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O financiamento do ensino público em Mato Grosso

nº 4. Cuiabá: 1935 p 1 APE-MT

5. O financiamento do ensino público em Mato Grosso

Neste tópico do trabalho, será tratada a questão do financiamento da educação pública durante esses anos, a partir do exame do balanço financeiro do estado, no período.

Tabela 1.11. Comparação das despesas efetuadas pelo governo de Mato Grosso – 1930 a 1936

(em mil réis)

Despesa 1930 % 1931 % 1932 % 1933 %

Assembléia Legislativa... 128:3 1,3 21:9 0,2 17:9 0,2 18:3 0,2

Secretaria Geral do Estado (1) ... 689:4 6,7 467:5 3,8 306:8 3,9 385:6 4,1

Saúde Pública... 22:3 0,2 26:8 0,2 26:8 0,3 28:3 0,3

Instrução Pública... 1.228:4 12,0 1.798:0 14,8 1.506:8 19,2 1.715:0 18,2

Segurança Pública(2)... 2.211:6 21,6 3.255:4 26,8 1.326:2 16,9 1.338:5 14,2 Tesouro do Estado(3)... 1.260:6 12,3 1293:8 10,7 1.060:8 13,5 1.275:2 13,5 Repartição de Terras, Minas e

Obras Públicas(4)... 200:8 2,0 220:7 1,8 248:7 3,2 243:6 2,6

Obras Públicas em geral... 993:5 9,7 1102:7 9,1 476:2 6,1 495:0 5,3

Pessoal inativo... 342:9 3,3 443:5 3,7 516:9 6,6 541:5 5,8 Dívida passiva... 1603:6 15,7 1.571:5 12,9 698:3 8,9 1.824:0 19,4 Auxílios e subvenções... 355:5 3,5 393:0 3,2 432:5 5,5 540:1 5,7 Eventuais... --- --- 200:0 1,6 239:1 3,1 251:6 2,7 Poder Judiciário(5)... 621:9 6,1 977:8 8,0 597:1 7,6 611:7 6,5 Créditos especiais... 243:7 2,4 375:2 3,1 379:1 4,8 103:5 1,1 Créditos extraordinários... 335:9 3,3 --- --- --- --- 41:7 0,4 TOTAL GERAL 10.238:4 100,0 12.147:8 100,0 7.833:2 100,0 9.413:6 100,0

(continuação)

Despesa 1934 % 1935 % 1936 %

Assembléia Legislativa... 17:0 0,2 18:4 0,2 575:1 6,2

Secretaria Geral do Estado (1) ... 398:0 4,0 392:2 4,1 399:8 4,3

Saúde Pública... 34:1 0,3 28:7 0,3 7:5 0,1

Instrução Pública... 1.935:8 19,3 1.830:2 19,2 1.919:8 20,7

Segurança Pública (2) ... 1.770:9 17,7 1.717:5 18,0 1.528:8 17,1 Tesouro do Estado (3) ... 1.277:8 12,8 1.216:2 12,7 1.330:2 14,4 Repartição de Terras, Minas e

Obras Públicas (4) ... 351:0 3,5 317:2 3,3 251:8 2,7

Obras Públicas em geral... 349:9 3,5 357:5 3,5 224:8 2,4

Pessoal inativo... 577:0 5,8 659:5 6,9 675:7 7,3 Dívida passiva... 1.708:2 17,1 1.339:4 14,0 917:3 9,9 Auxílios e subvenções... 470:0 4,7 180:9 1,9 266:2 2,9 Eventuais... 349:8 3,5 257:9 2,7 115:1 1,2 Poder Judiciário (5) ... 728:0 7,3 893:7 9,4 882;8 9,5 Créditos especiais... 47:1 0,5 337:2 3,5 117:6 1,3 Créditos extraordinários... --- --- --- --- --- --- TOTAL GERAL 10.014:6 100,0 9.546:5 100,0 9.266:6 100,0

(1) Inclui as despesas com os seguintes órgãos: Presidência do Estado (1930-1935) e Governo do Estado (1936); Almoxarifado Geral do Estado ((1930-1931); Tipografia Oficial (1930-1936); Secretaria do Interior, Justiça e Finanças e Secretaria da Agricultura, Indústria, Comércio, Viação e Obras Públicas, criadas em 1926 e extintas em 1937, quando passou a existir novamente apenas a Secretaria Geral do Estado.

(2) Inclui as despesas realizadas com as áreas de Segurança Pública (1930-1936) e Força Pública (1930- 1936).

(3) Inclui as despesas realizadas com o Tesouro do Estado ((1930-1936); Inspetoria Especial da Poaia (1932); Delegacia Especial do Norte (1930-1936); Mesa de Rendas de Corumbá (1931-1936); Mesa de Rendas de Campo Grande (1935-1936); Fiscais de Vendas Mercantis (1936); Estações arrecadadoras (1930-1936); Corpos de Guardas Fiscais da Fronteira (1930-1936) e Inspetoria de Fazenda (1930-1931e 1936)

(4) Inclui as despesas realizadas com a Repartição de Terras(1930-1934); Repartição de Obras Públicas (1930-1934); Repartição de Terras, Minas e Obras Públicas (1935-1936) e a Inspetoria de Luz e Água (1930- 1931; 1935-1936).

(5) Inclui as despesas realizadas com a Administração da Justiça (1930-1936) e Ministério Público (1930- 1936).

Fonte: MATO GROSSO, 1937: anexos.

Pela observação da Tabela 1.11137 e dados complementares mostrados a seguir (Tabela 1.12.138), pode-se constatar que houve uma oscilação bastante significativa no

137 Para efeitos comparativos, como não se teve acesso aos balanços dos anos de 1930 a 1934, esta tabela foi construída apenas com os dados relativos às despesas efetuadas pelo governo de Mato Grosso no período. Em função dessa escolha, para os anos de 1935 e 1936 — anos para os quais se contava com o balanço financeiro das receitas e despesas do governo estadual —, foram descartados os valores referentes aos seguintes

montante de verbas destinadas à educação naquele período. Os anos 30 iniciaram-se com 12,0% do total da despesa sendo destinado à educação, tendo um crescimento que elevou este percentual até 19,2% na primeira metade desta década (Tabela 1.11), apesar de estes terem sido anos de baixa arrecadação no estado, que ainda enfrentava os efeitos da crise do final dos anos 20139. A partir de 1937, este montante começou a decrescer140, para alcançar um patamar médio de 16,0% até o início da década de 40, voltando a cair no pós-guerra (11,1% em 1944 e 12,1% em 1945 - Tabela 1.12).

Em termos comparativos, os dados disponíveis, abrangendo os anos de 1930 a 1936, indicam que o dispêndio com a Instrução Pública sempre esteve entre as quatro maiores despesas do governo estadual, próximo às verbas utilizadas na manutenção da máquina arrecadadora do Estado (Tesouro), com a dívida passiva (amortizações e apólices dos empréstimos tomados ao Banco do Brasil, à Companhia Mate Laranjeira, etc) e com a Segurança Pública. As verbas destinadas para esta última rubrica elevaram-se no início dos anos 30, quando ainda estavam sendo pagas pelo Executivo Estadual as despesas efetuadas com a repressão à Coluna Prestes; e também em função do combate às forças mato- grossenses que se aliaram ao Movimento Constitucionalista de 1932. Vieram a cair, contudo, nos anos seguintes.

O início do decréscimo dos investimentos destinados à instrução pública, a partir de 1938, coincidiu com o período em que se alcançaram os menores números absolutos de matrículas no ensino primário estadual, que partiram de 61,1% do total de alunos matriculados em 1935, para 59,0% em 1936 e 55,5% em 1937 (Tabela 1.7.).

elementos de despesa: depósitos de origens diversas; adiantamentos; consignações; bens vacantes; auxílios da União; fundos especiais; restos a pagar; credores diversos e suprimentos feitos a exercícios anteriores. 138 Não foram encontrados, nos diversos acervos consultados, os balanços financeiros da Interventoria referentes aos anos de vigência do Estado Novo (1937-1945). Utilizaram-se, assim, para a construção da Tabela 1.11., os dados disponíveis na obra de Gervásio Leite, a única a apresentar referências sobre esta temática. LEITE, Gervásio. Um século de instrução pública... p. 158

139 Nos anos seguintes, o caixa estadual será reforçado por meio de vários empréstimos realizados ao poder público de Mato Grosso pelo Banco do Brasil. O primeiro destes empréstimos foi repassado entre 1932-1933, chegando a 6.000:000$000 réis. MATO GROSSO. Mensagem apresentada pelo Governador do Estado de

Mato Grosso, o Dr. Mario Corrêa, à Assembléia Legislativa e lida na abertura da 2ª sessão ordinária da 1ª Legislatura, em 13 de junho de 1936. Cuiabá: Imp. Oficial, 1936. p. 34. APE-MT

140 Alguns dados disponíveis na Tabela 1.12. (anos 1937-1941) incluem verbas utilizadas para construções de escolas, que na tabela anterior, a de número 1.11., apareciam diluídas na rubrica “Obras Públicas”.

Tabela 1.12. - Despesas efetuadas com a instrução pública - Mato Grosso - 1930 a 1945 (1)

Ano Montante gasto com ensino público % sobre o total da despesa

1937... 2.157:000$000 18,1 1938... 2.207:000$000 16,9 1939... 2.330:000$000 15,9 1940... 2.953:000$000 16,9 1941... 2.851:163$800 --- 1944... 3.148.000,00 11,1 1945... 3.416.000,00 12,1

(1) 1930 a 1941 – valores em mil-réis; 1944 e 1945 - valores em cruzeiros.

Fontes: LEITE, Gervásio, [1970]: 158; MATO GROSSO, 1942: 17; 50.; IBGE, 1947: 465.

A partir desse ano, as matrículas no ensino público estadual voltaram a crescer, chegando a 65,1% do total de alunos do curso primário em 1939 e 66,1% em 1942, por certo refletindo as dificuldades impostas pela crise econômica e posteriormente pela guerra mundial, à manutenção de discentes oriundos, principalmente das camadas médias, em escolas particulares. Este aumento do número de alunos matriculados, no entanto, não representou um maior investimento público na educação primária, já que as verbas destinadas ao ensino foram decrescentes nesse período, mas apenas uma maior utilização dos recursos humanos e materiais já instalados — fato que será comentado a seguir, quando se analisar a composição dos gastos efetuados com a instrução pública.

Já nos ensinos secundário, normal e comercial, apesar de sua trajetória ascendente em relação às matrículas, esta última também foi mais acentuada até 1935, alcançando um crescimento de 5,6% em 1936, para voltar a crescer e chegar aos 14,5% e 23,1% em 1937 e 1942, respectivamente (Tabela 1.10.).

Quanto à composição dos gastos efetuados com a instrução pública, na esfera estadual, a documentação disponível possibilita o levantamento de algumas inferências sobre o tema. Conforme se observa no exame da Tabela 1.6., ficou em 9,6% entre 1935 e 1937 e 8,0% entre 1937 e 1942, o crescimento do número de estabelecimentos primários públicos. O número de alunos matriculados em escolas públicas estaduais (Tabela 1.7.), contudo, sofreu uma variação negativa de –3,7% entre 1935 e 1937, mas cresceu a partir de 1937 até 1942, em média, 19,7% no ensino primário. Já nos ensinos secundário, normal e comercial, o número de estabelecimentos permaneceu inalterado após a encampação do Ginásio Maria Leite, de Corumbá, em 1937, ano a partir do qual cresceu também o número de alunos matriculados.

Daí deduz-se que as despesas públicas na área educacional se tenham dirigido, preferencialmente, para o setor de aluguel e reparos de imóveis e aparelhamento dos estabelecimentos escolares já existentes, permitindo, assim, a expansão do número de cursos e vagas oferecidas, sem que necessariamente fossem abertas novas escolas, principalmente entre 1937 e 1942. De outra feita, foram nestes anos que, sentindo de forma mais aguda os efeitos da crise social, mencionada anteriormente, agravada pela guerra, uma parte da clientela das escolas particulares dirigiu-se para os estabelecimentos públicos. Como o número de escolas públicas vinha crescendo desde meados da década de 30, foi suficiente um crescimento de apenas 8,0% no número de estabelecimentos públicos estaduais141 (Tabela 1.6.), entre 1937 e 1942, para abrigar estes alunos; sem considerar todo o contingente populacional que foi “expulso” ou que permaneceu fora da escola, conforme demonstrado na Tabela 1.8.

Além disso, essa preocupação com a infra-estrutura física esteve presente durante todo o período, conforme denotam as palavras do Diretor Geral da Instrução Pública, Francisco Alexandre Ferreira Mendes, ao relatar a situação das escolas na capital do estado, Cuiabá, transcritas na Mensagem dirigida à Assembléia Legislativa pelo interventor Cap. Manoel Ary da Silva Pires, em 1937:

“Não me refiro nesta modesta exposição á parte didactica, entregue á competencia e dedicação de conhecidos e eruditos pedagogos patricios, que demonstram entranhado zêlo e grande capacidade no desempenho da sua ardua e nobilitante missão, mas, ás installações internas sem excepção a começar pelo edificio do Palácio da Instrucção, situado na parte mais central do perimetro urbano, offerecem aos olhos do visitante impressão pouco lisonjeira. Com excepção das Escolas Normal e Modello annexa, e do Grupo Escolar Senador Azeredo, que se acham installados em predios apropriados e de condições mais ou menos hygienicas compativeis com as exigencias da pedagogia hodierna, mas que urgem de reparos e de material escolar, todas as demais escolas se encontram installadas em predios adaptados mas inadequados, os quaes, salvo honrosa exclusão, não satisfazem absolutamente os requisitos necessarios para o desempenho da dignificante missão a que se destinam.”142

Tal situação também era pertinente para o restante do estado, em que somente as escolas secundárias, normais e comerciais, algumas escolas reunidas e grupos escolares

141 Se se consideram também as escolas municipais, este índice fica em 7,7%.

142 MATO GROSSO. Mensagem apresentada à Assembléia Legislativa e lida na abertura da 3ª sessão

tinham prédios próprios, construídos com a finalidade de abrigar estabelecimentos de ensino. Quanto às escolas isoladas, a maior parte delas situava-se em imóveis alugados, improvisados para fins didáticos. Existia a preocupação, no entanto, com a criação de um conjunto de edificações, com as condições mínimas para que se instalassem os estabelecimentos escolares dentro de certos padrões (atenção à sua capacidade; situação em relação ao solo e à vizinhança; iluminação; ventilação e instalações sanitárias), prezando-se as condições higiênico-pedagógicas dos mesmos, conforme já fora prescrito inclusive pelo Regulamento de 1927, em seus artigos 85 a 87143. As políticas adotadas naquele momento pelo Estado, no entanto, envolvendo a restrição dos investimentos públicos em atenção à situação fiscal e monetária do erário público neste momento, iam de encontro a esta preocupação, que acabou permanecendo como possibilidade a se concretizar no futuro.

A instalação de novas salas de aula, mesmo nos estabelecimentos já existentes, implicava igualmente na destinação de professores para estes locais de ensino, sendo este um item importante da composição de gastos da instrução pública. O quadro docente esteve assim constituído, nesse período (Tabela 1.13.):

Tabela 1.13. - Corpo docente no ensino estadual - Mato Grosso - 1933 a 1942

Ano Número de professores Variação relativa

1933... 413 100,0

1935... 497 120,3

1936... 475 95,6

1937... 496 104,4

1942 (1)... 487 ---

(1) Inclui apenas os professores do ensino primário fundamental comum. Fontes: IBGE, 1936: 323.; IBGE, 1940: 801.; IBGE, 1947: 441.

Observando-se os dados da tabela apresentada acima, vê-se que variação relativa no número de professores lotados em escolas estaduais seguiu o mesmo padrão de variação do montante de alunos matriculados e de escolas existentes no período. Assim, tem-se um aumento do corpo docente no período de 1933 até 1935, seguindo-se de uma queda em 1936, quando o quadro de professores decaiu em –4,4% em relação ao ano anterior; seguindo-se, finalmente, um novo período ascensional, a partir de 1937, que se estendeu

143 MATTO-GROSSO. Regulamento da Instrucção Publica Primaria do Estado de Matto-Grosso (Decreto n. 759, de 22 de abril de 1927... p. 13.

aos anos seguintes, dado que em 1942 registrava-se já um total de 487 professores, apenas no ensino primário fundamental (sem serem considerados, desta forma, os professores dos ensinos supletivo, primário complementar, secundário, normal e comercial).

Pode-se supor, a partir dessa realidade, que parcela cada vez maior dos gastos públicos com educação foram dirigidos para o pagamento de professores. Segundo dados disponíveis para o ano de 1933144, naquela ocasião, o Estado despendeu 1.446:360$000 com despesas relativas à rubrica “pessoal” — o que certamente também incluiu funcionários administrativos e de apoio da Diretoria Geral da Instrução Pública e dos próprios estabelecimentos escolares (amanuenses, porteiros, inspetores de ensino, etc). A maioria, no entanto, era composta por professores diretamente envolvidos no ensino e ou em atividades de direção das escolas públicas. Em sendo assim, o total da folha de pagamento, naquele ano, representava 91,6% das verbas alocadas na instrução pública estadual, ficando 47:000$000 destinados à compra de material (2ª maior despesa discriminada, ou cerca de 3,0%) e 75:000$000 utilizados em gastos não discriminados (4,6% sobre o total).