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O PAPEL DA ESCRITA A PRODUÇÃO DE TEXTOS NA ESCOLA

Como sintetizou Koch (2004), acerca deste componente diferencial dos homens, a linguagem humana tem sido concebida, no decorrer da história, de maneiras diversas, que podem ser resumidas em três destacáveis: “como representação (espelho) do mundo e do pensamento, como instrumento (ferramenta) de comunicação e como forma (lugar) de ação ou interação” (KOCH, 2004, p.7). Estabelece-se como base, no presente estudo, o terceiro modo de conceber a linguagem, o ensino e a aprendizagem Língua Portuguesa, já que as possibilidades de interação na sociedade são dependentes da língua. Quanto mais conhecimentos sobre a Língua Portuguesa o cidadão possuir, melhor será a interação com a sociedade e, consequentemente, o entendimento do meio que o cerca. A Gramática (modo como muitas vezes a língua portuguesa é tratada na escola), assim sendo, pode ter muitas relações com a qualidade de vida dos alunos e (por que não) dos professores:

Se entendermos a gramática não como teoria linguística, mas como o conjunto de conhecimentos linguísticos que um usuário da língua tem internalizados para o uso efetivo em situações concretas de interação comunicativa, então, sem dúvida, a gramática tem tudo a ver com a qualidade de vida, pois quanto mais recursos, mecanismos, estratégias da língua o usuário dominar, melhor desempenho linguístico terá (TRAVAGLIA, 2003, p. 17).

Um desenvolvimento linguístico de qualidade tem muitas relações com a qualidade de vida, como ressaltou Travaglia (2003), já que é a partir da linguagem que os cidadãos se relacionam e dialogam. Nessa mesma perspectiva, ou seja, buscando a qualidade de vida, muitos estudos sobre a motivação humana (em especial para a motivação no ambiente escolar) singularizam a busca de um desenvolvimento saudável na interação com o meio.

Por esse dentre outros motivos, a produção de textos na escola não deve ser realizada apenas mecanicamente, mas como um resultado de aprendizagens e reflexões constituintes de um processo. Produzir um texto implica refletir sobre a linguagem, pensar sobre como fazê-lo e para quem destiná-lo:

A produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais, portanto, inserida em contextos mais complexos de atividades; trata-se de uma atividade consciente, criativa, que compreende o desenvolvimento de estratégias concretas de ação e à escolha de meios adequados à realização dos objetivos; isto é, trata-se de uma atividade intencional que o falante, de conformidade com as condições sob as quais o texto é produzido, empreende, tentando dar a entender seus propósitos ao destinatário através da manifestação verbal; é uma atividade interacional, visto que os interactantes, de maneiras diversas, se acham envolvidos na atividade de produção textual (KOCH, 1998, p. 22).

Quando se compreende o texto oral ou escrito como ponto de partida e de chegada (Geraldi, 1997 a) para o desenvolvimento da linguagem, percebe-se a relevância de se visar a um processo de produção de textos, de construção da escrita significativo para o aprendiz. Por meio desse decorrer saudável da produção de textos, os alunos podem, de fato, interagir pela linguagem e desenvolver tanto as habilidades linguísticas como a cidadania, a construção de valores e de princípios, a percepção de mundo. Assim, efetiva-se a formação humana e a produção de cultura também por meio da escrita. Corroborando com essa afirmação, Ferreira e Dias (2005), ressaltam que a leitura e a escrita são atividades de construção de sentidos e que implicam a relação dinâmica entre leitor e texto:

A comunicação escrita pode ser entendida como uma categoria especial de comunicação, que implica a relação dinâmica e ativa entre leitor e texto, na qual o primeiro tem a função de reescrever os sentidos mediados pelo material impresso a partir de seu modelo mental de mundo (FERREIRA; DIAS, 2005, p. 323).

Durante muito tempo, ler e escrever apenas baseando-se na decodificação era suficiente, no entanto, uma pessoa alfabetizada na sociedade atual necessita mais do que decodificar. Tfouni (2004) declara que o letramento enfatiza os aspectos sócio-históricos da aquisição de uma sociedade e que a alfabetização, em muitos momentos, está sendo mal entendida: ela deve ser um „processo‟ e não algo que chega a um fim (como um produto). Nesse sentido, o alfabetizar e o letrar são ações que devem ser uma realidade contínua. Além disso, é necessário:

(...) sintonizar-se com as novas formas de representar o mundo que emergem da produção artística e cultural contemporânea. Os educadores não devem, porém, estudar só as linguagens dessas novas formas de representação, mas, também, atentar para os suportes em que elas se manifestam, visto que suportes (como o televisor, o computador etc.) exercem grande fascínio sobre crianças e adolescentes (TEIXEIRA, 2007, p.92).

Muitos educadores pensam que é importante que o estudante vivencie esse ambiente letrador apenas nos anos iniciais da vida escolar, em que se aprende a ler. Porém, destaca-se que um ambiente letrador deve continuar efetivo durante toda a vida escolar, no ensino fundamental, médio e superior; pois, a todo momento, criam-se novos horizontes para a leitura, a todo momento aprende-se a ler. Em um instante, aprende-se a ler uma literatura específica; em outro momento, uma música, uma obra de arte, uma imagem, afinal, “para ler melhor, é preciso ler com todos os sentidos” (REZENDE, 2007, p. 7).

Um exemplo prático de uma criança que não vivencia um ambiente letrador, como o citado, é quando uma criança sabe ler, mas não consegue ler um livro ou um jornal ou quando sabe escrever palavras e frases, mas não é capaz de redigir uma carta. Dessa forma, ela é alfabetizada, mas não letrada. Por fim, como vivemos inseridos em ambientes de letramento e em uma sociedade grafocêntrica, não se pode ignorar a necessidade de formar pessoas capazes de interagir com habilidade e segurança nos diferentes contextos que as rodeiam.

Além de ter como norte essas diretrizes para compreender a produção textual, para elaborar um instrumento com a finalidade de avaliar a motivação para esse fim, foram seguidos alguns parâmetros, apresentados na sequência.