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Morte do executado antes da instauração do processo de execução fiscal

Capítulo I: A SUCESSÃO TRIBUTÁRIA EM GERAL

2. A legitimidade do sucessor no processo de execução fiscal

2.1. Morte do executado antes da instauração do processo de execução fiscal

Aquando da citação na pessoa que figura como devedor principal, agora perecido, o órgão de execução fiscal há que ter em conta em que fase se encontra a herança, se a herança é indivisa

ou se já foi efetivamente partilhada, para que a citação seja efetuada na pessoa dos sucessores231.

A execução é instaurada contra a pessoa que figura no título como devedor (art. 155.º, n.º 1 do CPPT). Não sobrevivendo à instauração do correspondente processo, o órgão da administração tributária identifica os seus herdeiros para efetuar a correspondente habilitação de herdeiros, nos termos dos artigos 166.º, al. b) e 168.º, n.º 1 do CPPT.

A habilitação de herdeiros é um incidente de instância que se “consubstancia na informação a prestar pela pessoa encarregada de efetuar a citação, quando averiguar, ao efetuar a citação,

que o citando faleceu”232. Neste caso, é da competência do próprio órgão de execução fiscal efetuá-

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/38b48bc9716f4d6180257b9e00576424?OpenDocument&ExpandSection=

1#_Section1, [22.07.2014].

229Aqui se reafirma que “A nulidade da citação não constitui fundamento possível de processo de oposição a execução fiscal (ressalvado o seu

conhecimento a título incidental), antes sendo causa de pedir a examinar no âmbito de reclamação de decisão do órgão de execução fiscal, espécie processual prevista no artº. 276 e seg. do C.P.P.Tributário”, Cf. Acórdão do Tribunal Central Administrativo do Sul de 11 de Dezembro de 2012,

no Proc. N.º 06061/12, disponível em

http://www.dgsi.pt/jtca.nsf/170589492546a7fb802575c3004c6d7d/2fa683cfcd8971f980257ad4005ad683?OpenDocument, [21.07.2014]. E

ainda, no mesmo sentido, Cf. Acórdão do STA de 2 de Abril de 2014, no Proc. N.º 0247/14, disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/031f7affdb23bd9b80257cb000456798?OpenDocument&Highlight=0,recla

ma%C3%A7%C3%A3o,das,decis%C3%B5es,do,%C3%B3rg%C3%A3o,de,execu%C3%A7%C3%A3o,fiscal, [22.07.2014] e de 7 de Maio de 2014, no

Proc. N.º 0283/14, disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/92a32b03f0907ff480257cd3004ff35a?OpenDocument&Highlight=0,notific

a%C3%A7%C3%A3o,de,liquida%C3%A7%C3%A3o, [22.07.2014].

230 Cf. Acórdão do STA de 31 de Maio de 1995, no Proc. N.º 18549, disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/e4bf1c7d78399d9a802568fc0039dc7e?OpenDocument&ExpandSection=1

#_Section1, [15.07.2014].

231 Nunca a falta de citação poderá ser sanada pela intervenção dos herdeiros por mera iniciativa própria, Cf. Acórdão do STA de 21 de Junho de

1995, no Proc. N.º 16204, disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/9021bc96b771c89b802568fc00392cc8?OpenDocument&ExpandSection=

1#_Section1, [02.09.2014].

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la, pois não está em causa uma decisão sobre os incidentes, cuja competência é dos tribunais

tributários233. O artigo 168.º do CPPT não nos remete para uma decisão sobre o incidente de

habilitação de herdeiros, mas numa simples informação sobre a identidade dos sucessores do

executado234.

Prosseguindo, caso o órgão de execução fiscal esteja perante uma herança indivisa, há que ter em conta se está ou não inventário pendente, assim como averiguar quem são os herdeiros, sendo estas as informações que, a final, devem constar de certidão a elaborar pelo citando. Perante um património autónomo, e (1) estando a correr inventário, citar-se-á o cabeça-de-casal para o pagamento da totalidade da dívida exequenda; (2) não estando dependente de inventário, a citação far-se-á na pessoa do cabeça-de-casal ou de qualquer um dos herdeiros do executado para o pagamento da totalidade da dívida exequenda (com os bens e valores da herança), sob

cominação, em ambos os casos, de penhora em quaisquer bens da herança235.

Neste último caso, a citação não serve para efetivar a responsabilidade do herdeiro citado, na medida em que, por estar em causa um património autónomo, sem compropriedade, será necessária a partilha para que possamos ter o cumprimento. Não poderá, portanto, exigir-se ao herdeiro o pagamento mediante a proporção da sua quota hereditária ou o pagamento integral da

dívida do de cujos, sem que haja sido efetuada a partilha236, pois o cumprimento da dívida cumprirá,

in casu, à herança.

Da jurisprudência do STA resulta que, o herdeiro citado para efetuar o pagamento (integral ou na proporção da quota hereditária) deverá deduzir oposição no prazo legal com o fundamento da al. b), do n.º 1 do artigo 204.º do CPPT. Justifica este Tribunal que “na herança indivisa não há pluralidade de devedores, que só pode surgir com a partilha, sendo que só depois desta efetuada cada um dos herdeiros passa, em princípio, a responder pela quota-parte da dívida

correspondente à proporção da quota que lhe tenha cabido na herança”237.

233Cf. Art. 151.º, n.º 1 do CPPT, no qual se dispõe que “[c]ompete ao tribunal tributário de 1.ª instância da área do domicílio ou sede do devedor,

depois de ouvido o Ministério Público nos termos do presente Código, decidir os incidentes (…)”.

234 Neste sentido, Cf. JORGE LOPES DE SOUSA, Código do procedimento…,op.cit., vol. III, pág. 204. 235 É o que resulta dos n.ºs 3 e 4 do art. 155.º do CPPT.

236 Cf. Acórdão do STA de 22 de Setembro de 1999, no proc. N.º 19644, disponível em

http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/7e47600edff211a4802568fc003a0825?OpenDocument, [16.07.2014].

237In casu, o oponente deveria ser absolvido, não se extinguindo o processo de execução fiscal, mas suspendendo-se até à efetiva partilha: “Assim,

a nosso ver, será mais curial, ao invés de julgar extinta a execução no que respeita à Oponente – o que impediria que voltasse a ser chamada à execução fiscal –, absolvê-la do pedido, o que não obstará a que ulteriormente, se eventualmente for efectuada a partilha, lhe possa ser exigido o

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Do explanado redunda que, até à efetiva partilha da herança, (1) a citação, de qualquer um dos herdeiros, nos casos em que não esteja a correr inventário, só servirá para assegurar a legitimidade dos executados; (2) a responsabilidade da dívida exequenda cabe à herança, administrada e representada pelo cabeça-de-casal; e, (3) do incumprimento pela herança (e não dos herdeiros) podem ser penhorados bens da herança (e nunca dos próprios herdeiros).

Inversamente, quando já tenha sido efetuada partilha, o órgão da execução fiscal ordenará, para efeito de citação dos herdeiros, a destrinça da parte que cada um deles deva pagar e em relação a cada devedor será processada guia ou documento equivalente em triplicado, com a indicação de que foi passada nos termos deste artigo, servindo um dos exemplares de recibo ao contribuinte. Portanto, a par da informação sobre a identidade dos herdeiros, tem o citando de averiguar quais as quotas hereditárias de cada um deles, uma vez que cada um dos herdeiros será citado para pagar o que proporcionalmente lhe competir na dívida exequenda, sob pena de penhora em quaisquer bens herdados.

Por fim, relativamente, aos herdeiros incertos, a citação será efetuada por editais nos termos do artigo 192.º, n.º 7 e 8 do CPPT.