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Engenheiros provinciais, traçando projetos e orçamentos: fases técnicas do planejamento de pontes e estradas em Minas Gerais

Fluxograma 1 Dinâmica das obras públicas viárias provinciais de Minas Gerais, com identificação das

2.4. Engenheiros provinciais, traçando projetos e orçamentos: fases técnicas do planejamento de pontes e estradas em Minas Gerais

Havia uma preocupação em dirimir erros e evitar dispêndios desnecessários: (...) temos começado mais de uma estrada com emprego de imensos capitaes que depois de concluídas, para nada servem, por causa da pressa e imperfeição com que se fazem os estudos de seus respectivos traçados (Relatório de Presidente de Província, 1861, p. 20). A contratação de

engenheiros era legitimada através da justificativa da relação direta entre o aumento de engenheiros, elevação do desenvolvimento técnico e queda do montante gasto em obras públicas que se tornariam obsoletas. Assim, ao engenheiro caberia agregar desenvolvimento técnico às obras e diminuir os gastos em vias imperfeitas. As percepções não eram homogêneas acerca dos benefícios advindos da contratação de engenheiros. Em 1859, o Relatório da Repartição das Obras Públicas, assinado pelo Inspetor Geral José Rodrigues Duarte, revelava que, ao olhar de alguns, a contratação de engenheiros equivalia a uma alta e desnecessária despesa:

Parece alguns excessivo o número dos engenheiros que temos muitos julgão exagerada a despeza que com elles se faz; e não falta também quem diga que delles não precisamos; mas a experiência tem me convencido de que um engenheiro diligente, hábil e bem pago, é uma verdadeira economia, porque estudando, e desenvolvendo a parte técnica das obras que se emprehendem, são só pelo lado material, como pelo moral, habilita a Administração para resolver sobre pontos de importância muito subida, ou recuando diante de despesas inúteis e infructiferas, ou decretando-as, porém de modo acertado, econômico e productivo ( Anexo,

Segundo os relatórios presidenciais, o número de engenheiros era incapaz de suprir toda a demanda. As solicitações de camaristas e de particulares nem sempre eram atendidas com rapidez. A demora causava embaraços para a Secretária de Obras Públicas, que apelava aos serviços das câmaras e autoridades locais para a organização de plantas e orçamentos.72 Em alguns casos, os orçamentos e plantas, elaborados pelos camaristas e autoridades locais, não eram aceitos pelos engenheiros, que apontavam defeitos e imperfeições no âmbito dos cálculos técnicos e orçamentários: (...) recorro as camaras, autoridades e mesmo a

particulares em demanda de orçamentos, que as mais das vezes não são organizados de modo a serem aceitos pelo engenheiro chefe, do que resulta quasi sempre demora de execução de obras alias urgentíssimas (Anexo n. 14, Relatório de presidente de província,

1867, p. 3).

A Repartição de Obras Públicas procurava aperfeiçoar os orçamentos e plantas enviados pelas câmaras municipais. Para tanto, a Secretária de Obras Públicas criou “quesitos”, que deveriam estar incorporadas ao orçamento. Se a solicitação fosse para a construção de uma nova ponte, a Câmara deveria contemplar no orçamento os seguintes quesitos:

A. Construção de pontes novas

1°Qual a largura do rio no lugar destinado para a ponte tomada à flor das baixas águas? 2° Qual a largura da mesma tomada a flor da água nas enchentes ordinárias.

3° Qual a largura das águas do rio quando se espraia nas cheias ordinárias?

5° Qual é, por ocasião das cheias extraordinárias, a altura do nivel d’agua acima dos pontos do níveo que ricao de um e outro lado do ponte antecendente, em distância tomadas de braça em braça? (...)

11° Há ou não há pedra para construção da alvenaria?

13° Qual a distância aproximada dessa pedra ao lugar da obra expressa em braças? 14° Há nas proximidades da ponte pedra calcarea e quem fabrique cal?

72

Em 1866, a circular n° 5 enviada pela Repartição de Obras Públicas aos presidentes e vereadores de câmaras municipais indicava a insuficiência de engenheiros para acolher todas as demandas: “Devendo cumprir o disposto no art. 37 do regulamento n° 53 de 17 de fevereiro do corrente anno, sem ter numero sufficiente de Engenheiros para atender a um tempo a todas as obras que são continuadamente reclamadas dos diversos pontos da Província, vê se esta Repartição muitas vezes obrigada a solicitar das Camaras Municipaes os orçamentos de grande parte de taes obras, os quaes nem sempre podem ser adoptados por conterem falta insanáveis, o que importa dispêndio de tempo e trabalho sem resultado que preste. No intuito de remediar este mal e de facilitar a confecção desses orçamentos pelas próprias Camaras ou por propostos seus, habilitando-os igualmente a fornecer os dados precisos para aqui mesmo fazerem-se os orçamentos, remetto a VV. SS. as inclusas instrucções, das quaes o n° 1 contem uma serie de quesitos a que VV.SS. devem responder não só quando exigirem a construcção de alguma obra, como quando organisarem ahi os orçamentos para serem enviados á esta Repartição e aqui examinados convenientemente. O n. 2 é um modelo das respostas aos quesitos 5 e 6 do n°1. O n. 3 é a norma da tabella, que deve ser preenchida com os preços elementares dos materiaes e salários, e impreterivelmente acompanhar qualquer orçamento pro VV.SS. apresentado. Os ns. 4 e 5 são dous exemplos de orçamentos, á saber: um para a construção de pontes, outro para os concertos de estradas, os quaes servirão mutatis mutandis de norma toda vez que VV.SS. organisarem os orçamentos por si mesmos, ou propostos seos. Estimarei que este trabalho aproveitado corresponda ás vistas desta repartição, que se estendem a toda a provincia, quando se trata de seus intereses materiaes” (APM, SPOP 3/4, Caixa 15, doc. 42).

N.B. Como convem que os engenheiros da Província conheção bem este material pede-se as Camaras hajão de enviar uma pequena amostra das diferentes qualidades desta pedra para ser analisada.

16° Há areia pura (destituída de detritus vegetal) fina ou grossa? E qual a sua distância da pedreira ou das caieiras ao lugar da obra?

17° Há barro de oleiro nas proximidades da obra fomos para o fabrico de tijolos? 18° Quanto custará um milheiro de tijolos junto à obra?

19° Há madeira de lei? Quais são as qualidades mais acreditas nas circunvizinhanças da obra em consequência das aplicações que dellas se tem feito? A que distância poder-se-ha buscal- a?

20° Há alguma fabrica de ferro nas proximidades da obra, aonde se possa mandar fazer a ferragem preciza? Ou de que fábrica convirá mais vir a dita ferragem, e a que distância está da obra?

21° Há nas próximas povoações mestres, oficiaes e companheiros (serventes) dos oficiaes de canteiro, pedreiro, carpinteiro, cavouqueiro e ferreiro? Quais são os respectivos salários no máximo e no mínimo?

N.B Tudo isto deverá ser repetido na tabela da tarifa dos preços elementares (...).

22° Que número de operários dos diferentes ofícios e serventes se poderá assalariar simultaneamente? (Appensos n° 9, Relatório de presidente de província, 1866, p. 21)

No caso da solicitação para o conserto de uma ponte:

1° Começar-se-há por fazer uma descrição geral da ponte, de como ella foi feita dando as dimensões de todas as suas partes.

2° Dizer quaes as partes arruinadas da mesma com toda a clareza que for possível. 3° Qual o meio que julgão apropriado para o conserto de cada uma das partes.

4° Quaes as peças que devem ser substituídas, sua forma, suas dimensões e tudo mais que julgarem servir para esclarecer esta repartição.

5° Fazer em separado o orçamento detalhado, acompanhado da tabela dos preços elementares(Appensos n° 9, Relatório de presidente de província, 1866, p. 21)

Além das instruções para a confecção de orçamentos e plantas, as câmaras municipais acondicionaram instrumentos científicos, plantas e ferramentas. Na década de 1860, o engenheiro Franklin Massena registrou que a Câmara Municipal de Aiuruoca mantinha sob a sua guarda plantas, ferramentas e instrumentos científicos:

Relação dos instrumentos 1 Sextante de Secretan 1 Barometro aneroide 1 Bússola transferidora 9 Ferros de numerar estacas 1 {Tripode} de Prancheta

1 Lata de folha contendo as seguintes plantas: perfil longitudinal da estrada de Passa Vinte; {curso} do alinhamento da mesma estrada fim á Lavras; Ponte sobre o Aiuruoca { }

Ficão depositados na Câmara Municipal de Ayuruoca (APM, SPOP 3/7, Caixa 1, doc. 26-20).

Em 1867, a Câmara Municipal da Vila do Prata enviou planta e orçamento para a Secretária de Obras Públicas a fim de que a referida obra fosse contemplada pelos recursos provinciais. Contudo, o engenheiro provincial julgou inviável a liberação de recurso com base no orçamento e planta da Câmara Municipal da Vila do Prata (APM, SPOP 3/6, Caixa 47).

Planta 2 -Vista frontal de Ponte projetada sobre o Rio do Prata – 1867. Autor: Câmara Municipal da Vila do

Prata. Sem Escala.

Fonte: APM, SPOP 3/6 Caixa 47, doc. 01.

O orçamento servia de base para a formulação do contrato, que seria estabelecido entre a província e o administrador ou o arrematante. Como parte integrante do orçamento, o engenheiro provincial também confeccionava as plantas de pontes e estradas. As plantas, conjuntamente com o orçamento, serviam de diretriz para a execução da obra:

(...) não basta, como muito bem sabeis, conhecer a sua necessidade, ou conveniência, e autorizar a despesa: a maior dificuldade consiste em obter plantas e orçamentos, que sirvão de base segura às deliberações de quem houver de declatal-as, e que não induzão a Administração a cometer graves erros, responsabilizando-se pelo pagamento de grandes despesas imprevistas; em fiscalizar a própria construção e o dispêndio dos dinheiros públicos; em fazer com que os arrematantes e empresários cumprão religiosamente as condições a que se sujeitam; em prover finalmente à conservação dessas mesmas obras de maneira que não se percão em três dias de chuva os trabalhos e sacrifícios de muitos anos (Relatório de Presidente

de província, 1856, p. 7).

Em relação à planta de ponte, havia orientação para que ficasse explícito o nível das águas ordinárias e do alcance das águas “das maiores enchentes”, conforme sugeria o modelo de planta de ponte reproduzido abaixo (ANEXO III e IV):

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