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Em sede de Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares

Capítulo I: A SUCESSÃO TRIBUTÁRIA EM GERAL

3. Sucessão Tributária

3.6. Os deveres de cooperação dos sucessores para com a Administração

3.6.1. Em sede de Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Singulares

Segundo o artigo 63.º, n.º 1 do CIRS165, se, durante o ano a que o imposto respeite, tiver

falecido um dos cônjuges, o cônjuge sobrevivo, não separado de facto, deve proceder ao cumprimento das obrigações declarativas de cada um deles, podendo optar pela tributação conjunta, salvo se voltar a casar no mesmo ano, caso em que apenas pode optar pela tributação conjunta com o novo cônjuge. Tendo em conta que, na norma seguinte, artigo 64.º do CIRS, se refere que, por falecimento de qualquer pessoa, os rendimentos relativos aos bens transmitidos (pense-se num apartamento sucedido e arrendado, cujas rendas passam a ser recebidas pelos sucessores) e correspondentes ao período posterior à data do óbito são considerados, a partir de então, nos englobamentos a efetuar em nome das pessoas que os passaram a auferir, procedendo-se, na falta de partilha até ao fim do ano a que os rendimentos respeitam, à sua imputação aos sucessores e ao cônjuge sobrevivo, segundo a sua quota ideal nos referidos bens. Relativamente ao falecimento de pessoa no estado civil de solteira, viúva, divorciada ou separada judicialmente de pessoas e bens, a lei dispõe, no artigo 57.º, n.º 2 do CIRS, que incumbe ao administrador da herança apresentar a declaração de rendimentos em nome daquele, relativa aos rendimentos correspondentes ao período decorrido de 1 de Janeiro até à data do óbito.

164 J.J. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, 7.ª ed., Coimbra, Almedina, 2003, págs. 266 a 273. Sobre o princípio

da proibição de excesso ou da proporcionalidade no procedimento tributário, Cf. JOAQUIM FREITAS DA ROCHA, Lições de Procedimento…,op.cit., pág. 112 e 113.

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Já em 22.07.1993 uma instrução administrativa (ofício-circulado 10/93166) tinha vindo

esclarecer que os deveres tributários, a ser cumpridos, de modo geral, seriam da competência do cabeça-de-casal. Esta referia que não há lugar a fracionamentos de rendimentos, pelo que tanto

as declarações, em nome do de cujos que devam ser apresentadas, como as que devam ser

apresentadas pelos titulares do direito aos rendimentos correspondentes ao período posterior ao decesso, em cumprimento do disposto no artigo 64.º, são tidas como respeitando ao ano completo, não devendo, por isso, ser acompanhadas do anexo D na parte em que este diz respeito ao fracionamento de rendimentos; concomitantemente, a liquidação das declarações dos rendimentos corresponderá também ao ano completo, não havendo fracionamento de deduções e abatimentos.

E ainda, a herança de um sujeito passivo falecido no estado de solteiro, viúvo, divorciado ou separado judicialmente de pessoas e bens, quando integrar estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, os rendimentos destas atividades correspondentes ao período do ano decorrido até ao falecimento serão determinados pelos declarantes em proporção do resultado da atividade do ano inteiro e do número de dias contado desde 1 de Janeiro até à data do óbito, sendo inscritos no anexo C1 (campos 08/09) da declaração modelo 2 do titular falecido, ficando, nestes casos, prejudicada a apresentação dos anexos B1 ou C, que será feita apenas pelo cabeça-de-casal na sua própria declaração. Todavia, se as atividades tiverem sido iniciadas ou tiverem cessado no ano do óbito, os rendimentos são considerados como respeitantes ao período em que foram exercidas, determinando-se também proporcionalmente a parte relativa ao período da vida do titular, seguindo-se, no restante, o disposto no número anterior, na parte aplicável.

166 Cf. Ofício-circulado 10/93, de 22.07.1993, disponível em http://www.igf.min-

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Relativamente aos rendimentos gerados pelas heranças indivisas167, para efeitos de

tributação, são considerados como uma situação de contitularidade168, respeitando a cada herdeiro

a sua quota-parte169. Vejamos melhor.

No que respeita aos rendimentos comerciais e industriais (antiga categoria C) e aos rendimentos agrícolas (antiga categoria D), cumpre ao cabeça-de-casal ou administrador contitular da herança indivisa apresentar, na sua declaração anual de rendimentos, ainda que em anexo autónomo, a demonstração dos lucros ou prejuízos apurados no património comum, identificando os restantes contitulares e a respetiva quota-parte nesses mesmos lucros ou prejuízos; cumpre a cada contitular declarar, no anexo próprio, apenas a sua quota-parte nos rendimentos gerados pela herança indivisa, identificando, por sua vez, o cabeça-de-casal ou administrador contitular a quem incumbir a apresentação da totalidade dos elementos contabilísticos, assim como, declarará também a sua quota-parte nas retenções de imposto eventualmente feitas à herança indivisa. No mesmo sentido o artigo 57.º, n.º 3 do CIRS refere que nestas situações de contitularidade, tratando-se de rendimentos da categoria B, incumbe ao contitular a quem pertença a respetiva administração apresentar na sua declaração de rendimentos a totalidade dos elementos contabilísticos exigidos nos termos das secções precedentes para o apuramento do rendimento tributável, nela identificando os restantes contitulares e a parte que lhes couber. Assim sendo, relativamente às atividades suscetíveis de gerar rendimentos da categoria B, diz-nos o artigo 114.º, n.º 1, al. d) do CIRS que é considerada cessada a atividade quando haja partilha da herança indivisa relativamente ao estabelecimento a que faça parte.

Este último ofício refere ainda que, quanto aos rendimentos integrados noutras categorias, rendimentos prediais, de capitais ou mais-valias, cada contitular declarará a sua quota-parte nos rendimentos ilíquidos e deduções, incluindo as que respeitem a retenções de imposto, a que haja

167 Ofício-circulado 16/89, de 25.09.1989, disponível em http://www.igf.min-

financas.pt/inflegal/codigos_tratados_pela_igf/irs/leg_complementar/OF_CIRCULADO_00016_89.htm, [23.05.2014].

168 E repare-se que esta contitularidade só servirá para efeitos de tributação, nunca para efeitos de responsabilidade no respetivo pagamento (que

cabe à herança) num processo de execução fiscal. A herança indivisa é um património autónomo, não de qualquer um dos herdeiros. Cf. Acórdão do STA, de 12 de Fevereiro de 2014, no proc. N.º 0196/13, disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/44e1b4fd1652971a80257c85004ac252?OpenDocument&Highlight=0,suc

ess%C3%A3o,universal, [23.05.2014].

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lugar, sem necessidade de o cabeça-de-casal ou administrador contitular declarar a respetiva totalidade.

Quanto aos prejuízos fiscais, poderão ainda os sucessores deduzi-los, nos termos do artigo 37.º do CIRS, permitindo-se a dedução de prejuízos fiscais (artigo 52.º do Código do IRC) aproveitada pelo sujeito passivo que sucede àquele que suportou o prejuízo.

Por fim, deverão os sucessores arquivar os livros da sua escrituração e os documentos que serviram de declaração de rendimentos auferidos pelo falecido, devendo conservá-los em boa

ordem durante os 10 anos civis subsequentes170.