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Em busca do nível ótimo de alavancagem e as dificuldades de alcançá-lo

2.1. Estrutura de Capital

2.1.1 A Teoria do Trade-off

2.1.1.3 Em busca do nível ótimo de alavancagem e as dificuldades de alcançá-lo

ótimo de alavancagem e da possibilidade de este ser identificado. Uma vez identificado o nível ótimo, é preciso contextualizar as estratégias que as empresas podem utilizar para alcançá-lo. Os ajustes que se fazem necessários não ocorrem de forma imediata, uma vez que as emissões ou recompras dos títulos em mercado requerem um período para sua realização e a empresa irá enfrentar custos para a reestruturação.

Autores, como Graham (2011) e Myers (2001, p.89), argumentam que empresas com ganhos voláteis ou com expectativa elevada de custo de desconforto financeiro, ou seja com o risco de descontinuidade, tenderão a usar naturalmente menos dívida, por receio de virem a se confrontar com custos de falência elevados. Por outro lado, empresas que pagam imposto de renda mais elevado podem, ceteris paribus, ao incentivarem o uso maior da dívida como fonte de financiamento, economizar uma parcela maior de suas obrigações tributárias.

Outra forma de se identificar a meta ótima de endividamento é derivada da percepção dos agentes externos à firma. Graham (2011) destaca o fato dos rating de crédito servirem de apoio na identificação do nível de alavancagem a ser almejado, pelo menos no que concerne ao teto deste nível, que pode ser aceito por aqueles que avaliam a solvência da empresa. A relação entre os ratings de crédito e a teoria de trade-off é evidenciada por Graham (2011) em:

I interpret the importance of credit ratings as a summary statistic that captures important elements of the tradeoff view. For example, if a firm uses too much debt, its credit rating falls as a reflection of an increase in the expected cost of financial distress. (Graham, 2011, p.197).

Uma vez reconhecido o nível ideal de dívida (ou mesmo uma faixa ótima), resta identificar como as empresas alinham sua estrutura de capital com vista a maximizarem o seu valor. A forma das empresas buscarem uma estrutura capital ótima pode ser tanto pela estratégia de emissão como pela de recompra de títulos, sejam estes referentes ao capital próprio(ações) ou de terceiros(debêntures). Hovakimian, Opler, e Titman (2001) destacam o uso da estratégia de recompra, conforme pode ser observado:

The tendency of firms to make financial choices that move them toward a target debt ratio appears to be more important when they choose between equity repurchases and debt retirements than when they choose between equity and debt issuances. The leverage deficit variables are closely

associated with whether debt or equity is repurchased and, in addition, the variables predict the amount that is repurchased. In contrast, the leverage deficit variables provide a somewhat weaker prediction of what kind of instrument is issued, and provide virtually no information about the amount issued. This evidence suggests that capital structure considerations play a much more important role when firms repurchase rather than raise capital. (Hovakimian, Opler, & Titman, 2001, p. 230).

Os autores mencionados chamam a atenção para o fato de que o desvio entre o nível de endividamento existente e o almejado tende a ser corrigido pelas decisões de recompra e não pelas decisões de emissão. Uma vez que se aceite um nível ótimo de endividamento, que seja possível de ser identificado e que existem estratégias para atingi-lo, o ajuste deveria ser algo aceito e reconhecido por todos os agentes envolvidos. O que se percebe é que ele não ocorre de forma tão natural, pois existem dificuldades para as empresas ajustarem o seu nível de dívida de modo a atingirem a estrutura de capital almejada. Logo, o ajuste não ocorre de forma instantânea. Hovakimian, Opler, e Titman (2001) consideram que as empresas enfrentam barreiras na movimentação em direção à proporção de dívida objetivada e que, por sua vez, a meta de endividamento pode mudar ao longo do tempo, uma vez que a lucratividade e o preço da ação se alteram. Decisões de recompra e emissão teriam como objetivo atingir a meta desejada, mas os seus efeitos não se realizam de imediato.

Graham (2011) por sua vez afirma que a relação dívida/capital próprio de uma empresa tende a girar em torno do mesmo resultado de ano para ano4, pois as empresas só reequilibram suas estruturas de capital de tempos em tempos. O novo equilíbrio só deve ser buscado quando os benefícios da reestruturação suplantarem os custos de transação para emitir ou recomprar títulos. Logo, é de se esperar algum desvio em relação ao ponto ótimo da estrutura de capital, uma vez que pequenos ajustes seriam mais onerosos que os seus ganhos. Este mesmo argumento da reestruturação pode ser visto em Gilson (1997): ―high transaction and restructuring costs prevent financially distressed firms to readjust their capital structures

back to what was previously „optimal‟ ‖.

Empresas com dificuldades financeiras por seu turno ficam sobrecarregadas com os altos custos de transação, tornando difícil para elas realizarem ajustes na estrutura de capital em sua busca de alcançar o melhor índice de endividamento em termos de valor para o

4 Graham (2011, p.197), ―First, debt ratios tend to wander around from year to year for a given company. This is consistent with Fischer, Heinkel, and Zechner‘s (1989) model in which companies only rebalance their capital structures from time to time, when the benefit of doing so outweighs the transaction costs to issuing or retiring securities.

negócio. Para Liang e Bathala (2009, p.6): ―the study finds that transaction costs and bankruptcy costs influence the speed of adjustment towards the optimal debt ratio as well as the financing behavior of the firms in financial distress‖. Desta forma, ao se introduzir o conceito de imperfeições de mercado causadas pelos custos de transação e pelas restrições e custos para o ajuste das estruturas de capital, surge à necessidade de elaboração de um modelo dinâmico, que leve em consideração o tempo necessário para a adaptação das mesmas.