Esta desilusão que m e acabrunha É m ais traidora do que o foi Pilatos!...
Por causa disto, eu vivo pelos m atos, Magro, roendo a substância córnea de unha.
Tenho estrem ecim entos indecisos E sinto, haurindo o tépido ar sereno, O m esm o assom bro que sentiu Parfeno Quando arrancou os olhos de Dionisos!
Em giro e em redem oinho em m im cam inham Ríspidas m ágoas estranguladoras, Tais quais, nos fortes fulcros, as tesouras Brônzeas, tam bém gira e redem oinham . Os pães filhos legítim os dos trigos --Nutrem a geração do Ódio e da Guerra.
Os cachorros anônim os da terra São talvez os m eus únicos am igos!
Ah! Por que desgraçada contingência À híspida aresta sáxea áspera e abrupta
Da rocha brava, num a ininterrupta Adesão, não prendi m inha existência?!
Por que Jeová, m aior do que Laplace, Não fez cair o túm ulo de Plínio Por sobre todo o m eu raciocínio Para que eu nunca m ais raciocinase?!
Pois m inha Mãe tão cheia assim daqueles Carinhos, com que guarda m eus sapatos, Por que m e deu consciência dos m eus atos
Para eu m e arrepender de todos eles?!
Quisera antes, m ordendo glabros talos,
Nabucodonosor ser do Pau d’Arco, Beber a acre e estagnada água do charco,
Dorm ir na m anj edoura com os cavalos!
Mas a carne é que é hum ana! A alm a é divina.
Dorm e num leito de feridas, goza O lodo, apalpa a úlcera cancerosa, Beij a a peçonha, e não se contam ina!
Ser hom em ! escapar de ser aborto!
Sair de um vente inchado que se anoj a, Com prar vestidos pretos num a loj a E andar de luto pelo pai que é m orto!
E por trezentos e sessenta dias Trabalhar e com er! Martírios j untos!
Alim entar-se dos irm ãos defuntos, Chupar os ossos das alim arias!
Barulho de m andíbulas e abdôm ens!
E vem -m e com um desprezao por tudo isto Um a vontade absurda de ser Cristo Para sacrificar-m e pelos hom ens!
Soberano desej o! Soberana Am bição de construir para o hom em um a
Região, onde não cuspa língua algum a O óleo rançoso da saliva hum ana!
Um a região sem nódoas e sem lixos, Subtraída à hediondez de ínfim o casco,
Onde a forca feroz com a o carrasco E o olho do estuprador se encha de bichos!
Outras constelações e outros espaços Em que, no agudo grau da últim a crise,
O braço do ladrão se paralise E a m ão da m eretriz caia aos pedaços!
II
O sol agora é de um fulgor com pacto, E eu vou andando, cheio de cham usco, Com a flexibilidade de um m olusco, Úm ido, pegaj oso e untuoso ao tacto!
Reúnam -se em rebelião ardente e acesa Todas as m inhas forças em otivas E arm em ciladas com o cobras vivas
Para despedaçar m inha tristeza!
O sol de cim a espiando a flora m oça Arda, fustigue, queim e, corte, m orda!...
Deleito a vista na verdura gorda Que nas hastes delgadas se balouça!
Avisto o vulto das som brias granj as Perdidas no alto... Nos terrenos baixos,
Das laranj eiras eu adm iro os cachos E a am pla circunferência das laranj as.
Ladra furiosa a tribo dos podengos.
Olhando para as pútridas charnecas Grita o exército avulso das m arrecas Na úm ida copa dos bam bus verdoengos.
Um pássaro alvo artífice da teia De um ninho, salta, no árdego trabalho, De árvore em árvore e de galho em galho,
Com a rapidez dum a sem icolcheia.
Em grandes sem icírculos aduncos, Entrançados, pelo ar, largando pêlos,
Voam à sem elhan ça de cabelos Os chicotes finíssim os dos j uncos.
Os ventos vagabundos batem , bolem Nas árvores. O ar cheira. A terra cheira...
E a alm a dos vegetais rebenta inteira
De todos os corpúsculos do pólen.
A câm ara nupcial de cada ovário Se abre. No chão coleia a lagartixa.
Por toda a parte a seiva bruta esguicha Num extravasam ento involuntário.
Eu, depois de m orrer, depois de tanta Tristeza, quero, em vez do nom e -- Augusto,
Possuir aí o nom e dum arbusto Qualquer ou de qualquer obscura planta!
III
Pelo acidentalíssim o cam inho Faísca o sol. Nédios, batendo a cauda, Urram os bois. O céu lem bra um a lauda
Do m ais incorruptível pergam inho.
Um a atm osfera m á de incôm oda hulha Abafa o am biente. O aziago ar m orto a m orte
Fede. O ardente calor da areia forte Racha-m e os pés com o se fosse agulha.
Não sei que subterrânea e atra voz rouca, Por saibros e por cem côncavos vales,
Com o pela avenida das Mappales, Me arrasta à casa do finado Toca!
Todas as tardes a esta casa venho.
Aqui, outrora, sem conchego nobre, Viveu, sentiu e am ou este hom em pobre
Que carregava canas para o engenho!
Nos outros tem pos e nas outras eras, Quantas flores! Agora, em vez de flores,
Os m usgos, com o exóticos pintores,
Pintam caretas verdes nas taperas.
Na bruta dispersão de vítreos cacos, À dura luz do sol resplandecente, Trôpega e antiga, um a parede doente
Mostra a cara m edonha dos buracos.
O cupim negro broca o âm ago fino Do teto. E traça trom bas de elefantes Com as circunvoluções extravagantes Do seu com plicadíssim o intestino.
O lodo obscuro trepa-se nas portas.
Am ontoadas em grossos feixes rij os, As lagartixas, dos esconderij os, Estão olhando aquelas coisas m ortas!
Fico a pensar no Espírito disperso Que, unindo a pedra ao gneiss e a árvore à criança,
Com o um anel enorm e de aliança, Une todas as coisas do Universo!
E assim pensando, com a cabeça em brasas Ante a fatalidade que m e oprim e,
Julgo ver este Espírito sublim e, Cham ando-m e do sol com as suas asas!
Gosto do sol ignívom o e iracundo Com o o réptil gosta quando se m olha
E na atra escuridão dos ares, olha Melancolicam ente para o m undo!
Essa alegria im aterializada, Que por vezes m e absorve, é o óbolo obscuro,
É o pedaço j á podre de pão duro Que o m iserável recebeu na estrada!
Não são os cinco m il m ilhões de francos Que a Alem anha pediu a Jules Favre...
É o dinheiro coberto de azinhavre Que o escravo ganha, trabalhando aos brancos!
Sej a este sol m eu últim o consolo;
E o espírito infeliz que em m im se encarna Se alegre ao sol, com o quem raspa a sarna, Só, com a m isericórdia de um tij olo!...
Tudo enfim a m esm a órbita percorre E as bocas vão beber o m esm o leite...
A lam parina quando falta o azeite Morre, da m esm a form a que o hom em m orre.
Súbito, arrebentando a horrenda calm a, Grito, e se gritio é para que m eu grito
Sej a a revelação deste Infiniti Que eu trago encarcerado da m inh’alm a!
Sol brasileiro! queim a-m e os destroços!
Quero assistir, aqui, sem pai que m e am e, De pé, à luz da consciência infam e, À carbonização dos próprios ossos!