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nº 4. Cuiabá: 1935 p 1 APE-MT

3.3. Matrículas registradas

Outro indicador das condições do ensino primário nesses anos é o número de matrículas registradas no mesmo (Tabela 1.7.). Em termos absolutos, entre 1935, quando

104 MATO GROSSO. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas — Presidente da República

pelo Bel. Julio Strübing Müller — Interventor Federal em Mato Grosso. Cuiabá: Imp. Oficial, 1940. p. 12. APE-MT

105 MATO GROSSO. Indicador das leis e decretos do Estado de Matto-Grosso (1890 a 1935)... p. 133. 106 MATO GROSSO. Ementário da legislação estadual (1936-1950)... p. 125.

foram registradas 26.515 matrículas, e 1942, quando as matrículas totalizaram 28.248, registrou-se uma variação de 6,5% de alunos a mais no ensino primário em todo o estado. Tabela 1.7. – Ensino primário – Matrícula Geral – Mato Grosso – 1935 a 1942

Dependência administrativa / Localização / Série

1935 1936 1937 1939 1942 (1)

Valor % Valor % Valor % Valor % Valor %

Absoluto Absoluto Absoluto Absoluto Absoluto

TOTAL... 26.515 100,0 28.203 100,0 28.120 100,0 27.764 100,0 28.248 100,0 --- 6,7 -0,3 4,7 1,7 Dependência administrativa Estadual... 16.197 61,1 16.643 59,0 15.605 55,5 18.083 65,1 18.686 66,1 Municipal... 2.247 8,5 2.224 7,9 2.905 10,3 2.743 9,9 3.166 11,2 Particular... 8.071 30,4 9.336 33,1 9.610 34,2 6.938 25,0 6.396 22,6 Localização Urbana... 17.464 65,9 13.640 48,4 17.072 60,7 18.020 64,9 16.784 59,4 Distrital... 1.497 5,6 1.271 4,5 1.828 6,5 3.284 11,8 4.184 14,8 Rural... 7.554 28,5 13.292 47,1 9.220 32,8 6.460 23,3 7.280 25,8 Série Pré-primário... 251 0,9 124 0,4 171 0,6 485 1,7 --- -- 1ª... 13.196 49,8 13.569 48,1 15.450 54,9 26.021(3) 93,7 18.228 64,5 2ª... 7.318 27,6 9.070 32,2 6.741 24,0 --- 5.439 19,3 3ª... 3.148 11,9 3.373 12,0 3.446 12,3 --- 2.879 10,2 4ª... 2.098 7,9 1.669 5,9 1.818 6,5 --- 1.687 6,0 5ª (2) ... 504 1,9 398 1,4 494 1,8 725 2,6 15 0,1 Ensino supletivo... 0 0,0 0 0,0 0 0,0 533 1,9 nd nd

(1) As informações disponíveis abrangem apenas o ensino primário fundamental comum e o complementar. (2) 5ª série do ensino primário ou escola complementar.

(3) Número total de alunos matriculados nas quatro séries da escola primária, neste ano. nd – informação não disponível

Fontes: IBGE, 1940: 968; 970; 971; IBGE, 1947: 443-444; MATO GROSSO, 1939: 11-13.

Dentre os níveis de ensino atingidos por esse crescimento, predominaram os alunos matriculados no chamado ensino primário fundamental comum, público e primário — que abrangia as quatro séries iniciais dessa modalidade de ensino, excetuando-se as classes do

107 MATO GROSSO. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Getúlio Vargas — Presidente da República

pelo Bel. Julio Strübing Müller — Interventor Federal em Mato Grosso. Cuiabá: Imp. Oficial, 1940. p. 8; 15. APE-MT

pré-primário (maternal e infantil), do supletivo e do ensino complementar. Em todos estes anos, mais de 90,0% de todo o corpo discente encontrava-se alocado nas quatro séries da escola fundamental. Outro dado significativo é o grande número de alunos egressos do ensino primário, quando consideradas as várias séries do mesmo. Ao longo do período 1935 a 1937, enquanto perto de 80,0% dos alunos se localizavam na 1ª e 2ª séries, apenas 20,0% dos mesmos estavam alocados nas séries finais (3ª a 5ª séries). Isso indica, na verdade, o alto índice de evasão da escola primária, que chegou a registrar, em 1942, 64,5% dos seus alunos matriculados na 1ª série, quando apenas 6,1% chegaram, nesse ano, às duas últimas séries finais. Questão essa, aliás, que vem somar-se às outras deficiências já apontadas em relação à educação em Mato Grosso.

Outro fato que explica a concentração de matrículas nas séries iniciais da escola primária era a própria existência de modalidades diferenciadas de estabelecimentos no ensino público estadual, com duração máxima distinta, em relação a tempo de escolaridade. Assim, enquanto para as escolas isoladas rurais — modalidade de escola numericamente representativa no contexto do ensino público em Mato Grosso — era prevista um curso primário de dois anos, este tempo estendia-se para três anos nas escolas isoladas urbanas (diurnas e ou noturnas) e escolas reunidas. Até 1940, conforme relato apresentado pelo Interventor Julio Strübing Müller108, somente o ensino primário ministrado pelos grupos escolares tinha duração de quatro anos e, portanto, dava ao aluno condições de dirigir-se ao ensino secundário; a partir deste ano, ainda de acordo com o chefe do executivo estadual, as escolas reunidas também foram autorizadas a manter a quarta série primária. Em outras palavras, a prática educativa pública, nestes termos, não só contribuía para manter as diferenças internas próprias a modalidades de escolas que se dirigiam a “distintos” tipos de cidadãos, reforçando desta maneira as diferenças sociais que estavam presentes na base desta estrutura, como vinha reforçar a evasão anteriormente apontada.

Ainda sobre a relação entre matrículas e séries do ensino primário, cabe destacar a participação dos discentes matriculados nas escolas pré-primárias, supletivas e complementares. Sobre a escola pré-primária, ainda no começo da década de 30, o Presidente Annibal Benicio de Toledo lamentava que

108 MATO GROSSO. Relatório apresentado ao Sr. Dr. Getúlio Vargas pelo Bel. Julio Strübing Müller, no

“Até hoje só conseguimos ministrar no estado o ensino primario e o secundario, faltando-nos em absoluto a educação preescolar dos jardins de infancia e a instrução superior. (...) Seria, entretanto, de desejar a creação, logo que pudessemos, dos jardins de infancia, para que o professor colhesse a creança nos seus primeiros annos e, afastando-a desde essa edade, a mais plastica da vida, de influencia menos beneficas (sic), pudesse despertar-lhe o gosto pelo saber e incutir-lhe no espirito o amor e a noção de disciplina.”109

Desta feita, já na metade dos anos 30 registrava-se a presença de escolas pré- primárias no estado, indo ao encontro das novas diretivas educacionais em defesa da atividade escolar nessa fase da infância, idéia para cuja propagação foi importante a participação de educadores ligados ao escolanovismo. Não se tem notícia, contudo, que este tipo de escola tenha sido criado pelo poder público, em suas várias instâncias governativas, naquele período110.

Sobre o ensino supletivo, não são encontrados dados para outros anos do período em estudo, exceto para o ano de 1939111. Das matrículas aí registradas, 325 eram de alunos matriculados em Cuiabá (61,0%), ficando o restante (208 alunos, ou 39,0% do total de matrículas) espalhadas pelo interior do estado.

A escola complementar, ou quinta série do ensino primário, prevista em lei pelo Regulamento de 1927, funcionava como

“(...) cursos complementares destinados a estabelecer, do ponto de vista dos methodos, dos programmas e do regimen das aulas, a transição entre o ensino primario e o secundario, no Estado.”112

Tinha este curso duração de um ano, sendo que a gratuidade do ensino primário estendia-se a ele. Sua grade curricular compreendia as seguintes matérias: Português; Aritmética; Morfologia; Geometria; Desenho; Geografia; História do Brasil; Instrução Moral e Cívica; Ciências Físicas e Naturais. O pequeno crescimento verificado no número

109 MATO GROSSO. Mensagem apresentada á Assembléa Legislativa e lida na abertura da 1.ª Sessão

Ordinaria de sua 15.ª legislatura. Cuyabá: Typ. Official, 1930. p. 40-41. NDHIR-UFMT

110 Kischimoto traz referências, por um lado, sobre a participação dos educadores escolanovistas na defesa do ensino pré-primário. Apesar disso, enfatiza a inexpressiva e irregular participação do Estado na expansão destes estabelecimentos, pelos menos nas sete primeiras décadas deste século. KISCHIMOTO, Tizuko Morchida. A pré-escola na República... p. 62 et seq.

111 É interessante frisar que desde 1937, em Cuiabá, funcionava a Escola Noturna Pedro Gardés, que atendia simultaneamente alunos trabalhadores que não dispunham de tempo para a escola diurna e aqueles que não puderam freqüentar, regularmente, o ensino primário fundamental.

de alunos matriculados no curso complementar, nesse período (de 1,9% das matrículas do ensino primário em 1935, chegou a 2,6% em 1939, vindo a decrescer em 1942, para 0,1% - Tabela 1.7.), refletia a mesma tendência, já apontada, de afunilamento do número de alunos matriculados nos últimos anos do ensino primário, ainda mais que desta feita se tratava dos estudantes que pretendiam ingresso no ensino secundário. Além disso, esses cursos localizavam-se sobretudo nas maiores cidades, em geral naquelas que possuíam grupos escolares e ou escolas reunidas, e como dito acima, seus alunos deviam dirigir-se ao grau seguinte de escolaridade, cujas unidades, naquele momento, reduziam-se a algumas cidades do estado, como Cuiabá, Campo Grande, Corumbá, entre outras, como será mostrado a seguir.

Outro fator que vem somar-se aos anteriores é a localização dos alunos matriculados. Assim, ainda de acordo com a Tabela 1.7., em média 68,5% dos alunos matriculados estavam na zona urbana — incluindo-se aí as escolas distritais — com 31,5% dos alunos, em média, freqüentando as escolas rurais113. Conhecidas as dificuldades para a manutenção das escolas rurais, pode-se concluir que era neste setor do ensino primário que se concentravam os maiores índices de evasão, acrescidos do fato de que essas escolas normalmente abrangiam apenas dois anos de escolaridade. Daí que a maior parte das matrículas estivessem concentradas nas escolas citadinas.

Finalmente, em relação à distribuição das matrículas quanto à dependência administrativa, a tendência naquele momento, em termos de Brasil, com a predominância da presença do ensino primário estadual, também revelou-se em Mato Grosso, em que cerca de 61,4% das matrículas eram de alunos oriundos da escola primária filiada ao governo estadual (Tabela 1.7.), no período entre 1935 e 1942. O ensino primário municipal, ainda pouco expressivo, embora aumentando sua participação no início dos anos 40, contava com aproximadamente 9,6% dos alunos matriculados, em média. A escola particular, com uma matrícula média de 29,1% no período, teve sua participação mais expressiva na segunda metade dos anos 30, vindo a decrescer este cômputo nos anos

112 MATTO-GROSSO. Regulamento da Instrucção Publica Primaria do Estado de Matto-Grosso (Decreto n. 759, de 22 de abril de 1927)... p. 209.

113 A exceção a este quadro, no período, fica para o ano de 1936, quando quase dobraram as matrículas na área rural, em relação a 1935. Este fato pode ter sido fruto do atendimento a demandas específicas relacionadas a este setor, no quadro de disputas em curso no plano político-institucional mato-grossense, durante o governo de Mario Corrêa da Costa. Cf. item 1, deste capítulo.

próximos ao conflito mundial, quando suas matrículas chegaram a 25,0% e 22,6%, respectivamente nos anos de 1939 e 1942. Foram estes os anos de expressiva queda no número de escolas particulares no estado, refletindo-se, portanto, nas matrículas deste setor, cujas condições já foram apontadas.

Outro indicador que pode ser significativo para esta análise a respeito do crescimento do número de matrículas é a variação no atendimento da população em idade escolar, ou seja, da população potencialmente escolarizável114 (Tabela 1.8).

Tabela 1.8. – Crescimento do atendimento escolar no ensino primário – Mato Grosso – 1920 a 1940

Ano População de

Mato Grosso escolarizável População (5 a 14 anos) (1) População escolarizada Atendimento (2) (%) relativa no Variação atendimento (%) 1920... 246.612 65.493 9.419 (3) 14,4 100,0 1940... 432.265 88.174 25.803 (4) 29,3 114,9

(1) Devido às classes de idade utilizadas nos recenseamentos destes anos, só foi possível considerar a população entre 5 e 14 anos.

(2) Percentagem da população escolarizável que está recebendo instrução. (3) Alunos matriculados em escolas primárias.

(4) Pessoas de 5 a 14 anos que estão recebendo instrução primária.

Fontes: BRASIL, 1928: 3.; JACOMELI, 1998: 140; 150.; IBGE, 1952: 1; 16.

No período 1920-1940 houve um aumento de 75,0 da população mato-grossense, da mesma forma que aconteceu um crescimento de 34,6% na faixa de idade entre 5 e 14 anos e de 173,9% no número de pessoas freqüentando a escola primária, nesse mesmo intervalo etário, nos 20 anos considerados. Além disso, a população escolarizável, que perfazia 26,6% da população total de Mato Grosso em 1920, chegava a 20,4% em 1940, enquanto a população escolarizada totalizava 3,8% e 6,0%, em 1920 e 1940, respectivamente, em relação a população total.

Considerando ainda estes mesmos dados, em 1920, 14,4% da população escolarizável, ou seja, da população com idades variando entre 5 e 14 anos, estava freqüentando a escola primária, pública e particular, em Mato Grosso. Já em 1940, o atendimento registrou 29,3% da população escolarizável recebendo instrução elementar.

114 Considerando-se que somente nos recenseamentos gerais acontece a discriminação da população por classes de idade, esta tabela reuniu somente dados de 1920 e 1940, anos em que se procedeu a este tipo de levantamento.

Assim, houve um crescimento de 114,9% na cobertura do ensino primário, na faixa de idade entre os 5 e os 14 anos, entre 1920 e 1940115. Em outros termos, isso quer dizer que, apesar do crescimento de 173,9% no número de vagas oferecidas pelas escolas primárias em Mato Grosso, que passaram de 9.419 em 1920 para 25.803 em 1940 e do aumento do número de pessoas escolarizadas, nesta faixa de idade, em relação à população total, que passou de 3,8% para 6,0%, essa variação foi suficiente para passar a atender, no início da década de 40, somente perto de um terço da população em idade escolar do estado.