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Reconhece-se que as situações estressoras evocam uma série de respostas que podem ser classificadas em dois tipos: estresse, propriamente, e coping.

Segundo Folkman e Lazarus (1984), as respostas que surgem de forma espontânea em uma situação estressora caracterizam o estresse. Este se refere às respostas involuntárias, eliciadas pelos estímulos estressores. As respostas evocadas por estes mesmos estímulos, mas mantidas por suas consequências, denominam-se coping. As consequências relacionam-se tanto a mudanças no ambiente externo quanto a efeitos sobre condições aversivas localizadas no interior do organismo. O alvo constitui-se na situação ou condição que deu origem ao mal estar ou problema.

O coping processa-se mediante mobilização de recursos naturais, com fins de administração de situações estressoras. Consiste na interação entre o organismo e o ambiente, na qual se lança mão de um conjunto de estratégias destinadas a promover a adaptação às circunstâncias estressantes.

Em português, coping, vem sendo traduzido como “enfrentamento”. O conceito centraliza-se nos acontecimentos que se sucedem ao longo da vida das pessoas, se referem a perdas, dificuldades, fatos inesperados, tragédias que os indivíduos precisam enfrentar ajustando-se ao impacto.

“Os enfoques atuais de coping surgiram de duas fontes principais: psicologia de orientação psicanalítica e experimentação animal” (LIPP, 2010, p. 93).

A concepção psicanalítica surgiu no início do século XX e apresentou coping como correspondente aos mecanismos de defesa orientados no sentido de se lidar com conflitos sexuais e questões relacionadas à agressão. Supunha-se tratar de operações inconscientes, destinadas a reduzir a angústia.

Os atos ligados ao coping, nesta visão psicanalítica, passaram, posteriormente, a ser tidos como flexíveis, propositais, orientados para o futuro e consistentes com a realidade externa, por isso, diferentes dos mecanismos de defesa. Conceber coping como atos inatos ou adquiridos faz parte do referencial de uma primeira geração de pesquisadores, que se dividia entre a visão psicanalista e a

de estresse. A partir da década de 1960 surgiu uma segunda geração e, após esta, ainda uma terceira geração.

Por iniciativa da segunda geração de pesquisadores, institui-se uma nova orientação na área. Passou-se a definir coping como um conjunto de respostas relevantes cuja compreensão envolve a identificação de seus determinantes ambientais. Entre os atos inatos, excluíram-se as respostas de coping.

Segundo Lipp, 2010, Folkman e Lazarus fazem parte desta segunda geração de pesquisadores que definem o coping como esforços cognitivos e comportamentais para se lidar com exigências que ultrapassem os recursos do indivíduo. Eles entendem coping como um processo e qualquer empenho em se lidar com o estressor é uma resposta de coping, independentemente do sucesso ou fracasso que se tenha obtido.

Há dois tipos principais de estratégias, que equivalem às duas grandes funções de coping: coping centrado no problema e coping centrado na emoção. “Neste modelo, estratégias de coping são ações deliberadas, orgânicas ou não, emitidas em resposta a um estímulo estressor devidamente identificado” (PANZINI, 2004, p. 94).

O coping centrado no problema se dirige a situações mutáveis. Trata-se de se dirigir esforços no sentido de mudar a situação que deu origem ao mal estar, de solucionar o problema, mudando a relação do indivíduo com o seu meio ambiente de modo a se modificar as contingências responsáveis pela tensão.

O coping centrado na emoção se dirige mais as situações incontroláveis, que não podem ser evitadas ou cujas condições de nocividade ou desafio são imutáveis. Representa esforços no sentido de regular o estado emocional em episódios estressantes, quando se é exposto aos estressores ou quando se responde a eles em elevada magnitude. Objetiva modificar condições emocionais momentâneas por meio de medidas que influenciem a área somática, como tomar um tranquilizante, ou efeito emocional, como entregar-se a fantasias.

Lipp (2010) comenta que segundo Folkman e Lazarus, as funções de coping são duas: alterar as relações indivíduo-ambiente controlando a situação geradora de tensão (coping centrado no problema) ou modular a resposta emocional evocado pela situação problema (coping centrado na emoção). Porém, para outros autores a controlabilidade é identificada em diferentes graus pelas pessoas. Uma situação

estressora pode ser tida como controlável por algumas pessoas e como imutável por outras.

“A percepção de controlabilidade, as crenças ou regras em torno do próprio poder de controlar eventos podem ter sobre o comportamento o mesmo efeito de contingências reais” (LIPP, 2000, P. 94).

Existem determinantes circunstanciais ou ambientais que interagem com variáveis pessoais no efeito da controlabilidade, sobre o comportamento dos indivíduos. A discriminação quanto ao seu próprio poder de controle dos eventos do meio, isto é, a percepção de controlabilidade, determina, pelo menos em parte, a avaliação das situações como passíveis de mudança por ação do próprio indivíduo. Esta avaliação tem complicações na seleção de respostas de coping, pois se o indivíduo se percebe incapaz de agir sobre o estressor, provavelmente lançará mão de estratégias compatíveis com sua incapacidade. Estas estratégias seriam, no caso, inclusas no coping centrado na emoção, enquanto o coping centrado no problema teria a preferência dos indivíduos que se percebem capazes de razoável grau de controle sobre os eventos.

“A relação entre controlabilidade e coping tem implicações na diferenciação de escolhas segundo o gênero: homens e mulheres tendem a fazer escolhas distintas em função, em parte, da forma como descrevem as consequências do próprio comportamento” (LIPP, 2010, p. 95).

O coping instala-se no repertório total do indivíduo. Este repertório se diferencia entre os gêneros, em aspectos que, embora não se refiram ao coping, especificamente, mantêm com este certa relação.

Segundo Compas (1987), o coping centrado na emoção tende a surgir no fim da infância e predomina na adolescência.

A evolução na forma como se responde às situações estressoras, ao longo do desenvolvimento, revela o quanto o aprendizado deste tipo de resposta se integra à aquisição de outras formas de comportamento.

O coping centrado no problema surge mais cedo do que o coping centrado na

emoção em função de dois fatores principais: restrições verbais da criança, que limitam o acesso ao seu próprio repertório privado e a dificuldade de se instalar

coping centrado na emoção por modelação. Quanto menor a criança maior o grau

de dificuldade de se reproduzirem respostas de coping centrado na emoção, a partir de modelos adultos. (COMPAS, 1987).

Para que as respostas de coping sejam emitidas elas têm de constar do repertório comportamental do indivíduo. Mas o fato de ser capaz de emitir uma dada resposta não quer dizer que o indivíduo irá responder em uma dada situação. A seleção de respostas de coping também se inclui no seu processo de aprendizagem. A probabilidade de escolhas de uma dada resposta de coping depende do resultado de escolhas feitas no passado (SAVÓIA, 1995).

Concluindo, o coping consiste em uma série ampla de respostas, que tem em comum o fato de serem evocadas por situações estressoras e assumirem a função geral que exercem: suas consequências podem mudar o contexto no qual as respostas de estresse são eliciadas. É desta forma que o coping pode afetar o

stress. A interação entre estresse e coping envolve intensos e extensos processos:

os mecanismos de coping instalam-se ao longo do desenvolvimento humano e dependem de respostas do indivíduo às variáveis da situação.

“A forma pela qual uma pessoa usa enfrentamento está determinada, em parte, por seus recursos, os quais incluem saúde e energia, crenças existenciais, habilidades de solução de problemas, habilidades sociais, suporte social e recursos materiais. Podem ser de natureza pessoal, incluindo valores e crenças culturais que prescrevem certas formas de déficits de comportamentos. Podem ser ambientais, incluindo demandas que competem com os recursos pessoais e/ou agências como instituições que impedem os esforços de enfrentamento” (LIPP, 2010, p. 165).

3.3.2 Coping Religioso

O conceito de coping religioso é embasado nas obras de Keneth Pargament, e também na dissertação de mestrado de Raquel Gehrke Panzini (Escala de coping

religioso espiritual - CRE): tradução, adaptação e validação da Escala RCOPE, abordando relações com saúde e qualidade de vida, 2004).

O estresse é uma variável múltipla e um inevitável aspecto da vida. A exposição frequente, intensa ou crônica ao estresse está associada a numerosos efeitos adversos na saúde física e mental. O que faz diferença no funcionamento humano é a maneira como as pessoas manejam este estresse (Folkman e Lazarus, 1984), processo conceituado como coping.

Coping é um conceito chave que ajuda a entender adaptação e desajustes na

adaptação, já que o estresse sozinho não causa sofrimento e disfunção. O que causa sofrimento é como as pessoas manejam o estresse (PARGAMENT, 1997).

“Uma das maneiras de se manejar o stress é através da religião. Trata-se de

coping religioso, que descreve o modo como os indivíduos utilizam sua fé para lidar

com o estresse e os problemas da vida” (PANZINI, 2004, p.20).

Na perspectiva da Psicologia da Religião, “coping é uma busca por significado em tempos de estresse” (PARGAMENT, 1997, p. 90), um processo pelo qual os indivíduos procuram entender e lidar com as demandas significantes de suas vidas (PARGAMENT, 1990).

A religião pode ter diferentes significados para diferentes pessoas. A religião constitui-se num processo de busca de significado através de caminhos relacionados ao sagrado (PARGAMENT, 1997, p. 32). Quando as pessoas se voltam para a religião para lidar com o estresse, acontece o coping religioso. Definido por Pargamet como o “uso de crenças e comportamentos religiosos para facilitar a situação de problemas e prevenir ou aliviar as consequências emocionais negativas de circunstâncias de vias estressantes” (PANZINI, 2004, p. 25).

Os objetivos do coping religioso, segundo Pargament (2000), são: busca de significado, controle, conforto espiritual, intimidade com Deus e com outros membros da sociedade, transformação de vida, bem estar físico, psicológico e emocional e busca de crescimento e conhecimento pessoal.

A religião oferece uma variedade de métodos ou estratégias de coping (PARGAMENT, 1997).

“O coping religioso espiritual pode estar associado com estratégias orientadas para o problema, quanto a estratégias orientadas para a emoção” (PANZINI, 2004, p. 26).

Os métodos de coping religioso espiritual podem ser classificados em positivos e negativos, pois a religião/espiritualidade pode ser fonte de alívio ou desconforto, de solução de problemas ou causas de estresse, dependendo de como a pessoas se relacionam com ela, ou seja, depende da utilização de estratégias de CRE positivas ou negativas. Pargament e colegas (1998) propuseram quatro estilos de coping religioso:

a) O estilo autodireção, que considera o indivíduo ativamente responsável na resolução dos problemas. O papel de Deus seria mais passivo. Leva em

consideração o fato de Deus dar às pessoas a liberdade e os recursos para dirigirem suas próprias vidas;

b) O estilo delegação outorga a responsabilidade na solução de problemas a Deus. O indivíduo espera passivamente que Deus resolva tudo;

c) O estilo colaboração prevê uma corresponsabilidade entre Deus e o indivíduo na resolução dos problemas. O indivíduo trabalha em ativa parceria com Deus no processo de coping;

d) O estilo súplica é caracterizado pela tentativa de influenciar a vontade de Deus através de rogos e petições por sua divina intervenção.