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2 GENEALOGIA DA MEMÓRIA SOCIAL: AS BASES PARA A

2.1 DE EMILE DURKHEIM A HENRI BERGSON: AS BASES PARA

2.1.1 Emile Durkheim: as representações sociais e a Teoria da Memória

Emile Durkheim, sociólogo e filósofo francês, que juntamente com Max Weber e Karl Marx foi considerado como um dos pilares das Ciências Sociais e pai da sociologia moderna. Foi membro fundador da Escola Francesa de Sociologia e um marco para as ciências sociais devido aos seus estudos sobre a sociedade, buscando explicar o seu funcionamento em uma era de ruptura, quando surgem novas instituições e há o enfraquecimento de laços sociais e religiosos tradicionais. Durkheim formulou conceitos como fato social, coesão social, anomia e representações coletivas. Sua definição sobre fatos sociais influiu consideravelmente para o desenvolvimento da sociologia no século XX.

Os conceitos de consciência coletiva e representações coletivas contribuíram para uma nova concepção acerca da relação entre indivíduo e sociedade no seu tempo. Para este autor, a sociedade é, antes de qualquer coisa, “um conjunto de ideias que ligam os homens entre si e as crenças coletivas são o nó vital de qualquer sociedade” (DURKHEIM, 1970, p. 39). Partindo desta premissa, Halbwachs destaca o caráter simbólico da memória individual, como parte de um complexo social mais amplo – os grupos sociais. Durkheim (1989) ressalta o caráter social do homem, destacando a importância do fator individual e social, o qual está relacionado à personalidade. Desta forma:

[...] se o elemento essencial da personalidade é o que existe de social em nós, por outro lado, só pode haver vida social se indivíduos distintos estiverem associados. E ela, a vida social será tanto mais rica quanto mais numerosa e diferente forem os outros” (DURKHEIM, 1989, p. 333).

Esta é uma das premissas básicas defendidas por Halbwachs em relação à memória coletiva. Para este autor, “nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são lembranças pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetivos que só nós vimos” (HALBWACHS, 2004, p. 30).

Cordeiro (2013) realizou pesquisa sobre a influência de Durkheim e Bergson nas obras de Halbwachs. Nessa pesquisa, destacou a influência do sociólogo francês principalmente com “As Formas Elementares da Vida Religiosa” (2003), ao abordar o animismo e o argumento contra a noção da origem da religião na crença da dupla existência de um homem caracterizado em estado de vigília, e o outro pelo estado de sono (CORDEIRO, 2013, p.102). A citação a seguir demonstra a questão dos sonhos vinculados à memória tratada por Durkheim (2003):

Com muita frequência nossos sonhos relacionam-se a acontecimentos passados; revelamos o que vimos o que fizemos durante a vigília, ontem, anteontem, em nossa juventude e etc.; Sonhos como estes ocupam um lugar considerável em nossa vida noturna [...]. Como é que o homem, por mais rudimentar que fosse sua inteligência poderia acreditar uma vez desperto, que acabara de presenciar realmente ou de tomar parte um acontecimento que ele sabia ter se passado outrora? Como poderia imaginar que tinha vivido durante o sono uma vida que ele sabia ter a muito transcorrido? Era bem mais natural que visse nessas imagens renovadas o que eles são realmente, isto é, lembranças, tais como ele as tem durante o dia, mas de uma intensidade particular (DURKHEIM, 2003, p. 44)

Em resumo, os sonhos se utilizam das lembranças para se construírem, de acordo com uma intencionalidade específica; e estes têm a capacidade de fornecer elementos para a própria memória, como explica Cordeiro (2013, p.102). No entanto, os sonhos não conseguiriam deixar reminiscências significativas, e isto ocorre devido à ausência de elementos sociais externos, pois os grupos sociais são, de fato, responsáveis pela construção da memória; nesta premissa concordam tanto Durkheim quanto Halbwachs.

Outro conceito abordado por Durkheim (1970, p.39) relativo à memória é o de representações coletivas. Segundo este autor, os sentimentos individuais transformam-se em representações coletivas pelo fato de os fenômenos sociais serem impostos aos indivíduos através de normas sociais. Tem-se, assim, a sociedade como um sistema formado pela inter- relação dos indivíduos nos diversos grupos que a compõem. Desta forma, pode-se dizer que:

“[...] sobre certos aspectos as representações coletivas são exteriores com relação às consciências individuais, porque não derivam dos indivíduos isoladamente, mas de sua cooperação entre estes e os grupos” (DURKHEIM, 1989, p. 39).

Durkheim admite uma pluralidade de representações, sendo que o individual e o coletivo se integram e, a partir desta integração constituem a identidade coletiva, que confere ao indivíduo uma identidade de grupo, diferenciando-o dos seus demais membros. Dessa forma, as representações são:

Produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no tempo; para produzi-las, umas multidões de espíritos diversos associaram, misturaram, combinaram suas ideias e seus sentimentos; longas séries de gerações acumularam aí a sua experiência e o seu saber. Uma intelectualidade muito particular, infinitamente mais rica e mais complexa que a do indivíduo aí está como que concentrada (DURKHEIM, 1989, p. 45).

Além das representações sociais, Durkheim também associa a memória social a outros três conceitos – o de consciência coletiva, que pode ser entendida como moral coletiva. Desta forma:

A consciência coletiva é a forma mais elevada da vida psíquica, já que é uma consciência de consciências. Colocada fora e acima das contingencias individuais e locais, ela só vê as coisas por seu aspecto permanente e essencial, fixando-o em noções comunicáveis (DURKHEIM, 2003, p. 494).

É neste sentido que “a repetição da vida cotidiana baseada na consciência ou moral coletiva aponta para a ideia de tradição. Assim, moral e tradição poderiam ser compreendidas como elementos eminentemente constitutivos da memória” (CORDEIRO, 2013, p. 103).

Segundo ressalta Lukes (1984), o conceito de consciência coletiva foi usado por Durkheim em seu livro “A divisão do trabalho”, a qual ele definiu “como o conjunto de crenças e sentimentos comuns dos membros de uma determinada sociedade” (DURKHEIM, 1988, p. 74). No entanto, Lukes afirma que ele “o usou poucas vezes, depois abandonou o conceito que estaria associado ao modo de coesão em sociedades menos avançadas”, cuja consciência coletiva tornou-se um instrumento analítico insuficiente para dar conta da problematização que buscava a partir da Divisão do Trabalho. Para este autor, o que Durkheim pretendia era:

Estudar como os indivíduos se vinculam a, e são controlados pelas sociedades, como as crenças e sentimentos coletivos são vinculados, como mudam, como afetam, e como são afetados por outros aspectos da vida social, e como são mantidos e reforçados (LUKES, 1984, p 17).

Lukes (1984) explica que o conceito de divisão do trabalho tornou-se abrangente e estático, pois não abrangia a distinção entre crenças cognitivas, morais e religiosas, e as transformações decorrentes do desenvolvimento das sociedades, sendo assim, passou a utilizar o conceito de representação coletiva. No texto Representações individuais e representações coletivas, Durkheim (1970) faz referência à memória identificando-a com a vida mental e as características morais. Ele nega a concepção de memória como epifenômeno de fatos orgânicos, pois, se isso fosse fato, a memória seria um fato orgânico e não psíquico. Desta forma, a memória seria constituída dos “resíduos deixados por nossa vida anterior, são hábitos contraídos, os preconceitos, as tendências que nos movem sem que disso nos apercebamos [...], são, em resumo tudo aquilo que constitui nossa característica moral” (DURKHEIM, 1970, p. 20).

Outros dois conceitos definidos por Durkheim, estariam relacionados aos diferentes graus de intensidade de uma memória social: a coesão e a solidariedade (CORDEIRO, 2013, p.104), ambos associados às relações que se estabelecem na sociedade. Sendo assim, a configuração e a persistência da memória dos grupos sociais estariam associadas ao meio social e seriam organizadas em torno destes dois conceitos.

No caso da coesão, esta seria responsável pela persistência da memória de um grupo no tempo, ou seja, teria relação direta com o grau de vivacidade da memória em relação a este mesmo grupo (CORDEIRO, 2013, p. 109). Isto significa que a memória coletiva existe enquanto os grupos existirem; e depois que esses grupos se desfazem por motivos diversos, a memória não se conserva ou se fragmenta, tornando-se difícil a sua recomposição. Neste sentido, Halbwachs (2004, p. 34) afirma que: “A duração de tal memória era então limitada, pela força das coisas, na duração do grupo”.

Neste sentido, ainda podemos argumentar sobre a dinâmica do recordar, pois, como vimos, a coesão garante a permanência da memória no grupoNeste sentido, a lembrança está diretamente associada à intensidade do envolvimento dos indivíduos do grupo (CORDEIRO, 2013, p. 110). Como no caso da experiência de pesquisa no Mercado Manoel Firmino, em Aveiro, Portugal28, quando pesquisamos sobre a memória dos feirantes daquele mercado, a maioria não tinha mais lembranças relativas ao passado daquele lugar, à exceção de um feirante, o mais antigo, que conviveu com vários grupos que por ali passaram; e os demais sabiam uma ou outra coisa sobre as lembranças daquele lugar.

A coesão e a solidariedade29 do grupo têm por base as teorizações de Durkheim (2003), as quais Halbwachs tomou como referência para a construção da sua teoria. Segundo este autor, estes dois elementos vão dar consistência à memória nos grupos (CORDEIRO, 2015), ou seja, estes elementos corroboram a manutenção destas lembranças, e isto significa que, quanto mais coeso e solidário o grupo, mais a sua memória é fortalecida (CANDAU, 2012). A partir destes argumentos, questiono: Existem grupos ou comunidades sem memória? No entanto, hoje, quando se fala em sociedade, não se pode pensar em coesão ou integração, como afirma Menezes (2007, p. 18). Para este autor, também não é politicamente correto falar em coesão social, visto que a ideia de sociedade atualmente é de fragmentação (BAUMAN, 2011), do conflito, então: Como fica a memória dos grupos neste contexto? E como se mantêm os laços de interação?

28 Esta pesquisa foi realizada no âmbito do doutorado sanduiche da CAPES na Universidade de Aveiro, em

Portugal, no período de abril a julho de 2017, que teve como objetivo realizar um estudo das feiras e mercados da região Norte de Portugal, mais especificamente na cidade de Aveiro e no Porto. Foram realizados estudos nas feiras de Espinho, N. Sra. da Hora e Custóias, no distrito do Porto; e na Feira dos 28 e no Mercado Manoel Firmino, na cidade de Aveiro.

29 A coesão e a solidariedade aparecem no contexto da memória como uma condição de reforço, no sentido de

articulação das lembranças compactadas por todos ou pela maioria dos componentes dos grupos, como uma forma de reforçar esta memória. Aqui a coesão teria o sentido de que a maioria dos membros do grupo sustenta aquela memória, mesmo com versões diferentes; e a solidariedade com que todos compartilham o significado do mesmo sentimento de pertencimento a esta lembrança, o que Candau (2012) denomina de metamemória.

Com base no exposto, e a partir das análises de Cordeiro (2015) e Candau (2012), é possível inferir que os grupos podem perder suas memórias específicas caso seus membros forem se afastando ou morrendo e se não se criarem “extensores” para esta memória. Assim, Cordeiro (2015) comenta que, se caso esses grupos não criem “suportes” para a sua memória coletiva, esta tende a desaparecer, no entanto, a memória do indivíduo sobre aquele grupo ainda pode persistir, sustentada por algum ponto de referência relativo a uma data especial, uma imagem ou um documento. A existência de uma comunidade sem memória resulta numa comunidade sem referência de identidade, pois não haveria uma história para contar.

Partindo desta reflexão, o esquecimento também está vinculado à coesão do grupo, pois “esquecer um período da vida é perder o contato com os que então nos rodeavam” ou esquecer uma habilidade específica, como falar uma língua, por exemplo, é perder “a capacidade de compreender as pessoas que falavam essa língua” (HALBWACHS, 2004, p. 37). Em ambos os casos, têm-se a ausência de interação.

Neste sentido, percebe-se que a objetividade da memória não está restrita ou vinculada à realidade ou à veracidade dos fatos. Esta objetividade baseia-se em outro conceito de Durkheim – a solidariedade do grupo – que sustenta a memória, ou seja, na crença da existência desta memória. Candau (2012, p. 45) corrobora este argumento, ao afirmar que: “para a memória se fundamentar no grupo é necessário que os membros deste grupo tenham a mesma crença, ou seja, que tenham uma percepção acordada sobre o passado”.

Na sua obra “As formas elementares da vida religiosa”, Durkheim faz referência a duas categorias que se reportam à teoria da memória coletiva de Halbwachs, quais sejam: os mitos e os ritos. Embora Durkheim não faça menção direta às duas categorias em seus textos sobre memória, porém, na citada obra estabelece uma relação com a conservação da memória a partir das articulações entre os dois conceitos, o que, para este autor, reforça as tradições.

Neste sentido, como afirma Durkheim: “o que exprime as tradições cujas lembranças ela perpetua é a maneira pela qual a sociedade concebe o homem e o mundo. Trata-se de uma moral e de uma cosmologia e, ao mesmo tempo, em que é uma história” (DURKHEIM, 2003, p. 409). Aqui nos reportamos ao tópico anterior, no qual se refere aos rituais religiosos cristãos como formas de reafirmação da memória ou da crença no divino. Durkheim vai pelo mesmo caminho ao analisar o rito em sociedade tribal, que para ele, este tem como função.

Desta forma, “o rito serve para manter a vitalidade dessas crenças e impedir que elas se apaguem das memórias” (DURKHEIM, 2003, p. 409). A combinação dos mitos e ritos em relação ao grupo resulta na coesão, que é outro conceito diretamente vinculado à categoria memória coletiva, visto que tem influência no nível de vivacidade da memória.

Segundo Alberto (2013, p. 9), “as formas elementares da Vida Religiosa” marcam uma ruptura e uma mudança de postura epistemológica de Durkheim quanto à objetivação das representações sociais, que passam a se fundamentar em um amplo processo de símbolos, a cuja principal atenção deste autor localiza-se em uma visão lógico-simbólica dessas representações.

Para Cordeiro (2013, p.107), haveria um duplo caminho a ser trilhado em busca da memória, que envolve o plano subjetivo e o objetivo. O primeiro estaria composto por uma sucessão de recordações individuais ou subjetivas que eram únicas e teriam como referência os marcos sociais da memória, que serviriam para a divisão temporal da sociedade na ordenação e classificação das recordações nos quadros sociais da memória definidos por Halbwachs (2004). No plano objetivo, estes quadros seriam vistos como fatos sociais, a partir de fora dos grupos, que estariam compostos pelas mesmas peças que compõem as recordações, mas variando em grau e não na sua natureza.

Durkheim (2003) formulou conceitos básicos para a construção da teoria da memória coletiva – o principal foi de Representação Coletiva,30 que no primeiro momento é referenciada como uma categoria de pensamento que reproduz os estados de coletividade (DURKHEIM, 2003, p. XXIII). A partir deste conceito Durkheim vai desencadear uma discussão sobre a construção do pensamento científico e da consciência coletiva na sociedade da sua época, pois: “elas exprimem as relações mais gerais que existem entre as coisas; ultrapassando em extensão todas as nossas outras noções, dominam todo detalhe de nossa vida intelectual” (DURKHEIM, 2003, p. XXIV).

Em “Representações individuais e representações coletivas” (1898), a memória é entendida como fenômeno orgânico. Nesse texto, inicia-se a transição da obra durkheimiana, ao articular a discussão acerca das representações individuais e coletivas, fazendo uma analogia

30 O conceito de representação coletiva proposto por Durkheim foi revisto por Serge Moscovici, como base para

modernizá-lo e formular o conceito de representações sociais, que, segundo este autor, o conceito de representações coletivas era mais adequado para um contexto de sociedades menos complexas, nas quais Durkheim deteve a sua pesquisa, enquanto que as representações sociais se adéquam às sociedades modernas, que são caracterizadas pelo seu pluralismo e pela rapidez de suas mudanças. Hoje, há poucas representações verdadeiramente coletivas. Ver: FARR, R. M. In: Guareschi; Jovchelovitch (1995).

entre a Psicologia e a Sociologia, que têm objetos de estudos bem próximos. Segundo o teórico: “La vida coletiva, como la vida mental del indivíduo está hecha, em efecto, de representaciones sociales sean, em certo modo, comparable” (DURKHEIM, 1970).

Alberto (2013, p. 11), explica que da forma como fez na analogia com a biologia, onde Durkheim critica a identificação que Spence31 estabelece entre as leis da biologia e da sociedade,

agora sustentará que esta aproximação entre as representações individuais e coletivas, ao contrário de evidenciar a ideia que reduz a sociologia como resultante da psicologia individual, evidencia a independência relativa desses dois mundos e dessas duas ciências (DURKHEIM, 1970).

As representações do passado, portanto, não permanecem para o indivíduo exatamente como foi experimentada, pois sofrem transformações, visto que “não é a mesma sensação que se desperta após ter permanecido adormecida durante certo tempo; é uma sensação inteiramente original, pois nada resta daquela que ocorreu inicialmente” (DURKHEIM, 1970, p. 19). Neste texto, o tema da memória surge mais formalmente, mas ainda há uma discussão sobre a sua estruturação entre o orgânico e o psíquico. No entanto, neste trabalho, ele deixa claro que “a memória não é um fato puramente físico e que as representações são suscetíveis de se conservarem” (DURKHEIM, 1970, p. 28).

Portanto, a partir das representações individuais e coletivas, Halbwachs tem um importante suporte para a construção de seu conceito de memória coletiva e para a definição de seus marcos sociais da memória. Esta conclusão se dá pela análise das obras destes dois autores32, Halbwachs (1925; 1945) e Durkheim ([1912], 2003), percebendo-se quando se trata da memória coletiva como uma construção social resultante das experiências individuais vividas nos grupos, identifica-se a relação direta com o conceito de Durkheim, das representações coletivas, que, segundo o autor, exprimem a sociedade e resultam da combinação das consciências individuais:

As representações coletivas são o produto de uma imensa cooperação que se estende não apenas no espaço, mas no tempo; para criá-las, uma multidão de espíritos diversos associou, misturou, combinou suas ideias e seus sentimentos; longas séries de gerações nelas acumularam sua experiência e seu saber (DURKHEIM, 2003, p. XXIII).

32 Aqui consideramos as principais obras de Halbwachs sobre o tema da memória: Les Cadres Sociaux de la

memoire (1925) e A memória coletiva (1945). As principais obras de Durkheim foram: As representações individuais e as representações coletivas (1898); e Formas Elementares da Vida Religiosa (1912), textos onde

Além disso, em “As formas elementares”, encontramos outras noções conceituais que serão utilizadas por Halbwachs: as noções de duplo, de marco social33 e de grupos, além das já referida anteriormente. A noção de duplo vai sustentar as argumentações deste autor no livro “Les Cadres”, capítulo I, quando Halbwachs discute sobre o sonho e se as imagens presentes nele fazem parte da memória. trata sobre o sonho. Esta discussão será tratada em tópico específico neste capítulo,

A relação com o texto de Durkheim encontra-se no tópico em que o autor trata do animismo e discute sobre o duplo do Homem, ou seja: “há um ser individual e um ser social, que representa em nós a mais elevada realidade, na ordem intelectual e moral [...]” (DURKHEIM, 2003, p. XXIII). Neste parágrafo, Durkheim refere-se ao conceito de alma e o relaciona ao sonho, quando afirma que:

A alma tenha sido sugerida ao homem pela experiência do sonho. Para compreender de que maneira, enquanto seu corpo permanecia deitado no chão, era capaz de ver durante o sonho lugares mais ou menos distantes, ele teria sido levado a conceber-se como formato por dois seres: seu corpo de um lado e do outro, um segundo si mesmo [...] (DURKHEIM, 2003, p. 44).

Quanto ao conceito de marco social, que será o ponto-chave da teoria de Halbwachs, este aparece em Durkheim (2000, p. 494) relacionado à consciência coletiva, que, segundo o autor, “vai estar fora e acima das contingências individuais e locais”. Neste sentido, afirma que: “A cada momento do tempo, abrange toda a realidade conhecida; por isso só ela pode fornecer ao espírito dos marcos que se apliquem a totalidade dos seres, e que permitam pensá-los” (DURKHEIM, 2003, p. 494). Neste texto, apresenta duas categorias associadas à ideia de marco social: tempo e espaço, que juntamente com a linguagem, vão constituir os marcos gerais da memória.

A noção de grupo vai sustentar o argumento da memória coletiva quanto aos grupos sociais a que os indivíduos pertencem e nos quais constroem a memória coletiva, quais sejam: a família, as classes sociais e os grupos religiosos, que constituem os marcos sociais mais específicos da memória coletiva. A seguir, apresentamos o pensamento de Bergson (1999),