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3.6 Espiritualidade como recurso para o enfrentamento

3.6.7 Psicoterapia espiritual integrada

Pargament procura encorajar os psicólogos a considerarem com mais atenção a dimensão espiritual da vida.

A terapia espiritualmente integrada objetiva possibilitar mudança significativa na vida do indivíduo. Pesquisadores e terapeutas norte americanos, começaram a avaliar o impacto de tratamentos integrados espiritualmente e perceberam resultados promissores. No entanto, estas pesquisas represetam uma fase inicial.

Todo tipo de tratamento deve ser formalmente avaliado, deve ser claramente articulado para que profissionais possam ser treinados no método. Portanto, o tratamento deve ser passível de padronização para que outros possam replicar os resultados dos estudos investigativos.

Pargament afirma que muitos terapeutas são avessos à idéia de manuais de tratamento, em virtude dos manuais de tratamento apresentarem limitações, tais como a brevidade e a possibilidade de deixar os clientes com necessidade de ajuda adicional.

O autor apresenta na sequência possibilidades que podem integrar a espiritualidade em instituições religiosas.

As instituições religiosas têm uma longa tradição de esforços no sentido de facilitar o bem estar de seus membros, definido, mais amplamente, para englobar as esferas social, física e psicológica da vida. Programas de aconselhamento leigo e pastoral, assim como serviços sociais de base religiosa são comuns nos EUA. Estudos sugerem que estes serviços podem ser muito efetivos.

As congregações religiosas têm sido usadas como lugares para programas de cuidados preventivos e promoção da saúde para grupos de pessoas desconectadas de serviços de saúde tradicionais. Algumas instituições religiosas desenvolvem programas para responder às necessidades espirituais de membros que estão lidando com traumas e desafios específicos como divórcio e abuso sexual.

“Ainda que psicólogos e outros profissionais da saúde venham trabalhando, nos EUA, junto às instituições religiosas para desenvolver e avaliar alguns destes programas que integram a espiritualidade, essa forma de colaboração constitui a exceção e não a regra” (PARGAMENT, 2007, p. 338). Existem inúmeras e entusiasmantes oportunidades de trocas interdisciplinares. No entanto, profissionais da saúde mental que desejam aventurar-se nestas atividades, devem lembrar que as instituições religiosas não são centros de saúde mental. Elas têm uma missão distinta: ajudar seus membros a conhecer Deus. A colaboração deve desenvolver-se a partir do compromisso partilhado entre as comunidades religiosas e de saúde mental com o bem estar, e a partir do respeito mútuo pelos recursos distintos que cada parceiro pode oferecer no processo de ajuda. Os terapeutas, geralmente, concluem que eles têm tanto a aprender com as comunidades religiosas, quanto eles têm a oferecer a elas.

Pargament relata mudanças que podem integrar a espiritualidade na educação e prevenção (2007, p.341).

A psicoterapia, embora importante, tem uma desvantagem: ela tem lugar depois que os problemas se instalam. Então, faz sentido pensar em educação e prevenção, na área da espiritualidade, antes que os problemas apareçam. Três exemplos são considerados pelo autor:

1. Educação espiritual no ensino fundamental

Pargament afirma que a educação religiosa, geralmente, termina justo quando deveria estar começando. Muitos adolescentes terminam sua educação religiosa no momento de suas vidas em que começam a se dar conta de sua capacidade para o pensamento abstrato, um pré-requisito para lidar com os símbolos, paradoxos e

complexidades das tradições religiosas e espirituais. Apesar de continuarem a crescer física, social, intelectual e psicologicamente, muitos adolescentes têm interrompido o seu desenvolvimento espiritual, e neste momento eles têm que lidar com muitos desafios da vida. Aqueles que dão continuidade a alguma forma de educação espiritual acreditam que esses programas falham em oferecer suporte espiritual adequado para lidar com as ansiedades, preocupações e desafios específicos da adolescência. Como resultado, a espiritualidade e a religião tornam- se desconectados da vida diária.

2. Educação espiritual na faculdade

A educação espiritual não deveria se restringir à adolescência ou a nenhuma etapa da vida. Segundo Pargament, a educação espiritual é um processo para a vida inteira, então se torna viável a procura por lugares e momentos oportunos para a continuidade do desenvolvimento espiritual. A faculdade seria um desses momentos ideais. Ao contrário da idéia comumente aceita de que os estudantes colocam sua espiritualidade em suspenso quando entram para a faculdade, estudos sugerem que os anos de faculdade são um período de embates espirituais para muitos deles. Uma atenção mais explícita em relação a assuntos espirituais poderia integrar-se à experiência acadêmica. Existem professores e administradores que acreditam que as conversas sobre espiritualidade não fazem parte de um campus onde predomine o livre pensamento, neste caso Pargament enfatiza que a educação espiritual não deve ser confundida com proselitismo no sentido de doutrinar estudantes para que adotem esta ou aquela perspectiva espiritual. Ao contrário, a educação espiritual trata de criar oportunidades para que os alunos estudem, se envolvam, debatam e discutam valores, tópicos e interesses espirituais.

3. A espiritualidade como um recurso para a prevenção de problemas matrimoniais.

Casais de noivos constituem outro grupo muito indicado para a educação espiritual. Programas desenvolvidos para este público envolviam um conjunto comum de tópicos: comunicação, solução de problemas, compromisso, aceitação e perdão. Os participantes são orientados sobre maneiras de identificar e resolver suas próprias ambivalências. O autor afirma ter apenas “arranhado” a superfície dessa possibilidade, sendo que infere que nos anos futuros os profissionais envolvidos com esse trabalho descobrirão novas oportunidades para integrar a espiritualidade em esforços destinados a melhorar a condição humana.

Pargament também enfatiza as razões pelas quais faz sentido dar voz à espiritualidade na psicoterapia. A espiritualidade é uma parte natural e normal da vida. São grandes os desafios em tentar dar sentido a assunto tão pouco palpável. Ainda assim, a espiritualidade não está fora do campo de conhecimento e compreensão humanos. Pode-se desenvolver uma melhor compreensão da espiritualidade, assim como pode-se aprender mais sobre outras dimensões da vida: biológica, psicológica e social. Esta compreensão deve ir além de simples estereótipos. Ao desenvolver esta compreensão é necessário evitar a tentação de perceber a espiritualidade como uma ilusão, um conjunto de crenças e práticas ostensivamente devotadas ao sagrado, mas como algo que se destina a satisfazer necessidades humanas básicas.

A PEI baseia-se na premissa fundamental de que o desejo, a busca pelo sagrado é um aspecto primário e irredutível da natureza humana. O sagrado responde aos mais profundos sonhos e aspirações do homem, à sensação de que há algo que transcende a experiência diária, as idéias mais fundamentais do sujeito. Qualquer psicologia do comportamento humano permanecerá incompleta sem uma apreciação sobre a motivação para conhecer e conectar-se com o sagrado.

A espiritualidade contribui para uma avaliação mais completa das forças e fraquezas humanas. Ela tem a ver com o melhor da natureza humana, desempenha papel positivo na vida de muitas pessoas. Mesmo que a espiritualidade seja uma parte natural e normal da vida, não é inerentemente boa. A busca sagrada pode se mostrar equivocada. Pois, as pessoas podem definir o sagrado em termos tão estreitos que destituam de vida a si mesmas ou aos outros; o indivíduo pode elevar- se à posição de deus; pode seguir caminhos que destruam os objetivos espirituais que antes se deseja alcançar; pode “congelar” a busca pelo sagrado em formas estáticas e mortas.

O autor apresenta uma forma de distinguir o melhor e o pior no que se refere à espiritualidade através da noção de integração espiritual. Como parte do problema ou parte da solução, as expressões da espiritualidade refletem um desejo humano natural: o desejo de conhecer algo transcendente, algo sem limites, algo de valor e verdade absolutos.

Não se pode dissociar a espiritualidade do processo terapêutico, visto a espiritualidade estar entrelaçada com a experiência humana. A questão é como abordar a espiritualidade na psicoterapia.

A neutralidade terapêutica em relação à espiritualidade é impossível. Como qualquer outra dimensão do comportamento, a espiritualidade tomará forma, de uma maneira ou de outra, através do processo terapêutico. No entanto, a espiritualidade pode ser avaliada cuidadosamente, pensativa e sistematicamente como qualquer outra dimensão da vida.

Terapeutas podem estimular seus clientes a aproveitar os seus recursos espirituais na terapia, assim como incentivá-los a acessar outros recursos, tais como assistência médica, apoio social, exercício físico e livros. Pargament finaliza declarando que profissionais de saúde mental podem falar sobre a espiritualidade de forma aberta. Isto significa enfrentar os desafios, apesar de reconhecer os limites como seres humanos. A espiritualidade no seu melhor oferece uma perspectiva diferente de perceber o mundo.

O autor apresenta uma forma de distinguir o melhor e o pior no que se refere à espiritualidade através da noção de integração espiritual. Como parte do problema ou parte da solução, as expressões da espiritualidade refletem um desejo humano natural: o desejo de conhecer algo transcendente, algo sem limites, algo de valor e verdade absolutos.

Porque as pessoas consideram o sagrado e dele se aproximam de tão variadas maneiras, não existe uma única forma de lidar com a espiritualidade em terapia, não existe uma única forma de tratamento. No entanto, a espiritualidade pode ser abordada sistematicamente, plenamente e cuidadosamente como qualquer outra dimensão da vida. Questões sobre a vida espiritual de um cliente são tão importantes como as questões sobre sua história médica, suas relações sociais, e suas emoções. Os terapeutas podem encorajar seus clientes a contar com seus recursos espirituais em terapia do mesmo jeito como os encorajam a contar com ajuda médica, suporte social, exercícios físicos, e livros de auto ajuda. Os terapeutas podem se referir, também, a uma variedade de problemas espirituais que possam interferir com a saúde e o bem estar de seus clientes, da mesma forma como atentariam para outros problemas que representem impedimentos para a mudança.

Os profissionais prestam um grande serviço a seus clientes quando compreendem e abordam a espiritualidade como um assunto significativo por si mesmo, um recurso potencial ou como uma fonte potencial de problemas.

No prefácio do livro, Pargament afirmou acreditar numa “teoria de campo unificada”, numa perspectiva que pudesse unir a maneira de compreender a

espiritualidade, baseada em estudos teóricos e nas pesquisas, com a maneira de abordar a espiritualidade nos esforços para ajudar as pessoas. O objetivo não foi alcançado. Porém, passos promissores estão sendo dados no sentido de beneficiar os clientes e os terapeutas.

É claro que ajudar aos clientes a alcançar uma maior integração espiritual no processo da psicoterapia não conduz a uma vida livre de dores, fracassos e intensos desejos. Trata-se de uma possibilidade de escolhas significativas serem feitas, confrontando os desafios da melhor maneira possível, ao mesmo tempo em que os limites são reconhecidos pelo ser humano.

As tentativas de eliminar todo o sofrimento, experimentar tudo que há para ser experimentado, ou recusar-se a ver que toda escolha implica uma perda estão destinadas ao fracasso. Integração significa uma vida construída não só com alegria e realizações, mas, também, com dor e derrotas.

O melhor da espiritualidade oferece uma nova perspectiva de vida, uma maneira diferente de ver o mundo.

Através das lentes do sagrado percebe-se que a dor e as perdas, enquanto partes da vida, são apenas partes da vida. Elas não contam toda a história e elas não têm a última palavra. No sofrimento pode-se encontrar significado e propósito; no confronto com as limitações humanas descobrir novas fontes de força e inspiração; na relação mais desafiante é possível transcender as preocupações pessoais para cuidar da dor de outra pessoa. E, através da lente do sagrado, o indivíduo pode ver a si mesmo numa perspectiva mais abrangente.

Assim, a integração da espiritualidade com a psicoterapia adiciona uma dimensão vital ao modo como o trabalho terapêutico é percebido. O profissional que se permite ver a psicoterapia através das lentes do sagrado pode ser transformado na sua maneira de perceber o cliente, no seu modo de ver a si mesmo e na constatação da natureza da mudança que a psicoterapia pode estimular.

4 MÉTODO E APRESENTAÇÃO: DIFICULDADES E ESTRATÉGIAS ADOTADAS PELA MULHER PRESBITERIANA NO DIA A DIA