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A Santos Neto

Para iludir m inha desgraça, estudo.

Intim am ente sei que não m e iludo.

Para onde vou (o m undo inteiro o nota) Nos m eus olhares fúnebres, carrego

A indiferença estúpida de um cego E o ar indolente de um chinês idiota!

A passagem dos séculos m e assom bra.

Para onde irá correndo m inha som bra Nesse cavalo de eletricidade?!

Cam inho, e a m im pergunto, na vertigem : -- Quem sou? Para onde vou? Qual m inha origem ?

E parece-m e um sonho a realidade.

Em vão com o grito do m eu peito im preco!

Dos brados m eus ouvindo apenas o eco, Eu torço os braços num a angústia douda

E m uita vez, à m eia-noite, rio Sinistram ente, vendo o verm e frio Que há de com er a m inha carne toda!

É a Morte esta carnívora assanhada --Serpente m á de língua envenenada Que tudo que acha no cam inho, com e...

-- Fam inta e atra m ulher que, a 1 de Janeiro, Sai para assassinar o m undo inteiro, E o m undo inteiro não lhe m ata a fom e!

Nesta som bria análise das cousas, Corro. Arranco os cadáveres das lousas

E as suas partes podres exam ino...

Mas de repente, ouvindo um grande estrondo, Na podridão daquele em brulho hediondo

Reconheço assom brado o m eu Destino!

Surpreendo-m e, sozinho, num a cova.

Então m eu desvario se renova...

Com o que, abrindo todos os j azigos, A Morte, em traj es pretos e am arelos.

Levanta contra m im grandes cutelos E as baionetas dos dragões antigos!

E quando vi que aquilo vinha vindo Eu fui caindo com o um sol caindo De declínio em declínio; e de declínio Em declínio, com o a gula de um a fera, Quis ver o que era, e quando vi o que era,

Vi que era pó, vi que era esterquilínio!

Chegou a tua vez, oh! Natureza!

Eu desafio agora essa grandeza, Perante a qual m eus olhos se extasiam .

Eu desafio, desta cova escura, No histerism o danado da tortura Todos os m onstros que os teus peitos criam .

Tu não és m inha m ãe, velha nefasta!

Com o teu chicote frio de m adrasta Tu m e açoitaste vinte e duas vezes...

Por tua causa apodreci nas cruzes, Em que pregas os filhos que produzes Durante os desgraçados nove m eses!

Sem eadora terrível de defuntod, Contra a agressão dos teus contrastes j untos A besta, que em m im dorm e, acorda em berros

Acorda, e após gritar a últim a inj úria, Chocalha os dentes com m edonha fúria

Com o se fosso o atrito de dois ferros!

Pois bem ! Chegou m inha hora de vingança.

Tu m ataste o m eu tem po de criança E de segunda-feira até dom ingo, Am arrado no horror de tua rede,

Deste-m e fogo quanto eu tinha sede...

Deixa-te estar, canalha, que eu m e vingo!

Súbito outra visão negra m e espanta!

Estou em Rom a. É Sexta-feira Santa.

A trava invade o obscuro orbe terrestre No Vaticano, em grupos prosternados, Com as longas fardas rubras, os soldados

Buardam o corpo do Divino Mestre.

Com o as estalactites da caverna, Cai no silêncio da Cidade Eterna A água da chuva em largos fios grossos...

De Jesus Cristo resta unicam ente Um esqueleto; e a gente, vendo-o, a gente

Sente vontade de abraçar-lhe os ossos!

Não há ninguém na estrada da Ripetta.

Dentro da igrej a de São Pedro, quieta, As luzes funerais arquej am fracas...

O vento entoa cânticos de m orte.

Rom a estrem ece! Além , num rum or forte Recom eça o barulha das m atracas.

A desagregação da m inha Idéia Aum enta. Com o as chagas da m orféia

O m edo, o desalento e o desconforto Paralisam -m e os círculos m otores.

Na Eternidade, os ventos gem edores Estão dizendo que Jesus é m orto!

Não! Jesus não m orreu! Vive na serra Da Borborem a, no ar de m inha terra, Na m olécula e no átom o... Resum e

A espiritualidade da m atéria E ele é que em bala o corpo da m iséria E faz da cloaca um a urna de perfum e.

Na agonia de tantos pesadelos Um a dor bruta puxa-m e os cabelos.

Desperto. É tão vazia a m inha vida!

No pensam ento desconexo e falho Trago as cartas confusas de um baralho

E pedaço de cera derretida!

Dorm e a casa. O céu dorm e. A árvore dorm e Eu, som ente eu, com a m inha dor enorm e

Os olhos ensangüento na vigília!

E observo, enquanto o horror m e corta a fala O aspecto sepulcral da austera sala

E a im passibilidade da m obília.

Meu coração, com o um crital, se quebre O term ôm etro negue m inha febre, Torne-se gelo o sangue que m e abrase

E eu m e converta na cegonha triste Que das ruínas dum a cassa assiste Ao desm oronam ento de outra casa!

Ao term inar este sendito poem a Onde vazei a m inha dor suprem a Tenho os olhos em lágrim as im ersos...

Rola-m e na cabeça o cérebro oco.

Por ventura, m eu Deus, estarei louco?!

Daqui por diante não farei m ais versos.

ETERNA MÁG OA

O hom em por sobre quem caiu a praga Da tristeza do Mundo, o hom em que é triste

Para todos os séculos existe E nunca m ais o seu pesar se apaga!

Não crê em nada, pois, nada há que traga Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.

Quer resistir, e quanto m ais resiste Mais se lhe aum enta e se lhe afunda a chaga.

Sabe que sofre, m as o que não sabe É que essa m ágoa infinda assim , não cabe

Na sua vida, é que essa m ágoa infinda Transpõe a vida do seu corpo inerm e;

E quando esse hom em se transform a em verm e É essa m ágoa que o acom panha ainda!

No documento Eu e Outras Poesias Augusto dos Anjos (páginas 80-84)

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