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Foto 28 Exemplo de instalação de banheiro seco na residência de um dos moradores da

4. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

4.2 Histórico de Ocupação da Região

4.2.3 Mineração Paulista e Exploração Canavieira

De acordo com Alfredo Ellis Junior, uma das primeiras atividades exploratórias na região refere-se ao ouro encontrado em 1590, no Pico do Jaraguá e no Córrego Santa Fé - cujas nascentes situam-se na encosta da montanha. A exploração inicialmente foi realizada pelos Affonso Sardinha (pai e filho com o mesmo nome) e por Antonio Bicudo Carneiro. (Ellis Junior, 1942, p. 111-2)

Saint-Hilaire (1976) notou também que:

(...) durante todo o século XVII foram retiradas consideráveis quantidades de ouro das minas do Jaraguá, tendo elas sido apelidadas – segundo se afirma – de Perus do Brasil. Ainda estavam sendo exploradas quando o inglês Mawe as visitou... e, embora Kidder não tenha notado nenhuma atividade nelas em 1839, e pouco

20A Construtora Albuquerque & Takaoka, pertencente aos sócios Renato Albuquerque e Yojiro Takaoka. Alphaville, empresa

do setor imobiliário responsável pela construção e gerenciamento de uma rede de conjuntos habitacionais e empresariais de alto padrão no Brasil, possuindo o maior conjunto brasileiro de condomínios de luxo: o bairro de Alphaville. O condomínio foi fundado há mais de 35 anos quando Yojiro Takaoka e Renato de Albuquerque, formados pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, compraram um terreno para abrigar indústrias e casas, destinado aos funcionários da então recém-inaugurada rodovia Castelo Branco.

provável que nessa época elas tivessem inteiramente abandonadas. (SAINT- HILAIRE, 1976, p. 113-20)

Embora, alguns autores afirmem ser próspera a produção aurífera na região, como por exemplo, Daniel Parish Kidder que aponta as minas de ouro do Jaraguá como sendo as primeiras descobertas do Brasil, Affonso d’Escragnolle de Taunay (2004) assegura que a história constitui-se um mito. Entretanto, Kidder (1980) garante que essas mesmas minas produziram muito durante a primeira metade do século XVII, e as grandes quantidades de ouro que foram encaminhadas para a Europa deram para a região o cognome de segundo Peru21, derivando posteriormente o nome do Distrito de Perus. Segundo afirma o mesmo autor, tiveram o mérito de incentivar a exploração do interior da qual resultou a localização de diversas zonas auríferas em Minas Gerais.

Taunay (2004) constatou que o empreendimento minerador dos dois Sardinha começou precisamente em 1597, em sociedade com o Sr. Clemente Alves. Para o autor, a qualidade auferida à exploração mineradora da região tratava-se de uma “miragem americana”, identificada, por exemplo, pela vinda a São Paulo de uma comissão governamental de alto nível, acompanhada de técnicos, para estudar in loco as jazidas do Jaraguá (Taunay, 2004). É provável que a mineração do Jaraguá e proximidades não tenha sido, de fato, tão abundante, pois não constituiu um atrativo demográfico, como foi outrora na região de Minas Gerais no século XVII, como afirma Ellis Junior:

Entretanto, o fato da mineração paulistana, no Jaraguá e proximidades, não teve grande repercussão na evolução histórica de São Paulo sua população não teve surtos de progresso em virtude dessa mineração. Sua economia não ofereceu manifestações de euforia em matéria de conforto, as quais seriam visíveis se tivesse havido. Enfim, tudo nos denuncia que... [a] mineração planaltina (...) foi apenas um leve arranhão na vida econômica paulistana. (ELLIS JUNIOR, 1942, p. 112-3.) Siqueira (2001) relata que havia na região, aonde atualmente é município de Cajamar, a Fazenda dos Pires (Figura 14), de grandes proporções, no século XVII, bastante florescente em 1682 e que, posteriormente, receberia acréscimos de outras terras no Vale do Rio Juqueri. A propriedade pertencia a Salvador Pires Medeiros, capitão da gente de São Paulo, dedicada à produção vinícola.

Souza (1984) menciona que a Fazenda Ajuá, pertencente ao paulista Domingos Dias da Silva, era tida como uma das maiores fazendas de cereais nas cercanias da Capital no

21 "Segundo Peru", "Peru do Brasil, denominações cuja popularidade rivalizava com o topônimo oficial da região no Período

começo do século XVIII. Em 1720, o capitão-mor Isidoro Tinoco de Sá obteve autorização para ampliar os domínios que sua família possuía no bairro desde 1600.

Segundo Giesbrecht (2009), nos séculos XVII e XVIII, Santana de Parnaíba conheceu certo desenvolvimento, devido o emprego da mão-de-obra indígena e pela chegada de famílias “importantes”, como, por exemplo, a dos Pires, mencionada acima, e a dos Taques.

Guilherme Pompeu de Almeida, pertencente à família Taques, era irmão de Pedro Taques de Almeida, morto no conflito entre as famílias Pires e Camargo22, que motivou a partida de muitos partidários de Taques a se estabelecer em Parnaíba, e deflagrou a expulsão dos jesuítas da capitania. Guilherme Pompeu de Almeida foi capitão-mor da vila de Parnaíba e possuía propriedade na região do Morro do Voturuna, terra de antiga extração de ouro e ferro, conforme Giesbrecht (2009) apresenta em sua pesquisa.

De acordo comLeme (1980), o capitão Guilherme Pompeu de Almeida:

(...) viveu abastado no território de São Paulo, sendo um dos primeiros cavalheiros que na própria pátria desfrutava o maior respeito (...) viveu abundante de cabedais com grande tratamento e opulência em sua casa. A copa de prata que possuía excedia de 40 arrobas, porque os antigos paulistas costumavam penetrar os vastíssimos sertões do rio Paraguai e, atravessando suas serras, conquistando os bárbaros índios seus habitantes, chegavam ao reino do Peru e às minas do Potosi, e se aproveitavam da riqueza de suas minas de prata, de que enobreceram suas casas”. (...) fundou no território da vila de Parnaíba a Capela de Nossa Senhora da Conceição, no morro do Vuturuna, e a dotou com liberal mão, constituindo-lhe um copioso patrimônio em dinheiro amoedado, escravos oficiais de vários ofícios, e todos com rendas para o exercício de suas ocupações (...) foi lavrada escritura em Parnaíba em 1687, determinando que na sua descendência se conservasse a administração da dita capela, sendo primeiro administrador o reverendíssimo doutor padre Guilherme Pompeu de Almeida, seu filho § 1.º adiante, financiador das bandeiras e, por morte deste, Antonio de Godói Moreira, seu genro, a quem sucederia sua descendência. (LEME, 1980, p. 225)

22Afonso E. de Taunay em ENSAIOS PAULISTAS, 1958, caracteriza o conflito entre os Pires e os Camargos à semelhança

de uma guerra civil, em função da rivalidade entre os chefes dos chamados “clãs”, os quais de um lado João Pires e Pedro Taques, famílias parceiras, e do outro Fernão de Camargo, conhecido como o Jaguaretê ou Tigre. A contenda entre os Pires e os Camargos se arrastaria por duas décadas. Em função de tão prolongada luta 1640-1660 diminui no ritmo do bandeirantismo Ambos representam os mais importantes clãs da região, chefes políticos e militares, donos de enormes fazendas de trigo na serra da Cantareira. A rivalidade na disputa pelo comando da Câmara era a razão primeira do conflito. Havia uma hipertrofia de clãs ligados por laços de sangue. Os mais poderosos montavam verdadeiros exércitos particulares de escravos negros e índios, muito bem equipados e armados, para fazer valer seus interesses uns sobre os outros. A capitania de São Paulo dividiu-se em duas, tal o poder dos rivais. Só em 1660 o representante d’el Rei, o ouvidor Pedro de Mustre Portugal, conseguiu fazer os líderes Fernão Dias Pais, o caçador de esmeraldas, e José Ortiz de Camargo assinarem um acordo efetivo de paz. Nele estava expresso que os clãs, esgotados pela batalha, repartiriam igualmente os cargos na Câmara e o controle da vila. Um grupo de Camargos já havia se deslocado para a vizinha Santana de Parnaíba e para Taubaté na tentativa de se afastar da polêmica. ASSUNÇÂO, Moacir. Brigas entre famílias no Brasil Colônia duram até hoje. In: Revista

Aventuras na História, 08 de março de 2012. Disponível em http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/brigas-

O PE. Guilherme Pompeu de Almeida foi um grande financiador das bandeiras paulistas. Santana de Parnaíba era um núcleo exportador de mão-de-obra indígena para as demais capitanias, entrando muitas vezes em confronto com os jesuítas23.

Para Affonso de Taunay (1929):

São Paulo, no século XVII, foi o centro de um enxame de fazendolas de pequena cultura e de pastoreio de pequenos rebanhos... [que] se estendiam por Parnahyba, Araracariguama, Apotribu, Caucaia, Virapueiras, Quitauna, Cotia, Itapecerica, Jurububatuba, Itaquaquecetuba, São Miguel, Conceição dos Guarulhos, Tremembé, Orubuapira, (Guapira), Juquery e Atibaia. Este perímetro foi no seiscentismo a linha delimitadora da expansão paulista, não se falando dos pontos excepcionais mais longínquos, atingidos por um ou outro sertanista, que ai se ficava com sua gente, como procedeu Balthazar Fernandes, fundador de Sorocaba, seu irmão Domingos Fernandes, fundador de Itu, os Vaz Guedes Cardoso, que fundaram Mogi das Cruzes, Jacques Felix, que plantou os alicerces de Taubaté, e os Oliveira Cardoso que iniciaram Jundiahy. Esses foram casos que, escapando a regra geral, se isolaram no sertão formando novos núcleos de população. (TAUNAY, 1929, p. 164-7.) Ainda segundo Taunay, os gêneros produzidos no Planalto, sobretudo, trigo, milho, feijão, mandioca e vinho, eram típicos de pequena propriedade, para consumo da própria população local, o mesmo ocorrendo com a criação de gado. As únicas exportações eram algumas sobras de trigo e marmelada remetidas para o litoral.

No século XVIII, a Capitania de São Paulo em muito pouco se beneficiou com a descoberta das Minas, embora tenham sido fruto, principalmente por seus sertanistas, de maneira que somente com o ciclo paulista do açúcar que se seguiu a restauração política da Capitania, a produção do Planalto voltou-se para o mercado mundial.

Para Ellis Junior (1942), o ciclo canavieiro na capitania foi algo tão impactante que afirmou que, sem tal ciclo, teria sido impossível a expansão cafeeira e a conquista do Oeste do Estado. De acordo com o autor, o volume de produtos e bens para a Baixada Santista cresceu tanto que ensejou a pavimentação da velha trilha dos jesuítas na Serra do Mar em 1791-1792. No Planalto, a rede de caminhos seiscentistas ramificou-se pelo interior, levando o governo da Capitania, pouco antes da Independência, a estabelecer uma classificação das estradas com a finalidade de melhor administra-las.

Saint-Hilaire (1976) registra sinais do vigor do ciclo econômico vivido pela Capitania:

Durante essa jornada tornei a encontrar muitas tropas, umas levando açúcar para Santos, outras voltando de lá sem carga (...) numa estrada tão frequentada e por onde passa constantemente um tão grande número de tropeiros e de negros.(SAINT- HILAIRE, 1976)

As origens do subdistrito de Anhangüera, em Perus, também remontam a essas antigas plantações de cana-de-açúcar, existentes, especialmente, no bairro do Morro Doce e que serviam para produção de cachaça em alambiques.

Luiz d’Alincourt (1787- 1841), oficial de engenharia que, a caminho de Cuiabá, esteve em São Paulo no ano de 1818, e traçou a economia dos atuais distritos de Pirituba, Freguesia e Perus, como uma mescla da agricultura de subsistência seiscentista com uma produção comercial de aguardente.

Ainda, conforme Giesbrecht (2009), Parnaíba tinha pouca receita, sem uma agricultura forte, produzindo apenas para sua própria sobrevivência. A cidade exportava eventualmente apenas uma pequena produção de aguardente: a cana de açúcar era a lavoura mais comum por ali.

A vila de Parnaíba chega ao século XIX desenvolvendo poucas atividades econômicas, situação agravada ainda mais pela abertura de novas estradas que ligavam São Paulo a outras vilas e cidades sem passar por Parnaíba. Sofreu também o impacto de não ter havido em suas terras a substituição da cultura de cana-de-açúcar pela de café.

De acordo com Souza (1984), em l856, o Registro Paroquial de Nossa Senhora do O assinalava dezessete proprietários de terras no “Bairro do Ajuá”, antiga denominação do bairro de Perus. Em 1867 - ano de inauguração da Estação de “os Perus” da São Paulo

Railway - os grandes proprietários eram o Coronel Luiz Alves de Almeida e os senhores

Antonio Francisco de Aguiar e Castro, Candido da Cunha Brito (dono das fazendas Santa Fé e Itaberaba com 1300 alqueires), Hedwiges Dias de Oliveira e Jesuino Afonso de Camargo. O acesso facilitou a vinda de novos proprietários nas décadas seguintes: Antonio Maia, Di Sandro, Achiles Fanton, Ernesto Bottoni, Narciso Cagnassi, Leonardo Correia, Julio de Oliveira, Demetrio Vidal Lopes, Pascoale Peciccacco, Vasco Gazzo, Peregrino Lage, Pedro Albano, Joaquim Serpal, Sylvio de Campos e respectivos núcleos familiares.

Giesbrecht (2009) destaca que a produção agrícola, no ano de 1836, consistia em milho, café, feijão, arroz e algodão, além das criações de gado, na região da Vila de Santana de Parnaíba. A produção destinava-se, sobretudo, ao consumo doméstico, com exceção a pequenas exportações de açúcar bruto, aguardente de cana e toucinho, levados geralmente para Santos. Entretanto, o autor ressalta que essas viagens objetivavam trazer sal, vinhos, fardos de tecidos, ferragens, louças e vidros, sendo o que era levado como meras “encomendas de ocasião”. No último quartel do século XIX plantava-se cana de açúcar, algum café, milho, feijão e trigo e exportavam-se mil pipas anuais de aguardente, produzidas

em dezenove cilindros para moagem. Havia ainda, a exploração de caieiras e ferro, no Morro do Voturuna, desde o século XVII.