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Narrando o processo de aprendizagem (e ensino)

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4. TECENDO UMA NARRATIVA DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM LÍNGUA INGLESA: MILLENNIALS

4.1 PENSAMENTOS EMERGENTES

4.1.1 Narrando o processo de aprendizagem (e ensino)

Ainda que a conexão estreita entre o ensino de línguas e as tecnologias já tenha sido delineada, a existência de tais aportes teóricos não implica diretamente em sua integração ao contexto de ensino-aprendizagem. Tal fato é explicitado tanto pelo grupo de alunos quanto o de professores Millennials participantes desta pesquisa. Ao retratar sua jornada com a aprendizagem da língua, os participantes, em sua maioria, descreveram que um de seus primeiros contatos com a língua aconteceu na escola regular, fosse essa pública ou particular. As metodologias de ensino de línguas descritas por eles apresentavam diversas características de uma metodologia tradicional e linear, reportando aulas de cunho gramatical e normativo, nessa perspectiva, a maioria tinha a impressão de que não havia espaço para a prática da conversação na escola, como descrito pelo Aluno 1:

Aluno 1: Eu comecei a aprender inglês...Eu tive inglês na escola, mas era um inglês de escola pública, tipo aprender o verb to be, aprender alguma coisinha, mas não dá pra você conversar, tipo, não tem como você ter uma conversa normal, é uma coisa bem básica.

Pesquisadora: Então era mais gramática do que coisas que você pudesse utilizar?

Aluno 1: Basicamente. Você não tinha nenhum tema de pronuncia, você escrevia um negócio e não sabia como falava.

(Aluno 1 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

A falta de oportunidades comunicativas na escola levou muitos dos

Millennials participantes da pesquisa a buscarem alternativas para suprir essa

demanda. Para alguns deles, a solução veio por meio da matrícula em um curso de línguas, entretanto, devido ao perfil, traçado anteriormente, a maioria deles também buscou a interação com a língua por meio de jogos, música, leitura, aplicativos de celular, redes sociais, filmes e seriados. Essa trajetória pode ser exemplificada pela narrativa da Professora 1, que apenas adentrou um curso formal para aperfeiçoamento de seu inglês aos 16 anos, porém, isso não impediu que ela já tivesse expandido as fronteiras de seu contato linguístico anteriormente por meio de músicas e seriados:

Professora 1: Eu sempre, até os 16 anos, eu só tinha o inglês da escola, então eu lembro de atividades um pouco diferentes que os professores passavam pra ir variando um pouco, mas era aquela coisa, muita tradução, tipo “leia o texto em inglês e responda em português”. Pesquisadora: Bem tradicional.

Professora 1: É bem tradicional, não tinha muita prática na aula, não tinha diálogos ou prática oral, mas nas aulas eu conseguia absorver as regras, vocabulário e também por causa da música e dos seriados eu conseguia praticar o idioma dessa forma.

(Professora 1 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

Apesar de não ser uma estratégia inédita da geração Millennial, o contato com a música incentivou muitos jovens dessa geração a se interessarem pela língua inglesa. Para alguns desses alunos e professores participantes da pesquisa, o primeiro contato com a língua partiu da música, como para o Aluno 4:

Aluno 4: [...] eu não falava em inglês, mas como eu era uma criança que se influenciava muito fácil pelas pessoas ao meu redor e eu passava bastante tempo com a minha família, eu sempre tentei gostar mais ou menos das mesmas coisas que meu irmão gostava.

Pesquisadora: Então as músicas que ele ouvia acabavam te influenciando?

Aluno 4: Bastante, assim, ele desde muito novo gostava de uma banda chamada “Blink 182”, essa banda em específico ela foi uma influência muito grande pra mim, porque foi a primeira banda que eu tentava cantar a música desde mais ou menos essa época. Mas, não que eu parava e pegava a música para poder cantar ou ler a letra dela, né? A gente nem tinha acesso a esse tipo de informação na época. Era, por exemplo, a gente tinha o CD. Estava começando a onda do MP3, que era novidade ainda.

Pesquisadora: Mas era um primeiro contato com a língua, né? Foi onde você começou a desenvolver o interesse?

Aluno 4: Sim sim, eu nem sabia que era inglês, tá? Eu só sei que o pessoal falava uns sons estranhos e eu tentava falar parecidos, e eu lembro da minha mãe comentando: “Nossa, ele gosta mesmo, né? Acho que ele vai se dar bem no inglês quando ele crescer”. Isso foi algo bem marcante que me fez muito feliz. (Aluno 4 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

Ouvir músicas em inglês despertava nesses alunos o interesse de saber o que estava sendo cantado por sua banda ou artista favorito, o que os levava a pesquisar mais sobre o vocabulário e a pronuncia das palavras que estavam sendo cantadas, como narra o Professor 3.

E aí eu fui estudando cada vez mais, na sétima série eu comecei a me interessar por música, porque começou aquele negócio de MP3 e tal. Tinha duas músicas, três músicas porque era o que cabia, então aquela música ficava na sua orelha o tempo inteiro e você acabava decorando e depois você trocava as músicas e decorava mais três e quando você via, já tinha decorado o CD inteiro. E eu gostava de pegar

e ouvir a letra, de ler a letra, eu pegava o encarte e ia lendo sempre a mesma música repetindo e repetindo e repetindo. E eu tava sempre com a letra na mão, eu imprimia a folha e tal e deixava dobradinha e ia levando e aí a eu to sei lá no ônibus ou em casa ou enfim, eu ficava lendo até aquilo ficar na minha cabeça. E sem tradução, porque não tinha como pegar e eu tentava decorar a letra, no sentido de pegar um pedaço e cantar e não conseguia e voltava e assim eu ia até eu conseguir. E assim foi indo e tal e foi aumentando um pouco o vocabulário, mas não era muita coisa. (Professor 3, Conversa Hermenêutica)

O contato com a música também incentivou muitos Millennials a aprenderem uma segunda língua a fim de se conectarem com o mundo, pois por meio da música eles também se sentiam em contato com a cultura internacional, como descrito pela Professora 1.

Professora 1: Mas quando chegou lá pros 9, 10, mas assim com 11 anos eu comecei a ver muitas séries, muitos filmes, ouvir muita música. Foi justamente na época que tinha Backstreet Boys, Britney Spears, NSync, Spice Girls e todo esse pessoal que você sabe muito bem. Pesquisadora: E a música foi boa parte da sua trajetória com a língua? Professora 1: É exatamente e aí eu comecei a juntar porque eu queria saber o que falava no seriado. Mesmo no seriado com a tradução em português eu ficava associando “O que ele falou? Qual dessas palavras é essa aqui que tá na legenda?”. E letras de músicas também. Eu lembro, acho que com 10 anos que eu lembro com riqueza de detalhes, que uma professora passou a letra de “As long as you love me”, dos Backstreet Boys, e eu lembro que foi bem na época que eu estava começando a comprar revistas. E daí pra frente com a música e toda essa cultura americana e internacional que a gente acaba absorvendo. Eu vejo isso como um fator bem decisivo no meu estudo. (Professora 1 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

A proximidade dos alunos com a música e a possibilidade de cativar cada grupo a partir de seu estilo música leva diversos cursos livres e professores particulares a utilizarem atividades com músicas abundantemente em suas aulas até hoje.

A interação com jogos digitais, tanto no videogame quanto no computador, também foi descrita por grande parte dos participantes como grande fonte de contato com vocabulário e prática da leitura e conversação em língua inglesa. Os participantes narram que, ao longo de sua infância e adolescência os jogos eram distribuídos quase que exclusivamente em inglês, tornando a aprendizagem da língua essencial para compreensão dos eventos que aconteciam na história do jogo e ao mesmo tempo incentivando a prática do inglês. O mesmo se reflete no caso de jogos online, nos quais os servidores

globais, nos quais a língua predominante era o inglês, estavam sempre mais atualizados, como descreve o Aluno 1:

E como eu gosto muito de jogar RPG16, a comunicação é uma parte essencial do jogo. E a maior parte dos jogos naquela época estavam em inglês, eles não tinham versão pra português e os servidores eram americanos então as pessoas também estavam falando inglês no jogo. Eu tinha muita dificuldade, eu não conseguia me comunicar. (Aluno 1, Conversa Hermenêutica)

Ademais, o contato com os jogos digitais também proporcionou a esses alunos o sentimento de pertencimento a uma comunidade internacional de falantes, o que os conduzia cada vez mais à pratica tanto a leitura quanto da escrita em inglês, o que facilitaria a compreensão futura da língua, como descrito pelo Aluno 3:

Uma coisa que eu sempre fiz foi jogar videogame, eu sempre joguei bastante e a maioria dos jogos nessa época era tudo em inglês. É agora mais recente que começaram a fazer legendas e dublagem. Então eu sempre joguei bastante e era geralmente em inglês. E por isso eu tive uma facilidade bem grande depois que eu comecei a fazer aula, pra começar a entender mais o que era pra fazer num jogo, o que estavam falando lá. (Aluno 3, Conversa Hermenêutica)

A partir da narrativa do Aluno 3 também pode-se perceber novamente a não linearidade do processo de ensino-aprendizagem de língua inglesa. Dessa forma, ele descreve como as estruturas básicas de gramática e vocabulário aprendidas ao longo da infância e adolescência pelo contato com os jogos digitais demonstraram-se essenciais para facilitar o aprendizado das demais estruturas linguísticas, retomando a relação parte-todo do o princípio hologramático da epistemologia da complexidade

Contudo, para os participantes da pesquisa, em um momento inicial, o contato constante somente com a leitura e escrita em língua inglesa por meio de jogos no videogame e computador ainda impossibilitava uma compreensão completa da língua, fator que seria ampliado com a introdução do chat de voz nos jogos de computador, por meio de aplicativos como o Skype e o TeamSpeak, conforme descreve o Professor 3:

16 RPG: Role Play Game, um gênero de jogo no qual os jogadores interpretam o papel de um dos personagens. Pode ser jogado em um tabuleiro ou como gênero de jogo online.

E aí eu lembro que quando eu comecei a parar um pouco com o Perfect World, começou um pouco essa questão de Teamspeak. E aí o pessoal começava a falar mais e digitar menos. Digitar, ok, saia errado, mas o pessoal conseguia me entender, funcionava. Mas o som das palavras, eu não sabia. Você passou trocentos anos digitando e lendo e digitando e lendo, mas inglês não é a mesma escrita que a fala. Então na hora que eu via as coisas, “mas como eu falo isso aqui?”. E pra variar não tinha Google ainda que falava direito, então, aí começou a complicar. (Professor 3, Conversa Hermenêutica)

O contato com tais jogos os incentivava a pesquisar novos vocabulários, a fim de compreender aquilo que era retratado no jogo ou se comunicar com os demais jogadores, tais pesquisas ocorriam por meio de dicionários ou da ferramenta de Tradução do Google. A ferramenta Google Tradutor, bem como dicionários foram por muitas vezes retratados como grandes fontes de pesquisa de vocabulário, porém, não eram suficientes para que os alunos pudessem construir o sentido completo das frases. Entretanto, o contexto dos jogos, filmes, seriados ou músicas das quais os vocabulários eram extraídos auxiliava os alunos a compreenderem melhor o conteúdo que buscavam nessas ferramentas, como na narrativa do Professor 3:

Aí o pessoal digitava e eu pensava “eu já vi essa palavra numa música, essa eu sei ou não sei” e eu entendia mais ou menos, aí outra que eu não entendia jogava no Google, porque eu deixava a janela do Google minimizada. Ou procurava no dicionário porque o computador travava, então não dava pra ficar jogando no Google toda hora, era dicionário mesmo. E assim eu ia pegando e aí ia fazendo a mesma coisa que eu fazia com música, eu ia anotado num caderno e, enfim, e ia aumentando meu vocabulário dessa forma. (Professor 3, Conversa Hermêneutica)

Apesar de a presença de filmes e seriados em língua inglesa nãos ser uma exclusividade da geração Millennial, muitos deles descrevem que estes também foram de grande importância em sua trajetória de ensino-aprendizagem de língua inglesa. O grande contato dessa geração com os filmes aconteceu por meio de fitas cassete na infância e em seguida com o lançamento de DVDs e Blu-ray que já permitiam a escolha da dublagem ou legenda. Já os seriados eram, em sua maioria, veiculados em canais de televisão pagos, que permitiam ao aluno a oportunidade de assistir conteúdo legendado e com a voz original dos atores, um grande atrativo para os adolescentes da época e que atualmente foi substituído por serviços de streaming como o Netflix. A narrativa do Aluno 1 exemplifica alguns destes aspectos:

Eu comecei a assistir em inglês, tinha que colocar legenda. Você perde metade da sua atenção tentando ler a legenda enquanto você assiste a série. E isso me motivou ainda mais. Eu comecei a colocar a legenda em inglês, quando eu já tava um pouco melhor e conseguia entender inglês. O processo foi todo, depois eu tirei a legenda e comecei a entender bastante (Aluno 1, Conversa Hermenêutica).

Assim como o Aluno 1, diversos participantes da pesquisa desenvolveram suas próprias estratégias para prática da língua, construindo gradualmente seu processo de ensino-aprendizagem.

A aprendizagem por meio de vídeo não se limita, entretanto, somente aos filmes e seriados. A Plataforma de vídeos YouTube também é retratada como influência impar na aprendizagem de uma segunda língua, pois proporciona aos alunos o contato com material autentico produzido por nativos. Esse material se torna ainda mais atraente pois em comparação com filmes e séries, o ritmo da fala dos nativos em vídeos do YouTube é mais acelerado, possibilitando uma prática de listening mais próxima do real, como comenta o Professor 4:

Eu vejo bastante vídeos no YouTube. Eu descobri um Youtuber de maquiagem que fala muito rápido e eu me forco a assistir os vídeos dele pra que eu consiga pegar o listening (Professor 4, Conversa Hermenêutica).

Enquanto nos filmes e seriados os aprendizes de uma segunda língua são expostos a uma linguagem mais culta, os vídeos do YouTube permitem a eles ter contato com vocabulário mais coloquial, repleto de estruturas idiomáticas. Além disso no YouTube é possível escolher aquilo que será assistido por interesse, permitindo acesso a vocabulários específicos de certas áreas com as quais os alunos talvez não tivessem contato em uma sala de aula regular. O Aluno 1 descreve como o contato com nativos por meio de vídeos do YouTube o auxiliou, dessa forma, na aprendizagem de novos vocabulários:

Se você olhar a quantidade de vídeos que eu assisto, 99% dos Youtubers que eu sigo são americanos ou ingleses ou australiano. É tudo em inglês e eu peguei muito vocabulário com isso. (Aluno 1, Conversa Hermenêutica)

Quando alunos e professores descreveram suas estratégias de prática atuais, alguns deles também mencionaram a presença de aplicativos de celular para a aprendizagem de uma segunda língua. O Aluno 2 cita o Duolingo, aplicativo disponível para Smartphones que se baseia na aprendizagem de vocabulário, pronuncia e construção de frases simples no formato de pequenos jogos, de forma que ao completar um exercício o aluno sobe de nível, como em um RPG. O aplicativo também envia notificações diárias a seus usuários, lembrando-os que precisam praticar.

Pesquisadora: E aí, desde que você se formou, como você tem praticado inglês?

Aluno 2: Bom, no primeiro ano, foi mantendo nos hábitos mesmo. De vez em quando colocava Duolingo, aquele aplicativo, só pra dar aquela treinada pra não esquecer muito vocabulário e regra.

Pesquisadora: Daí você fazia o Duolingo com que frequência. Aluno 2: É...

Pesquisadora: Que eu sei que ele fica te lembrando, né? O aplicativo fica ali, todo dia te mandando mensagem pedindo pra você fazer os exercícios.

Aluno 2: Isso se você não desligar... Pesquisadora: Ahh... entendi.

Aluno 2: Mas até que... tinha uns dias que dava aquela vontade tremenda de treinar e eu ficava umas quatro horas de vez em quando, treinando.

(Aluno 2 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

As redes sociais também influenciaram o processo de ensino- aprendizagem dos Millennials, com duas em especial tendo sido mais citadas: Twitter e Instagram. O Twitter foi para o Aluno 2 uma fonte de notícias em tempo real sobre seus assuntos de interesse, que apareciam por meio da ferramenta de Trending Topics, ou seja, os assuntos mais falados do momento:

Aluno 2: [...] comecei a ler alguns artigos em inglês também e notícias. Pesquisadora: Que interessante!

Aluno 2: Como chegava antes ainda, principalmente pelo Twitter, como a maior parte dos acontecimentos que me interessavam de tecnologia eram lá de fora, já comecei a ler artigo em inglês muito cedo também. Pesquisadora: Com quantos anos, mais ou menos?

Aluno 2: Por volta de uns 15 ou 16 anos, foi quando eu comecei a me interessar mais em computação, mais na parte de Hardware, comecei a pesquisar mais de placa de vídeo, de processador e essas coisas. Pesquisadora: E aí você lia as notícias que estavam nos Trending Topics sobre o assunto no Twitter?

Aluno 2: Isso, exatamente.

O contato com notícias internacionais também gera no aluno um sentimento de pertencimento e conexão com o mundo e com a língua estrangeira, conforme relata o Professor 3:

E se tem uma coisa que gosto eu faço até hoje e que é assim que eu mantenho não só a língua viva, mas eu mantenho eu além. Lembra que eu falei sobre ter uma conexão com a informação do mundo. Então eu leio muita noticia em inglês e eu faço isso todo santo dia. Porque tem muita coisa que acontece lá fora que até traduzir, que até ter um reflexo no Brasil, vai demorar meses. Então se você não vai buscar isso em inglês você fica por fora, de coisas que me interessam. Então noticia eu acho que é o meio mais fácil e também mais rápido. (Professor 3, Conversa Hermenêutica)

A rede social Instagram também foi descrita pelo Aluno 3 como um meio para se informar sobre o que está acontecendo no mundo e na vida de seus colegas que moram no exterior, além de possibilitar a trocar mensagens instantâneas com eles:

Aluno 3: Eu também converso com o pessoal que eu conheci lá nos EUA, lá em Nova Iorque, porque as vezes eu posto algum stories ou eles postam stories no Instagram e a gente comenta “Ah, very nice!”. Pesquisadora: Aí vocês conversam pelas mensagens do Instagram? Aluno 3: Isso, aí pergunta se tá tudo bem e tudo mais. Só pra ver se tá tudo ok lá. (Aluno 3 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

Muitos dos alunos e professores que cederam suas narrativas admitem ao longo delas que o inglês se tornou parte essencial de suas vidas, passando por muitas vezes mais tempo conectados a essa língua do que à sua língua nativa, o português. Isso se dá devido ao fato de que as interações feitas por eles na rede são em sua maioria em língua inglesa, como exemplificado pelo Aluno 1:

Aluno 1: Olha, eu ultimamente tenho falado mais inglês do que em português. Falado não, meio vivido mais em inglês do que em português.

Pesquisadora: Por que?

Aluno 1: Porque o único lugar que eu uso português é no serviço. Em casa, praticamente, eu moro com meus pais, mas não converso muito com eles, só um pouco quando estou jantando, venho pro meu quarto, assisto série em inglês, assisto vídeo em inglês, leio em inglês, converso com o pessoal do jogo em inglês. Então e estou vivendo muito mais em inglês do que em português. Em português é praticamente 8 horas do meu dia que é o horário que eu estou no serviço que é em português. Depois disso é muito mais em inglês. Eu não falo muito quando eu estou em casa, mas tudo praticamente que

eu estou vendo está em inglês. Meu computador está em inglês, meu celular está em inglês, tudo está em inglês.

(Aluno 1 e Pesquisadora, Conversa Hermenêutica)

De forma similar, o Aluno 4 retoma sua interação com os jogos digitais para descrever o processo de ensino-aprendizagem frente à interação constante com as tecnologias como semelhante à construção de um quebra cabeça, no qual as peças, oriundas de diferentes fontes, pouco a pouco se encaixavam a fim de construir a língua inglesa.

Aluno 4: O próprio “Final Fantasy” que eu mencionei, a maior parte dos jogos, tirando os últimos, eles são todos como se fosse um quadro com um texto escrito e a foto do personagem do lado. Esse texto eu “memorizava”, não que eu memorizava, sabe quando você “pega” essa palavra e ela fica na sua cabeça? Não é na sua memória, ela fica em

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