Ao filósofo Farias Brito Cansada de observar-se na corrente
Que os acontecim entos refletia,
Reconcentrando-se em si m esm a, um dia, A Natureza olhou-se interiorm ente!
Baldada introspecção! Noum enalm ente O que Ela, em realidade, ainda sentia
Era a m esm a im ortal m onotonia De sua face externa indiferente!
E a Natureza disse com desgosto:
“Terei som ente, porventura, rosto?!
“Serei apenas m era crusta espessa?!
“Pois é possível que Eu, causa do Mundo,
“Quando m ais em m im m esm a m e aprofundo
“Menos interiorm ente m e conheça?!”
A FLORESTA
Em vão com o m undo da floresta privas!
-- Todas as herm enêuticas sondagens, Ante o hieroglifo e o enigm a das folhagens,
São absolutam ente negativas!
Araucárias, traçando arcos de ogivas, Bracej am entos de álam os selvagens, Com o um convite para estranhas viagens,
Tornam todas as alm as pensativas!
Há um a força vencida nesse m undo!
Todo o organism o florestal profundo É dor viva, trancada num disfarce...
Vivem só, nele, os elem entos broncos, -- As am bições que se fizeram troncos, Porque nunca puderam realizar-se!
A MERETRIZ
A rua dos destinos desgraçados Faz m edo. o Vício estruge. Ouvem -se os brados
Da danação carnal... Lúbrica, à lua, Na sodom ia das m ais negras bodas Desarticula-se, em coréas doudas, Um a m ulher com pletam ente nua!
É a m eretriz que, de cabelos ruivos, Bram ando, ébria e lasciva, hórridos uivos
Na m esm a esteira pública, recebe, Entre farraparias e esplendores, O eretism o das classes superiores E o orgasm o bastardíssim o da plebe!
É ela que, aliando, à luz do olhar protervo, O indum ento vilíssim o do servo Ao brilho da augustal toga pretexta, Sente, alta noite, em contorções som brias,
Na vacuidade das entranhas frias O esgotam ento intrínseco da besta!
É ela que, hirta, a arquivar credos desfeitos, Com as m ãos chagadas, esprem endo os peitos,
Reduzidos, por fim , a âm bulas m oles, Sofre em cada m olécula a angústia alta De haver secado, com o o estepe, à falta Da água criadora que alim enta as proles!
É ela que, arrem essada sobre o rude Despenhadeiro da decrepitude, Na vizinhança aziaga dos ossuários Representa, através os m eus sentidos,
A escuridão dos gineceus falidos E a desgraça de todos os ovários!
Irrita-se-lhe a carne à m eia-noite.
Espicaça-se a ignom ínia, excita-a o acoite Do incêndio que lha inflam a a língua espúria.
E a m ulher, funcionária dos instintos, Com a roupa am arfanhada e os beiços tintos,
Gane instintivam ente de luxúria!
Navio para o qual todos os portos Estão fechados, urna de ovos m ortos, Chão de onde um a só planta não rebenta,
Ei-la, de bruços, bêbeda de gozo Saciando o geotropism o pavoroso De unir o corpo à terra fam ulenta!
Nesse espolinham ento repugnante O esqueleto irritado da bacante Estrala... Lem bra o ruído harto azorrague
A vergastar ásperos dorsos grossos.
E é aterradora essa alegria de ossos Pedindo ao sensualism o que os esm ague!
É o pseudo-regozij o dos eunucos Por natureza, dos que são caducos Desde que a Mãe-Com um lhes deu início...
É a dor profunda da incapacidade Que, pela própria hereditariedade A lei da seleção disfarça em Vício!
É o j úbilo aparente da alm a quase A eclipsar-se, no horror da ocídua fase
Esterilizadora de órgãos... É o hino Da m atéria incapaz, filha do inferno, Pagando com volúpia o crim e eterno De não ter sido fiel ao seu destino!
É o Desespero que se faz bram ido De anelo anim alíssim o incontido, Mais que a vaga incoercível na água oceânea...
É a Carne que, j á m orta essencialm ente, Para a Finalidade Transcendente Gera o prodígio aním ico da Insânia!
Nas frias antecâm eras do Nada
O fantasm a da fêm ea castigada, Passa agora ao clarão da lua acesa E é seu corpo expiatório, alvo e desnudo
A síntese eucarística de tudo Que não se realizou na Natureza!
Antigam ente, aos tácitos apelos Das suas carnes e dos seus cabelos, Na Óptica abreviatura de um reflexo,
Fulgia, em cada hum ana nebulosa, Toda a sensualidade tem pestuosa
Dos apetites bárbaros do Sexo!
O atavism o das raças sibaritas, Criando concupiscências infinitas
Com o eviterno lobo insatisfeito;
Na hom ofagia hedionda que o consom e, Vinha saciar a m ilenária fom e Dentro das abundâncias do seu leito!
Toda a libidinagem dos m orm aços Am ericanos fluía-lhe dos braços, Irradiava-se-lhe, hírcica, das veias E em torrencialidades quentes e úm idas, Gorda a escorrer-lhe das ártérias túm idas Lem brava um transbordar de ânforas cheias.
A hora da m orte acende-lhe o intelecto E à úm ida habitação do vício abj ecto Afluem m ilhões de sóis, rubros, radiando...
Resíduos m em oriais tornan-se luzes Fazem -se idéias e ela vê as cruzes Do seu m artirológico m iserando!
Inícios atrofiados de ética, ânsia De perfeição, sonhos de culm inância, Libertos da ancestral m odorra calm a, Saem da infância em brionária e erguem -se, adultos,
Lançando a som bra horrível dos seus vultos Sobre a noite fechada daquela alm a!
É o sublevam ento coletivo
De um m undo inteiro que aparece vivo, Num a cenografia de dioram a, Que, m om entaneam ente luz fecunda,
Brilha na prostituta m oribunda Com o a fosforecência sobre a lam a!
É a visita alarm ante do que outrora Na abundância prospérrim a da aurora,
Pudera progredir, talvez, decerto, Mas que, adstrito a inferior plasm a inconsútil,
Ficou rolando, com o aborto inútil, Com o o ... do deserto!
Vede! A prostituição ofídia aziaga Cuj o tóxico instila a infâm ia , e a estraga
Na delinqüência ... im pune, Agarrou-se-lhe aos seios im pudicos
Com o o abraço m ortífero do Ficus Sugando a seiva da árvore a que se une!
...
Enroscou-se-lhe aos abraços com tal gosto, Mordeu-lhe a boca e o rosto...
...
...
...
...
Ser m eretriz depois do túm ulo! A alm a Roubada a hirta quietude da urbe calm a onde se extinguem todos os escolhos:
E, condenada, ao trágico ditam e, Oferecer-se à bicharia infam e Com a terra do sepulcro a encher-lhe os olhos!
Sentir a língua aluir-se-lhe na boca E com a cabeça sem cabelos, oca...
...
Na horrorosa avulsão da form a nívea Dizer ainda palavras de lascívia ...
G UERRA
Guerra é esforço, é inquietude, á ânsia, é transporte...
É a dram atização sangrenta e dura Da avidez com que o Espírito procura
Ser perfeito, ser m áxim o, ser forte!
É a Subconsciência que se transfigura Em volição conflagradora... É a coorte Das raças todas, que se entrega à m orte
Para a felicidade da Criatura!
É a obsessão de ver sangue, é o instinto horrendo De subir, na ordem cósm ica, descendo
À irracionalidade prim itiva...
É a Natureza que, no seu arcano, Precisa de encharcar-se em sangue hum ano
Para m ostrar aos hom ens que está viva!