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Ensino, pesquisa e extensão: o desafio da indissociabilidade

Comecemos nossa aula enfocando uma relação fundamental que precisa ser cultivada e preservada nas instituições de ensino superior. A análise dessa relação pode, sem dúvida, nos auxiliar, a entender a importância da pesquisa no âmbito universitário. Estamos nos referindo a relação indissociável que deve sempre existir entre ensino, pesquisa e extensão, os três pilares centrais de uma instituição de ensino superior. Durante o estudo desse tipo de análise iremos também tecer considerações sobre cada um desses pilares e os desafios de mantê-los juntos em prol da qualidade da formação de novos profissionais e do próprio desenvolvimento da nação como um todo.

O artigo 52 da LDB deixa claro que as universidades devem ser concebidas como: “instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano”. Em outras palavras a universidade está fundamentada em três pilares indissociáveis: Ensino, pesquisa e extensão. Do ponto de vista histórico, as funções de ensino, pesquisa e extensão foram contempladas pelo Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931, considerado por Fávero (1980) o marco estrutural da concepção de universidade em nosso país. Vamos conhecer melhor a importância de cada um desses pilares:

O ensino é da ordem do que já se sabe e está diretamente relacionado a formação sócio-cultural e específica do futuro profissional a ser diplomado nas mais diferentes áreas do conhecimento através de atividades planejadas e didaticamente estruturadas. :: LDB:

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.

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A pesquisa, ao contrário, é da ordem do que não se sabe. Ela se foca nos pontos de interrogação, das dúvidas, dos questionamentos, das novas demandas dentro e fora da universidade, permitindo a expansão do conhecimento científico, a melhoria da qualidade de vida e em última instância a satisfação da curiosidade humana. Através da pesquisa é possível renovar o ensino, favorecendo a “oxigenação” do mesmo e evitando que este, depois de certo tempo, caia numa espécie de “ mesmice”. Um dos sinais mais característicos de diferenciação de uma faculdade para uma universidade é o justamente o envolvimento e compromisso desta última com a pesquisa.

A extensão, por sua vez, diz respeito ao compromisso social e político da universidade com a sociedade no sentido de partilhar, de divulgar e de aplicar na mesma os conhecimentos culturais, científicos e técnicos produzidos na universidade. Faria (2001) entende que a extensão universitária como um processo educativo, cultural e científico que articula ensino e pesquisa viabilizando a relação transformadora entre a universidade e a sociedade. Trata-se de uma via de mão dupla que por um lado favorece a sociedade que passa a ter acesso aos benefícios dos conhecimentos práticos e teóricos produzidos no âmbito universitário e da comunidade acadêmica que encontra na sociedade uma oportunidade singular de colocar em prática os conhecimentos aprendidos em sala de aula.

Esses três pilares devem estar associados visando além da excelência na formação de profissionais, o cultivo nos mesmos de um desejo permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional do comprometimento com a busca de soluções e alternativas para os problemas do mundo presente, de modo particular, os nacionais e regionais de forma cidadã (como sugere o artigo 43 da LDB).

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EXERCÍCIO 1

Faça uma análise com suas palavras da importância da indissociabilidade no âmbito universitário entre: ensino, pesquisa e extensão. ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

É importante dizer, e existem muitas discussões nesse sentido, que, muito embora a universidade tenha sido, já há alguns séculos, o lugar que a sociedade construiu para trabalhar com o conhecimento da maneira mais estruturada em termos de sua produção científica e divulgação, isso não significa que ela seja o único lugar onde o conhecimento é produzido cientificamente, uma vez que existem outras instituições favorecedoras deste tipo de conhecimento como empresas dos mais diferentes ramos de negócios que investem em pesquisa, sendo algumas até mesmo parceiras das universidades oferecendo a estas através de diversos tipos de convênios e associações uma intercâmbio de idéias, recursos materiais, financeiros e principalmente recursos humanos (sendo a COPPE na UFRJ – hoje considerada o maior centro de ensino e pesquisa em engenharia da América Latina - um ótimo exemplo desse tipo de cooperação). As discussões, que não são poucas, referem-se desde a perda de um determinado monopólio do conhecimento por parte da universidade a interesses político-econômicos envolvidos na produção de pesquisas e até questões de cunho ético sobre o limite das mesmas e as pressões comerciais.

Tais discussões envolvem diferentes interesses e ideologias que afetam direta e indiretamente a :: COPPE:

Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia – UFRJ.

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produção científica no país e seu desenvolvimento de modo geral. Na área da Ciência e Tecnologia (C&T), por exemplo, Cruz (2008) denuncia como o utilitarismo que tem pautado inúmeras discussões de direita e de esquerda. Uma face, a do utilitarismo de direita, define como principal função das universidades o apoio às empresas, para que elas se tornem mais competitivas, mantenham o ritmo das exportações, o crescimento da economia do país etc.; a outra face, o utilitarismo de esquerda, define essa função principal como sendo a de ajudar a sociedade brasileira através de ações imediatas a elevar a qualidade de vida da população reduzindo as desigualdades e aprimorando serviços básicos como educação, saúde, segurança e transporte.

Discussões a parte o fato é que ambos os lados possuem relevância uma vez que nosso país precisa tanto de indústrias competitivas usuárias do conhecimento quanto de políticas e meios para favorecer um incremento de sua qualidade de vida. Cruz (2001) deixa claro que a força da Universidade não está no pretenso monopólio sobre o conhecimento e sim, na capacidade de gerar um tipo especial de conhecimento, na habilidade em trabalhar com ele e, principalmente, na competência em formar e educar pessoas para continuarem a executar ambas as tarefas.

EXERCÍCIO 2

Como você se posiciona diante da parceria entre as pesquisas feitas na universidade e as pesquisas efetivadas no âmbito empresarial?

____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ :: Utilitarismo: Tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX. Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação mas também a de todos afetados por ela.

Fonte:

http://www.cobra.pa ges.nom.br/ft-utilitarismo.html

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Outro problema levantado por este autor associado a discussão na área de Ciência e Tecnologia (C&T) é que ao longo da história das Universidades, se favoreceu no ambiente acadêmico muito mais as atividades de pesquisa básica do que as atividades de pesquisa aplicada que objetivavam o desenvolvimento tecnológico. Isso estaria explicado na própria natureza das instituições que sempre valorizou mais a pesquisa básica na medida em que esta era fundamental na formação de estudantes, favorecendo o espírito científico através do incentivando ao prazer da descoberta, sem outra cobrança senão a do compromisso com o método científico. Segundo Cruz (2001) em geral, há também nas Universidades um pouco de pesquisa aplicada e bem pouco desenvolvimento tecnológico - pois, nesse caso, esta teria de lidar com dificuldades relacionadas com a propriedade intelectual do conhecimento produzido que não se coadunariam muito com a prática acadêmica, como o sigilo de determinados projetos, obrigatório no âmbito empresarial.

De maneira geral toda pesquisa é importante, independente de ser básica ou aplicada, uma vez que o importante é o compromisso com a expansão do conhecimento científico. Entretanto, parece ser inegável, que um maior equilíbrio entre esses diferentes tipos de pesquisa, em relação à determinação de prioridades no âmbito universitário, favoreceria tanto a universidade quanto a ao desenvolvimento local. Assim o ideal seria que num primeiro momento, os estudos fossem efetivados teoricamente dentro da universidade e num segundo houvesse a chance de novas pesquisas aplicadas - a partir das conclusões extraídas dos estudos no ambiente acadêmico - na realidade local, respeitando suas especificidades regionais.

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O financiamento à pesquisa é outro tema importante. A experiência mundial nos mostra que a parcela do governo no financiamento à pesquisa na Universidade deve ser majoritária e insubstituível independente da participação de empresas privadas em projetos conjuntos com a universidade. As funções da universidade em termos de educação, formação de profissionais e favorecimento do avanço do conhecimento trazem uma série considerável de benefícios sociais dificilmente apreendidos no âmbito privado (Id, 2001).

Uma recente avaliação feita pela ONU aponta que o Brasil está em 43º lugar, num grupo de 70 países, no índice de avanço tecnológico. Isto indica que o Brasil está abaixo de países como Argentina, Chile, México, Costa Rica, entre outros, em termos de aplicação do conhecimento científico (Pelegrino, 2001). Bernardo (2001) ratifica estes dados justificando que atualmente, o Brasil está defasado tecnologicamente porque o investimento nesse sentido está muito aquém do desejável. Apenas tardiamente os Estados procuraram valorizar as atividades de pesquisa, através de suas secretarias de Ciência e Tecnologia. Sublinhando que o MEC tem investido pouco em pesquisa ele esclarece que:

Do orçamento das universidades federais, a maior parte dos recursos se destina à manutenção e pagamento de pessoal. O dinheiro da pesquisa vem mesmo dos órgãos fomentadores como Finep, CNPq, Faperj. É através deles que os pesquisadores conseguem desenvolver seus trabalhos.

(Id., 2001)

Não podemos ter dúvidas quanto ao papel imprescindível da pesquisa na formação do profissional, no aprimoramento qualitativo da universidade e no desenvolvimento do próprio país. O Brasil tem dado

Quer saber mais? FINEP: Financiadora de Estudos e Projetos CNPq: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico FAPERJ: Fundação Carlos Chagas de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro

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mostras do quanto vale a pena investir em pesquisa no que se refere a conquista de determinadas posições frente a comunidade internacional especialmente no que diz respeito a pesquisas bem sucedidas nas áreas da genética (projeto genoma), da aeronáutica (aviões projetados pela EMBRAER), petróleo (PETROBRÁS) e de biocombustíveis (pesquisas da EMBRAPA). Conquistas que só foram possíveis graças a um esforço contínuo e cumulativo de educação com padrões elevados de excelência durante décadas e décadas (Cruz, 2000).

Não é à toa ciência brasileira tem cada vez mais, ela tem obtido destaque em termos de visibilidade internacional. Isso é fruto de um esforço concentrado de profissionais que priorizado a pesquisa dentre suas atividades acadêmicas. Um exemplo disso é que tem sido cada vez mais comum encontrarmos citações de artigos publicados por pesquisadores brasileiros em revistas internacionais. Além disso, segundo Cruz (2000) a produção científica brasileira quintuplicou em relação à média da década de 80 e a presença da ciência feita no Brasil cresceu internacionalmente. Podemos contar hoje com uma comunidade científica capacitada e motivada a contribuir para o avanço do conhecimento humano

Em 1999 foram formados quase cinco mil doutores. A pós-graduação evoluiu também qualitativamente, devido ao aumento na quantidade de docentes doutores e ao sistema de avaliação implementado pela Capes.

Mas para isso é preciso que se continue e se incremente o incentivo à pesquisa no país através da realização de programas de iniciação científica dentro das universidades pois estes projetos têm o mérito de despertar no jovem formando o cultivo do espírito científico e o aprimoramento de sua capacidade de

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produção de conhecimento. Segundo Maria Lúcia

Guimarães, da Coordenadoria do Programa de Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq (2001) que defende que a função do MEC seria a de formar mestres e doutores e não a de conceder recursos para investimentos em pesquisa e extensão:

O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) concedeu 14,5 mil bolsas. Há ainda outras 4,5 mil de iniciação através do Projeto Integrado à Pesquisa, também financiadas pelo CNPq, totalizando 19 mil. São 121 instituições de ensino e pesquisa contempladas com as quotas do PIBIC, entre universidades e institutos de pesquisa (Instituto de Pesquisa do Paraná - IAPAR, Instituto de Pesquisa da Amazônia-IMPA, entre outros). O Sudeste brasileiro, pela maior concentração de instituições de ensino superior e atividade científica mais intensa, já recebeu 6.865 bolsas distribuídas por 55 instituições. (...) Ao todo, cerca de R$42 milhões são gastos por ano no financiamento dos programas.

(s/p)

Todos esses dados significativos revelam o quanto a pesquisa tem sido, e precisa continuar sendo, levada a sério nas universidades em nosso país se quisermos sonhar com profissionais mais capacitados e um Brasil melhor. É preciso ir vencendo aos poucos os desafios de se fazer pesquisa e através dela incentivar a produção de respostas, alternativas, estratégias e soluções que respondam de forma simultânea as interrogações acadêmicas e as dificuldades de nossa população.

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EXERCÍCIO 3

Dentre os desafios da produção de pesquisas citados, qual você destacaria como o mais difícil de enfrentar no âmbito universitário? ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________ ____________________________________________

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