• Nenhum resultado encontrado

Enfrentamento religioso da mulher de cultura presbiteriana na situação de estresse

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Enfrentamento religioso da mulher de cultura presbiteriana na situação de estresse"

Copied!
286
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

KELCY RACHID

ENFRENTAMENTO RELIGIOSO DA MULHER DE CULTURA PRESBITERIANA NA SITUAÇÃO DE ESTRESSE

São Paulo

(2)

KELCY RACHID

ENFRENTAMENTO RELIGIOSO DA MULHER DE CULTURA PRESBITERIANA NA SITUAÇÃO DE ESTRESSE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do grau de mestre.

Orientador: Professor Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes

(3)

R119e Rachid, Kelcy Guimarães Requena de Paula

Enfrentamento religioso da mulher de cultura presbiteriana na situação de estresse / Kelcy Guimarães Requena de Paula Rachid - 2011.

287f. : il. ; 30 cm

Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2011.

Orientação: Prof. Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes Bibliografia: f. 157-160

(4)

KELCY RACHID

ENFRENTAMENTO RELIGIOSO DA MULHER DE CULTURA PRESBITERIANA NA SITUAÇÃO DE ESTRESSE

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião da Universidade Presbiteriana Mackenzie para obtenção do grau de mestre.

Aprovada em ___ / ___ / ___

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________________________________ Professor Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes - Orientador

Universidade Presbiteriana Mackenzie - UPM

_______________________________________________________________ Professora Dra. Sueli Galego

Universidade Presbiteriana Mackenzie – UPM

_______________________________________________________________ Professora Dra. Patrícia Pazinato

(5)

AGRADECIMENTOS

Ao Senhor Deus, “Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois a glória eternamente. Amém.” Rm 11: 36;

À minha família nuclear, Ismael, amado e respeitoso marido, Raquel e Déborah, amadas filhas;

À minha família de origem, Pedro Requena, que já usufrui da companhia de Jesus de modo pleno, Neuza, minha mãe, que me ensinou o caminho da Casa do Senhor, Cristiane, minha irmã, que me defendeu quando nós éramos pequenas;

Ao meu orientador professor Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes pela confiança depositada nesta aluna, pela oportunidade de crescimento e pelas orientações neste trabalho;

Aos membros da Banca, professora Dra. Sueli Galego e professora Dra. Patrícia Pazinato pelas contribuições e solicitude quando do nosso primeiro encontro em 17.02.2011;

À professora Dra. Marília Ancona pela permissão e acolhimento dado no grupo de estudos em Psicologia e Religião, na PUC;

A um grupo enorme de pessoas, composto por amigos, parentes, professores, clientes, colegas, irmãos e até aqueles que me auxiliaram sem ao menos eu saber o nome;

Às participantes desta pesquisa que decidiram responder a um enorme questionário, investindo tempo precioso;

À ASEC e Programa “Amigos do Zippy” que possibilitaram contato inicial com o conceito de coping;

À Universidade Presbiteriana Mackenzie, instituição que me acolhe há muitos anos;

(6)
(7)

RESUMO

O início deste novo século trouxe consigo muitas mudanças resultantes de alterações sociais e tecnológicas, às quais a mulher foi submetida. Ela vivencia uma época de inexistência de verdades absolutas e convive com o imprevisível. Seu papel passou por transformações ao longo dos anos que podem ser observadas inclusive no âmbito religioso. Estas situações exigem adaptações constantes e todo processo de adaptação desencadeia o processo de estresse. Estima-se que a incidência do estresse no Brasil seja de 32% na população adulta, sendo as mulheres as mais atingidas. O pensamento pós moderno trouxe a possibilidade de perceber a religião e a espiritualidade como aspectos importantes da experiência humana. As tradições religiosas em geral não acompanharam as mudanças e não ofereceram novos rituais para as transições, tais como o divórcio, o desemprego, as famílias recompostas. Desconectadas de rituais, as pessoas podem ficar presas em emoções específicas. Esta dissertação apresenta uma possibilidade de correlacionar o conceito de copingreligioso com as estratégias de adaptação da mulher de cultura presbiteriana na situação de estresse. Tem-se como objetivo identificar as formas utilizadas pelo sujeito da amostra para enfrentar as situações estressoras e arrolar os facilitadores que promovam ajustamento nestas condições. O sujeito da pesquisa é a mulher presbiteriana com tempo médio de frequência de 24 anos em igreja localizada na cidade de São Paulo. A amostra é composta por 52 mulheres voluntárias, na faixa etária entre os 25 e 72 anos. Os recursos técnicos são o “Questionário Geral”, WHOQOL_BREF, o “Levantamento de sintomas de stress” e a Escala de Coping Religioso Espiritual. O estresse continuará a fazer parte da vida de homens e mulheres, mas o ser humano tem a capacidade de aprender estratégias de enfrentamento. Uma das maneiras de se manejar o estresse é através da religião. Trata-se do coping religioso. Apresenta-se a psicoterapia espiritualmente integrada como agente facilitador para o processo de estresse. Para a amostra representada nesta pesquisa, o coping religioso mostrou-se dominante como busca por significado em tempos de crise. A área que demanda maiores esforços para a mulher presbiteriana é a família. A ansiedade é a emoção/sentimento mais vivenciada pelas participantes. Para lidar com as situações difíceis, as voluntárias oram e também comunicam seus sentimentos desagradáveis para algumas pessoas. A igreja é mencionada como facilitadora da saúde emocional.

(8)

ABSTRATCT

The beginning of this new century brought lots of changes, resulting from social and technological changes, wich women are submitted. They live in a time of no absolute truths and have to deal the unpredictable. Her roler passed through transformations during the years and it can be observed even in the religious sphere. These situations require constants adaptations, and all this process triggers a stress process. The incidence of stress in Brazil estimated in 32% of the adult population, and women are the most affected. The postmodern thought also brought the possibility of perceiveing the religion and the spirituality as important aspects of human experience. The religious traditions overall, didn‟t follow the changes and didn´t offer new rituals to the transitions, such as divorce, unemployment and extended families. Disconnected from rituals people may get stuck in specific emotions. This dissertation presents a possibility of correlating the concept of religious coping with adaptation strategies of Presbyterian women facing the daily stress. The overall goal of the research is to identify the forms used by the individual to face the stressor situations and enroll the facilitators that promote its adjustment in these situations. The research subject are women who attend Presbyterian churches with a mean frequency of 24 years in the city of São Paulo. The sample consists of 52 volunteer women, whose ages oscillate between 25 and 72 years. The technical resources are the “General Questionnaire”, WHOQOL_BREF, the “Survey of symptoms of stress” and the Scale of religious-spiritual coping. The stress will still be part of the life of men and women, but the humans have ability to learn coping strategies. And that‟s why the researches in this area assume importance. One of the ways to handle the stress is through religion, and it is known by religious coping. The psychotherapy spiritually integrated is a facilitator for the stress process. For the sample of this research, the religious coping proved to be dominant as search for meaning in crisis times. The area that requires more efforts from the Presbyterian women is the family. The anxiety is the emotion/feeling most experienced by the participants. To deal with tough situations, the volunteers pray and also communicate their unpleasant feelings to some people. Furthermore the church is perceived as a facilitator of emotional health.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...10

2 HISTÓRICO DA SOCIEDADE AUXILIADORA FEMININA ...17

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 26

3.1 Emoção e Sentimento ... 27

3.2 Estresse ... 30

3.2.1 Etresse: uma abordagem psicanalítica ... 31

3.2.2 Etresse: uma abordagem cognitiva comportamental ... 35

3.3 Enfrentamento ... 39

3.3.1 Coping ... 39

3.3.2 Coping religioso ... 42

3.4 Saúde mental ...44

3.5 O papel do sagrado e do religioso no enfrentamento ...44

3.6 Espiritualidade como recurso para o enfrentamento ...49

3.6.1 Espiritualidade: o domínio do sagrado ... 50

3.6.2 Enfrentamento espiritual para manter e transformar o sagrado ...62

3.6.3 Uma orientação para a psicoterapia espiritualmente integrada ...58

3.6.4 Recursos espirituais ... 67

3.6.5 Práticas, relacionamentos e métodos de enfrentamento espirituais ...70

3.6.6 Problemas de estratégias espirituais ...71

3.6.7 Psicoterapia espiritual integrada ... 74

4MÉTODO E APRESENTAÇÃO: DIFICULDADES E ESTRATÉGIAS...80

4.1 OBJETIVOS ...81

4.1.1 OBJETIVO GERAL ...81

4.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...81

4.2 MÉTODO ...81

4.2.1 Participantes ...81

4.2.2 Instrumentos ...82

4.2.3 Procedimentos ...83

4.3 Resultados e Discussão ...83

4.3.1 Resultados...83

4.3.2 Discussão...135

5CONCLUSÃO ...145

6 REFERÊNCIAS ...149

(10)
(11)

Conforme sugestões da Professora e Dra. Patrícia Pazinato e Professora e Dra. Sueli Galego, esta dissertação de Mestrado em Ciências da Religião tem início com registro de parte da história da autora. Trata-se de uma possibilidade de aproximação do leitor dos estímulos que motivaram a confecção deste material.

Nasci em Jacareí, interior de São Paulo, em 1965.

A formação estudantil básica (1973-1984) se deu numa única escola estadual. Minha primeira formação acadêmica é em Economia (1985–1989), na Universidade Valeparaibana de Ensino, em São José dos Campos, SP.

Depois de alguns anos trabalhando nesta área vim para São Paulo, pois meu esposo ingressara no Seminário José Manoel da Conceição.

Ao curso de Psicologia (2000–2004), na Universidade Presbiteriana Mackenzie, seguiu-se o atendimento no consultório, com a orientação do Professor e Dr. Marcos Vinícius de Araújo e a oportunidade de participar de alguns cursos pela Secretária de Estado da Saúde de São Paulo.

Comecei a Especialização em Psicopedagogia (2005-2007) na Universidade Presbiteriana Mackenzie. Paralelamente, me envolvi em trabalhos voluntários com grupos de mulheres na periferia de São Paulo, com acompanhamento psicológico na Unidade de Terapia Intensiva (Ortopedia) e no Setor de Ginecologia, ambos no Hospital das Clínicas. Integrei, também voluntariamente, equipe multidisciplinar que atuava junto à Casa do Adolescente, em Pinheiros, na zona sul da capital paulista.

Entre 2006-2009 participei de uma ONG (Associação pela Saúde Emocional de Crianças) na capacitação de professores, tanto da rede pública como privada, com o “Programa Amigos do Zippy”. Esta atividade exigia deslocamentos constantes para outras cidades e Estado. Este trabalho proporcionou contato com uma nova abordagem psicológica (cognitivo-comportamental) e com o conceito de coping.

Por trata-se de um programa de saúde emocional que visava o desenvolvimento de habilidades emocionais na criança, mas com atividades voltadas para o professor de ensino fundamental, alguns questionamentos começaram a surgir depois do primeiro ano de trabalho.

(12)

Em 2009 minhas filhas se acidentaram e foi necessária minha permanência efetiva em São Paulo. Surgiu então, a possibilidade de retomar minhas atividades acadêmicas, através do Mestrado em Ciências da Religião, com projeto de pesquisa que viabilizasse compreensão sistemática de algumas questões que envolviam religião e psicologia.

O interesse pela pesquisa junto às mulheres presbiterianas é decorrente de contato com as mesmas na clínica psicológica, na sala de Escola Dominical, onde tenho a oportunidade de trabalhar com um grupo de mulheres e em trabalhos da Sociedade Auxiliadora Feminina na Igreja local, na Federação e na Sinodal durante os últimos doze anos.

A possibilidade de me relacionar com essas mulheres, conhecer suas dificuldades, ouvir sobre seus sentimentos desagradáveis e perceber o desejo de superação de suas limitações, por meio de diversas estratégias, me impulsionou a abordar tais questões com o objetivo de refletir sobre o enfrentamento de dificuldades pela mulher presbiteriana, no dia a dia.

Ao longo do processo e com o auxílio de meu orientador, Professor Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes, entrei em contato com o conceito de coping

religioso.

Participei em 2010 de um curso introdutório às obras de Keneth Pargament, no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e na sequência de encontro com este autor e demais autoridades na área de enfrentamento religioso, na USP, em São Paulo.

Curso o Mestrado em Ciências da Religião (2009–2011) na Universidade Presbiteriana Mackenzie e também tenho o privilégio de participar de um grupo de estudo sobre psicologia e religião na PUC (Pontifícia Universidade Católica), em Perdizes, São Paulo, sob os cuidados da Dra. Marília Ancona Lopez.

Pode-se, agora, dar início à introdução propriamente dita.

(13)

Percebe-se que a modernidade tardia trouxe muitas vantagens, por outro lado, as exigências que faz ao ser humano são muitas.

A mulher vivencia uma época de inexistência de verdades absolutas e convive o imprevisível. Seu papel passou por transformações ao longo dos anos que podem ser observadas inclusive no âmbito religioso. Estas situações exigem adaptações constantes, e todo processo de adaptação desencadeia o processo de estresse.

A incidência do estresse no Brasil é de 32% na população adulta, e as mulheres são as mais atingidas (LIPP, 2008).

O pensamento pós moderno trouxe a possibilidade de perceber a religião e a espiritualidade como aspectos importantes da experiência humana.

As tradições religiosas em geral, não acompanharam as mudanças, não ofereceram novos rituais para as transições, tais como o divórcio, o desemprego, as famílias recompostas, aposentadoria, a menopausa, a volta de um filho adulto ao lar paterno ou a entrada num lar de idosos. Desconectadas de rituais as pessoas podem ficar presas em emoções específicas (PARGAMENT, 2007).

Para as pessoas religiosas os valores religiosos e a visão de mundo baseada na idéia de que há uma realidade espiritual e de que as experiências espirituais fazem diferença no comportamento podem influenciar a sua compreensão da realidade, sua identidade e sua capacidade de interagir com o mundo (BRUSCAGIM, 2008).

Infere-se que as mulheres presbiterianas, no século XXI, têm enfrentado no dia a dia, situações estressantes e desenvolvido formas para lidar com estas questões. Pois, “... se o passado lhe oferecia regras e possibilidades excludentes, o hoje a chama para a urgência da escolha múltipla, de prazeres risíveis e instantâneos, muitas vezes sem a possibilidade da reflexão.” (MEIRELLES, 2008, p.3). Esta mulher anseia por informações.

A mulher do século XXI está se descobrindo e se permitindo ter novas experiências. Ela vivencia um momento exploratório de conduta, momentos de novos enfrentamentos, de descobrimentos e questionamentos e está tomando consciência de que é capaz de fazer escolhas em todos os níveis (MEIRELLES, 2008, p.9).

(14)

negativos que a situação criou. Todas essas reações podem ser chamadas de como lidar com as dificuldades” (MISHARA, 2001, p. 1). Esta é uma das definições do conceito de coping.

A palavra “coping” faz parte do vocabulário da Psicologia. Ela pode ser traduzida para o português como “adaptação”, “confronto”, “lidar com” ou “enfrentamento”.

O conceito de coping pode ser entendido também como um fator estabilizador que facilita o ajustamento individual ou a adaptação quando o sujeito está perante situações ou momentos estressantes. Trata-se de qualquer esforço de gestão de estresse ou comportamentos cobertos ou comportamentos que as pessoas levam à prática por meio de providências concretas para eliminar condições estressantes (RIBEIRO, 2004).

Existem muitas perspectivas teóricas sobre como lidar com as dificuldades. Numa proposta clássica, Richard Lazarus e Susan Folkman, citados em MISHARA, 2001, p. 2, definem coping como “esforços comportamentais e cognitivos em mudança constante que visam gerir exigências internas e externas específicas, consideradas como excedendo os recursos pessoais”.

Alguns desses meios de lidar com as dificuldades são mais eficazes que outros. Um coping adequado a dada situação conduz a um ajustamento adequado. Como evidência da adaptação (ou ajustamento) encontra-se o bem estar, o funcionamento social e a saúde somática.

Constata-se que a espiritualidade é parte da vida do indivíduo e que muitas pessoas veem na espiritualidade um apoio e orientação em tempos de estresse.

“Uma das maneiras de se manejar o estresse é através da religião. Trata-se de coping religioso, que descreve o modo como os indivíduos utilizam sua fé para lidar com o estressee os problemas da vida” (PANZINI, 2004, p.20).

“A fé pode ser um casaco contra essa nudez... funciona de modo a encobrir o abismo de mistério que nos rodeia... ela nos ajuda a formar um „espaço de vida‟ confiável, um ambiente último.” (FOWLER, 1981, p.9).

(15)

O objetivo geral da pesquisa é identificar as formas utilizadas pela mulher presbiteriana para enfrentar as situações estressoras no dia a dia.

Os objetivos específicos da pesquisa são:

1. Registrar as principais dificuldades emocionais vivenciadas pela mulher presbiteriana;

2. Investigar quais são as principais estratégias desenvolvidas pela mulher presbiteriana frente às dificuldades vivenciadas no dia a dia;

3. Arrolar os facilitadores que promovam o ajustamento individual da mulher presbiteriana nas situações estressoras.

O sujeito da pesquisa é a mulher presbiteriana com tempo médio de frequência de 24 anos em igreja localizada na cidade de São Paulo.

A amostra é composta por 52 indivíduos voluntários, cuja faixa etária oscila entre os 25 e 72 anos.

Os recursos técnicos utilizados para a coleta de dados serão: o “Questionário Geral” (dados demográficos, socioeconômicos, religiosos e de saúde), o WHOQOL – ABREVIADO (Programa de Saúde Mental, Organização Mundial da Saúde), o quadro de “Levantamento de sintomas de stress” (LIPP, 2010) e a Escala de Coping Religioso Espiritual (CRE).

Optou-se pela especificação de alguns conceitos utilizados (sentimento, emoção, estresse, coping, coping religioso) mediante obras de determinados autores que são mencionados em cada capítulo. Reconhece-se que a menção a tais pressupostos é seletiva e por isso limitada.

De modo singular, ao tratar-se do conceito de estresse decidiu-se fazer referência às abordagens cognitivo comportamental e psicanalítica, sem a pretensão de aprofundamento nas mesmas.

Pretende-se uma aproximação das idéias de Keneth Pargament, no que diz respeito à religiosidade/espiritualidade no contexto terapêutico.

(16)

Para a análise dos dados utilizou-se estatística descritiva composta por média, desvio padrão e distribuição de frequência. Todos os procedimentos foram tabulados e analisados no pacote estatístico SPSS for Windows®, versão 19.0.

Conclui-se que, os dados levantados propiciarão reflexão focada nos fatores estabilizadores que facilitam o ajustamento individual ou a adaptação do sujeito da pesquisa em situações estressantes, pois “o ser humano necessita aprender a controlar suas tensões, a fim de interromper o desgaste do organismo” (LIPP, 2000, p. 13).

Aceitou-se, quando da apresentação desta dissertação (27.11.2011), a sugestão da Banca de avaliação complementar dos muitos dados levantados, através de análise fatorial, porém reconhece-se que o tempo disponível para entrega efetiva do material bibliográfico (30 dias após a apresentação) inviabilizou esta medida. Porém, diversos artigos estão em anexos no final desta pesquisa, que possibilitam a possíveis interessados a execução de tal procedimento.

(17)
(18)

Na tentativa de entrar em contato com parte do contexto histórico, social e cultural em que se desenvolveu a mulher presbiteriana, opta-se pela confecção de resumo sobre o histórico da Sociedade Auxiliadora Feminina no Brasil. Os dados levantados constam do livro Sociedade Auxiliadora Feminina: 120 anos de bênçãos, cuja autora é Leontina Rocha, e do site da referida sociedade.

Aceitando as muitas e valiosas sugestões da Banca do Mestrado (Professor Dr. Antônio Máspoli de Araújo Gomes, Professora Dra. Sueli Galego e Professora Dra. Patrícia Pazinato), decide-se pela proposta de incorporação de artigos no final da obra, a título de anexos, do Professor Dr. Antonio Gouvêa Mendonça. Que possibilitam ao leitor informações importantíssimas do contexto histórico, social e cultural da mulher presbiteriana que não foram aprofundados nesta pesquisa por questões práticas.

Pode-se, então, neste momento, constatar o marco primeiro do presbiterianismo no Brasil: a chegada de Ashbel Green Simonton, 12 de agosto de 1859, juntamente com a presença, em diversos lugarejos, de missionários e obreiros, acompanhados por suas esposas.

Com o propósito de se organizarem para melhor servir a Deus, através do auxílio ao próximo, as mulheres da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife, Pernambuco, em 11.11.1884, registram seu trabalho na história da Igreja Presbiteriana do Brasil, através da Associação Evangélica de Senhoras. Sua primeira Presidente foi a Sra. Carolina Smith.

Da primeira sociedade local até a primeira Federação de SSAAFF decorreram 37 anos.

A primeira Federação surgiu em 16.05.1921, em Lavras, sul de Minas Gerais, formada por oito sociedades.

A segunda Federação a ser organizada foi a do Presbitério de Pernambuco, em 1924.

A terceira Federação, 1929, no Presbitério de Minas Gerais e finalmente em 1930, foi organizada a Federação do Presbitério Oeste de São Paulo.

(19)

Em 1932 Genoveva Marchant é nomeada para o cargo de Secretária Executiva, em Assembléia Geral reunida em Alto Jequitibá. Na sequência surgem as “Organizadoras”, mulheres com a função de organizar Federações em cada Presbitério.

Em 1935, por sugestão de Genoveva Marchant, é nomeada uma comissão para elaborar o Primeiro Manual do Trabalho Feminino, editado em 1937 pela Casa Editora.

Em 1936 na Assembléia Geral, na cidade de Caxambú, Minas Gerais, o nome de Secretária Executiva é alterado para Secretária Geral e D. Blanche Gomes Lício é eleita para o exercício de 1936 – 1938.

A primeira reunião da Comissão Central Executiva foi nos dias 25 e 26 de junho de 1937, no Rio de Janeiro.

O primeiro Congresso Nacional se deu em 1941, na Igreja Presbiteriana do Riachuelo, Rio de Janeiro. Neste evento foi solicitada a alteração do nome da organização para Sociedade Auxiliadora Feminina, a mudança foi efetivada em 1942.

Segundo o Reverendo Júlio de Andrade Ferreira, em seu livro A História da Igreja Presbiteriana do Brasil, 1945 foi o ano da organização das primeiras Confederações Sinodais. A Confederação Sinodal pioneira surgiu em Recife, 21 de janeiro, no Sínodo Setentrional, abrangendo, na época, a região nordeste e a região norte. No mesmo ano nasceu a Confederação do Sínodo Minas - Espírito Santo, 23 de junho, em Governador Valadares.

Em 1955, D. Maria Auxiliadora Werner (D. Nady), publica o primeiro Boletim Informativo do Trabalho Feminino Nacional, apesar das dificuldades enfrentadas. Surge a SAF em Revista.

Em 1958, em Salvador, Bahia, realiza-se o III Congresso Nacional da Sociedade Auxiliadora Feminina, dá-se conhecimento de que o Supremo Concílio votara pela organização da Confederação Nacional do Trabalho Feminino. É escolhido o Moto Oficial das SSAAFF.

(20)

Em decorrência dos 100 anos do Trabalho Feminino no Brasil são organizadas comemorações e surge o desejo de registro da história da sociedade. Foi nomeada uma comissão com o objetivo de publicação de livro, mas por falta de verba o objetivo não foi atingido na época.

Na reunião da Executiva, em 25 de abril de 1987, em Goiânia, a Confederação Nacional do Trabalho Feminino institui o dia 11 de novembro como o dia Nacional das SAFs do Brasil.

No XII Congresso Nacional, Quadriênio 1994 – 1998, o distintivo da SAF passou a ter fundo cinza com nova sarça em verde e branco. A bandeira foi redesenhada e o Museu do Trabalho Feminino é organizado no Seminário Presbiteriano do Sul, nas dependências do Museu da IPB.

Neste mesmo quadriênio começou a funcionar o site da SAF – www.saf.org.br.

O XIV Congresso, Quadriênio 2002–2006, aconteceu nas dependências da Colônia de Férias do SESC, em março de 2002, na cidade Guarapari. A presidente reeleita foi Leontina Dutra da Rocha.

Para o Quadriênio 2006-2010 o Tema Geral escolhido foi “Mulheres que surpreendem: Instrumentos de Deus” e a presidente eleita foi Anita Chagas.

No Quadriênio 2010-2014 o Tema Geral é “Não sou quem vive, mas Cristo vive em mim” e a presidente da Confederação Nacional do Trabalho Feminino é Ana Maria Prado, eleita no XVI Congresso Nacional das SAFs (10 a 14 de março de 2010), na cidade de Cabo de Santo Agostinho – PE.

(21)

A nós aqui reunidas, Senhor envie luz. São tuas nossas vidas, Ganhaste-as sobre a cruz. É vão qualquer trabalho Sem tua aprovação! O nosso esforço é falho Se não nos dás a mão.

Coro

Nós crentes redimidas, Depomos nosso lar E as nossas próprias vidas Perante o teu altar.

Se a nossa fé se abala Em face às tentações,

Levanta a voz e fala Aos nossos corações. A experiência viva Do teu fiel amor O nosso ardor ativa E inspira em nós fervor.

Esposas, mães piedosas, Queremos ser, Senhor, Fiéis e carinhosas, Enchendo o lar de amor. Que paz e harmonia Dominem nosso lar, E em tua companhia Possamos sempre andar.

A logomarca é constituída por emblema verde e cinza, com o símbolo da IPB, circundado pelo nome da Sociedade. Este emblema é presente em documentos e nas bandeiras das SAFs, Federações, Sinodais e Confederação Nacional.

(22)

realizadas com as mulheres de cada igreja local. As SAFs tem preocupação especial com o bem estar das mulheres nas igrejas e também com a evangelização.

O Trabalho Feminino da Igreja Presbiteriana do Brasil está assim organizado:

 Âmbito local (igrejas e congregações) – SAF  Âmbito dos Presbitérios – Federação

 Âmbito dos Sínodos – Confederação Sinodal  Âmbito Nacional – Confederação Nacional

A Confederação Nacional de SAFs é a entidade que congrega as SAFs, as Federações de SAFs e as Confederações Sinodais de SAFs, sob a supervisão de um Secretário Geral, eleito pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (MUSI, p.82).

(23)

Presidentes das Confederações Sinodais; elaborar programas de interesse das SAFs, Federações e Confederações Sinodais; manter o órgão oficial de informação em âmbito nacional (SAF em Revista) sugerindo programas e artigos, e divulgando nela suas atividades e planos, sob orientação do Secretário Geral; realizar e dirigir, de quatro em quatro anos, o Congresso Nacional, sob a orientação do Secretário Geral e elaborar planos e sugestões para encaminhamento à Comissão Executiva do Supremo Concílio, através do Secretário Geral, para a necessária apreciação e aprovação.

A Confederação Sinodal de SAFs é a entidade que congrega as Federações de SAFs dos Presbitérios nos limites de um Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, sob a supervisão do Secretário Sinodal, eleito pelo Sínodo (MUSI, p. 69).

São finalidades da Confederação Sinodal: promover e coordenar os intercâmbios entre as Federações; planejar e realizar encontros periódicos e um Congresso Bienal; cooperar com a Confederação Nacional na divulgação e execução dos seus planos junto às Federações; incentivar a organização ou reorganização de Federações, fazendo-se representar nestas organizações; funcionar como elo entre as Federações e a Confederação Nacional e assessorar tecnicamente as Federações.

A Federação é a entidade que congrega as SAFs das igrejas jurisdicionadas a um Presbitério da IPB, ao qual se subordina e funciona sob a supervisão de um Secretário Presbiterial (MUSI, p. 54).

São finalidades da Federação: promover, incentivar e coordenar o intercâmbio entre as SAFs federadas; planejar e realizar encontros periódicos e um Congresso Anual; funcionar como elo entre as SAFs e a Confederação Sinodal, tomando parte em suas reuniões através de delegadas credenciadas; incentivar a organização ou reorganização das SAFs nas igrejas locais e diante da aprovação do Conselho e dar às SAFs instruções e sugestões sobre planos de trabalho e indicar-lhes literatura específica.

(24)

A Sociedade Auxiliadora Feminina, SAF, é a organização do Trabalho Feminino numa igreja, congregação ou ponto de pregação. Funciona com a autorização e sob a jurisdição do Conselho da igreja local, que indica um Conselheiro que funciona como elo entre a sociedade e o Conselho.

(25)

Sócia Emérita é o título de honra concedido a uma sócia de qualquer categoria, que, sendo membro professo da IPB, em plena comunhão, tenha prestado relevantes serviços à SAF da qual é sócia.

A SAF poderá se dividir em Departamentos, segundo critérios da Diretoria, sendo o mínimo de cinco e o máximo de quinze integrantes por Departamento. As finalidades dos Departamentos são: contribuir para um maior desenvolvimento das sócias; realizar estudos e palestras indispensáveis ao desenvolvimento de uma vida integral; preparar obreiros capazes para cargos de responsabilidade; aumentar o interesse e o entusiasmo pelo trabalho e estreitar as relações de amizade entre as sócias.

As Secretarias de Atividades referem-se a uma área de atuação em que todas as sócias são desafiadas a atuar individual ou coletivamente. Tem como objetivo preparar as sócias para que tenham condições de desenvolver qualquer atividade na Sociedade local, na Federação, na Confederação Sinodal, na Confederação Nacional, ou ainda na igreja local.

A SAF, respeitando suas particularidades de estrutura e funcionamento, poderá ter as seguintes Secretarias de Atividades: espiritualidade, evangelização, missões, ação social, causas da IPB, causas locais e sociabilidade, cultura, comunicação e marketing, estatística, música, esporte e recreação, ainda outras conforme a realidade local.

(26)
(27)

3.5 Emoção e Sentimento

Os conceitos emoção e sentimento serão abordados neste estudo tendo como fonte principal as obras de António Damásio: Em busca de Espinosa: prazer e dor na ciência dos sentimentos (2004); O erro de Descartes: emoção, razão e o cérebro humano (2007) e O mistério da consciência (2000).

Damásio nasceu em 1944, iniciou sua formação na Faculdade de Medicina de Lisboa e radicou-se nos Estados Unidos. É neurologista, neurocientista, especialista nos mecanismos de funcionamento do cérebro e pioneiro na investigação sobre a inteligência emocional. Em suas obras aborda o papel da emoção e do sentimento na tomada de decisões com ênfase na questão da unidade entre mente e corpo.

Este autor acredita que ensinar é simplificar e para isso entrou no território ilimitado das emoções dando-lhe explicação científica. Para Damásio os sentimentos e emoções são os responsáveis por toda grandeza e miséria humanas. E o ponto de partida na busca da saúde emocional está relacionado com uma postura anticartesiana: existo e sinto, logo penso. Tem como referencial uma abordagem integrativa das emoções e da razão.

Este neurocientista trabalha com a hipótese do estabelecimento de repertório adaptativo ser moldado pelas emoções e a seleção de comportamento, no futuro, determinado pela razão. Ele relata a existência de emoções primárias e secundárias e sentimentos associados às emoções.

As emoções primárias envolveriam disposições inatas para responder a certas classes de estímulo, controladas pelo sistema límbico.

As emoções secundárias seriam aprendidas e envolveriam categorizações de representações de estímulos, associadas às respostas passadas, avaliadas como boas ou desagradáveis.

Os sentimentos seriam as experiências de tais mudanças associadas às imagens mentais da situação. Assim, a emoção está associada à memória, ou seja, ao contexto em que é adquirida na experiência individual.

(28)

indispensáveis para a vida racional do ser humano, pois é o comportamento emocional o que diferencia um indivíduo do outro.

“Sentimento é a expressão do florescimento ou do sofrimento humano, na mente e no corpo” (DAMÁSIO, 2004, p. 15). Para Damásio a emoção e as várias reações com ela relacionadas estariam alinhadas com o corpo, enquanto os sentimentos estariam alinhados com a mente.

Com a ajuda dos métodos científicos modernos, de exame objetivo dos comportamentos que perfazem uma emoção é possível explicar os mecanismos cerebrais e corporais responsáveis pelo desencadeamento e execução de uma emoção. O objetivo é, ao elucidar as emoções, possibilitar esclarecimento sobre a origem dos sentimentos (DAMÁSIO, 2004, p. 36).

Damásio, considerando as noções sobre a interação mente e corpo de Espinosa, à luz do conhecimento atual, levanta a hipótese de que um organismo vivo está constituído de forma a lutar, contra toda e qualquer ameaça, pela manutenção da coerência das suas estruturas e funções. Esta regulação homeostática teria como finalidade fazer com que a economia interna da vida prossiga com eficiência. (DAMÁSIO, 2004, p. 47).

Os diferentes afetos, e suas muitas combinações, ajudariam a discriminar as experiências humanas, dar diferentes relevâncias a elas, permitindo tomadas de decisão. Concomitantemente, mecanismos mais primitivos competiriam com mecanismos mais sofisticados na tomada de decisões.

O conceito de emoção é sintetizado como modo natural de avaliar, não consciente, o ambiente que rodeia o ser humano e a reação deste de uma forma adaptativa ao meio. Sendo que em toda e qualquer emoção, as ondas múltiplas de respostas químicas e neurais alteram o meio interior, o estado das vísceras e o estado dos músculos durante certo período e com certo perfil (DAMÁSIO, 2004, p. 72). Em relação ao estímulo inicial, a continuação e a intensidade do estado emocional, estes estariam à mercê do desenrolar do processo cognitivo.

(29)

função mental resulta das contribuições coordenadas de muitas regiões cerebrais, em diversos níveis do sistema nervoso central.

O conteúdo essencial dos sentimentos é um estado corporal mapeado num sistema de regiões cerebrais a partir do qual certa imagem mental do corpo pode emergir.

Na sua essência um sentimento é uma idéia, uma idéia do corpo, uma idéia de certo aspecto do corpo quando o organismo é levado a reagir a certo objeto ou situação.

Um sentimento de emoção é uma idéia do corpo quando este é perturbado pelo processo emocional, ou seja, quando um estímulo emocionalmente competente desencadeia uma emoção. O cerne dessa noção de sentimento provém das propostas de William James sobre o fenômeno da emoção (DAMÁSIO, 2004, p. 95).

Em muitas circunstâncias, especialmente quando há pouco ou nenhum tempo para reflexão, os sentimentos são de fato constituídos pela percepção de certo estado do corpo. Noutras circunstâncias, os sentimentos envolvem a percepção de determinado estado do corpo e a percepção de determinado estado de espírito. Temos imagens não só de certo estado do corpo, mas também, em paralelo, imagens de certa forma de pensar.

Os sentimentos são tão mentais como qualquer outra percepção, mas os objetos imediatos que lhes servem de conteúdo fazem parte do organismo vivo do qual os sentimentos emergem. Além de estar ligado a um objeto imediato, o corpo, o sentimento está também ligado ao objeto emocionalmente competente que deu início à cadeia emoção-sentimento.

O objeto imediato do sentimento e o mapa desse objeto podem influenciar-se mutuamente numa espécie de processo reverberativo que não é possível encontrar na percepção exterior ao corpo.

(30)

seriam em si mesmos racionais, mas acabariam promovendo consequências que poderiam ter sido deduzidas racionalmente (DAMÁSIO, 2004, p. 161).

Conclui-se que a emoção e o sentimento desempenham papel principal no comportamento social e, por extensão, no comportamento ético. Pois, os indivíduos humanos conscientes conhecem os seus apetites e emoções sob a forma de sentimentos, e esses sentimentos aprofundam o conhecimento que esses seres humanos tem da fragilidade da vida de forma a tornarem esse conhecimento uma preocupação. Damásio afirma que “a salvação humana depende exatamente da possibilidade de fazer escolhas deliberadas” (DAMÁSIO, 2004, p. 188).

Este autor enfatiza a idéia de que corpo, cérebro e mente, são manifestações de um organismo vivo, inseparáveis durante o funcionamento normal do organismo. E reafirma que “parte daquilo que é mapeado nas regiões sensitivas do cérebro e que emerge na mente sob a forma de uma idéia tem a sua origem em estruturas do corpo que se encontram num determinado estado e em determinadas circunstâncias” (Damásio, 2004, p. 209).

A neurobiologia da emoção e do sentimento comunica ao ser humano que a alegria e suas variantes são preferíveis à tristeza e às suas variantes. Que a alegria leva mais facilmente à saúde e ao florescer criador e o confronto com a morte e o sofrimento compromete a homeostasia no ser humano.

A solução gira em torno do poder mental com que se pode tentar controlar as emoções negativas e do conhecimento dos mecanismos de ação das emoções. Em suma, uma pessoa incapaz de sentir pode até ter o conhecimento racional de alguma coisa, mas será incapaz de tomar decisões com base nessa racionalidade.

3.2 Estresse

A palavra stress faz parte do dia a dia da mulher do século XXI.

(31)

3.2.1Estresse: Uma abordagem psicanalítica

Pretende-se, com base na obra Estresse (ARANTES, 2002), uma ligação do termo referido com o pensamento psicanalítico, mediante o estabelecimento de uma aproximação entre a fase de resistência do estresse e o conceito de angústia. Partindo de uma vertente médica e incorporando a visão sobre o estresse à patologia do corpo e da mente.

Segundo esta autora, até o século XVII, o termo estresse era utilizado na literatura inglesa esporadicamente com o significado de aflição e adversidade. No século seguinte, houve uma mudança de enfoque e o termo passou a ser utilizado para expressar a ação de força pressão ou influência muito forte sobre uma pessoa, causando nela uma deformação, como um peso que faz com que uma viga se dobre.

No século XIX, especulações começaram a ser feitas sobre uma possível relação entre eventos emocionalmente relevantes e doenças físicas e mentais, porém esta noção não recebeu maior atenção científica.

No século XX a idéia da ligação entre eventos estressantes e doença foi retomada.

O termo estresse ultrapassou a filiação originária, a Física, significando o somatório de forças que agem contra a resistência, não importando quais. Ganhou o campo da experimentação científica, através de Hans Selye, médico, nascido em Viena em 1907, que tentou entender o mecanismo do adoecer. Em 1936, Selye sugeriu o uso da palavra estresse para definir síndrome produzida por vários agentes aversivos e a partir daí o termo saltou para o campo da saúde mental.

Atualmente, são inúmeras as publicações sobre o estresse, e o ponto comum entre todas é o fato de existir uma falha nos mecanismos de adaptação, por dificuldade de enfrentar uma situação inesperada, indesejada ou mesmo desconhecida, quer física, quer psíquica.

(32)

O termo estresse sofreu muitas restrições ao longo dos anos. Não podendo ser traduzido com precisão em outros idiomas, e seu uso foi disseminado, alcançando o senso comum, popularizando-se. Acabou sendo usado indiscriminadamente em dois sentidos: para o agente que provoca a síndrome de adaptação e para a condição do organismo, após ser exposto ao agente agressor.

Em função desta constatação o termo foi desdobrado por Selye, que usou estressores para o aspecto ativo e causador da síndrome e estresse para o estado do organismo após ser exposto aos estressores. Assim, constata-se que, há um sentido ativo, uma causa, um estressor, e há um resultado, decorrente do estressor, que é chamado de estresse.

Porém, em 1991, Selye batiza definitivamente seu conceito, oriundo do latim, stringere. Em português, o Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, tem cunhado o termo estresse: “(do inglês stress). Substantivo masculino. Conjunto de reações do organismo a agressões de ordem física, psíquica, infecciosa e outras, capazes de perturbar a homeostase”, e ainda: estressor: “Agente produtor de estresse” (ARANTES, 2002, p. 27).

Arantes citando Rego (2002, p. 34), relata a não existência de uma unidade teórica em relação às pesquisas sobre estresse, porém, considera que uma das concepções mais difundidas é a de Selye, ou seja, o estresse como resposta inespecífica aos estímulos internos e externos, referindo-se também aos aspectos agradáveis e desagradáveis do estresse.

Arantes (2002, p. 31) citando o bom e o mau estresse faz referência ao conceito de Marianne Frankenhaeuser (1989) que utiliza as expressões happy stress

e distress. “Happy stress designa situações em que os estímulos do ambiente estão em equilíbrio com as capacidades pessoais de atravessar situações difíceis sem efeitos prejudiciais à saúde; e distress, uma expressão utilizada para designar o estresse negativo, que aparece quando não se tem escolha e deve-se aceitar uma grave situação.

(33)

Num sentido mais amplo estresseé uma sobrecarga dos recursos do corpo, a fim de responder a alguma circunstância ambiental. A reação de estresse é uma mobilização das defesas do corpo permitindo aos seres humanos adaptarem-se a fatos hostis ou ameaçadores.

São utilizados também os conceitos de distresse (o estresse excessivo) que conduz à debilidade física e psicológica de intensidades variáveis, não permitindo resposta adequada aos estressores e euestresse que diz respeito a uma situação de equilíbrio alcançada após um estímulo estressor, onde o indivíduo supera os estímulos negativos e ao mesmo tempo cria imunidades frente a uma futura sobrecarga estressante.

Apesar das várias conotações sobre o termo estressepercebe-se que a pedra fundamental do conceito encontra-se nas pesquisas de Hans Selye. E que todos os autores de estudos sobre este tema concordam em relação ao papel do estressena manutenção da vida, sobre a busca do equilíbrio interno do organismo, a homeostase, como um mecanismo de adaptação.

A partir de 1950 alguns pesquisadores, principalmente médicos com formação em psicanálise, optam por uma compreensão psicosomática do adoecer.

Destaca-se A. Spitz, médico pediatra vinculado a um instituto psicanalítico, um dos primeiros a reconhecer, nas contribuições de Selye, um recurso para o estudo do comportamento de bebês, denominado por ele de hospitalismo.

Spitz percebeu semelhança entre o modelo de Selye e o modelo psicológico de Freud, no que tange ao conceito de defesa diante do perigo. A abordagem de Selye faria menção a um conceito geral e as situações de estresse observadas aplicam-se a todas as fases da vida orgânica. E as respostas ao estresse emocional aplicam-se especificamente a uma fase crítica, biológica e psicológica do desenvolvimento da criança (ARANTES, 2002, p. 41).

(34)

Mas, ao perceber o “estresse como movimento dinâmico, que contém nas diferentes etapas de sua manifestação, conteúdos que poderão ser desconstruídos, neutralizados e eliminados, tendo como resultado a possibilidade de resíduos, em relação aos conteúdos afetivos. Pode-se pensar de modo mais flexível e considerar a angústia um elemento estruturante do existir humano” (ARANTES, 2002, p. 53) com função defensiva diante dos perigos que ameaçam a existência do homem.

Tais constatações encontram respaldo nas teorias da angústia de Freud. A primeira, uma teoria econômica, menciona a angústia como uma energia sexual não elaborada, trata-se de uma libido desligada de suas representações, liberada de modo mais ou menos anárquico. A segunda teoria sobre angústia tem um caráter mais funcional, se verificando nas neuroses de transferência, conferindo uma concepção mais simbólica da angústia.

O que une angústia a estresse é a possibilidade de ampliar a compreensão de que a angústia tem em Freud e na psicanálise uma abordagem privilegiada. Que não desconhece as aflições do corpo, porém, enfatiza as aflições da alma.

A angústia ficaria então, neste lugar de resistência, inerente à etapa que no conceito de estresse, o corpo convoca suas defesas para não sucumbir ao ataque sofrido. Sendo do registro psíquico (angústia neurótica que aparentemente nada justifica) poderia ser elaborada e não mais sujeita a uma repetição que oprime. Sendo somática (angústia diante de um perigo real externo que conscientemente se percebe) poderia deixar ecoar no corpo a sua dor, não entrando em um colapso irreversível.

Outra hipótese ventilada por Arantes, a partir das afirmações de Joyce McDougall, diz respeito às “diferenças existentes entre o repertório psíquico e o repertório genético do sujeito frente ao sofrimento, considerando as neuroses atuais” (ARANTES, 2002, p. 59).

A possibilidade de repensar o cruzamento entre repertório genético e escolha dos sintomas e formas de enfrentá-los, leva a autora a concluir que o indivíduo faz o que pode para dar conta do sofrimento. É um ato de resistência que o enlouquece, neurotiza-o ou fisicamente o adoece.

(35)

Trata-se de uma forma arcaica e precoce de responder ao sofrimento psíquico. Quando o adulto recorre a esta forma arcaica de responder a um desorganizador, é de se supor que suas possibilidades psíquicas não estão disponíveis, ou não se desenvolveram, ou estão congeladas, ou estão empobrecidas.

Arantes, citando McDougall (1996), conclui que o ser humano tem a tendência a somatizar toda a vez que circunstâncias internas ou externas ultrapassam seu modo psicológico de resistência habitual.

3.2.2 Estresse: Uma abordagem cognitiva comportamental

Faz-se uso da obra Mecanismos neuropsicofisiológicos do stress: teorias e aplicações clínicas, LIPP, 2010, para ampliação do conceito de estresse. Esta obra tem como pressuposto a necessidade do ser humano aprender a controlar suas tensões, a fim de interromper o desgaste do organismo.

Segundo Lipp e Malagris (2001), estresse é um processo, e não uma reação única, que se desenvolve de acordo com etapas. Trata-se de uma reação psicofisiológica muito complexa que tem em sua gênese a necessidade do organismo fazer frente a algo que ameace sua homeostase interna. Isto pode ocorrer quando uma pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz.

A reação ao estresse pode ocorrer frente a estressores inerentemente negativos, como no caso da dor, fome, frio ou calor excessivo, ou em virtude da interpretação que se dá ao evento desafiador.

Lipp, explica que, segundo Lazarus e Folkman (1984), as atividades cognitivas, usadas pelo indivíduo para interpretar eventos ambientais, são fundamentais no processo do estresse.

Em 1956, Selye propôs que o estresse se desenvolve em três fases: Alerta, Resistência e Exaustão, modelo trifásico.

(36)

organismo tenta uma adaptação, em virtude de sua tendência a procurar a homeostase interna. “Se o estressor é contínuo e a pessoa não possui estratégias para lidar com o estresse, o organismo exaure sua reserva de energia adaptativa e a fase de exaustão se manifesta, quando doenças sérias aparecem” (LIPP, 2002, p. 18).

No decorrer da padronização do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos de Lipp (LIPP, 2000) uma quarta fase do estresse foi identificada, à qual foi dado o nome de quase-exaustão.

O modelo quadrifásico de Lipp é, então, um desenvolvimento do modelo trifásico de Selye, de acordo com o qual o processo de estresse se desenvolve do seguinte modo:

Fase de Alerta: a pessoa necessita produzir mais força e energia a fim de poder fazer face ao que está exigindo dela um esforço maior, porém este esforço não visa manutenção da harmonia interior, mas, sim, ao enfrentamento da situação desafiadora. As mudanças hormonais que resultam na fase de alerta contribuem para que haja aumento de motivação, entusiasmo e energia, o que pode, desde que não excessivo, gerar maior produtividade no ser humano. Existe, no entanto, sempre uma quebra na homeostase.

Fase de Resistência: o aumento na capacidade de resistência é acima do normal. Há uma busca pelo reequilíbrio, que pode gerar uma sensação de desgaste generalizado sem causa aparente e dificuldades com a memória, dentre outras consequências. Quanto maior é o esforço que a pessoa faz para se adaptar e restabelecer a harmonia interior, maior é o desgaste do organismo. Quando o organismo consegue proceder a uma adaptação completa e resistir ao estressor adequadamente, o processo de estressese interrompe sem sequelas.

Fase de Quase-Exaustão: as defesas do organismo começam a ceder e ele não consegue resistir às tensões e restabelecer a homeostase interior. Há momentos em que o indivíduo consegue resistir e se sente razoavelmente bem e outros em que ele não consegue mais. Pode ocorrer um movimento oscilatório entre sensações de bem-estar e tranquilidade e momentos de desconforto, cansaço e ansiedade. Algumas doenças começam a surgir.

(37)

forma de depressão e exaustão física, na forma de doenças que começam a aparecer, podendo ocorrer morte como resultado final. “A fase de exaustão não é necessariamente, irreversível desde que afete unicamente partes do corpo” (LIPP, 2010, p. 20).

O estresse excessivo é capaz de produzir um número grande de consequências para o indivíduo e para todos que estão à sua volta. No âmbito psicológico e emocional do ser humano o estresse excessivo produz cansaço mental, dificuldade de concentração, perda de memória imediata, apatia e indiferença emocional. A produtividade sofre queda e a criatividade fica prejudicada. Autodúvidas começam a surgir em virtude da percepção do desempenho insatisfatório. Crise de ansiedade e humor depressivo é manifesta (“vontade de fugir de tudo”). A libido fica reduzida e os problemas de ordem física se fazem presentes. Nestas condições, a qualidade de vida sofre um dano bastante pronunciado. O sistema imunológico é afetado e doenças latentes podem ser desencadeadas.

Os efeitos do estresse excessivo reverberam. Uma comunidade saudável e desenvolvida requer a somatória das habilidades de seus membros. Se o estresse está muito alto na comunidade, os adultos podem se tornar frágeis, sem resistência aos embates e dificuldades da vida. A pessoa estressada lida mal com as mudanças porque sua habilidade de adaptação está envolvida inteiramente no combate ao estresse. Se estivermos incapacitados para lidar com mudanças, certamente não poderemos fazer contribuição para sucesso e bem estar do grupo. Adultos resistentes, capazes de pronta adaptação, que possam pensar de modo lógico e não estressante nos momentos mais difíceis são de importância ímpar em todos os âmbitos.

“O conceito de estresse tem evoluído gradativamente através dos anos e o Brasil está entre os países líderes nas pesquisas nesta área (LIPP, 2010, p. 70).

A busca da qualidade de vida pessoal é hoje uma realidade porque as pessoas, tendo pouco tempo para prestar atenção àquilo que lhes acontece no dia a dia e que altera o seu comportamento e saúde, não conseguem conquistar uma vida plena e saudável.

“Esse estilo de vida, agitado e pouco reflexivo, tem levado as pessoas a apresentarem mais respostas de stress” (LIPP, 2010, p. 88).

(38)

Homens e mulheres não só diferem em características biológicas, mas também na variedade de papéis que desempenham socialmente. Em função do exposto, a interação entre os papéis sociais e os eventos negativos da vida pode produzir resultados diferentes nas respostas de estresse. Deve-se levar em conta que a idade também possibilita reações diferentes aos eventos estressores da vida.

Kenney (2000) comparou estressores, traços de personalidade e problemas de saúde por faixa etária em mulheres, concluindo que as mulheres jovens (18 a 29 anos) e de meia-idade (30 a 45 anos) eram as mais estressadas em razão das demandas nas diversas atuações como esposa, mãe, responsável por pais idosos, trabalhadora e sem suporte físico e emocional de seu parceiro, com essas dificuldades do trabalho e familiares contribuindo para seus problemas de saúde. As mulheres mais velhas (46 a 66 anos) possuíam menor quantidade de estressores e menores quantidades de problemas comparadas com os outros grupos.

Quanto às estratégias de enfrentamento Keogh e Herdenfeldt (2002) levantam a hipótese de que, quando sob estresse, as mulheres optam por estratégias focadas na emoção, enquanto que os homens focam no sensorial. E que as demandas de trabalho associadas aos papéis sociais femininos (tarefas domésticas, cuidados com filhos) tem maior impacto sobre a saúde feminina e sua condição de estresse.

As mulheres parecem estar mais expostas à condição de estresse tanto pela sua condição biológica como pelos papéis culturais que a sociedade lhe impõe. Também parecem apresentar estratégias específicas de enfrentamento e diferenciadas dos homens nesta condição.

(39)

3.3 Enfrentamento

3.3.1 Coping

Reconhece-se que as situações estressoras evocam uma série de respostas que podem ser classificadas em dois tipos: estresse, propriamente, e coping.

Segundo Folkman e Lazarus (1984), as respostas que surgem de forma espontânea em uma situação estressora caracterizam o estresse. Este se refere às respostas involuntárias, eliciadas pelos estímulos estressores. As respostas evocadas por estes mesmos estímulos, mas mantidas por suas consequências, denominam-se coping. As consequências relacionam-se tanto a mudanças no ambiente externo quanto a efeitos sobre condições aversivas localizadas no interior do organismo. O alvo constitui-se na situação ou condição que deu origem ao mal estar ou problema.

O coping processa-se mediante mobilização de recursos naturais, com fins de administração de situações estressoras. Consiste na interação entre o organismo e o ambiente, na qual se lança mão de um conjunto de estratégias destinadas a promover a adaptação às circunstâncias estressantes.

Em português, coping, vem sendo traduzido como “enfrentamento”. O conceito centraliza-se nos acontecimentos que se sucedem ao longo da vida das pessoas, se referem a perdas, dificuldades, fatos inesperados, tragédias que os indivíduos precisam enfrentar ajustando-se ao impacto.

“Os enfoques atuais de coping surgiram de duas fontes principais: psicologia de orientação psicanalítica e experimentação animal” (LIPP, 2010, p. 93).

A concepção psicanalítica surgiu no início do século XX e apresentou coping

como correspondente aos mecanismos de defesa orientados no sentido de se lidar com conflitos sexuais e questões relacionadas à agressão. Supunha-se tratar de operações inconscientes, destinadas a reduzir a angústia.

(40)

de estresse. A partir da década de 1960 surgiu uma segunda geração e, após esta, ainda uma terceira geração.

Por iniciativa da segunda geração de pesquisadores, institui-se uma nova orientação na área. Passou-se a definir coping como um conjunto de respostas relevantes cuja compreensão envolve a identificação de seus determinantes ambientais. Entre os atos inatos, excluíram-se as respostas de coping.

Segundo Lipp, 2010, Folkman e Lazarus fazem parte desta segunda geração de pesquisadores que definem o coping como esforços cognitivos e comportamentais para se lidar com exigências que ultrapassem os recursos do indivíduo. Eles entendem coping como um processo e qualquer empenho em se lidar com o estressor é uma resposta de coping, independentemente do sucesso ou fracasso que se tenha obtido.

Há dois tipos principais de estratégias, que equivalem às duas grandes funções de coping: coping centrado no problema e coping centrado na emoção. “Neste modelo, estratégias de coping são ações deliberadas, orgânicas ou não, emitidas em resposta a um estímulo estressor devidamente identificado” (PANZINI, 2004, p. 94).

O coping centrado no problema se dirige a situações mutáveis. Trata-se de se dirigir esforços no sentido de mudar a situação que deu origem ao mal estar, de solucionar o problema, mudando a relação do indivíduo com o seu meio ambiente de modo a se modificar as contingências responsáveis pela tensão.

O coping centrado na emoção se dirige mais as situações incontroláveis, que não podem ser evitadas ou cujas condições de nocividade ou desafio são imutáveis. Representa esforços no sentido de regular o estado emocional em episódios estressantes, quando se é exposto aos estressores ou quando se responde a eles em elevada magnitude. Objetiva modificar condições emocionais momentâneas por meio de medidas que influenciem a área somática, como tomar um tranquilizante, ou efeito emocional, como entregar-se a fantasias.

Lipp (2010) comenta que segundo Folkman e Lazarus, as funções de coping

(41)

estressora pode ser tida como controlável por algumas pessoas e como imutável por outras.

“A percepção de controlabilidade, as crenças ou regras em torno do próprio poder de controlar eventos podem ter sobre o comportamento o mesmo efeito de contingências reais” (LIPP, 2000, P. 94).

Existem determinantes circunstanciais ou ambientais que interagem com variáveis pessoais no efeito da controlabilidade, sobre o comportamento dos indivíduos. A discriminação quanto ao seu próprio poder de controle dos eventos do meio, isto é, a percepção de controlabilidade, determina, pelo menos em parte, a avaliação das situações como passíveis de mudança por ação do próprio indivíduo. Esta avaliação tem complicações na seleção de respostas de coping, pois se o indivíduo se percebe incapaz de agir sobre o estressor, provavelmente lançará mão de estratégias compatíveis com sua incapacidade. Estas estratégias seriam, no caso, inclusas no coping centrado na emoção, enquanto o coping centrado no problema teria a preferência dos indivíduos que se percebem capazes de razoável grau de controle sobre os eventos.

“A relação entre controlabilidade e coping tem implicações na diferenciação de escolhas segundo o gênero: homens e mulheres tendem a fazer escolhas distintas em função, em parte, da forma como descrevem as consequências do próprio comportamento” (LIPP, 2010, p. 95).

O coping instala-se no repertório total do indivíduo. Este repertório se diferencia entre os gêneros, em aspectos que, embora não se refiram ao coping, especificamente, mantêm com este certa relação.

Segundo Compas (1987), o coping centrado na emoção tende a surgir no fim da infância e predomina na adolescência.

A evolução na forma como se responde às situações estressoras, ao longo do desenvolvimento, revela o quanto o aprendizado deste tipo de resposta se integra à aquisição de outras formas de comportamento.

O coping centrado no problema surge mais cedo do que o coping centrado na emoção em função de dois fatores principais: restrições verbais da criança, que limitam o acesso ao seu próprio repertório privado e a dificuldade de se instalar

(42)

Para que as respostas de coping sejam emitidas elas têm de constar do repertório comportamental do indivíduo. Mas o fato de ser capaz de emitir uma dada resposta não quer dizer que o indivíduo irá responder em uma dada situação. A seleção de respostas de coping também se inclui no seu processo de aprendizagem. A probabilidade de escolhas de uma dada resposta de coping depende do resultado de escolhas feitas no passado (SAVÓIA, 1995).

Concluindo, o coping consiste em uma série ampla de respostas, que tem em comum o fato de serem evocadas por situações estressoras e assumirem a função geral que exercem: suas consequências podem mudar o contexto no qual as respostas de estresse são eliciadas. É desta forma que o coping pode afetar o

stress. A interação entre estresse e coping envolve intensos e extensos processos: os mecanismos de coping instalam-se ao longo do desenvolvimento humano e dependem de respostas do indivíduo às variáveis da situação.

“A forma pela qual uma pessoa usa enfrentamento está determinada, em parte, por seus recursos, os quais incluem saúde e energia, crenças existenciais, habilidades de solução de problemas, habilidades sociais, suporte social e recursos materiais. Podem ser de natureza pessoal, incluindo valores e crenças culturais que prescrevem certas formas de déficits de comportamentos. Podem ser ambientais, incluindo demandas que competem com os recursos pessoais e/ou agências como instituições que impedem os esforços de enfrentamento” (LIPP, 2010, p. 165).

3.3.2 Coping Religioso

O conceito de coping religioso é embasado nas obras de Keneth Pargament, e também na dissertação de mestrado de Raquel Gehrke Panzini (Escala de coping religioso espiritual - CRE): tradução, adaptação e validação da Escala RCOPE, abordando relações com saúde e qualidade de vida, 2004).

(43)

Coping é um conceito chave que ajuda a entender adaptação e desajustes na adaptação, já que o estresse sozinho não causa sofrimento e disfunção. O que causa sofrimento é como as pessoas manejam o estresse(PARGAMENT, 1997).

“Uma das maneiras de se manejar o stress é através da religião. Trata-se de

coping religioso, que descreve o modo como os indivíduos utilizam sua fé para lidar com o estressee os problemas da vida” (PANZINI, 2004, p.20).

Na perspectiva da Psicologia da Religião, “coping é uma busca por significado em tempos de estresse” (PARGAMENT, 1997, p. 90), um processo pelo qual os indivíduos procuram entender e lidar com as demandas significantes de suas vidas (PARGAMENT, 1990).

A religião pode ter diferentes significados para diferentes pessoas. A religião constitui-se num processo de busca de significado através de caminhos relacionados ao sagrado (PARGAMENT, 1997, p. 32). Quando as pessoas se voltam para a religião para lidar com o estresse, acontece o coping religioso. Definido por Pargamet como o “uso de crenças e comportamentos religiosos para facilitar a situação de problemas e prevenir ou aliviar as consequências emocionais negativas de circunstâncias de vias estressantes” (PANZINI, 2004, p. 25).

Os objetivos do coping religioso, segundo Pargament (2000), são: busca de significado, controle, conforto espiritual, intimidade com Deus e com outros membros da sociedade, transformação de vida, bem estar físico, psicológico e emocional e busca de crescimento e conhecimento pessoal.

A religião oferece uma variedade de métodos ou estratégias de coping

(PARGAMENT, 1997).

“O coping religioso espiritual pode estar associado com estratégias orientadas para o problema, quanto a estratégias orientadas para a emoção” (PANZINI, 2004, p. 26).

Os métodos de coping religioso espiritual podem ser classificados em positivos e negativos, pois a religião/espiritualidade pode ser fonte de alívio ou desconforto, de solução de problemas ou causas de estresse, dependendo de como a pessoas se relacionam com ela, ou seja, depende da utilização de estratégias de CRE positivas ou negativas. Pargament e colegas (1998) propuseram quatro estilos de coping religioso:

(44)

consideração o fato de Deus dar às pessoas a liberdade e os recursos para dirigirem suas próprias vidas;

b) O estilo delegação outorga a responsabilidade na solução de problemas a Deus. O indivíduo espera passivamente que Deus resolva tudo;

c) O estilo colaboração prevê uma corresponsabilidade entre Deus e o indivíduo na resolução dos problemas. O indivíduo trabalha em ativa parceria com Deus no processo de coping;

d) O estilo súplica é caracterizado pela tentativa de influenciar a vontade de Deus através de rogos e petições por sua divina intervenção.

3.4 Saúde mental

Vários profissionais que atuam na área de saúde mental definem “saúde mental” segundo sua bagagem educacional e sua preferência por uma ou por outra teoria. Não obstante, exista consenso entre os profissionais quanto aos aspectos gerais do que seja uma boa saúde mental” (SIMON, 2009, p. 301).

Em que consiste a saúde mental das pessoas teoricamente boas? A psiquiatria vem deduzindo, ao longo dos anos, algumas respostas para essa pergunta, segundo Simon, na sua obra Homens maus fazem o que homens bons sonham: um psiquiatra forense ilumina o lado obscuro do comportamento humano, 2009.

Do ponto de vista psicológico, as pessoas saudáveis gostam de si mesmas e se aceitam. Elas não dependem excessivamente da aprovação dos outros, nem se sentem atingidas de forma grave pelas críticas alheias. Além disso, uma autopercepção sólida e integrada costuma coexistir com lembranças do passado razoavelmente prazerosas e relativamente contínuas. A pergunta “Quem eu sou?” surge apenas em raras ocasiões. O eu não é nem megalômano nem autodepressivo. Esta pessoa não precisa diminuir outras para manter sua autoestima, ela reconhece e aceita seus fracassos e busca ajuda de outras pessoas quando necessita e sabe que não precisa ser perfeita para alcançar a autoaceitação. Elas rejeitam, de forma intrínseca, o suicídio como solução às vicissitudes da vida.

Imagem

Tabela 3: Caracterização da escolaridade do sujeito da amostra por categorias  condensadas
Tabela  13:  Caracterização  da  amostra  quanto  a  ajuda  concedida  pela  religião/espiritualidade frente às situações estressantes
Tabela 15: Caracterização da amostra quanto ao crescimento espiritual junto à  igreja local
Tabela 18: Frequência e percentil de respostas à questão sobre qualidade de  vida do “Questionário Geral”.
+7

Referências

Documentos relacionados

Os excertos dispostos em sequência nesta seção são ilustrativos do modo como se processa, no texto acadêmico-científico do pesquisador iniciante (exemplos de 1 a

213 Tabela B.13 – Resultados dos ensaios de titulação para cloretos livres em concretos com substituição de 10%, cura de vinte e oito dias, limpeza mecânica das barras e ensaio

O presente estudo analisa três diferentes mecanismos que podem ser utilizados pelo Estado (Governo Federal e/ou Estadual) para garantir a formação e a sustentabilidade dos

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo

Cláusula Primeira: Ao beneficiário dependente, se inscrito como tal neste contrato, é assegurado o benefício de remissão, com o direito aos serviços previstos

The objective of this study was to evaluate the effect of low-level laser therapy (LLLT) on radiotherapy- induced morphological changes and caspase-3 immunodetection in parotids

O OPERADOR E REPARADOR DE SISTEMAS ELETROMECÂNICOS é o profissional que interpreta esquemas elétricos, avalia materiais, equipamentos, dispositivos e instrumentos de medidas

VENCIMENTO PRAZO MÉDIO/ATRASO GIRO MÉDIO CARTEIRA LISTAS DE CLIENTES ÍNDICES COBRANÇA CRITÉRIOS DE ELEGIBILIDADE FILTRO DE APONTAMENTOS CADASTRAIS CONSISTÊNCIA FÍSICA E