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3.2 TEORIA DA AUTODETERMINAÇÃO

3.2.4 Teoria da Integração Organísmica

A Teoria da Integração Organísmica indica os processos motivacionais extrínsecos e o desenvolvimento de motivações internalizadas. De acordo com essa mini- teoria, uma motivação externa pode ser alterada e tornar-se autodeterminada. Conforme os estudos da macroteoria Teoria da Autodeterminação, é possível compreender a motivação extrínseca como ocorrendo em um continuum de autodeterminação, que vai da regulação externa à regulação integrada. Além disso, podem ser contemplados estados de desmotivação e de motivação intrínseca como polos opostos.

Na medida em que os alunos internalizam e integram as regulações externas, eles experimentam uma autonomia maior nos domínios e a qualidade motivacional pode ser elevada. Essa qualidade motivacional pode variar de “totalmente desmotivado” a “motivado intrinsicamente” (DECI; RYAN, 2000; RYAN; DECI, 2000; REEVE et al., 2004).

Esse continuum pode ser expresso por meio da seguinte sequência:

desmotivação (ausência de motivação), motivação por regulação externa, motivação por regulação introjetada, motivação por regulação identificada/integrada e motivação intrínseca.

Na página seguinte, há um quadro para que esse continuum apresentado pela Teoria possa ser visualizado com mais clareza.

Quadro 1: Continuum de Autodeterminação Comporta - Mento Ausência de determinação Autodeterminado Motivação Ausência de motivação

Motivação Extrínseca Motivação

Intrínseca Estilos reguladores Sem regulação Regulação externa Regulação introjetada Regulação identificada Regulação integrada Regulação intrínseca Locus de causalidade percebido

Impessoal Externo Algo externo Algo interno Interno Interno

Processos reguladores Ausência de intenção, desvalori zação, falta de controle Submissão, recompensas externas e punições Autocontrole, ego envolvimento, recompensas internas e punições Importância pessoal, valorização consciente Concordân cia, consciência, síntese com o eu Interesse, prazer e satisfação inerente

Continuum de autodeterminação - Tipos de motivação com os seus loci de causalidade e processos

correspondentes (DECI; RYAN, 2000).

Esse continuum possibilita a explicação dos fenômenos decorrentes dessas variadas qualidades motivacionais. Quando há ausência de motivação, ou seja, desmotivação, a pessoa não faz a tarefa ou trabalho porque não vê razão, intrínseca ou extrínseca, para fazê- lo ou não consegue realizar a atividade, por motivos diversos. Desse modo, não se experimenta nem a motivação extrínseca, não há intenção para agir. É o caso de um aluno que não escreve os textos na escola.

A regulação externa existe mediante a submissão a outros ou por recompensas externas ou para evitar punições. É a forma menos autônoma de motivação extrínseca a qual é controlada por situações externas. Age-se para obter a consequência desejada (recompensas materiais ou sociais, como reconhecimento) ou para evitar uma punição. A pessoa percebe seu comportamento sendo controlado, alienado e tendo um locus de causalidade externo (a origem da ação está fora dela). Esse tipo de motivação tem sido relacionada com prejuízos para o desenvolvimento da motivação intrínseca (DECI; RYAN, 2000; RYAN; DECI, 2000). É o caso de um aluno que faz a produção de texto apenas para receber notas.

A regulação introjetada envolve o agir de uma regulação internalizada, mas não pessoalmente confirmada, isto é, fazer o que as pessoas acham que deveriam, porque é o que geralmente se espera delas. Com essa regulação introjetada, os alunos são internamente controlados para fazer o que têm que fazer para manter a auto-estima ou silenciar uma ameaça à auto-estima (evitar se sentir culpado). Tanto a motivação extrínseca por regulação externa como por regulação introjetada são consideradas como tipos controlados (não autodeterminadas) de motivação (REEVE et al., 2004). Há essa ocorrência quanto um aluno apenas faz a atividade porque os pais solicitam ou porque ele não quer se sentir culpado por não fazer, mas não sente prazer ou não vê a importância em realizá-la.

Já a motivação extrínseca por regulação identificada e integrada refere-se à qualidade motivacional autônoma, ainda de motivação extrínseca, mas que tem sido considerado um modo positivo para o desenvolvimento da aprendizagem saudável. Atualmente, os autores estão unificando esses dois perfis motivacionais (regulação identificada e integrada), pois, por meio de pesquisas empíricas, notaram que estão extremamente relacionados, ao ponto de não ser possível dissociá-los. Devido a isso, optou-se por esclarecê-las também nesse mesmo espaço. Por meio da regulação identificada, os alunos veem valor na regulação externa e, voluntariamente, transformam-na em regulação internalizada. Eles se identificam com o valor da regulação, ocorre uma “síntese com o eu”. Na regulação identificada, há valorização da atividade e importância pessoal. Esse é o processo mediante o qual a pessoa reconhece e aceita o valor referente a um comportamento. A pessoa tem essa regulação mais internalizada e a aceita como sua. Quando as regulações externas são integradas ao self, a pessoa as terá aceitado totalmente, de modo coerente e harmonioso com outros aspectos de sua identidade e valores (DECI; RYAN, 2000; RYAN; DECI, 2000). É o caso de um aluno que percebe a importância da atividade e a realiza pela busca da aprendizagem, mas ainda não há prazer e satisfação nessa realização.

Por fim, a motivação intrínseca é a motivação que surge espontaneamente das necessidades psicológicas e manifesta-se pelo interesse na atividade em si, estimula comportamentos que nutrem o crescimento, tais como busca de desafios, exercício de habilidades e busca de interesses. A teoria tem como pressuposto a visão do ser humano como propenso ao desenvolvimento, crescimento e bem-estar. Para que isto ocorra, ou seja, essa tendência natural se consolide, o indivíduo busca atividades desafiadoras, que despertem interesse, curiosidade; que permitam o desenvolvimento exercício de suas habilidades.

O contexto de conivência social pode agir como força que impulsiona o desenvolvimento, ou ao contrário, que o prejudique. Isso ocorre porque o ser humano possui

três necessidades psicológicas básicas. A motivação identificada/integrada aproxima-se da motivação intrínseca em seu grau de autodeterminação, entretanto, diferem devido ao fato de a regulação identificada/integrada ser baseada na importância da atividade para o alcance de metas pessoais, enquanto a motivação intrínseca é baseada no interesse pela atividade em si.É relevante observar, potanto, esse continuum para compreender o grau de autodeterminação do estudante para a realização de uma tarefa específica.

A teoria da integração organísmica investiga, destarte, como são internalizados os processos motivacionais extrínsecos. Destaca-se, por meio dessa teoria, que os alunos são naturalmente inclinados a internalizar aspectos de seus ambientes sociais e integrar estes valores com os valores que eles carregam. Quando o contexto sociocultural fornece condições auxiliares à satisfação das necessidades psicológicas básicas dos estudantes, eles experimentam situações que os capacitam para integrar no seu organismo uma regulação externa que pode passar a ser autodeterminada (REEVE et al., 2004).

A partir dessa possibilidade de elevar a qualidade motivacional dos alunos, ou seja, sabendo que ela não é estática, os professores podem desenvolver maneiras de auxiliar a natureza ativa dos estudantes tendo em vista um desenvolvimento acadêmico saudável – que proporcione uma motivação autônoma (intrínseca ou as formas autônomas de motivação extrínseca, identificada/integrada). Por meio dos estudos com base na teoria da integração organímica, nota-se, portanto, que as demandas, regras e valores externos podem ser internalizados e se tornar regulamentos internos e, desse modo, a motivação extrínseca pode se tornar um tipo de motivação autodeterminada.

Avaliando a qualidade motivacional dos alunos (verificando como ele se insere nesse continuum motivacional), o professor pode planejar intervenções adequadas a um contexto real, que estejam efetivamente relacionadas ao perfil do aluno, da turma ou ainda comparar a alteração desse perfil motivacional após uma intervenção nos diversos campos do saber, como na prática de produção de textos na escola.

3.2.5 Teoria de Orientações de Causalidade

Contribuições de orientações de personalidade estável para a qualidade da motivação autônoma dos alunos e o funcionamento em sala de aula são o foco da mini-teoria

Orientações de Causalidade. Quando os sujeitos regulam a si próprios de acordo com suas necessidades, eles usam uma orientação de causalidade autônoma.

Essa orientação de causalidade passa a ser controlada quando os sujeitos se apoiam em forças de controle para guiar seus planos, de modo que são guiados por crenças e valores que podem ter sido aceitos, mas não são confirmadas pessoalmente (REEVE et al., 2004).