficas, não necessariamente edáficas, além de

constituírem, inclusive, famílias mais articuladas em torno da produção excedente e não somente de subsistência, como no caso do Núcleo 04 (Gráfico 02).

Gráfico 2 - Relação dos sistemas produtivos utilizados na Comuna da Terra “Irmã Alberta” e respectivos núcleos, distrito de Perus, município de São Paulo/SP.

A maior parte da produção é destinada ao próprio consumo, sobretudo hortaliças, legumes e frutas, sendo o excedente comercializado. Entretanto, algumas famílias dedicam-se à comercialização desses gêneros alimentícios, além da produção de grãos, principalmente feijão e milho, cultivados nas áreas de produção coletiva do assentamento (Gráfico 03).

Gráfico 3 - Principais atividades agropecuárias desenvolvidas pelas famílias da Comuna da Terra “Irmã Alberta”, distrito de Perus, município de São Paulo/SP

Em termos de aproveitamento da área de produção coletiva, nota-se que, principalmente, as famílias do Núcleo 01 e 02 utilizam mais intensamente essa área (Gráfico 04). Uma das razões pode estar relacionada ao fato de serem as regiões com topografia mais favorável para a utilização de maquinário no preparo do solo, facilitando o plantio em áreas mais extensas.

Gráfico 4 - Percentual de famílias que trabalham na área de produção coletiva, na Comuna da Terra “Irmã Alberta”, distrito de Perus, município de São Paulo/SP.

Os moradores do Núcleo 04 justificam a subutilização dessas áreas devido à distância dos lotes individuais em relação à área de produção coletiva e às dificuldades topográficas do terreno, que impedem o uso de maquinário na preparação do solo. Destacam, ainda, que a lavoura na área coletiva é caracteristicamente inferior, em termos de qualidade e apresentação do produto, configurando num valor comercial reduzido. De fato, como serão discutidos mais à frente, os solos dessa região do assentamento são mais rasos e pedregosos e possuem impeditivos naturais a uma produção mais vigorosa.

A adoção da agricultura orgânica como princípio é opção de poucos. Muitos a praticam por falta de alternativa, na ausência de recursos que disponibilize o acesso aos insumos modernos. Estamos aqui, diante do quadro que trata Caporal & Costabeber (2004):

É preciso ter clareza que a agricultura ecológica e a agricultura orgânica, entre outras denominações existentes, conceitual e empiricamente, em geral, são o resultado da aplicação de técnicas e métodos diferenciados dos pacotes convencionais, normalmente estabelecidos de acordo e em função de regulamentos e regras que orientam a produção e impõem limites ao uso de certos tipos de insumos e a liberdade para o uso de outros (...) uma agricultura que trata apenas de substituir insumos químicos convencionais por insumos “alternativos”, “ecológicos” ou “orgânicos” não necessariamente será uma agricultura ecológica, em sentido mais amplo (...) a simples substituição de agroquímicos por adubos orgânicos mal manejados pode não ser a solução, podendo inclusive causar outro tipo de contaminação. (Caporal & Costabeber , 2004,p.10)

De fato, embora haja um manejo diferenciado da proposta convencional de produção agrícola, não necessariamente estamos diante de um manejo mais holístico e “sustentável” dos recursos naturais.

Em relação ao escoamento da produção (Gráfico 05), percebe-se que a produção para subsistência é de peso preponderante, embora muitos pratiquem a venda direta dos seus produtos e alguns poucos consigam via convênio com a CONAB, através do encaminhamento dos gêneros alimentícios em parceria com outros assentamentos em situação já regularizada, o que torna viável tal transação comercial. Isso porque, sem a legitimação da posse da terra, a formação de uma Associação entre os camponeses da Comuna da Terra “Irmã Alberta” não é permitida, e é necessária a existência de tal entidade para a emissão de nota fiscal, por exemplo, que é exigida na comercialização dos produtos com a CONAB.

Gráfico 5 – Escoamento da produção na Comuna da Terra “Irmã Alberta” e seus respectivos núcleos, distrito de