• Nenhum resultado encontrado

Os desafios do ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras frente as novas

No documento Download/Open (páginas 71-74)

3. REDES, TECNOLOGIAS E O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA

3.2 EXTREITA RELAÇÃO ENTRE O ENSINO DE LÍNGUAS E O AVANÇO TECNOLÓGICO

3.2.1 Os desafios do ensino-aprendizagem de línguas estrangeiras frente as novas

Não se pode deixar de lado a influência que o paradigma tradicional teve no ensino de línguas estrangeiras. Antes da emergência da abordagem comunicativa na segunda metade do século XX, os métodos de ensino de línguas tinham por base o conceito de língua como um conjunto de estruturas sintáticas e não havia grande preocupação teórica sobre a natureza do processo de ensino-aprendizagem. Os currículos lineares forneciam aos alunos o ensino de estruturas gramaticais ordenadas, de forma repetitiva. Nesse modelo o professor se caracteriza como detentor do conhecimento e a experiência do aluno é reduzida à subserviência de um modelo de ensino, com foco nos resultados ou no produto da prática desenvolvida (BEHENS; OLIARI, 2007).

Aulas, materiais e até mesmo a concepção da língua não abriam espaço para processos mais autônomos, pois, segundo Paiva (2006), esses eram concebidos em um sistema fechado e linear no qual a aprendizagem seria facilitada se os alunos fossem expostos a uma gama de estruturas ordenadas da mais fácil para a mais difícil. Assim, Paiva (2006) declara que como o professor controlava quase todas as atividades, não havia espaço para o reconhecimento da autonomia, portanto, os alunos ficavam limitados às escolhas da escola. Ainda, o ensino parecia viver sob o império dos princípios de disjunção, redução e abstração, constituintes do paradigma simplificador, descrito por Morin (2005).

A educação, na perspectiva de Morin (2008 p. 180), é uma propriedade que só pode existir no nível do todo social, permitindo o desenvolvimento intelectual e cognitivo dos indivíduos. Logo, a epistemologia da complexidade pode ajudar a religar os fios soltos da educação no âmbito do ensino- aprendizagem de uma segunda língua.

A língua não é composta somente por sons e palavras. Assim como esses, nada é isolado em uma língua, nem mesmo seu uso, composto por diversos sistemas que interagem entre si, produzindo sentido e efeitos de sentido. Nessa perspectiva, o aprendizado de uma segunda língua apresenta-se como um fenômeno complexo, como descrito por Leffa (2006), visto que, para descrever a aprendizagem de uma língua, é necessário recorrer à diversos aspectos, tais como a Linguística, Linguística Aplicada, Psicologia e Pedagogia. . De tal forma, o ensino de línguas, sejam elas maternas ou estrangeiras, pode ser considerado como um sistema adaptativo complexo. Adaptativo por sofrer mutações ao longo de tempo (as línguas não são mais faladas hoje da mesma forma que eram 50 anos atrás) e espaço (especialmente em relação à imigração, relações fronteiriças e da dissolução de tais horizontes). Complexo, pois o ensino de uma a língua, envolve a interação de múltiplos elementos que não fazem sentido de forma isolada:

Não só o ensino, mas a própria língua, é também um sistema complexo, dessa maneira inviabilizando seu ensino de modo linear e segmentado. Os elementos que a compõem – incluindo os sons, as palavras, as frases e os textos maiores – não atuam de modo isolado, mas interagindo com outros sistemas, em duas instâncias distintas: internamente, dentro da própria língua; e externamente, com

elementos que podemos chamar de sociais, contextuais ou simplesmente extralinguísticos. (LEFFA, 2016 p. 2-3)

A aprendizagem de uma língua, em uma perspectiva complexa também pode ser vista como prática social, de forma que não se consegue desmontá-la em elementos menores, porque a vê atrelada à comunidade que a usa, sendo apenas existente no evento comunicativo que a constitui. “A língua é um objeto naturalmente complexo que reveste e é revestida por toda e qualquer prática social” (LEFFA, 2012 p. 392). Tais conceitos até aqui explicitados podem ser representados por meio da metáfora de um bolo, sugerida por Leffa (2006): “quando estudamos a receita temos que separar os ingredientes para poder fazer o bolo, mas quando comemos o bolo, normalmente, não temos consciência desses diferentes ingredientes”.

Na perspectiva de Forquin (2003), a maioria dos professores cresceu na geração Baby Boomers10 ou geração X11, e enfrentam o desafio de ensinar as

gerações Y12 e Z13, tornando-se cada vez mais necessário compreender as

habilidades destas gerações. As gerações Y e Z demonstram preferência pela brevidade na aquisição de informações, de forma prática e concisa, o que pode induzir tais alunos a uma dependência pela utilização de meios eletrônicos, já que estas ferramentas podem facilitar o acesso de dados. A partir de tal entendimento, pode ser possível que os próprios Millennials possuam mais controle de sua aprendizagem ao desenvolverem estratégias a partir da utilização dos recursos da internet, aliados a modelos interativos.

Na contra margem, especialmente no ensino de línguas, vemos a emergência de professores tanto Millennials quanto de gerações mais velhas, adaptados naturalmente ao uso do celular, materiais digitais e aulas por Skype ou por meio de canais do YouTube. Venne e Coleman (2010) reconhecem que principalmente a geração Y se diferencia das demais principalmente quanto ao seu modo de aprendizagem e que tal fator está intimamente relacionado ao modo como esta geração irá ensinar e orientar futuros aprendizes. Esses professores, que por muitas vezes aprenderam uma segunda língua por meio de

10 Geração dos nascidos após Segunda Guerra Mundial, entre os anos 1940 e 1960. 11 Geração dos nascidos entre 1960 e 1980.

12 Outra denominação para Millennials 13 Nascidos após o ano 2000.

métodos tradicionais, demonstram em sua maioria serem adeptos de metodologias ativas de ensino, pois se sentem mais confortáveis tanto para aprenderem quanto para ensinar com elas.

As experiências do Professor 2 refletem esse pensamento, pois ao estar em uma escola que lhe permitiu maior abertura em relação a procedimentos e metodologias, ele foi capaz de experimentar com seus alunos, baseando-se naquilo que havia aprendido.

Pesquisadora: Se você for pensar metodologicamente, por exemplo, você contou que no seu primeiro emprego você seguia muito daquilo que já tinha aprendido como aluno, das repetições e de ser algo mais certinho. Metodologicamente, tendo a possibilidade de estar numa escola que te deu mais abertura, como as suas aulas mudaram? Professor 2: Bom, eu tinha abertura, mas continuava seguindo materiais didáticos, porém agora materiais internacionalmente reconhecidos por instituições de muito mais renome. E eu me sentia livre pra poder adaptar qualquer coisa que eu tivesse na mão, que é uma coisa que eu não sentia na primeira instituição. Além disso eu pude colocar em prática todas as técnicas, ou a maioria das que eu vi no CELTA em aula. Acho que foi uma ótima oportunidade não só de trabalhar e ensinar inglês, mas também experimentar com técnicas, exercícios, atividades.

(Professor 2 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

Isso pode levar os professores oriundos da geração Millennial a buscar metodologias alternativas que atendam aqueles que, como eles compreendem que pequenos gestos do professor na promoção da autonomia de seus alunos podem desencadear uma série de ações de seus alunos, que em uma rede complexa darão origem a outras ações, capazes de produzir minimamente um efeito borboleta14 no ensino-aprendizagem de uma segunda língua (LEFFA,

2006 -2).

Dentre essas metodologias podem ser destacadas a forte presença de jogos digitais, redes sociais e uso de smartphones em metodologias hibridas, algumas das quais serão cobertas a seguir.

No documento Download/Open (páginas 71-74)