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Ensino público em Mato Grosso: o financiamento da educação

nº 4. Cuiabá: 1935 p 1 APE-MT

5. Ensino público em Mato Grosso: o financiamento da educação

Em relação ao financiamento da educação pública, a Constituição Federal de 1946, em seu artigo 169, declarava:

“Anualmente, a União aplicará nunca menos de dez por cento, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento do ensino.”135

Além desse dispositivo constitucional, outras vinculações poderiam ser colocadas em prática, como aquela resultante do acordo especial assinado em 1947 entre o estado de Mato Grosso e a União, referente à utilização das verbas do Fundo Nacional do Ensino Primário que previa, em sua cláusula 16ª, que o governo estadual só receberia novos recursos daquele Fundo, mediante a comprovação de dois requisitos: 1. a aplicação integral das primeiras parcelas do auxílio recebido para a construção de escolas; 2. a consignação, na lei orçamentária estadual, de pelo menos 15% de sua receita tributária proveniente de impostos na manutenção do ensino primário136.

135 Apud OLIVEIRA, Romualdo Portela de. A educação na Assembléia Constituinte de 1946. In: FÁVERO, Osmar (Org.). A educação nas constituintes brasileiras (1823-1988)... p. 182.

136 MATO GROSSO. Termo de acôrdo celebrado entre o Ministério da Educação e Saúde e o Estado de

Mato Grosso, para execução do plano de construções destinadas à ampliação e melhoria do sistema escolar primário. Rio de Janeiro: 1947. p. 5-6. APE-MT

Tabela 2.12. - Comparação das despesas efetuadas pelo governo de Mato Grosso - 1949 a 1954 (em CR$)

Despesa 1949 % 1950 % 1951 %

Administração Geral... 8.303.583,30 15,2 7.910.590,40 9,6 9.455.162,70 8,1 Exação e fiscalização financeira.... 5.074.956,50 9,3 27.830.307,00 33,9 33.702.186,80 28,9 Segurança Pública e assistência social... 7.463.690,60 13,7 7.433.965,20 9,1 7.687.018,40 6,6 Educação Pública... 11.637.932,70 21,3 2.355.112,50 2,9 2.125.326,20 1,8 Saúde Pública... 3.778.421,00 6,9 1.610.888,50 2,0 3.570.400,00 3,1 Fomento... --- --- --- --- --- --- Serviços industriais... 1.307.782,40 2,4 359.246,00 0,4 1.024.235,30 0,9 Serviços da dívida pública... 2.480.666,50 4,5 3.613.282,30 4,4 2.843.349,50 2,4 Serviços de utilidade pública... 6.632.100,50 12,1 6.877.071,30 8,4 5.768.693,30 4,9 Encargos diversos... 4.321.722,70 7,9 5.075.851,30 6,2 7.618.959,10 6,5 Créditos especiais (1) ... 3.609.623,60 6,6 2.551.599,30 3,1 15.331.051,40 13,1 Outros (2)... nd nd 16.477.943,70 20,1 27.683.549,40 23,7 TOTAL GERAL... 54.610.479,80 100,0 82.095.857,50 100,0 116.809.932,10 100,0 Despesa 1952 % 1953 % 1954 % Administração Geral... 14.179.425,30 10,1 19.065.139,70 9,1 17.468.500,90 7,4 Exação e fiscalização financeira.... 11.729.353,10 8,4 13.538.501,90 6,5 16.619.520,80 7,1 Segurança Pública e assistência social... 15.773.516,40 11,2 17.455.998,80 8,3 20.654.732,90 8,8 Educação Pública... 19.963.731,50 14,2 24.604.509,50 11,7 27.660.430,80 11,8 Saúde Pública... 9.120.709,30 6,5 10.026.282,10 4,8 11.418.935,70 4,9 Fomento... --- --- 1.429.010,90 0,7 8.524.573,00 3,6 Serviços industriais... 789.342,60 0,6 1.552.301,90 0,7 1.856.099,40 0,8 Serviços da dívida pública... 2.962.178,20 2,1 2.991.323,30 1,4 2.927.172,40 1,2 Serviços de utilidade pública... 8.025.200,40 5,7 10.842.585,00 5,2 16.695.638,30 7,1 Encargos diversos... 12.620.046,19 9,0 19.404.591,20 9,3 25.819.946,10 11,0 Créditos especiais (1)... 1.818.588,10 1,3 33.011.128,10 15,8 49.339.571,90 21,0 Outros (2)... 43.439.523,41 30,9 55.590.063,90 26,5 36.030.031,00 15,3

TOTAL GERAL 140.421.614,50 100,0 209.511.436,30 100,0 235.015.153,20 100,0

(1) Os créditos especiais incluíam recursos adicionais para os diversos setores da administração pública. Apareceram de forma discriminada em alguns balanços, e agrupados por seu valor total, sem discriminação, em outros. Em função disso, para efeitos de comparação, estes dados são apresentados de forma agrupada.

(2) Este item do balanço abrange as despesas extraorçamentárias de diversas modalidades, como restos a pagar de exercícios anteriores; depósitos; suprimentos para outros exercícios e os saldos que permanecem para o ano seguinte, em aplicações, em bancos, no caixa estadual, etc. No caso do ano de 1949, o balanço disponível não discriminou estas despesas.

Fontes: MATO GROSSO, 1950.; MATO GROSSO, 1951,; MATO GROSSO, 1952.; MATO GROSSO, 1953.; MATO GROSSO, 1954: 58.; MATO GROSSO, 1955: 24.

Para atender a estes dispositivos, segundo gráfico apresentado pelo executivo estadual, em 1950137, a despesa com educação pública, entre 1945 e 1949, teria sido aumentada em quatro vezes, partindo de uma cifra aproximada de 3 milhões de cruzeiros naquele primeiro ano e chegando, em 1949, a um valor próximo dos 11 milhões e meio de cruzeiros (Tabela 2.12).

Já para o ano de 1950, o governo estadual declarava que seu dispêndio na área educacional era bem superior a 20,0% da receita tributária do estado, o montante fixado na Constituição Federal138, o que parece ter sido a realidade dos gastos estaduais durante estes primeiros anos da década de 50. Assim, em 1953, comparando-se as verbas públicas utilizadas na educação (Cr$ 24.604.509,50 ) com o total da receita tributária arrecadada (Cr$ 109.153.000,00), tem-se um percentual de 22,5% dos impostos estaduais sendo dirigidos para a educação. No ano seguinte, 1954, a proporção foi de 20,5% (Cr$ 27.660.430,80 de despesas estaduais sobre 134.970.000,00 de receita tributária).

Apesar disso, quando são examinadas, em termos comparativos, as despesas efetuadas pelo estado de Mato Grosso na área educacional com outros itens do rol de gastos pelo mesmo governo (Tabela 2.12), ao contrário do que se poderia imaginar num momento de expansão da rede escolar pública, os gastos com educação, neste segundo período (1946- 1954), são menores quando comparados aos anos anteriores. A única exceção localizou-se no ano de 1949, quando 21,3% do total de despesas efetuadas pelo governo estadual dirigiram-se para a área educacional, sendo este o setor que mais recebeu recursos públicos naquele ano.

Este montante, no entanto, logo caiu para 2,9% e 1,8% em 1950 e 1951, respectivamente, vindo a crescer para 14,2% em 1952 e estabilizando-se em cerca de 11,7% em 1953 e 1954. Certamente, estas oscilações sempre foram acompanhadas por um

137 MATO GROSSO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado, por ocasião do início da

legislatura de 1950, pelo governador Arnaldo Estevão de Figueiredo. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1950. p. 46

anexos. APE-MT

138 MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa,

crescimento absoluto das verbas destinadas ao setor educacional, acordantes com a maior disponibilidade de recursos do próprio erário público, bem como com a sua crescente complexidade. Também pode-se observar que, com exceção dos anos de 1950 e 1951, quando o montante gasto com educação pelo estado de Mato Grosso esteve em 9º e 10º lugares entre as despesas efetuadas pelo poder público, em todos os outros anos, a educação ocupou entre a primeira e a terceira posição no ranking dos gastos estaduais. Da mesma forma, 1949 e 1952, anos de maior crescimento relativo das verbas para a educação, coincidem com momentos que apresentaram igualmente significativas taxas de incremento no número de novas unidades escolares instaladas em Mato Grosso.

Apesar do investimento federal para a educação estar limitado em 10,0% do total da arrecadação tributária, o repasse de verbas federais para as unidades da federação, particularmente no caso de Mato Grosso, foi significativo para a organização e manutenção do sistema de ensino que ora se implantava.

Em termos de material pedagógico, foram enviados pelo INEP 50 conjuntos relativos a material escolar, contendo: 1200 carteiras; 100 quadros verdes; 50 mesas; 50 armários; 99 carteiras e 50 cestas, recebidos e distribuídos em Mato Grosso entre os anos de 1953 e 1955139.

Mais importantes, porém, foram os recursos financeiros dispensados por este órgão. Dados disponíveis sobre estes repasses poderão ser visualizados na Tabela 2.13.

Tabela 2.13. - Verbas destinadas ao estado de Mato Grosso pela União - 1946 a 1954 (em cruzeiros)

Destinação 1946 1947 1948 1949 1950 TOTAL Construção de escolas... 1.400.000,00 2.400.000,00 4.910.000,00 4.450.000,00 1.833.333,00 14.993.333,00 Material escolar... --- --- --- 320.000,00 --- --- Campanha de Alfabetização. --- 160.000,00 332.500,00 330.000,00 189.000,00 1.011.500,00

Fontes: MATO GROSSO, 1952: 31-32.; MATO GROSSO, 1953: 43.

139 MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa,

Outro exame possível das verbas aplicadas pelo erário público nesse período diz respeito à composição interna de seus gastos, isto é, para quais setores da administração foram dirigidas as verbas da área educacional. Em primeiro lugar, o maior esforço do governo estadual está voltado para o ensino primário, como já citado anteriormente, no sentido de patrocinar a implantação de escolas nas zonas do interior do estado140. Nestes termos,

“(...) convém referir que somente na construção de prédios escolares, mais de 5% da arrecadação total do Estado foram dispendidos no ano findo [1949]. Só na construção de prédios escolares inverteu o governo mais de três milhões de cruzeiros.”141

Este investimento na construção de edifícios escolares repetiu-se nos anos seguintes, contando sempre, como já mostrado, com a participação marcante do governo federal.

Outro aspecto tido como essencial para a interiorização do ensino, sobretudo o primário, era o aparelhamento das novas unidades escolares. Intensificou-se, assim, a aquisição de móveis e utensílios para estes estabelecimentos, representados não apenas pela infra-estrutura para o funcionamento da escola propriamente dita — carteiras, bancos, quadro-negro, etc — como também por uma política mais intensiva de compra de material escolar para uso dos alunos, sobretudo livros. Estes últimos, inclusive, eram pensados não apenas como recursos didáticos para o manuseio do aluno, mas também na perspectiva de servirem como guias ao trabalho do professor, enquanto manuais pedagógicos:

“A questão primordial é a que se refere ao livro, o bom livro, em que ao lado da leitura, propicie os rudimentos de gramática, história e geografia do Brasil, ciências naturais e matemática, de modo que o seu uso seja também útil ao professor leigo que exerce o seu magistério na zona rural.” Para ter-se uma idéia do volume e do crescimento na distribuição de material escolar nas escolas públicas, sobretudo nas escolas rurais, podem-se citar alguns dados. Em 1951, foram distribuídos os seguintes materiais: a) 200 cartilhas e b) 1300 livros de 1ª a 4ª séries. Já em 1952, a distribuição de livros didáticos alcançou as cifras de: a) 8.000 cartilhas; b) 19.500 livros de 1ª a 4ª séries e; c) 500 livros do curso de admissão. Todos

140 MATO GROSSO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado, por ocasião do início da

legislatura de 1950, pelo governador Arnaldo Estevão de Figueiredo. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1950. p. 46. APE-MT