Entre o gozo que aspiro, e o sofrim ento De m inha m ocidade, experim ento O m ais profundo e abalador atrito...
Queim am -m e o peito cáusticos de fogo Esta ânsia de absoluto desafogo Abrange todo o círculo infinito.
Na insaciedade desse gozo falho Busco no desespero do trabalho, Sem um dom ingo ao m enos de repouso,
Fazer parar a m áquina do instinto, Mas, quanto m ais m e desespero, sinto
A insaciabilidade desse gozo!
DOLÊNCIAS
Oh! Lua m orta de m inha vida,
Os sonhos m eus Em vão te buscam , andas perdida E eu ando em busca dos rastos teus...
Vago sem crenças, vagas sem norte, Cheia de brum as e enegrecida, Ah! Se m orreste pra m inha vida!
Vive, consolo de m inha m orte!
Baixa, portanto, coração erm o De lua fria À plaga triste, plaga som bria Dessa dor lenta que não tem term o.
Tu que tom baste no caos extrem o Da Noite im ensa do m eu Passado, Sabes da angústia do torturado...
Ah! Tu bem sabes por que é que eu gem o!
Instilo m ágoas saudoso, e enquanto Planto saudades num cam po m orto, Ninguém ao m enos dá-m e um conforto,
Um só ao m enos! E no entretanto Ninguém m e chora! Ah! Se eu tom bar
Cedo na lida...
Oh! Lua fria vem m e chorar Oh! Lua m orta da m inha vida!
IDEALIZAÇÕES
A Santos Neto
I
Em vão flam ej a, rubro, ígneo, sangrento O sol, e, fulvos, aos astrais desígnios,
Raios flam ej am e fuzilam ígneos, Nas chispas fulvas de um vulcão violento!
É tudo em vão! Atrás da luz dourada, Negras, pom peiam (triste m aldição!) -- Asas de corvo pelo coração...
-- Crepúsculo fatal vindo do Nada!
Que im porta o Sol! A Treva, a Som bra -- eis tudo!
E no m eu peito condenada treva --A som bra desce, e o m eu pesar se eleva
E chora e sangra, m udo, m udo, m udo...
E há no m ei peito -- ocaso nunca visto, Martirizado porque nunca dorm e As Sete Chagas dum m artírio enorm e, E os Sete Passos que m agoaram Cristo!
II
Agora dorm e o astro de sangue e de ouro Com o um sultão cansado! As nuvens com o
Odaliscas, da Noite ao negro assom o Beij am -lhe o corpo ensangüentado d’ouro.
Legiões de névoas m ortas e finadas
Com o fragm entações d’ouro e basalto Lem bram guirlandas pom peando no Alto
Eterizadas, volaterizadas.
E a Noite em erge, santa e vitoriosa Dente um velarium de veludos. Atros, Descem os nim bos... No ar há m alabatros
Turiferando a negridão tediosa.
Além , dourando as névoas dos espaços, Na m aj estade dum condor bendito,
Subindo à m aj estade do Infinito, A Via-Láctea vai abrindo os braços!
Áureas estrelas, alvas, lum inosas, Trazem no peito o branco das m anhãs
E dorm em brancas com o leviatãos Sobre o oceano astral das nebulosas.
Eu am o a noite que este Sol arranca!
Nam oro estrelas... Sírius m e deslum bra, Vésper m e encanta, e eu beij o na penum bra
A im agem lirial da Noite Branca.
III
De novo, a Aurora, entre esplendores, há-de Alva, se erguer, com o tom bou outrora, E com o a Aurora -- o Sol -- hóstia da Aurora,
Abençoada pela Eternidade!
E ei-lo de novo, ontem m oribundo, Hoj e de novo, curvo ao seu destino, Fantástico, ciclópico, assassino Ébrio de fogo, dom inando o m undo!
Mas de que serve o Sol, se triste em cada
Raio que tom ba no m arnel da terra, Mais em m eu peito um a ilusão se enterra, Mais em m inh’alm a um desespero brada?!
De que serve, se, à luz áurea que dele Em ana e estua e se refrange e ferve, A Mágoa ferve e estua, de que serve Se é desespero e m aldição todo ele?!
Pois, de que serve, se aclarandoos cerros E engalanando os arvoredos gaios, A alm a se abate, com o se esses raios N’alm a caindo, se tornassem ferros?!
IV
Poeta, em vão na luz do sol te inflam as, E nessa luz queim as-te em vão! És todo pó, e hás de ser após as cham as, lodo, Com o Herculanum foi após as cham as.
Ah! Com o tu, em lodo tudo acaba, O leão, o tigre, o m astodonte, a lesm a, Tudo por fim há de acabar na m esm a Tênebra que hoj e sobre ti desaba.
Ninguém se exim e dessa lei im ensa Que, em plena e fulva reverberação,
Arrasta as alm as pela Escuridão, E arrasta os corações pela Descrença.
Ergue, pois poeta, um pedestal de tanta Treva e dor tanta, e num suprem o e insano E extraordinário e grande e sobre-hum ano Esforço, sobre ao pedestal, e... canta!
Canta a Descrença que passou cortanto
As tuas ilusões pelas raízes, E em vez de chagas e de cicatrizes Deixar, foi valas funerais deixando.
E foi deixando essas funéreas, frias, Medonhas valas, onde, com o abutres Medonhos, de ossos, de ilusões te nutres,
Vives de cinzas e de ruinarias!
V
Agora é noite! E na estelar coorte, Com o recordação da festa diurna, Gem e a pungente orquestração noturna
E chora a fanfarra triunfal da Morte.
Então, a Lua que no céu se espalha, Ilum inando as serranias, banha As serranias dum a luz estranha, Alva com o um pedaço de m ortalha!
Nessa m úsica que a alm a m e ilum ina Tento esquecer as m inhas próprias dores,
Canto, e m inh’alm a cobre-se de flores -- Fera rendida à m úsica divina.
Harpas concertam ! Brandas m elodias Plangem ... Silêncio! Mas de novo as harpas
Reboam pelo m ar, pelas escarpas, Pelos rochedos, pelas penedias...
Eu am o a Noite que este Sol arranca!
Nam oro estrelas... Sírius m e deslum bra, Vésper m e encanta, e eu beij o na penum bra
A im agem lirial da Noite Branca!