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Os estudos que envolvem a motivação, em grande medida, fazem uso de instrumentos que relacionam construtos e comportamentos, os quais são desenvolvidos com base em pesquisas empíricas articuladas com as perspectivas teóricas adotadas.

De acordo com Pasquali (1999), o crescente emprego de instrumentos de avaliação (psicológicos ou de desempenho) representa um avanço muito significativo para o desenvolver dos conhecimentos do ser humano. Para a psicologia escolar, compreender as razões de determinados comportamentos discentes é um caminho com vistas ao desenvolvimento de intervenções significativas e efetivamente relacionadas à realidade dos estudantes e do contexto em que vivem.

Um instrumento que avalie a motivação para a escrita pode ser um ponto de partida para muitos estudos futuros que envolvam a prática da sala de aula e ambientes de aprendizagem. Para guiar a construção desse instrumento, foi usado um seguimento, com base em modelos teóricos, conforme Pasquali (1999) propõe.

De acordo com esse autor, a elaboração de um instrumental psicológico pode se basear em três grandes polos: “procedimentos teóricos, procedimentos empíricos (experimentais) e procedimentos analíticos (estatísticos)” (PASQUALI, 1999, p.37). De modo sintetizado, eles podem ser apresentados da seguinte forma: O primeiro polo, teórico, diz respeito à uma teoria que norteia o estudo. Nesse sentido, é necessária a explicitação da teoria (que, no presente estudo, é a Teoria da Autodeterminação), ou seja, a descrição dos tipos e categorias de comportamentos que refletem um traço (por exemplo, a explicitação do continuum de Autodeterminação, como fora exposto anteriormente). As etapas referentes à aplicação do instrumento piloto estão relacionadas ao polo empírico (experimental) e, por fim, no polo analítico, conforme Pasquali (1999), realizam-se as análises estatísticas do instrumento, para verificar a confiabilidade e precisão da medida.

No primeiro polo, o autor esclarece que, após a definição da teoria, que é uma etapa relevante para a construção do instrumento, é necessário levantar e sistematizar as evidências empíricas sobre o construto: “com uma base teórica coerente e, quando possível, completa, torna-se viável uma definição dos tipos e características dos comportamentos que irão constituir a representação empírica dos traços latentes” (PASQUALI, 1999, p. 39). Para essa etapa, o mesmo autor apresenta a necessidade dos seguintes passos: a propriedade do sistema psicológico (em que se passa de um de um objeto psicológico mais amplo para a

delimitação dos aspectos específicos dele os quais se deseja estudar); a dimensionalidade do atributo (em que se verifica se o atributo é uma unidade semântica única ou é ele uma síntese de componentes distintos); a definição dos construtos (definição constitutiva: aquela em que se definem os conceitos – como no dicionário – e operacional: passa-se de um terreno abstrato para concreto) a operacionalização do construto (quando serão verificadas as fontes dos itens, regras para a construção dos itens e a quantidade de itens); e a análise teórica dos itens (inicialmente uma análise semântica – para verificar se todos os itens são compreeensíveis para todos os membros da população à qual o instrumento se destina e de juízes – em que peritos da área ajuizam se os itens estão se referindo ou não ao traço em questão).

O segundo polo, referente aos procedimentos experimentais, compreende os seguintes passos: planejamento da aplicação e coleta dos dados. Para o planejamento da aplicação, dois aspectos são relevantes e destacados pelo autor: a definição da amostra e das instruções de como aplicar o instrumento. É destacado, sobre a amostra, que um instrumento é construído para um tipo de população, desse modo devem ser claramente definidas suas características: para qual faixa etária o instrumento foi construído, para qual nível sócio- econômico, para qual nível de escolaridade. A quantidade de alunos participantes terá relação com polo analítico, descrito a seguir. Para que a amostra coletada seja considerável, ou seja, para que produzam suficiente variância para que a análise seja consistentem, ela deve ser “grande”. Sugere-se um número para que não haja uma expressão vaga do quanto “grande” seria algo ideal: 100 participantes por fator medido. A quantidade de fatores pode não ser precisa, então pode-se estabelecer um outro número: 10 participantes para cada item do instrumento.

Ainda cm relação à aplicação do instrumento, devem ser definidas algumas condições de aplicação: será coletiva ou individual? Serão necessários avisos/atestados/cartas de apresentação? A apresentação dos itens também é mencionada como sendo uma etapa importante: pode ser uma escolha forçada (dois itens são apresentados e o participante deve escolher um deles); múltiplas alternativas ou escalas tipo likert (a que se optou no presente estudo).

Entre os procedimentos analíticos, terceiro polo, destacam-se: a dimensionalidade do instrumento (validade); a análise empírica dos itens (fatores, carga fatorial, eigenvalue, comunalidade); a análise fatorial dos itens (índice de dificuldade e discriminação); a precisão da escala (índice de precisão/ consistência interna) e o estabelecimento de normas (definição de grupos-critério e análises estatísticas).

No presente estudo, serão realizadas as duas primeiras etapas, ou seja, os dois primeiros polos. O terceiro polo é o que se almeja realizar em um estudo futuro, quando os dados serão analisados estatisticamente. Para esse estudo, portanto, foram mais esclarecidos o polo teório e experimental, os quais foram concretizados no decorrer da pesquisa.

Além de embasar a análise dos dados com as considerações apresentadas em todo esse capítulo (a introdução sobre a motivação no contexto atual, a teoria definida como luz para a observação dos dados, as considerações sobre a produção de textos e a elaboração de instrumentos), considera-se fundamental conhecer como tem sido desenvolvido o tema da presente pesquisa tanto nacionalmente como internacionalmente. Devido a isso, o capítulo que segue traz as contribuições que podem ser destacadas acerca de pesquisas do Brasil e de outros países sobre a motivação para a aprendizagem, enfatizando a motivação para a escrita.

4 INSTRUMENTOS AVALIATIVOS E PESQUISAS RECENTES SOBRE ESCRITA,