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Inovação social: abordagem conceptual e objetivos

Capítulo III Processo de gestão estratégica: empreendedorismo social, inovação social e criação

3.4. Inovação social: abordagem conceptual e objetivos

A inovação social, como advoga Mumford (2002), remete para a geração e implementação de novas ideias sobre como as pessoas devem organizar atividades interpessoais, ou interações sociais, para atender a um ou mais objetivos comuns. Tal como acontece com outras formas de inovação, os produtos resultantes de inovação social podem variar em relação à sua amplitude e impacto. Se por um lado o desenvolvimento de novas ideias sobre a organização social ou relações sociais, podem envolver a criação de novos tipos de instituições sociais, a formação de novas ideias sobre o governo ou o desenvolvimento de novos movimentos sociais.

Por outro lado a inovação social pode facilitar a criação de novos processos e procedimentos para estruturar o trabalho assente na colaboração, a introdução de novas práticas sociais num determinado grupo ou o desenvolvimento de novas práticas de negócios. Exemplos disto foram a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), a criação dos escuteiros ou a introdução de horários de trabalho flexíveis. Estes exemplos ilustram o que são inovações sociais.

No caso do FMI, esta organização internacional, na atual conjuntura, apoia alguns governos a preservar e até mesmo a incrementar os gastos sociais, nomeadamente na assistência social. Concretamente, o FMI estimula medidas para dilatar e aperfeiçoar a implementação de programas de proteção social que podem reduzir o impacto da crise sobre as camadas mais vulneráveis da sociedade. Os casos são vários, mas salienta-se um país em particular, o Quénia. Aqui o FMI apoia o governo a estender programas direcionados, tais como a transferência de

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rendas para órfãos e outras crianças vulneráveis, bem como para idosos e outros grupos vulneráveis. Com isso, a proporção de órfãos e crianças vulneráveis com direito a auferir transferências de renda passou de 1% em 2007 para 15,6% no exercício 2010-2011. No mesmo período, o número de famílias com pessoas vulneráveis habilitadas a receber essas transferências saltou de 200 para 33.000 (FMI, 2012).

Porcaro & Amalvy (2004) consideram que para os escuteiros, enquanto movimento da juventude, tudo começa no indivíduo e que o objetivo educativo do movimento é assegurar o desenvolvimento global do ser humano (físico, intelectual, emocional, social e espiritual). Este método compreende as dimensões sociais, culturais, económicas, geográficas e políticas. O método educativo do escutismo baseia-se nas regras da democracia e na aproximação participativa dos processos de decisão. Em termos educativos, o escutismo suscita uma tomada de consciência global da cidadania, implicando uma ação social sobre o outro, assente no apoio, orientação e educação, não deixando de ser uma inovação social aquando da sua criação em 1907 pelo Lord Robert Stephenson Smyth Baden-Powell.

Alguns dos objetivos dos escuteiros, implicam uma verdadeira ação social de elevada importância: I. Fornecer serviços de informação à juventude;

II. Praticar uma política de igualdade de oportunidades; III. Procurar e criar parcerias com populações marginalizadas;

IV. Ajudar os jovens a ultrapassar os obstáculos que entravam a sua mobilidade; V. Lutar contra a xenofobia e o racismo.

Relativamente à introdução de horários de trabalho flexíveis, este sistema permite aos colaboradores alguma escolha sobre os períodos em que devem laborar e para os quais foram contratados. Este sistema pode ser considerado uma boa forma de recrutar e reter pessoal, uma vez que fornece uma oportunidade para que os colaboradores possam ser consistentes com os seus compromissos familiares (e.g.: cuidar dos filhos…). Esta inovação social permite conciliar a vertente profissional com a vertente pessoal, algo imprescindível.

Phills, Deiglmeier & Miller (2008) descrevem a inovação social como uma nova solução (eficiente, sustentável ou justa) para um problema social, quando comparada com as soluções existentes. O valor criado beneficia em primeiro lugar a sociedade e não o indivíduo em particular. Uma inovação social pode ser um produto, um processo de produção ou uma tecnologia, tal como a inovação em geral, mas também pode ser um princípio, uma ideia, um movimento social, uma intervenção ou uma combinação entre eles.

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Para Mulgan (2010) os conceitos de inovação social tendem a ser demasiado abrangentes e inclusivos, sendo que, desta forma, o conceito de inovação social pode mesmo perder algum do seu significado. Alguns conceitos de inovação social admitem que, por exemplo, uma determinada tecnologia ou o FMI são inovações sociais.

Nesse contexto Mulgan (2010, p. 56) considera que deverá usar-se uma definição alternativa que paute pela simplicidade e mais decisiva: “As inovações sociais são inovações que são sociais tanto

nos seus fins como nos seus meios. Por outras palavras, definimos inovações sociais como novas ideias (produtos, serviços e modelos) que simultaneamente vão ao encontro de necessidades sociais (de forma eficaz que as alternativas) e criam novas relações sociais ou colaborações. São inovações que são ao mesmo tempo boas para a sociedade e aumentam a capacidade da sociedade actuar.”

Em Portugal a NPO que evidencia uma grande aposta na inovação social é a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Esta NPO fundou no dia 30 de abril de 2013 o Banco de Inovação Social (BIS), agregando 27 Instituições, entidades e empresas públicas e privadas que investem os seus ativos na promoção da inovação social. As iniciativas do BIS remetem para o estímulo da criatividade para a inovação entre a cidadania, desenvolvimento da experimentação social para testar e validar soluções inovadoras, apoio à criação e desenvolvimento de empresas sociais através de fundos de investimento social e promoção da inovação social no país, através do desenvolvimento de plataformas operacionais do BIS que agreguem instituições sociais locais públicas e privadas mediante formas inovadoras de governança. A missão e objetivo do BIS consiste em promover a inovação social, estimulando a sociedade a participar e a colaborar ativamente na configuração de soluções inovadoras e sustentáveis para os problemas, necessidades ou desafios sociais (Banco de Inovação Social, 2013).

A inovação social deverá ir ao encontro das necessidades que a sociedade apresenta, isto numa perspetiva social. Ao satisfazer as necessidades deste âmbito, é possível criar valor social, algo a ser explorado na secção seguinte.