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Professores e os Rumos da Sabedoria Digital

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3. REDES, TECNOLOGIAS E O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

3.1 A EVOLUÇÃO TECNOLOGICA E AS GERAÇÕES EMERGENTES

3.1.2 Professores e os Rumos da Sabedoria Digital

Azevedo (2013) nos alerta para o processo de disseminação tecnológica que vivemos na atualidade, entretanto, na perspectiva da autora “essa disseminação encontra terreno fértil no âmbito educacional com a perspectiva de incluir novas ferramentas no cenário educativo, marcado pelo ambiente tradicional da sala de aula” (AZEVEDO, 2013 P.152)

Ao adentrar em uma nova era do ensino-aprendizagem, é importante saber ver o ensino pelos olhos dos aprendizes. Isso sucinta a necessidade de professores e alunos se adaptarem a novos contextos, um processo que é cercado de variabilidade e incerteza. E também um processo que poucos estão acostumados - a menos, é claro, aqueles que nasceram no século XXI (PRENSKY, 2011).

De acordo com Santos, Scarabotto e Matos (2011), é perceptível que hoje os estudantes têm acesso facilitado a uma infinidade de recursos tecnológicos, os quais influenciam o seu modo de pesquisar e aprender. Nesse contexto, o professor, enfrenta o desafio de apropriar-se desses recursos e utilizá-los de forma significativa no processo ensino-aprendizagem e não se pode ignorar que esse cenário também abrange aqueles professores que ainda não estão inseridos no universo tecnológico.

Conforme apontado anteriormente, adaptar-se às novas e complexas demandas educacionais originárias da interação das gerações mais jovens com as tecnologias, exige do professor inovação. Para Guerreiro (2006, p.99) “inovação é a capacidade de ver de outro modo, com outro olhar, o objeto já observado e descrito por muitos”, o que exigirá criatividade e mudança de paradigmas no qual o processo de formação e de trabalho do professor está inserido.

Prensky (2012) comenta sobre a importância de ouvirmos nossos alunos no momento de desenvolvermos as estratégias a serem aplicadas em sala de aula. E não somente ouvir, mas agir a partir daquilo que foi escutado. Ou seja, o professor precisa tornar-se mais flexível, se adaptando aos alunos e ao ambiente de ensino, bem como aos desafios que eles proporcionam naquele momento. Tal processo é descrito na experiência do Professor 3, que teve que aprender sobre a área de negócios para poder atender às necessidades específicas de aprendizagem de seus alunos.

Professor 3: [...] e depois você vai tendo outros alunos e vai mudando um pouco mais, vai adaptando um pouco mais pra aluno particular e grupo menor. E aí depois você tem a necessidade do business e aí você começa a aprender de inglês pra fins específicos e aí, posha, inglês pra negócios, mas eu nunca fiz negócios, como que eu vou ensinar inglês pra isso. E aí entra essa questão de que eu sou livre pra aprender e pesquisar.

Professor 3: Você vai aprender pra ensinar.

Pesquisadora: Exato, exato. E até hoje o inglês pra negócios continua sendo o carro chefe da escola, continua sendo meu carro chefe da vida, continua sendo a coisa que eu mais gosto de dar aula, ever. Muito melhor que inglês geral. Eu acho que eu me encontrei muito no ESP, que eu só fui descobrir o que era ESP na pós, que eu fui descobrir que tinha um nome específico pra esse tipo de inglês.

(Professor 3 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

Isso não quer dizer que nossos alunos tenham todas as respostas, muito pelo contrário. Entretanto, eles têm necessidades educacionais bem claras. Nesse sentido, as tecnologias não dominam essa visão crítica, mas fornece suporte a ela.

We see technology as a foundation. It underlies everything we do.” In the end, I am far more interested in creating important, useful learning and life opportunities for our students than I am in promoting any educational technology […] (PRENSKY, 2011 p. 2).

As tecnologias frente à educação não busca solucionar todos os seus problemas, mas servir de base para resolução dos conflitos geracionais entre o pensamento da escola clássica e a mentalidade digital dos alunos. “A maioria de nossos professores não precisa nem de punição nem de substituição, mas sim de novas perspectivas e ideias que funcionam. Nosso contexto educacional mudou e um novo contexto exige um novo pensamento” (PRENSKY, 2011 p. 2)9.

A respeito das tecnologias como meio, Azevedo (2013 P.154) adiciona que:

A técnica e as tecnologias, portanto, são meios, não o fim que se busca. Em nosso trabalho educativo envolvendo tecnologia, quando elegemos como fim o que era para ser meio, agregamos grandes possibilidades de realizarmos um trabalho medíocre, de pouco valor e que resulte em pouca aprendizagem. Segundo as características de aprendizagem, as tecnologias devem possibilitar o desenvolvimento de vários aspectos, por exemplo, que o ensino seja ativo e participativo, orientado à prática e à resolução de problemas e apoiado por diferentes recursos técnicos e códigos audiovisuais.

Nessa moldura, a interação tecnológica em um contexto educativo serve como suporte para o desenvolvimento cognitivo do aluno, possibilitando novas formas de pensamento e colaboração, baseando-se em um processo de interação. Contexto no qual o professor passa por constantes desafios na busca de um plano de ensino que incorpore as ações tecnológicas.

Muitas são as alcunhas dadas ao professor nessa nova era: mediador, coparticipante, facilitador, problematizador, articulador e orientador da aprendizagem. Todas elas apontam em comum que o conteúdo passa a ser construído na criação de redes de informação, incentivando a atividade do sujeito, a autoria e o desenvolvimento da autonomia em um processo de interação de duas vias. Neste prisma é necessário compreender que o locus do “conhecimento” mudou em grande parte no século XXI, do professor para a Internet, devido às paixões pessoais de nossos estudantes terem mudado. Dessa forma, a motivação para aprender de nossos alunos também está passando por uma enorme mudança. Pode-se tomar como exemplo o Aluno 1, que obteve a motivação para estudar mais sobre uma segunda língua a partir de

9 Most of our teachers need neither punishment nor replacement, but rather new perspectives and ideas that work. Our educational context has changed, and a new context demands new thinking. Tradução nossa.

suas falhas em jogos online. A partir do momento em que o aluno percebeu que a pesquisa online o ajudaria a compreender melhor os acontecimentos na rede à sua volta, ele desenvolveu um hábito que seguiria até hoje.

Aluno 1: Muitas vezes eu lembro uma coisa engraçada, jogando com um primo meu, a gente jogava um jogo de sinuca online e o pessoal quando você ganhava o jogo mandava GG no chat, Good Game e meu primo achava...eu e meu primo achávamos que estavam xingando a gente, que perdeu e estava xingando, mas os caras estavam falando bom jogo, estavam parabenizando você.

Pesquisadora: Quando eu comecei a jogar eu também tive que procurar essas siglas na Internet, eu ficava bem perdida

Aluno 1: É complicado. Nessa época eu comecei a correr um pouco mais atrás, eu comecei a ler um pouco mais. Eu sempre fui bem forte com leitura, eu gosto muito de ler até hoje, acho que é a coisa que eu mais faço no meu tempo livre, o que eu mais faço é ler e assistir vídeo no YouTube. Isso até hoje. Na minha adolescência inteira foi isso. Eu fui aprendendo enquanto eu jogava. Muita coisa o pessoal falava e eu ficava “caramba, o que que o cara falou?”. Pegava aquela frase, colocava no tradutor e saia umas traduções meio tortas, não dava pra entender nada que você colocava no tradutor. Fui aprendendo, fui ganhando vocabulário. Eu comecei a assistir bastante série, filme... (Aluno 1 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

Percebe-se a partir de narrativas como está que as novas habilidades que professores e alunos do século XXI necessitam só podem ser construídas por meio de parceria, conforme sugerido por Prensky (2012). Essa parceria se desenvolve ao nos aproveitamos do que cada uma das partes faz de melhor, no caso dos alunos utilizar as tecnologias e encontrar informações, por exemplo. Já os professores os orientam, questionam e auxiliam a colocar as coisas no contexto adequado para garantir o sucesso do processo de ensino- aprendizagem (PRENSKY, 2011).

Saragioto (2015) complementa que que o maior desafio da educação no século XXI passou a ser a formação dos educadores para a era digital, o que requer mudança, reflexão e prática constante, mas resultará em melhoras na comunicação e nos processos formativos dos alunos. O que os professores de sucesso - em especial os professores Millennials - fazem é melhor descrito não como "mudar", mas como "adaptar-se" ao novo contexto e ambiente em que nos encontramos. Pois é importante notar que assim como o professor, as tecnologias também se modificam ao longo do tempo, de forma que embora seja muito importante debater as mudanças tecnológicas que ocorrem atualmente, muito em breve estas já estarão superadas (se ainda não tiverem sido).

Escolas, em alguns casos, em seu esforço para atualizar nossas salas de aula e educação, adicionam tecnologia antes que os professores saibam, pedagogicamente, o que fazer com ela. Portanto, apesar dos enormes investimentos financeiros, não cabe somente às tecnologias educacionais realizar sua grande promessa de melhorar a educação, mas sim à forma como essas são aplicadas ao processo de ensino-aprendizagem.

Prensky (2010) reafirma que o papel das tecnologias em nossas salas de aula é apoiar o novo paradigma de ensino. Ou seja, o papel das tecnologias - e seu único papel - deve ser o de apoiar os alunos a se ensinarem (com a orientação de seus professores). Pois quando os professores estão usando o velho paradigma de "contar", a adição de tecnologias, na maioria das vezes, apenas atrapalha.

Given today’s powerful new tools and enormous opportunities to learn about whatever one is passionate about via the Internet, YouTube, Wikipedia, etc., our kids are getting their most important education (and the only one they really care about) after school, on their own time. Alone and with their peers they are watching, reading, making, sharing, and, most of all, learning. (PRENSKY, 2010 p. 2)

As tecnologias de hoje oferece aos alunos todos os tipos de ferramentas podem ser utilizadas para aprender por conta própria. Na Internet os alunos encontram uma fonte quase ilimitada informações e ferramentas de pesquisa, cabe aos professores auxilia-los a filtrar o que é verdadeiro e relevante. Há também ferramentas de criação para apresentar as descobertas em uma variedade de mídias e ferramentas sociais para interagir e colaborar com pessoas em todo o mundo. O professor, nesse momento é um guia das experiências dos alunos, auxiliando-os no uso consciente, como descrito na narrativa do Aluno 4, que se sente mais confiante a partir do aconselhamento de seu professor para que pesquisem de antemão aquilo que será trabalhado em cada aula.

Aluno 4: [...] eu percebi uma melhora insana no meu inglês no último ano, eu sinto que foi algo surpreendente até para mim, sabe? Eu me sinto muito, muito melhor hoje em dia com relação ao meu inglês. Tanto por estas aulas que, como elas são aulas baseadas em conversação, que também tem bastante a parte de gramática, que são exercícios que puxam a gente aos limites, tanto eu quanto meu colega de aula, puxam a gente aos limites e a gente busca o conhecimento, por exemplo, nós temos um projeto que dentro dessas aulas, e dentro

desse projeto a gente escolhe um tema, uma “Driving Question” e como é que eu resolvo isso? Então a gente tem que montar uma apresentação, não é uma simples aula de “Ah, uma aula como o pessoal já está acostumado”, né. Então como você busca essa informação, essa informação 100% das vezes está em inglês... (Aluno 4, Conversa Hermenêutica).

Ou seja, não há uma única metodologia ou software mágico que resolverá os problemas do ensino-aprendizagem frente às novas gerações, mas a apropriação a elas. As tecnologias só ajudam quando apoiam uma pedagogia de “parceria” (PRENSKY, 2011). Considerado por muitos um precursor nesse caminho, o ensino de línguas vem buscando há décadas soluções para um ensino-aprendizagem mais atrativo por meio da interação com as tecnologias, como será discutido a seguir.

3.2 EXTREITA RELAÇÃO ENTRE O ENSINO DE LÍNGUAS E O AVANÇO

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