• Nenhum resultado encontrado

Pesquisas realizadas apenas no segundo ciclo do ensino fundamental

4 INSTRUMENTOS AVALIATIVOS E PESQUISAS RECENTES SOBRE ESCRITA,

4.1 PANORAMA INTERNACIONAL

4.1.2 Pesquisas internacionais

4.1.2.3 Pesquisas realizadas apenas no segundo ciclo do ensino fundamental

Ao abordar os papéis das práticas instrucionais e a motivação no desempenho da escrita, Lam e Law (2007) detacam que a escrita é uma atividade tanto emocional quanto cognitiva. Segundo eles, existe uma forte necessidade de que pesquisadores e educadores explorem os valores afetivos que contribuem para o desempenho dos alunos na escrita. A motivação, com suas notáveis influências, é importante entre esses fatores afetivos. Os autores afirmam que, nos últimos anos, houve uma proliferação de pesquisas nos processos de escrita nas escolas e dos fatores motivacionais associados a elas. Pesquisadores e educadores têm observado consistentemente que os alunos são motivados no letramento quando a instrução motiva seus comportamentos nesta área. Esta observação, no entanto, não pode contribuir para o conhecimento dos professores e/ou guiar suas práticas a menos que consigam identificar as estratégias instrucionais que motivam os alunos a escrever. O objetivo dos autores foi, portanto, investigar quais e como as práticas instrucionais estão relacionadas à motivação dos alunos e ao desempenho na escrita.

Em estudos anteriores de Lam e Law (2007), foi possível identificar seis componentes de contextos instrucionais que são mais relevantes para a motivação dos alunos: desafio, significância da vida real, curiosidade, autonomia, reconhecimento e avaliação. Esses componentes constituem práticas instrucionais que são motivadoras para o aprendizado em geral, mas também podem capturar a essência do ensino que desenvolve especificamente a motivação dos alunos para escrever. Os participantes desa pesquisa foram alunos de 7ª e 8ª séries, 209 no total, de quatro escolas secundárias em Hong Kong. Todos os participantes eram alunos de seis professores estagiários matriculados em um programa certificado de pós graduação em educação, na área de Ensino de Língua Chinesa, na cidade de Hong Kong. Os seis estagiários tinham pouco mais de 20 anos e tinham recentemente obtido sua graduação de bacharel. Todos, com exceção de um, eram mulheres. A idade média dos alunos era 13,29 anos. Cerca de 31% estavam na 7ª série e 69%, na 8ª série. Cinquenta e cinco por cento deles eram garotos e todas as escolas estavam localizadas em bairros de classe média baixa.

Em uma unidade de instrução de três sessões que duraram 40 minutos cada uma, os professores estagiários ensinaram a seus alunos como escrever, em um esboço expositivo. Os alunos completaram o esboço e então um questionário para relatar sua motivação na tarefa e sua percepção da instrução. Na primeira sessão, os professores introduziram o gênero expositivo da escrita para seus alunos. Na segunda, pediram que os

alunos escrevessem um ensaio expositivo independentemente na turma. Os professores recolheram os ensaios no final da segunda sessão, pontuaram-lhes após a aula e os devolveram aos alunos na terceira sessão, onde estes também receberam feedback sobre como realizar melhoras. O questionário utilizado para avaliar as práticas instrucionais foi adaptado do Inventário de Contextos Instrucionais Motivadores (MICI, na sigla em inglês). Foram adaptados 18 dos 24 itens existentes no questionário base, que consiste em seis subescalas, as quais, respectivamente, avaliam a extensão para a qual os alunos percebem que seus professores fornecem tarefas desafiadoras, asseguram a significância da vida real em suas atividades, despertam sua curiosidade, conferem-lhe autonomia, reconhecem seu esforço e fornecem feedback útil para sua melhora. No questionário, foi pedido que os alunos indicassem, em uma escala likert de seis pontos, quanto concordavam que as 18 afirmações descreviam precisamente as práticas de seus professores na aula de escrita. Além disso, uma escala de motivação que consistia em cinco afirmações foi adaptada do trabalho de Elliot e Church, desenvolvido em 1997. Novamente foi pedido que os alunos indicassem sua concordância com estas afirmações em uma escala likert de seis pontos.

Nesse estudo de Lam e Law (2007), os resultados do modelo da equação estrutural mostraram que a motivação dos alunos mediou os efeitos de práticas instrucionais no desempenho da escrita. Uma alta correlação entre as seis subescalas de práticas instrucionais de motivação indicou que tais subescalas atingiram diferentes aspectos do mesmo construto. Foram rateadas as pontuações destas subescalas e foi obtida uma pontuação de práticas instrucionais de motivação. Foi observado que esta pontuação teve uma correlação estatisticamente significante com a motivação dos alunos e o desempenho na escrita. No entanto, é notável que o patamar de desempenho não estava associado a quaisquer outras variáveis. Os construtos de práticas instrucionais se correlacionaram altamente com os de motivação, mas superficialmente com os de desempenho na escrita. A correlação entre os construtos de motivação e desempenho na escrita também foi superficial.

A trajetória entre as práticas instrucionais e a motivação dos alunos foi significante, sugerindo que os alunos relatavam mais motivação na tarefa de escrita quando percebiam que seus professores forneciam tarefas desafiadoras, garantiam significância da vida real em suas atividades de aprendizado, estimulavam sua curiosidade, outorgavam-lhes autonomia, reconheciam seu esforço e davam-lhes feedback útil para melhora. A trajetória entre motivação e desempenho na escrita também foi estatisticamente significante, sugerindo que quanto mais os alunos relatavam estar motivados na tarefa de escrita, melhor pontuação receberiam dos dois avaliadores. No entanto, a trajetória entre práticas instrucionais e

desempenho na escrita não foi estatisticamente significante. Nenhum efeito direto de práticas instrucionais no desempenho na escrita ficou evidente. Os autores descobriram, assim, que quando os professores adotaram estratégias de ensino mais motivadoras, os alunos eram mais motivados e, por sua vez, tinham melhor desempenho na escrita. Os resultados mostram um modelo de mediação no qual a motivação dos alunos mediou os efeitos de práticas instrucionais no desempenho na escrita. Com este estudo, segundo os autores, foi dada uma contribuição única ao existente corpo de conhecimento sobre quais e como as práticas instrucionais estão relacionadas à motivação e ao desempenho na escrita. Ele é uma resposta à necessidade de investigar como os comportamentos dos professores nas salas de aulas estão relacionados aos resultados de aprendizado dos alunos. Os resultados são informativos para professores educadores e professores estagiários preocupados com práticas instrucionais que podem acarretar motivação mais elevada e melhor desempenho do aluno.

Apresentando considerações, também, sobre o porquê de escrever, Garner, Tan e Zhao (2000), ressaltam que quando os alunos escrevem, com frequência pensam em si mesmos como escritores para o professor, com seus próprios desejos e interesses ignorados. Os adultos caem no padrão familiar de pedir que as crianças escrevam de maneiras em particular, e as crianças, no padrão familiar de escrever porque lhes foi pedido, não porque querem. Nesse estudo, os pesquisadores descrevem como tais situações podem acontecer. Isso foi realizado por meio da análise de um programa denominado KLICK (sigla em inglês para Crianças Aprendendo em Klubes de Computação). Essa é uma rede de dez clubes de computação em que alunos de Ensino Fundamental II de Michigan se reúnem após a escola. A rede é principalmente virtual, permanecendo conectada por meio de um programa de um site da Internet e trocas de e-mails. No entanto, há contatos face a face de vez em quando e alunos de graduação da Universidade do Estado de Michigan (MSU, na sigla em inglês) fazem visitas ao local, trabalhando por uma hora ou duas ao lado de crianças e, então, escrevendo sobre o que observaram. Desde o início do programa, o KLICK tinha um boletim informativo semanal interno, Password Express (PWE), que mantinha os adultos na MSU e nos vários clubes informados sobre a atividade em rede.

Julgando pelas notas de campo, pode-se dizer que, em média, aproximadamente duas dúzias de crianças (um número aproximadamente igual de garotos e garotas) vinham a cada clube em cada dia durante o primeiro ano. Alguns deles (principalmente garotas) entravam em salas de bate papo, enquanto outros (principalmente meninos) jogavam jogos de computador. Em fevereiro do primeiro ano, crianças em vários clubes começaram a fornecer conteúdo para a PWE. Eles escreviam histórias curtas sobre

acontecimentos nos clubes. As crianças que escreviam as histórias („repórteres‟) foram recrutadas por uma aluna de graduação da MSU, editora da PWE, com sugestões dos coordenadores do local. O maior incentivo para a participação das crianças era a publicação.

Foram examinados dezessete primeiros rascunhos de sete crianças, quatro de 13 anos de idade e três de 14. Cada criança recebeu um pseudônimo. Foram formuladas quatro questões sobre estes rascunhos do primeiro ano: a) Quanto as crianças escreveram? b) Que estilo de escrita as crianças usaram? c) Houve detalhes descritivos suficientes? d) E „pontos de conflito‟ para os leitores (ex. ortografia não convencional, ambiguidade referencial)? Também foram examinados os registros de sessões orais do primeiro ano, com uma única questão: houve conversas sobre escrita?

Quanto as crianças escreveram? A taxa de falha na conclusão dos trabalhos foi muito alta. Os registros mostram que quase 50% de todas as histórias definidas nas sessões de conversa das quartas-feiras nunca foram escritas. Os pesquisadores afirmam que uma taxa tão alta é indicação de desejo relativamente baixo para escrever, pelo menos para a PWE. Se a escrita é formal, mantém uma distância entre o escritor e o leitor, e revela muito pouco sobre a reação do escritor aos eventos. A maior parte da escrita dos repórteres do KLICK pode ser caracterizada como formal. Uma razão para a prosa formal, razoavelmente controlada, é que foi pedido que as crianças relatassem acontecimentos nos clubes, não que expressassem seus sentimentos. Sem ser explicitamente instruídos a colocar sua voz pessoal no que escrevessem, ele não o fizeram, em sua maior parte.

Houve detalhes descritivos suficientes? O detalhe descritivo é usado por escritores para envolver os leitores. Os pesquisadores mais uma vez veem relativamente baixo desejo de escrever para a PWE, porque não há muitos detalhes descritivos nas histórias das crianças. A maioria das histórias simplesmente lista acontecimentos nos clubes.

E os “pontos de conflito” para os leitores? Houve alguns erros de ortografia, não muitos, mas o suficiente para surpreender os pesquisadores, dado que os programas processadores de palavras que as crianças usaram tinham capacidade de verificar a ortografia. Os autores tinham presumido que os repórteres estariam inclinados a achar e corrigir erros de ortografia, e que eles poderiam fazer isso facilmente. Houve outros problemas: um pouco da sintaxe nas histórias foi menos que atrativa. Algumas divisões de sentenças foram marcadas incorretamente. Além disso, houve um pouco de ambiguidade de referência (um problema bastante comum na escrita das crianças).

Sobre os registros de bate papo, houve conversa sobre escrita? Julgando-se pelas transcrições das sessões de bate papo das quartas-feiras, tais sessões eram

surpreendentemente similares em estrutura às conversas face a face em sala de aula. Um dos benefícios das sessões de bate papo ser tão estruturadas como conversas de sala de aula é que os participantes foram capazes de prestar atenção ao conteúdo, antecipando a estrutura familiar e previsível do discurso (quem fala quando e sobre o quê).

Dadas as maneiras nas quais as crianças responderam, seria certo dizer que elas parecem ter escrito, quando escreveram, pela mesma razão que escrevem na escola: um adulto pediu que fizessem isso. Não se sabe ao certo por que elas escreveram como se estivessem na escola, quando não estavam. A explicação pode ser simples, pode ser apenas uma falta de experiência em escrever de qualquer outra maneira. Elas podem não ter experimentado escrever aventureiramente, seguindo seus próprios desejos e interesses. Também é possível que os bate papos de quarta-feira similares a uma sala de aula levou-os a pensar sobre escrever na escola. Havia o formato de boletim informativo, também o bastante limitado foco do tópico na atividade do clube, os prazos e o público, em sua maior parte, adulto. Os pesquisadores ficaram especialmente preocupados de que o público de maioria adulta tenha sido não específico e desmotivador demais para os repórteres. A escrita das crianças no programa de computador pós-escola, como se estivessem escrevendo na escola, não foi, de maneira alguma, o que estava planejado, então a PWE está sendo renovada. Os autores pedirão que as crianças escrevam para outras crianças e esperarão que elas escrevam sobre outros tópicos que não os acontecimentos dos clubes.