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Enquadramento das organizações com fins lucrativos: FPO’s

Capítulo II – Organizações da economia social e rede lucrativa: caraterização e diferenças

2.2. Enquadramento das organizações com fins lucrativos: FPO’s

As organizações inseridas na rede lucrativa são aquelas organizações que atuam tendo por objetivo o lucro, tal como refere Felício et al. (2013). Ou seja, os rendimentos obtidos podem ser investidos ou distribuídos de acordo com as pretensões dos proprietários da organização sem que haja uma limitação legal.

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Apesar destas organizações, ou FPO’s, prestarem serviços de cariz social semelhante aos serviços prestados pelas organizações da economia social ou NPO’s, não existem comparticipações financeiras por utente admitido na organização independentemente da resposta social ou valência, sendo que estas comparticipações são provenientes do Ministério da Solidariedade, Emprego e Segurança Social. Apenas em casos específicos é que poderá haver direito a comparticipação financeira pública na rede lucrativa e que está prevista nos Protocolos de Cooperação de 2011-2012 e de 2013-2014, celebrados entre o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social (Ministério da Solidariedade e da Segurança Social, 2012a, 2012b) e os três organismos onde se inserem as organizações sociais (UMP, CNIS e UM).

De acordo com os Protocolos de Cooperação acima referidos, a rede lucrativa poderá ser comparticipada financeiramente apenas nos casos em que não existem as denominadas Vagas de Gestão Direta da Segurança Social (VGDSS) nas respostas sociais de Lar de Idosos na rede social ou solidária, isto é, que essas vagas estejam esgotadas.

Para esta tipologia muito específica de vagas, são direcionadas para todos aqueles idosos que apresentam uma total ou quase total ausência de retaguarda familiar e com carências económico- financeiras muito elevadas. Tal pode ser verificado no ponto 11 e 12 da Cláusula 8.ª dos Protocolos de Cooperação: “Esgotadas as vagas referidas no número anterior, mas surgindo

situações que careçam de resposta para utentes em estruturas residenciais, de preferência e consensualmente, a segurança social recorrerá às da rede solidária, só podendo fazê-lo na rede lucrativa caso não exista disponibilidade no sector solidário…”.

Na rede lucrativa, as organizações apresentam um raio de ação igualmente abrangente, exercendo um conjunto de atividades ajustadas às necessidades de quem solicita os seus serviços. A sua ação abrange, igualmente, todas as faixas da população como infância, jovens, adultos e idosos, assim como toda a população que evidencia patologias incapacitantes no que respeita à realização das suas atividades básicas (alimentação, higiene pessoal, higiene habitacional…) e instrumentais de vida diária (gestão das suas finanças pessoais, efetuar e atender uma chamada telefónica…).

Apesar de existirem inúmeras organizações com fins lucrativos em Portugal, por princípio, todas devem primar por garantir todos os cuidados necessários e personalizados àqueles que solicitam os seus serviços, tendo por base uma elevada qualidade no serviço prestado e uma confiança recíproca, ou seja, entre organização prestadora do serviço e utente que usufrui do mesmo.

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A grande diferença entre NPO’s e as FPO’s é que, nas primeiras, existem apoios financeiros estatais. Nas segundas, por norma, esses apoios não existem, à exceção das VGDSS, tal como mencionado anteriormente.

Incidindo nos organismos privados ou FPO’s que estão inseridos na rede lucrativa destaca-se o Solar das Camélias. Esta FPO está localizada no distrito e concelho de Aveiro e integra a resposta social de Lar Residencial para idosos. Contrariamente às NPO’s, não existe uma comparticipação financeira estatal, pelo que os valores das suas mensalidades são bastante elevados. A título de exemplo, para uma estadia no mínimo de quatro meses o valor mensal, importa os seguintes custos:

I. Quarto individual: desde €1.450,00 até €1.590,00; II. Quarto duplo: desde €1.265,00 até €1.415,00;

III. Quarto casal: redução de €100 na soma das duas mensalidades.

Estes valores incluem o alojamento, cuidados de higiene e conforto e serviços de enfermagem, medicina familiar, fisioterapia, animação sociocultural, alimentação, tratamento de roupa, acompanhamento em deslocações ao exterior até 70 km ida e volta, até 2 vezes por mês. Os valores apresentados não incluem o serviço de cabeleireiro, medicação, produtos de incontinência, consumíveis de enfermagem, transportes de ambulância, consultas de especialidade, exames meios complementares de diagnóstico, entre outros (Solar das Camélias, 2014).

No que respeita à tipologia das respostas, as FPO’s são em tudo semelhantes às respostas sociais existentes nas NPO’s, ou seja, existem Lares de Idosos ou Estruturas Residenciais Para Idosos, Serviço de Apoio Domiciliário, Creche, Infantário, entre outras.

Contudo, como nas NPO’S existem apoios financeiros de cariz estatal, emergem respostas sociais que dependem exclusivamente desses apoios, como por exemplo, respostas que fornecem apoio a sem abrigos, em que não existe qualquer comparticipação do utente que usufrui desse serviço, algo que na rede lucrativa já não ocorre. Apesar destas respostas dependerem em exclusivo desses apoios financeiros, prestam um serviço social a uma camada populacional extremamente carenciada em termos económicos e financeiros e que, por vezes, evidencia patologias totalmente inibidoras (Felício et al., 2013; Roberto & Serrano, 2007).

Concluindo, em Portugal pode ser constatado que existem meios para proteger aqueles que demonstram elevadas carências, seja de que ordem for. Esses apoios estão distribuídos por vários

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organismos semipúblicos e privados e que apresentam especificidades que os distinguem entre eles e que podem fornecer um serviço ajustado às necessidades de cada cidadão, independentemente da sua religião, etnia e estrato social. Contudo, enquanto nas NPO’s o acesso apresenta um caráter mais facilitado em função dos valores praticados, nas FPO’s, o acesso é mais restrito e, geralmente, só quem apresenta rendimentos muito acima da média é que poderão usufruir dos seus serviços.

2.3. Considerações finais

Apesar de todo o apoio que as organizações da economia social, as denominadas NPO’s ou as organizações da rede lucrativa, denominadas de FPO’s, apresentarem nos dias de hoje dificuldades económicas e financeiras relevantes, existe algo que é fundamental referir e que diz respeito à preocupação com o bem-estar do outro, algo que é comum no seio das organizações acima estudadas.

Contudo, este fator, por si só não é suficiente para que seja alcançada uma estabilização organizacional, no que concerne à sua capacidade financeira e económica, pois sem este pilar, torna-se praticamente impossível apoiar quem necessita, ou seja, criar valor social.

Neste contexto, a estratégia que as organizações implementam no seu seio é crucial. Por vezes, só quando surgem adversidades, é que os gestores de topo detetam que as suas organizações não estão preparadas e que é necessário modificar algo.

É esta perspetiva que se pretende desenvolver no próximo capítulo, incidindo na Gestão Estratégica como fundamental para a redução da probabilidade de insucesso das organizações, algo que irá afetar, não só os colaboradores dessas organizações, mas inevitavelmente, quem delas depende mesmo para sobreviver.

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Capítulo III - Processo de gestão estratégica: empreendedorismo social,