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Elementos e ênfases na área de Ação Social

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Primeiramente, há a necessidade de conhecer o que o documento PVM considera por Ação Social:

A ação social da Igreja, como parte da missão, é nossa expressão humana do amor de Deus. É o esforço da Igreja para que na Terra seja feita a vontade do Pai. Isso acontece quando, sob a ação do Espírito Santo, nos envolvemos em alternativas de amor e justiça que renovam a vida e vencem o pecado e a morte, conforme a própria experiência e vida de Jesus Cristo (IGREJA METODISTA, 2012, p.81).

Por isso, se constituem por objetivos:

Conscientizar o ser humano de que a sua responsabilidade é participar na construção do Reino de Deus, promovendo a vida, num estilo que seja acessível a todas as pessoas.

Cooperar com a pessoa e a comunidade a se libertar de tudo quanto as escraviza.

Participar na solução de necessidades pessoais, sociais, econômicas, de trabalho, saúde, escolares e outras fundamentais para a dignidade humana. Propugnar por mudanças estruturais da sociedade que permitam a desmarginalização social dos indivíduos e das populações pobres (IGREJA METODISTA, 2012, p.99-100).

Essa diretriz do PVM demostra que a atuação na área da ação social é uma opção consciente pelos oprimidos e pobres. Esse viés do pensamento social metodista enfatiza que não é somente através de culto ou evangelização que se realiza a missão, mas é através da Igreja se colocar a serviço da justiça. Sobre esse aspecto Ely Eser Barreto César (2005) afirma:

A igreja participa na Missão quando cultua de modo consciente com seu projeto de imersão no mundo. Igualmente quando aprende em comunidade, “educando-se a partir da vida prática, aprendendo na experiência uns com os outros, corrigindo-se e descobrindo a ação de Deus na vida de cada dia”. A igreja participa na Missão de Deus quando trabalha. “Nossa participação no Reino de Deus renova nossa compreensão acerca do trabalho”. Pelo trabalho concretizamos nossos dons e ministérios a serviço do Reino de Deus. Por essa razão, neste exercício missionário, “colocamo-nos a serviço de relações justas entre empregadores e empregados, estando ao lado daqueles que são explorados em seu trabalho e daqueles que nem sequer conseguem trabalhar”. Participamos da Missão de Deus usando ferramentas e métodos adequados, como a “participação de todos os membros da Igreja, homens e mulheres, nos diferentes níveis de decisão (CÉSAR, 2005, p.254).

Neste comentário a respeito do PVM, César chama a atenção para dois fatores de grande relevância para este estudo, são eles: práxis missionária e a opção preferencial dos pobres. Esta opção missiológica, a qual é legado de Wesley, traz uma visão holística e uma abordagem mais relacional. Esta abordagem destaca o envolvimento na Missão de Deus em demostrar o amor a toda a humanidade através da práxis social, assim a Igreja abandona seu papel como protagonista na missão e assume um compromisso de parceria com Deus, em favor da justiça, equidade, liberdade, respeito e mudanças estruturais.

Oliveira (2011), ao analisar esse foco teológico nos pobres, enfatiza que não é ser movido por dó ou pena, mas é entender que esse olhar traz o Evangelho para a agenda da Igreja, “pois a faz ir ao encontro do próprio Jesus e de suas escolhas ministeriais, em sintonia com o projeto de encarnação de Deus” (OLIVEIRA, 2011, p.180). É neste lugar hermenêutico, onde está o pobre que está o coração de Deus, que possibilita que a igreja entenda melhor a vontade divina, pois exclamou Jesus: “Graças te dou, ò Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos, e as revelastes aos pequeninos” (BÍBLIA SAGRADA, 2011, Mateus 11.25)

Nesta lógica, é importante entender que a Igreja Metodista deve estar sempre lutando ao lado da vida, e não a favor de práticas assistencialistas. Para isso é necessário entender que assistencialismo diz respeito a práticas a partir do favor, clientelismo e proselitismo que gera uma relação de dependência entre o que doa e o que recebe. Na realidade, o assistencialismo

tem a intenção de minimizar as desigualdades sociais, fruto das questões sociais, e não de questionar, denunciar ou enfrentá-las.

No entanto, vale a pena distinguir que as ações sociais emergenciais são necessárias, o que as diferenciam das práticas assistencialistas é o modo que são desenvolvidas. Segundo Fidelix:

As práticas assistencialistas não emancipam os usuários e não resolvem o problema existente de fato, mas sim reforçam sua condição de subalternização perante os serviços prestados. Essas ações se constituem na base da troca de favores, afirmando uma relação de dominação e exploração, tipicamente capitalista (FIDELIX, 2005, p.21).

Dentro dessa perspectiva, Oliveira (2011) analisa que a doutrina social metodista sinaliza que a igreja deve ter a participação na missão com propósito emancipatório, assim cita uma afirmação feita por DARONCH DA SILVA, veja:

Nosso propósito é a emancipação dos oprimidos e a busca dos meios de redenção total do homem. Aceitando o princípio bíblico de que Jesus morreu para a redenção do homem, cremos que é nosso dever viver para ajudá-lo a libertar-se do pecado e de tudo que o possa prejudicar (DARONCH DA SILVA apud OLIVEIRA, 2011, p.180).

Vale ressaltar que a autora Marilda Vilela Iamamoto (2005), um grande referencial teórico do Serviço Social, considera como pressuposto para a ação profissional a necessidade de “romper com a visão endógena, focalista, uma visão de dentro prisioneira de seus muros internos” (IAMAMOTO, 2005, p.20). Essa mesma reflexão corrobora para que a Igreja possa desenvolver uma ação social eficaz, eficiente e efetiva na sociedade. Nas diretrizes do PVM isso é colocado que a Igreja Metodista cumpre a sua missão no âmbito da ação social atuando nas seguintes ocasiões:

em qualquer situação onde a opressão e a morte negou a realidade da vida com a qual Deus comprometeu desde o começo do mundo; as estruturas sociais que se tornaram obsoletas e desumanizantes, opressoras e injustas; na pessoa visando à restauração da sua integridade e do seu ambiente de vida; nos sofrimentos humanos, participando de soluções para sua superação; nos conflitos humanos, buscando promover a paz, combater a guerra e toda a violência; na educação integral da pessoa (IGREJA METODISTA, 2012, p.100).

Deste modo, acredita-se que esta posição cotidiana a favor dos oprimidos proporciona que a Igreja rompa com uma missiologia alienante e subserviente dos projetos civilizatório,

como o modelo herdado pelo metodismo norte-americano. Assim, espera-se que através destes elementos e ênfases na Ação Social a Igreja assuma uma postura consciente, que reconhece a ação social como indissociável da prática da fé cristã, e reafirme o compromisso para com a vida e com a justiça social, uma vez que os metodistas não podem se abstrair dessa perspectiva de missão, pois:

Não podemos deixar de manifestar a consciência cristã perante os problemas sociais, econômicos e industriais. O misticismo isolado da sociedade indiferente aos sofrimentos humanos, não serve para o mundo moderno. O Evangelho que nós pregamos é uma força social transformadora. Combatemos o materialismo, o amor ao lucro, avareza, o nepotismo, o egoísmo. Urge que os raios X dos ensinos de Jesus penetrem o íntimo de nossa civilização. (...) A contribuição especial da Igreja no campo social é perfeitamente clara: é a de facilitar uma compreensão mais viva dos acontecimentos e dar uma perspectiva mais larga e mais clara em meio à confusão reinante. (...) Combatemos a tentação de fugir da vida, com seus problemas e lutas para nos enclausurarmos na religião pessoal (OLIVEIRA, 2011, p. 187).

Por fim, todo esse resgate histórico, teológico e eclesial, assim como o movimento de aproximação e ruptura da Igreja metodista brasileira com sua responsabilidade social na missão, foi com a intenção de compreender as estruturas que de alguma forma contribuíram para a construção do PVM, o qual se constitui paradigma missiológico. Desta maneira, o desafio do próximo capítulo é reconhecer se a prática social e missionária dos metodistas, em especial dos poços-caldenses, corresponde a dimensão e diretrizes que o PVM traz para a área de ação social.

CAPITULO 2

O metodismo em Poços de Caldas e suas práxis sociais e

missionárias

2 O METODISMO EM POÇOS DE CALDAS E SUAS PRÁXIS SOCIAIS

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