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Expansão e ordenação da escola primária

nº 4. Cuiabá: 1935 p 1 APE-MT

2. De como a fronteira longínqua tornou-se próxima: a região de Corumbá

3.1. Expansão e ordenação da escola primária

Quando comparada ao período anterior, a tipologia das escolas existentes, em relação ao ensino primário público no estado de Mato Grosso, nestes anos — 1946 a 1954 — é muito semelhante àquela que existiu até o final do Estado Novo. Mesmo com as modificações introduzidas em 1952, primeiro ano de vigência da Lei nº 452, de 24 de novembro de 1951 — a Lei Orgânica do Ensino Primário do Estado de Mato Grosso50 — foram mantidas as principais denominações para as diversas modalidades de estabelecimentos então existentes: escolas isoladas, escolas reunidas e grupos escolares, acrescidas das denominações que indicassem sua localização (urbana, rural e distrital). A estas foi acrescida uma nova modalidade, a escola supletiva51. Diferentemente da legislação de 1927, contudo, estabeleceu-se a unicidade dos programas e anos de estudo52, na medida em que foi determinado o currículo básico do curso primário elementar, a ser ministrado em todas as escolas públicas e particulares em quatro anos, independentemente de sua localização e, quando mantidas pelo Estado, também de sua dependência administrativa (municipais ou estaduais). Deste currículo básico constavam as seguintes disciplinas: 1. Leitura oral e escrita; 2. Iniciação matemática; 3. Geografia e História do Brasil; 4. Conhecimentos gerais aplicados à vida social, à educação para a saúde e trabalhos manuais; 5. Desenho e trabalhos manuais; 6. Canto orfeônico; 7. Educação física.

Quanto ao curso primário complementar, ou 5º ano de admissão (ao ensino médio), como era mais conhecido, seu funcionamento ficou adstrito aos grupos escolares públicos

50 Este estatuto legal representou a adaptação, no estado de Mato Grosso, de sua congênere nacional, a Lei

Orgânica do Ensino Primário (Decreto-Lei nº 8529, de 2 de janeiro de 1946). BRASIL. Coleção das Leis de 1946... p. 640-646.

51 “Art. 2. — O ensino primário abrangerá duas categorias de ensino: a) — o ensino primário fundamental, destinado às crianças de sete a doze anos; b) — o ensino primário supletivo, destinado aos adolescentes e adultos.” MATO GROSSO. Lei n. 452, 24 nov. 1951. Lei Orgânica do Ensino Primário do Estado de Mato Grosso... p. 1-3.

52 Embora a Lei nº 452 tenha estabelecido este dispositivo quanto às escolas primárias, o fato é que esta mudança não aconteceu imediatamente, dependente que ficou da aprovação de um novo regulamento da instrução primária, ainda tramitando na Assembléia Legislativa do Estado em 1955. Desta forma, continuaram a vigorar os planos e programas anteriores, estabelecidos em 1927, que determinavam currículos e duração distintos para os cursos das escolas isoladas rurais e ensino supletivo (2 anos); escolas isoladas urbanas (3 anos) e escolas agrupadas (escolas reunidas e grupos escolares, 4 anos). Cf. MATO GROSSO.

Mensagem apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa, por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1953. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1953. p. 41.; MATO GROSSO. Mensagem

ou escolas de curso primário particulares, contando o mesmo com o seguinte grupo de disciplinas e atividades educativas: 1. Leitura e linguagem oral e escrita; 2. Aritmética e Geometria; 3. Geografia e História do Brasil; 4. Ciências Naturais e Higiene; 5. Conhecimentos das atividades econômicas da região; 6. Desenho; 7. Trabalhos manuais e práticas educativas referentes às atividades econômicas da região; 8. Canto orfeônico; 9. Educação física. Já o ensino supletivo manteve-se com seu curso de dois anos, com as seguintes disciplinas: 1. Leitura e linguagem oral e escrita; 2. Aritmética e Geometria; 3. Geografia e História do Brasil; 4. Ciências Naturais e Higiene; 5. Desenho53.

Da mesma forma, verifica-se que não se transformou significativamente a participação percentual média de cada tipo de estabelecimento, dentro do total de escolas existentes (4,3% de grupos escolares; 5,3% de escolas reunidas e 90,4% de escolas isoladas), quando comparados os dados deste período com o anterior54. Apesar disso, continuou a acontecer a tendência que já se verificara nos anos 30-45, de crescimento total das escolas agrupadas (grupos escolares e escolas reunidas), em relação às escolas isoladas (que registraram um pequeno decréscimo em sua participação percentual — Tabela 2.5). Tabela 2.5. - Escolas primárias segundo o tipo - Mato Grosso - 1946 a 1954

Grupo Escolar Escola Reunida Escola Isolada (2) Total Geral

Ano (1)

Escolas % Escolas % Escolas %

1947... 15 5,5 23 8,4 236 86,1 274 1948... 24 3,6 33 5,0 609 91,4 666 1949... 25 3,9 39 6,1 576 90,0 640 1950... 28 3,6 37 4,8 705 91,6 770 1953... 38 4,8 34 4,3 716 90,9 788 1954... 47 4,3 35 3,2 1.016 92,5 1.098 Média... 4,3 5,3 90,4

(1) Os dados apresentados excluem o Território de Ponta Porã, em 1947. (2) Inclui, para o ano de 1948, o total de escolas supletivas.

Fontes: MATO GROSSO, 1950: 44; MATO GROSSO, 1954: 24-49; MATO GROSSO, 1955: 39-42.

O fato mais significativo nesses anos, no entanto, foi o processo de expansão no número total de estabelecimentos escolares públicos, processo este que ainda foi mais significativo entre as escolas isoladas. Este crescimento começou já na segunda metade dos apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa, por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1955. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1955. p. 43.

53 MATO GROSSO. Lei n. 452, 24 nov. 1951. Lei Orgânica do Ensino Primário do Estado de Mato Grosso... p. 1-3, 1951.

anos 40, mesmo considerando que apenas a partir de 1948 os dados estatísticos referentes ao Território de Ponta Porã, extinto pela Constituição Federal de 1946, vieram a ser agrupados ao restante do estado de Mato Grosso (Tabela 2.5.); e foi particularmente expressivo na década de 50, quando o número total de estabelecimentos sofreu uma variação de 42,6% entre 1950 e 1954. Não só a retomada das atividades econômicas e de exportação do estado (produtos derivados da atividade pecuária) poderia explicar os surtos populacionais que demandaram a região nestes anos.

Outros fatores também colaboraram neste processo. Entre estes fatores, estaria o próprio dinamismo resultante de certas atividades existentes em Mato Grosso, nesse período, como a construção do ramal ferroviário que demandava o Oriente boliviano, a partir de Corumbá, e a existência de um incipiente parque industrial nesta cidade, surgido no interregno entre as duas guerras mundiais. Outro fator seria a ocupação do extremo Sul do estado, particularmente Dourados e circunvizinhanças, com a intensificação da atividade agrícola nesta região, além das iniciativas colonizadoras no Sul e Norte de Mato Grosso.

Esta ocupação mais intensa de certas regiões de Mato Grosso, contudo, não foi suficiente para mudar o panorama mais geral da distribuição populacional no estado que ainda tinha, em grande parte, seus habitantes concentrados na zona rural, apresentando também baixa densidade populacional na maioria de seu território. Em 1950, quando do levantamento censitário, Mato Grosso tinha 522.044 habitantes, sendo que 65,9% (344.214 habitantes) moravam na zona rural e 34,1% (177.830 habitantes) eram residentes em zonas urbanas, com uma densidade populacional média de 0,42 habitante por quilômetro quadrado55.

Essa distribuição populacional certamente facilitou o aumento do número de escolas isoladas nas áreas rurais (Gráfico 2.1.). Segundo dados disponíveis para o ano de 1946, 44,8% do total de estabelecimentos de ensino primário existentes no estado localizavam-se em zonas urbanas e suburbanas (escolas urbanas e distritais), enquanto 55,2% deles localizavam-se nas áreas rurais. Já em 1951, cerca de 37,6% do total de escolas existentes em Mato Grosso localizavam-se nas zonas urbanas e suburbanas, enquanto 62,5% dos estabelecimentos estavam nas zonas rurais de Mato Grosso.

55 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Anuário Estatístico do Brasil: 1956... p. 37.

Neste sentido, embora o poder público enfatizasse nesse momento, como acontecera no período precedente, a maior eficácia do ensino ministrado nas escolas agrupadas, e apontasse as limitações da escola isolada, insistia em que

“(...) este tipo de estabelecimento tem a sua importância e sua peculiar função decorrente de nossas condições demográficas. Nesse sentido tem o Governo procurado aumentar o número delas, disseminando, assim, o ensino e a educação, atendendo ao mesmo tempo a necessidade de cada núcleo vital da nossa população.”56

28,8 16,0 55,2 26,8 10,8 62,5 0,0 20,0 40,0 60,0 80,0 % 1946 1951

G ráfico 2.1. - Escolas prim árias segundo a localização - M ato G rosso - 1946 e 1951

(em percentuais)

Urbanas Distritais Rurais

Fontes: IBGE, 1946: 420.; MATO GROSSO, 1953: 41-42.

Esta realidade levou o governo estadual a preocupar-se de forma mais direta com a expansão do ensino primário exatamente nas regiões consideradas como menos favorecidas pela ação estatal, ou seja, o interior do território mato-grossense — o que recoloca a questão da integração desses espaços à unidade nacional, que já fora tratada com especial ênfase nos anos precedentes, especialmente com o lançamento da campanha getulista de Marcha para o Oeste57. Em conseqüência disso, o executivo estadual passou a considerar,

56 MATO GROSSO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa por ocasião do início da abertura da

sessão legislativa de 1949, pelo Doutor Arnaldo Estevão de Figueiredo, Governador do Estado. Cuiabá:

Imprensa Oficial, 1949. p. 25. APE-MT

57 MATO GROSSO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado, por ocasião do início da

legislatura de 1950, pelo governador Arnaldo Estevão de Figueiredo. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1950. p.

46.Ainda neste mesmos termos, o executivo estadual explicava o crescimento pouco expressivo dos ensinos infantil e pré-vocacional (ensino primário complementar): [embora] “(...) o ensino infantil [tenha tido] um aumento de 50% e o pré-vocacional de 30%(...)” — o que não era suficiente para acompanhar o ritmo de crescimento do ensino primário — “(...) esse crescimento em menor escala é justificado, no entanto, tendo em vista que apenas nos centros mais populosos se desenvolvem essas modalidades de ensino”, ou seja, exatamente nas regiões menos privilegiadas, naquele momento, para a abertura de escolas. APE-MT

pela primeira vez, a necessidade da organização de uma modalidade de ensino especificamente voltado para a zona rural,

“(...) pois tem ali o ensino que impregnar-se de cunho tipicamente ruralista, instruindo-se os alunos à feição do ambiente em que vivem, para que, além da preparação intelectual, recebam eles ensinamentos que os habilitem no exercício da atividade no seu habitat.”58

Esta preocupação com a escola rural levou também à fundação de clubes agrícolas, em projeto que contava com a participação do Ministério da Agricultura59, anexos aos estabelecimentos educacionais das regiões mato-grossenses reconhecidamente agrícolas60, que deveriam funcionar como fomentadores do ensino rural nesses contextos. Para tal iniciativa, foram escolhidas áreas nos municípios de Aquidauana, Bela Vista, Bonito, Camapuã, Campo Grande, Corumbá, Coxim, Dourados, Ponta Porã e Nioaque, na porção Sul do estado; Cuiabá, Livramento, Poconé, Poxoréu e Rosário Oeste, na região Norte61. Além disso, essa mesma preocupação com a unicidade do sistema público de educação e com a eficácia do ensino ministrado nas zonas rurais ensejou a organização de um só currículo básico para as escolas públicas primárias, rurais e urbanas, como já comentado anteriormente.

Este movimento de expansão, visível sobretudo a partir de 194862, contou com a participação do governo federal, no sentido de fornecer apoio financeiro e pedagógico para a conformação da rede pública de ensino. Neste sentido, destaca-se o Convênio Nacional do Ensino Primário, ratificado ainda no período anterior, pelo Decreto-Lei n. 515, de 14 de outubro de 1943, mas que só se efetivou a partir de 1947, quando foram disponibilizadas verbas do Fundo Nacional do Ensino Primário63, visando à ampliação e melhoria do

58 MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa,

por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1951. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1951. p. 30. APE-MT

59 Este projeto, inclusive, teve caráter nacional, tendo sido implantado também em outras regiões do Brasil. 60 A mensagem governamental não explicitou o que poderia ser entendido pelo termo em questão. No entanto, num estado que contava, neste momento, com uma agricultura stricto sensu voltada apenas para a subsistência, ainda incipiente enquanto atividade econômica de cunho comercial, provavelmente estes clubes também voltar-se-iam para a pecuária, atividade predominante em muitas das áreas escolhidas para a criação destes estabelecimentos.

61 MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa,

por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1952. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1952. p. 29. APE-MT

62 É preciso destacar uma vez mais que apenas a partir deste ano as estatísticas oficiais sobre o estado de Mato Grosso voltaram a incluir os dados do Território Federal de Ponta Porã, extinto pela Constituição de 1946. 63 O Fundo Nacional de Ensino Primário fora criado pelo Decreto-Lei n. 4958, de 14 de janeiro de 1942, mas só foi regulamentado posteriormente, entre 1945 e 1947, pelos decretos n. 19513, de 25 de agosto de 1945 e pelo Despacho Presidencial n. 75, de 9 de junho de 1947. MATO GROSSO. Termo de acôrdo celebrado

sistema escolar primário fundamental. Esses recursos voltavam-se principalmente para a construção de prédios escolares64 nas áreas rurais ou distritais, preferencialmente em municípios do alto interior, previamente escolhidos e indicados pelo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos. Para o recebimento de tais recursos, o Estado comprometia-se também a não fechar escolas nos locais em que existissem mais de 30 crianças em idade escolar, bem como nas áreas em que as unidades escolares eram reconhecidamente insuficientes para atender à demanda. Além disso, o convênio exigia, para a continuidade no recebimento dos recursos, que o executivo mato-grossense consignasse pelo menos 15,0% de sua receita tributária na manutenção do ensino primário, ultimando desta forma a construção e funcionamento de 28 novos estabelecimentos rurais deste grau de ensino, já previstos para entrarem em funcionamento por força de acordos anteriores65.

Assim, entre os anos de 1946 e 1949 foram assinados cinco acordos com o INEP, decorrentes da adesão do estado ao convênio que instituía o Fundo Nacional do Ensino Primário: um em 1946, dois em 1947 (ano em que as verbas foram disponibilizadas pela primeira vez), um em 1948 e outro em 1949. Os acordos previam a construção de 214 prédios escolares rurais, além de terem incluído, posteriormente, 11 grupos escolares e duas escolas normais rurais. Segundo informações disponíveis para o ano de 1953, até aquela data o governo estadual havia recebido, entre 1947 e 1950, o montante de Cr$ 9.340.000,00 para a construção das escolas rurais, suplementados em Cr$ 2.220.000,00 entre 1951 e 1953. Do total de 214 prédios projetados para a zona rural, 23 estavam em construção; 30 não haviam sido iniciados e 161 encontravam-se concluídos66. Já para os grupos escolares, o montante de verbas investidas pelo governo federal foi de Cr$ 1.666.666,00, entre 1948 e 1949, sendo que, dos 11 estabelecimentos planejados, 4 ainda não haviam tido sua entre o Ministério da Educação e Saúde e o Estado de Mato Grosso, para execução do plano de construções destinadas à ampliação e melhoria do sistema escolar primário. Rio de Janeiro: 1947. p. 1. APE-MT

64 Segundo dados de 1948, o ensino estadual primário funcionava, em sua grande maioria, em prédios particulares alugados, que não eram adaptados para receberem instalações escolares. Naquele ano, entre 666 unidades escolares, apenas 18 possuíam instalações próprias, sendo que 11 delas localizavam-se em Cuiabá. MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado de Mato-Grosso à Assembléia

Legislativa e lida na abertura da 2ª sessão ordinária da sua 1ª legislatura. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1948.

p. 65. APE-MT

65 MATO GROSSO. Termo de acôrdo celebrado entre o Ministério da Educação e Saúde e o Estado de Mato

Grosso, para execução do plano de construções destinadas à ampliação e melhoria do sistema escolar primário. Rio de Janeiro: 1947. p. 1-6. APE-MT

66 MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa,

construção iniciada, 3 estavam em construção e 4 haviam sido concluídos em 1953. Sobre as escolas normais rurais, não foram encontrados registros sobre a sua construção67.

Outro programa que colaborou para o processo de expansão do ensino primário nesses anos foi a instalação da escola supletiva, que se efetivou por meio da Campanha de Alfabetização de Adultos e Jovens. Este programa, organizado pelo governo federal a partir do governo Dutra, resultou na ampliação do ensino supletivo no estado, visando à erradicação do analfabetismo entre a população que não tivera acesso à escola primária fundamental comum68, vindo estender o alcance da escola noturna, organizada no final da década de 30.

O primeiro Acordo Especial sobre o ensino supletivo foi firmado a 29 de maio de 1947 entre o governo da União, representado pelo Ministro da Educação e Saúde Clemente Mariani e o estado de Mato Grosso, representado pelo seu Delegado Especial, Virgílio Corrêa Filho. Neste acordo, foi previsto o funcionamento de 100 escolas supletivas, noturnas, espalhadas por diferentes cidades de Mato Grosso69. Pelo Decreto-Lei n. 874, de 3 de julho de 1947, o governo estadual criou os referidos estabelecimentos, alocando-os,

67 MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa,

por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1954. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1954. p. 17-22. Por meio do

registro das construções realizadas, é possível constatar ainda os percalços políticos e administrativos que envolveram a utilização destes recursos públicos. Eis alguns exemplos: “Bela Vista — Prédio de Boqueirão, o contrato de construção foi firmado pelo Governo Estadual passado, em 8-11-948 (sic), com o então prefeito, sr. Peri de Almeida Melo, representado pelo seu procurador Deputado Waldir dos Santos Pereira. Recebeu duas prestações, uma de Cr$ 8.333,30 e outra de Cr$ 20.000,00. O atual Governo do Estado deu ao atual prefeito Alvaro da Silva Mascarenhas, conforme recibo firmado, Cr$ 30.000,00 para a terminação (sic) do prédio. Nenhum dos dois Prefeitos construiu, nem devolveu o dinheiro ao Estado. (...) Rondonopolis (sic) — Que foi contratado com Arquimedes D’Elia. A construção de pessimo (sic) material começou a desmantelar- se e a cair quando as paredes iam atingindo altura. Foi abandonado pelo construtor que fugiu para rumo ignorado em virtude de homicidio (sic) praticado.” Pelo menos em uma ocasião o governo estadual necessitou abrir um crédito especial, no valor de Cr$ 3.600.000,00, pelo Decreto n. 1741, de 31 de dezembro de 1953, “(...) para regularizar a situação que tanto desabonava o conceito em que o Estado deve ser tido(...)”, cobrindo desta forma os rombos abertos pelo uso fraudulento das verbas do Ministério da Educação e Saúde/INEP.

APE-MT

68 “Os cursos noturnos são em tudo semelhantes às escolas isoladas urbanas e se destinam aos meninos de doze anos para mais [e adultos], que forem impossibilitados de freqüentar aulas diurnas. São providas interinamente por um ou mais professores em exercício nas escolas públicas percebendo, além de seus vencimentos, a gratificação mensal de Cr$ 100,00.” MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo

Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa, por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1953. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1953. p. 41. É interessante notar que não faz parte do universo de

preocupações do governo mato-grossense, neste momento, a discussão sobre as razões que levariam estas crianças a ingressar no mercado de trabalho, da mesma forma que não se discute a existência de adultos que não conseguiram ingressar na escola durante a infância; cogita-se apenas da oportunidade que deveria ser oferecida a eles, de saírem do analfabetismo. APE-MT

entre outros, nos municípios de Cuiabá — 23 escolas; Campo Grande — 12 escolas; Corumbá — 3 escolas; Cáceres — 8 escolas, etc. Posteriormente, no mês de agosto, outras 50 classes foram criadas.

Apesar de toda esta movimentação inicial, contudo, segundo avaliações dos próprios organizadores dessa modalidade de ensino, apresentada no ano seguinte, 194870, a campanha foi instalada parcialmente em seu início, devido a atrasos na liberação das verbas estaduais para o programa; bem como em função da dificuldade para obter junto ao governo federal os materiais para as escolas71, além dos problemas enfrentados no fechamento dos convênios com as prefeituras municipais. Mesmo passando por estes percalços, ao final do ano de 1949, o programa contava com 194 classes instaladas no estado72. Isto não pareceu ter garantido, no entanto, que este empreendimento alcançasse totalmente seus objetivos. Segundo observação do próprio diretor do Departamento de Educação e Cultura, em seu relatório sobre as atividades educacionais desenvolvidas durante o ano de 1954, estas escolas

“Não são devidamente fiscalizadas e seu funcionamento fica entregue exclusivamente ao bom senso e escrúpulo do professor no cumprimento do dever. Temos porém absoluta certeza de que 60% dessas escolas não funcionam ou se funcionam é de forma irregular, não chegando a haver durante o mês aulas no espaço de uma semana. Aliás, foi-me declarado textualmente, por ilustre deputado à Assembléia Legislativa do Estado, que as Escolas Supletivas localizadas na região de um município do Leste não funcionaram no ano findo, mas a gratificação pro labore deveria ser paga, era um manjar caído do céu para ajudar o professor mal pago.”73

69 MATO GROSSO. Instituto Memória do Poder Legislativo - Assembléia Legislativa de Mato Grosso. Cópia

da legislação referente ao ano de 1947, publicada no Diário Oficial. [Cuiabá: 19--?]. p. 31. IMPL-MT

70 MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado de Mato-Grosso à Assembléia

Legislativa e lida na abertura da 2ª sessão ordinária da sua 1ª legislatura. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1948.

p. 60. APE-MT

71 Segundo os argumentos levantados pelo Departamento de Educação e Cultura em 1952, quando era diretor deste órgão Antonio de Arruda Marques (gestão do Governador Fernando Corrêa da Costa – 1951-1955), estes atrasos no envio das verbas federais para o programa de ensino supletivo devia-se à “(...) desorganização imperante na administração anterior [gestão do governador Arnaldo Estevão de Figueiredo (1947-1950) [que] trouxe como conseqüência o desvio de apreciável parcela do fundo recebido e a recusa do Ministério em enviar novas cotas, sem a demonstração da aplicação das entregues.” MATO GROSSO. Mensagem

apresentada pelo Governador do Estado, Dr. Fernando Corrêa da Costa, por ocasião da abertura da sessão legislativa de 1952. Cuiabá: Imprensa Oficial, 1952. p. 32. APE-MT

72 MATO GROSSO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa do Estado, por ocasião do início da