5. RESULTADOS
5.3. Efetividade da intervenção no contexto da prática clínica
5.3.1. Avaliação da aceitabilidade da intervenção
Dos 24 potenciais Centros de Saúde dos dois distritos, 17 aceitaram participar, o que representa 70,8% do total. Nessas unidades de saúde, 81,8% dos enfermeiros manifestaram interesse em participar do estudo. Em contraste com a alta taxa de interesse, a proporção de recrutamento foi menor do que esperada, uma vez que 48% dos enfermeiros interessados terminaram o programa de capacitação no grupo intervenção e 29,1% no grupo controle. A proporção de enfermeiros que participaram do estudo e que efetivamente implementaram a intervenção foi de 75% para o grupo intervenção e 42,8% para o grupo controle, que realizou apenas as medidas de consumo de sal e variáveis psicossociais.
Com relação aos pacientes, a proporção de pacientes que completou o seguimento de dois meses foi de 71,4% para o grupo intervenção e 16,7% para o grupo controle.
Debriefing
O debriefing foi realizado pela pesquisadora principal, por contato telefônico, com os pacientes que elaboraram os planos de ação e de enfrentamento de obstáculos. Foram feitas até três tentativas de contato, caso não fosse posível falar com o paciente, ele seria excluído do debriefing.
Dos 34 pacientes que elaboraram a intervenção, não foi possível contactar quatro devido à ausência de telefone e 11 pacientes devido a dificuldades durante os três telefonemas (não atendeu, caixa postal, ocupado ou telefone programado para não receber chamadas). Uma paciente se negou a responder às questões. Portanto, o
debriefing foi realizado com 18 pacientes.
O tempo médio de contato telefônico com cada paciente foi de 3,5 minutos (±0,07). Uma paciente referiu não lembrava da intervenção, pois fazia tempo que havia passado pela consulta de enfermagem e faltou em T2. Além disso, essa mesma paciente referiu também que não leu o folder, mas que o recebeu pela enfermeira. Por esses motivos, essa paciente foi excluída das análises do debriefing.
A maioria dos pacientes (n=13) não achou difiícil pensar em como, quando e onde iria reduzir o consumo de sal ou pensar nas barreiras e estratégias para sua superação (n=14). Seis pacientes não souberam responder o que foi mais importante – pensar em como, quando e onde reduzir o consumo de sal ou nas barreiras e estratégias de superação. Sobre esta questão, sete pacientes referiram que pensar em ‘como’ foi mais importante pois direcionava a ação e 3 pacientes avaliaram como mais importante pensar nas barreiras em nas estratégias para sua superação. Uma paciente já consumia menor do que 5g de sal por dia e elaborou estratégias para manter seu consumo dentro do recomendado.
Em relação às consultas de enfermagem, 15 pacientes julgaram o número de consultas suficientes, sete e 10 pacientes consideraram as consultas, respectivamente, importantes e muito importantes e 12 avaliaram como muito úteis. Nenhum paciente avaliou os contatos telefônicos. Uma paciente relatou que as consultas de enfermagem utilizando os planos de ação e de enfrentamento de obstáculos foram diferentes das consultas de enfermagem tradicionais, pois ela pôde esclarecer as dúvidas sobre o consumo de sal, as mudanças necessárias em sua alimentação, a substituição de alimentos e começar a ter uma dieta mais saudável. Ele disse que não diminuiu a adição de sal aos alimentos, mas sim o consumo de alimentos ricos em sal.
Cinco pacientes apresentaram dificuldades para retornar em T1 e T2 devido problemas de saúde relacionados à locomoção ou ao trabalho. Os fatores que mais motivaram a participação dos pacientes no estudo foram o diagnóstico de hipertensão e a necessidade da reução do consumo de sal para melhor controle da doença e o interesse em melhorar a alimentação. Apenas uma paciente não gostou de participar da pesquisa pois teve dificuldade em retornar ao Centro de Saúde e porque trabalha em restaurante, logo, ela consederou a mudança muito difícil.
Após participarem da interveção, os pacientes relataram, por meio do debriefing, que puderam aprender novos conteúdos sobre os malefícios do consumo excessivo de sal, como controlar o consumo desse nutriente e passaram a gostar mais dos alimentos preparados com menor quantidade de sal. Os pacientes perceberam e relataram também diminuição dos sinais de descompensação da hipertensão e redução do uso de medicamentos anti hipertensivos. Os pacientes referiram que aos poucos foram se adaptando a uma alimentação com menos sal e puderam reduzir o
consumo desse nutriente entre seus familiares, os ensinando a ter uma dieta mais saudável.
As sugestões para melhorias nas orientações foram expandir a intervenção para mais pacientes e colocar um cartaz no Centro de Saúde que contenha as informações descritas no folder informativo entregue na primeira consulta.
No que se refere à avaliação do folder, todos os participantes que responderam a esta questão (n=12) consideraram o material muito bom, pois é claro, simples e útil. Dois pacientes referiram utilizar o folder no dia-a-dia, uma referiu deixá-lo na porta da geladeira e uma relatou que o discutiu com toda a sua família. De forma geral, os pacientes indicaram estar satisfeitos por ter participado da intervenção.
5.3.2. Avaliação da viabilidade da intervenção
A viabilidade foi avaliada por meio dos diários de campo, representando a experiência dos enfermeiros ao proceder a mensuração do consumo de sal e das variáveis psicossoais em ambos os grupos e implementar a intervenção para o grupo INTerAÇÃO. As análises qualitativas resultaram em 10 temas chave organizados em quatro clusters: aspectos positivos e negativos, fatores facilitadores e complicadores.
Os resultados são descritos na Tabela 8.
Tabela 8: Clusters, temas e categorias obtido dos diários de campo realizados pelos enfermeiros e número de menções à categoria (n=14).
CLUSTER 1: PONTOS POSITIVOS
Tema Categoria
1. Medir o consumo de sal
- leva à reflexão sobre o comportamento – identificação das fontes de consumo (paciente e enfermeiro) (3)
2. Intervenção - percepção de que a intervenção é eficaz (6)
- uso da intervenção melhora a qualidade da consulta de enfermagem (3)
- permite participação do paciente na tomada de decisão (1)
- fácil aplicação (4)
- integrável à pratica clínica (sem os instrumentos de medida de variáveis psicossociais – para todos e para alguns, mesmo sem a medida do sal (8)
Tabela 8 (cont.) 3. Programa de capacitação
- aumenta o conhecimento dos enfermeiros (2)
- aumenta a qualidade do cuidado, pois introduz intervenção baseada em teoria (3)
CLUSTER 2: PONTOS NEGATIVOS 1. Instrumentos
de medida das
variáveis psicossociais
- difícil compreensão (7)
- aumenta tempo de consulta (5)
2. Instrumentos
de medida do
comportamento
- falta de fidelidade nas respostas – desejabilidade social (3)
3. Intervenção - falta de interesse do paciente – pois a mudança do comportamento não é sua demanda no momento (1)
- aumenta o tempo da consulta para tirar as dúvidas (2) - paciente tem dificuldades com o gosto do alimento menos salgado (1)
- falta de medida modelo para explicar quanto seria 5g (1)
CLUSTER 3: FATORES FACILITADORES
- programa de capacitação (4)
- suporte na implementação da intervenção pela pesquisadora /gestão (3)
- liberdade de organização da agenda (1) - manual para guiar as consultas (2) - vínculo entre enfermeiro e paciente (2)
CLUSTER 4: FATORES COMPLICADORES 1. Recrutamento
dos pacientes
- necessidade de convocar pacientes especialmente para esse fim pela dificuldade de encaixar nas consultas de rotina (6)
- falta de tempo para o recrutamento (6) - falta dos pacientes na 1ª consulta (4)
- suspensão da agenda HIPERDIA: devido campanhas de vacinação contra febre amarela, ações contra dengue/zika, falta de RH (enfermerios e técnicos de enfermagem) (7)
- enfermeiro não tem agenda de HIPERDIA, faz mais atendimentos na saúda da mulher (1)
- paciente se nega a participar devido consultas constantes (1)
- recrutar pacientes que não cozinham, pois não sabem relatar a quantidade de sal utilizado e não têm controle sobre a adição de sal no preparo dos alimentos (1)
2. No
seguimento dos
pacientes (retorno em pessoa)
- falta de tempo do enfermeiro: retardo nas consultas, impossibilidade de fazer o seguimento, ter que responder à outras prioridades (urgências, ações de vigilância epidemiológica) (9)
- ausência do paciente nos retornos – por problemas de saúde ou em casa, por falta de cumprimento dos planos (5)
Tabela 8 (cont.)
- reagendamento dos pacientes que faltam: agenda já esta cheia (1)
- retornos estabelecidos com periodicidade diferente da rotina atual determinada pelo protocolo municipal (2)
- ausência do enfermeiro (férias/ licença) para atender o paciente no retorno determinado pelo protocolo (5)
- ausência do cuidado compartilhado (entre médicos e enfermeiros) (1)
3. Contatos telefônicos
- número de telefone que não é do paciente (2)
- paciente não responde à ligação ou não pode responder porque está doente /problemas de família /ausente (2)
- qualidade ruim da chamada telefônica (1) - falta de telefone na unidade de saúde (1)
4. Ambiente inadequado
- muito barulho (1)
A maioria dos enfermeiros realizou seus registros no diário de campo o fizeram em forma de tópicos e dividiu os registros em pontos positivos e pontos negativos/ dificuldades (n=12). Alguns enfermeiros dividiram, ainda, o diário em dois outros grandes tópicos, que foram as consultas e os contatos telefônicos.