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O Ensino/aprendizagem de léxico em LE

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 49-54)

CAPÍTULO 1. O LÉXICO E AS TEORIAS LINGUÍSTICAS

1.11. O Ensino/aprendizagem de léxico em LE

Este trabalho parte do pressuposto de que o desenvolvimento lexical exige o acionamento de operações de natureza perceptiva, cognitiva, estratégica, histórica, sociocultural e interacional. A aprendizagem lexical, no caso de L2/LE, requer do aprendiz o acionamento dos conhecimentos linguísticos, de mundo e textual desenvolvidos de forma espiral a partir das suas experiências enquanto integrante de uma comunidade linguística. O léxico desempenha um papel importante na organização da interação comunicativa que pressupõe uma seleção a partir de uma disponibilidade na bagagem lexical.

Aprender o léxico pressupõe estabelecer e reestruturar as relações semânticas e pragmáticas existentes no conhecimento enciclopédico prévio com os referentes linguísticos e extralinguísticos da língua de aprendizagem (MORANTE VALLEJO, 2005b). Da mesma forma, incorporar o léxico desconhecido em esquemas mentais a fim de recuperá-los

posteriormente em contextos sociolinguísticos (KLEIMAN, 1996) fazem parte desse processo. A aprendizagem do léxico constitui-se, portanto, em um processo dinâmico e abrangente, que se caracteriza como uma atividade intelectual, já que prevê a realização do processo inferencial.

O acionamento da inferenciação se diferencia do processo de decodificação, que se configura como uma ação mecânica de atribuição do sentido literal. A inferência lexical, por outro lado, se constitui em um processo dinâmico de negociação do sentido implícito, exigindo a confluência de saberes e ações do aprendiz.

O conhecimento do léxico de uma língua implica reconhecer seus usos linguísticos e seu funcionamento no sistema; saber o grau de probabilidade de aparição no discurso falado ou escrito; conhecer seu comportamento sintagmático; conhecer as redes de associações; conhecer os diferentes sentidos associados ao contexto; reconhecer seu valor semântico e identificar sua forma e seus derivados.

O contexto escolar representa um dos espaços pedagógicos de construção do conhecimento linguístico que possibilita a integração das experiências dos participantes da comunidade educacional, apontando as direções para a compreensão do processo de aprendizagem. Assim sendo, “o conhecimento é um processo para o qual colaboram aqueles

envolvidos na prática de sala de aula” (MOITA LOPES, 2001, p. 95).

Na interação dialógica entre o aprendiz e o professor, as relações do conhecimento adquirido e do conhecimento a ser adquirido vão sendo sedimentadas pelo intercâmbio de informações. Como um elemento de significação, o léxico torna-se importante na representação do processo de ensino de línguas. O desenvolvimento da competência lexical e do processo metacognitivo se dá através da conscientização do aluno, que é exposto a um conhecimento reflexivo capaz de fomentar um comportamento crítico em relação a seu

processo de autoaprendizagem. A atividade pedagógica pressupõe a formação de sujeitos autônomos que atuam de forma consciente no processo de autoaperfeiçoamento.

A aprendizagem do léxico tem sido representada tradicionalmente como uma das metas do ensino, porém, no senso comum, como a ampliação quantitativa de itens lexicais de uma língua. Essa visão do processo de aprendizagem lexical pressupõe que o aprendiz é uma tábua rasa que sedimenta as informações. O critério quantitativo tem sido priorizado de maneira que o domínio linguístico é mensurado pelo volume de unidades léxicas. Entretanto, em uma outra perspectiva, a partir dos pressupostos teóricos que apontam a língua em uso, o objetivo do ensino/aprendizagem de LE busca desenvolver a capacidade de reconhecer e utilizar o componente léxico de forma adequada em diferentes contextos comunicativos.

Nesse caso, muito mais que um elenco de itens lexicais que o aprendiz tem a disposição como vocabulário básico para atender as necessidades comunicativas, a proposta é de desenvolver a competência estratégica para resolver problemas de léxico desconhecido e compreender que seu conhecimento representa um processo contínuo de incorporação e reorganização de informações lexicais. Esse processo envolve, sobretudo, a ampliação qualitativa, entendendo que a produção dos sentidos se estabelece através de cada contexto.

Este trabalho segue esta perspectiva -a língua em uso - e reconhece que na construção dos sentidos o léxico é essencial, entretanto, é no contexto que tem lugar essa contrução de sentidos. O modelo teórico de processo inferencial de Kleiman (1996) e Marcuschi (1999) é adotado para discutir o processo dessa construção. A discussão sobre as diversas correntes linguísticas aqui abordadas se deve ao fato de elas terem um peso histórico e uma forte influência sobre as principais propostas metodológicas do ensino de línguas e sobre a representação que os próprios aprendizes fazem desta atividade, de maneira a refletir-se em práticas pedagógicas em sala de aula, muitas vezes oscilando entre a perspectiva formal e a da língua em uso.

O quadro abaixo apresenta os principais pontos de caracterização das diferentes perspectivas teóricas em relação ao léxico que permite uma visão comparativa das mesmas:

Quadro 1: Léxico nas teorias linguísticas

No próximo capítulo, discutiremos os métodos e as abordagens de ensino/aprendizagem de línguas e o lugar do léxico nessas propostas.

TEORIAS LINGUÍSTICAS LÍNGUA ÊNFASE OBJETO DE

ESTUDO

LÉXICO

conceito perspectiva panorama perspectiva

Gramática Normativa (século XIX) estrutura normativa Morfologia palavra central conceito literal

Estruturalismo (século XX) sistema

de signos descritivo- explicativa Fonologia signo linguístico elemento de distinção entre signos representação mental

Gramática Gerativa (século XX) conjunto

de regras

descritivo- explicativa

Sintaxe oração/enunciado componente de base representação mental • Ling uístic as da Com unica ção (século XX) usos individuais da linguagem - Pragmática - Analise do Discurso - Análise da Conversação - Linguística textual sistema de interação social descritivo- explicativa

Semântica texto/discurso elemento funcional sentido contextualizado usos coletivos da linguagem - Sociolinguística (Etnolinguística)

CAPÍTULO 2. O COMPONENTE LEXICAL: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA NA

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 49-54)