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Ensino-aprendizagem na perspectiva das gerações emergentes

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2. NOVA GERAÇÃO, NOVOS PARADIGMAS

2.2 UMA GERAÇÃO EMERGENTE: MILLENNIALS

2.2.1 Ensino-aprendizagem na perspectiva das gerações emergentes

Na inspiração da complexidade, podemos afirmar que as transições entre gerações se constituem como parte do princípio recursivo, no qual as espécies vivas perduram e se reproduzem às custas de uma renovação permanente dos indivíduos, e que essa renovação é submetida ao ciclo perpétuo da vida e da morte. Nesse prisma, de certa forma, somos todos educados indiretamente pelas gerações passadas, porém, com o passar do tempo e das gerações, transmissões puramente biológicas deixam de ser suficientes ao processo de ensino-aprendizagem (FORQUIN, 2003).

Quando se fala em educação em relação às gerações emergentes, em especial Millennials, fica-se evidente que as transições entre gerações pressupõem ou suscitam processos específicos de transmissão, socialização, formação, ensino e aprendizagem (FORQUIN, 2003), já que, os alunos de hoje não são mais aqueles aos quais nosso sistema educacional foi projetado para ensinar. Autores como Prensky (2001) denunciam que a interação com as tecnologias pode ser uma das principais causas dessa discrepância entre gerações:

A really big discontinuity has taken place. One might even call it a “singularity” – an event which changes things so fundamentally that there is absolutely no going back. This so-called “singularity” is the arrival and rapid dissemination of digital technology in the last decades of the 20th century. (PRENSKY, 2001 p. 1)

Ao comentar as dificuldades de interação entre diferentes gerações na educação, em suas pesquisas iniciais, Prensky (2001) cunhou o termo “nativos digitais”, que para ele, seriam todos aqueles nascidos nos últimos vinte anos (englobando os anos 1980 a 2000, similarmente ao Sensus Bureau) e que dessa forma, já nasceram em um mundo rodeado pelas TIC (Tecnologias da Informação e Comunicação) e, ao se depararem tão cedo em suas vidas com o

contexto de uma vida tecnológica. enxergam tais tecnologias como algo natural, parte de seu cotidiano. Sendo assim, na visão do autor, esses jovens passam a assimilar com maior facilidade o desenvolvimento tecnológico, pois conseguem se adaptar a esse na rapidez com que acontece. Tendo as tecnologias como uma constante em seu contexto social, para eles usar o celular, jogar videogame ou jogos de eletrônicos no computador, passar horas online, acessar redes sociais, dentre outros são hábitos naturais, já que tal geração pouco conheceu do mundo sem isso. Para Prensky (2001), os alunos de hoje são todos “falantes nativos” da linguagem digital.

Em contraposto, o autor ofereceu, originalmente, o termo já desatualizados “imigrantes digitais”, os quais ele caracteriza como as demais gerações, que não nasceram em meio às tecnologias. Ele os denomina imigrantes pois aprenderiam a falar a nova linguagem digital (em muitos casos, fluentemente), porém, alguns ainda retém um certo “sotaque”, “e uma língua aprendida mais tarde na vida, dizem os cientistas, entra em uma parte diferente do cérebro” (PRENSKY, 2001 p. 2). Na educação, tal sotaque se ilustraria em fatores como a resistência ao utilizarem as tecnologias para o ensino- aprendizagem e até mesmo, restringir o uso dela por outros, ao presumir que os alunos são os mesmos que sempre foram, e que os mesmos métodos que funcionaram para os professores quando eram estudantes irão funcionar com seus alunos agora. Isso pode causar a impressão de que as gerações estão falando línguas diferentes.

Pode-se dizer que atualmente há uma geração de “cidadãos digitais” que já nasceram nesta era e também aqueles que acompanharam sua criação e expansão. Palfrey e Gasser (2011, p. 13) caracterizam estas pessoas mais velhas como “colonizadores digitais”, ou seja, aqueles que estão presentes desde o início da era digital, mas cresceram em um mundo essencialmente analógico, entretanto, na visão dos autores, eles vem contribuindo para a evolução tecnológica, estão conectados e utilizam as tecnologias de modo sofisticado, porém, têm seus princípios baseados nas formas tradicionais e analógicas da interação. É possível citar como referência de colonizadores figuras como Bill Gates, fundador da Microsoft, que tem seu nome automaticamente associado à tecnologia, porém nascido antes da década de 80, ou seja, não podendo ser caracterizado como nativo digital conforme as

definições referidas anteriormente. Palfrey e Gasser (2011, p.13) também definem os imigrantes digitais como menos familiarizados com o ambiente digital, os quais aprenderam ao longo da vida a utilizar tecnologias como e-mails e redes sociais.

Embora as alcunhas de “nativo digital” e “imigrante digital” já sejam muito questionadas, o debate continua atual. Tendo em vista que os nativos digitais, assim como os nativos de uma nova terra a ser descoberta, apresentam suas características e costumes próprios, enquanto os descobridores navegantes que a desejam colonizar essa terra provem de um contexto diferente naquele em que aportam. Quando se trata de navegar nas redes da internet, Prensky (2009) cunha o temo sabedoria digital (digital wisdom, no original). A partir dessa teoria, que substitui o conceito de pessoas “nativas” ou “imigrantes” pelo daqueles que desenvolveram a sabedoria para utilizar as redes, mesmo alguém sábio não será páreo para alguém digitalmente sábio no futuro, pois o conhecimento oferecido pelas tecnologias digital será, em muitas interpretações, superior. A sabedoria digital será, então, uma qualidade para alguém capaz de encontrar soluções práticas, criativas, emocionalmente satisfatórias e apropriadas para o contexto, utilizando as tecnologias (PRENSKY, 2009).

Tais fatos se evidenciam na narrativa do Aluno 2, que aos poucos tenta levar as ferramentas que aprendeu a utilizar em suas aulas particulares de inglês para seu ambiente de trabalho:

Aluno 2: [...] é... como eu vi que tava funcionando muito bem, até na aula de inglês, até tentei algumas vezes implementar isso no próprio escritório. Tentar colocar uma ferramenta mais colaborativa, mas aí uma pessoa tentando, uma ou duas de um projeto imenso, também não vai muito pra frente. Pelo menos eu tentei.

Pesquisadora: Ah, mas aos pouquinhos, quem sabe... Aluno 2: É...

Pesquisadora: Pensa que também no início, você teve que se adaptar, uma nova ferramenta, quando você entrou nesse esquema de aula, era diferente daquilo que você tinha tido antes, na escola... Então deve ter tido também um choque inicial, até você conseguir se adaptar agora depois de um ano nessa metodologia, conseguir estar se sentindo mais à vontade, não é?

Aluno 2: É, e também tem o fato de que lá no escritório temos, não só uma geração, temos várias gerações. E aí como a gente se adapta muito rápido, tem algumas pessoas que podem não se adaptar no mesmo passo também.

Essas interações entre as gerações também contribuem para forjar os elementos de uma consciência de geração, inscrevendo relações concretas entre gerações num horizonte de sentidos (FORQUIN, 2003 p. 18). Veen e Vrakking (2009), que chamam tal geração de “Homo Zappiens”, menciona que essa adotou as tecnologias e com elas desenvolveu estratégias para viver e para aprender, cresceu e descobriu o mundo por meio de uma multiplicidade de canais como jogos eletrônicos, tablets e iPads, websites, blogs e celulares, explorando-os para aprender. Os autores sugerem que esses jovens são processadores ativos de informação, capazes de solucionar uma variedade de problemas usando estratégias oriundas de jogos, dessa forma “aprendem jogando”.

Mattar (2010) afirma que os jovens de hoje não aprendem numa estrutura linear, como era antigamente, eles possuem mentes hipertextuais (p.10). Ele associa estas características de busca de conhecimento com os comportamentos percebidos nos jogos. Outro aspecto importante a ser destacado sobre essa geração digital é o grande valor dado ao compartilhamento de informações, em especial por meio das redes sociais, blogs e canais do YouTube. Tais características nos mostram que esses jovens tratam o processo de ensino-aprendizagem de forma diferente do que as gerações passadas, eles aprendem compartilhando.

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