• Nenhum resultado encontrado

] a entrada em cena, na segunda metade do século XX, de movimentos sociais denominados

identitários, provocou transformações significativas

na política pública educacional [...]. A demanda por

reconhecimento é aquela a partir da qual vários

movimentos sociais que têm por fundamento

uma identidade cultural (negros, indígenas,

homossexuais, entre outros) passam a reivindicar

reconhecimento, quer seja pela ausência deste ou

por um reconhecimento considerado inadequado de

sua diferença.

Na escola − espaço social multicultural, integrador e sistematizador dos conhecimentos, construídos, historicamente, pela humanidade −, a diversidade está, intrinsecamente, ligada ao currículo, uma vez que o processo educativo envolve aspectos diversos (étnicos, culturais, raciais, religiosos, políticos, territoriais, socioeconômicos, físicos e comportamentais, dentre outros) que interferem, diretamente, na formação humana.

Portanto, a compreensão, no currículo, do conceito de diversidade implica a definição de algumas diretrizes específicas:

• a relação entre diversidade e conhecimento (valorização de conhecimentos produzidos por diferentes culturas, na busca da superação da hegemonia dos saberes considerados oficiais em detrimento dos saberes produzidos pelas minorias e em contextos não-escolares, como, por exemplo, a educação do campo, a educação de jovens e adultos, a educação indígena, a educação ambiental, a educação étnico-racial e a educação dos quilombolas);

• a relação entre diversidade e ética (formação de valores e de atitudes, condição possibilitadora de relacionamentos interpessoais focados no respeito ao outro como sujeito social, sujeito de direito e sujeito ético);

• a relação entre diversidade e organização dos tempos e dos espaços escolares (superação da rigidez e da naturalização da organização dos tempos e dos espaços escolares, condição possibilitadora da inserção da diversidade de vivências dos educandos); e

(de instrumento punitivo, classificatório e excludente para acompanhamento do processo de construção do conhecimento). Assim, o respeito à diversidade é um dos princípios fundamentais da concepção do currículo integrado. A convivência saudável e participativa, numa comunidade educativa, possibilita, a educadores, educandos, funcionários dos diversos setores, gestores e familiares, um aprendizado que vai muito além dos conteúdos escolares e do currículo oficial. Possibilita o aprendizado da vida social. É por meio dele que se aprende a conviver com as diferenças inerentes ao próprio ser humano, com as possibilidades e as limitações, os interesses e as necessidades, num movimento de interação em que prevalece a heterogeneidade, respeitando-se as regras de convivência na comunidade e na sociedade.

A relação da diversidade com o currículo dependerá, principalmente, da concepção de educação e do olhar sensível de educadores na busca de um sistema educacional inclusivo, democrático e aberto à diversidade. Trata- se de um tratamento pedagógico que deve ser implementado no cotidiano educativo.

Nesse sentido, o respeito à diversidade é um dos princípios que embasam a prática pedagógica no IFRN. Respaldado pelo princípio da igualdade, esse respeito materializa-se na ação educativa, sobretudo na relação entre educadores e estudantes em sala de aula: a forma de se conceber a educação e o papel do educador e do educando no processo de construção do conhecimento; a relação de respeito entre os envolvidos nesse processo; o estabelecimento de uma relação que prima pelo respeito à pessoa humana e pela inclusão de todos; o reconhecimento da singularidade e das diferenças existentes entre as pessoas e entre os grupos; o respeito ao direito de cada indivíduo em uma sociedade democrática; a convivência com diferentes opiniões sobre a realidade e diferentes visões de mundo; o respeito aos valores e às crenças; o exercício da tolerância e da mediação dos conflitos; e o repúdio a todo tipo de discriminação.

Na perspectiva de ampliar o atendimento às diversidades, o IFRN implantou o Núcleo de Estudos e Pesquisas Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI). Esse núcleo, concebido como espaço institucionalizado que reúne pesquisadores e interessados em diversas áreas do conhecimento, tem, como foco, as relações etnicorraciais na sociedade brasileira e, especificamente, na norte-rio-grandense.

O NEABI do IFRN é um grupo de trabalho responsável por fomentar ações, de natureza sistêmica, no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão, que promovam o cumprimento efetivo das Leis 10.639/2003 e 11.645/2008 e dos demais instrumentos legais correlatos.

No contexto nacional, os NEABI foram e vêm sendo constituídos com o objetivo tanto de facilitar a interlocução entre aqueles que lidam com temáticas acerca de negritude, africanidade e indigenismo quanto de promover pesquisas acerca dessas temáticas e de divulgar o conhecimento construído sobre questões raciais.

O NEABI do IFRN tem, como finalidades, propor, fomentar e realizar ações de ensino, pesquisa e extensão sobre as várias dimensões das relações etnicorraciais; sensibilizar e reunir pesquisadores, professores, técnicos-administrativos, estudantes, representantes de entidades afins e demais interessados na temática das relações etnicorraciais; contribuir para a ampliação do debate e da abrangência das políticas de ações afirmativas e de promoção da igualdade racial; promover, por meio de parcerias, ações estratégicas no âmbito da formação inicial e continuada dos profissionais do sistema de educação do Rio Grande do Norte; produzir e divulgar conhecimentos sobre relações etnicorraciais junto às instituições educacionais, à sociedade civil organizada e à população em geral.

O NEABI do IFRN compõe-se de professores, técnicos-administrativos, alunos e ativistas de movimentos sociais. Prioriza, sobretudo, ações que visem à superação da desigualdade racial existente no Brasil, nos mais diversos campos de atuação. Dentre esses campos, destacam-se identidades e territórios; educação básica, ensino superior e ações afirmativas; direitos humanos, violência e movimentos sociais; gênero, corpo e geração; saúde da população negra; história, literaturas e narrativas negras e indígenas; e estudos sobre África e diáspora africana.

Cabe à Instituição, portanto, fornecer, durante o processo de formação dos educandos, condições que possibilitem a ampliação da visão de mundo, mostrando caminhos e possibilidades de escolhas, tanto uns quanto outras favorecedores da inserção e da atuação cidadã na sociedade. Os caminhos e as escolhas devem ser responsáveis, ativos e respeitosos. Devem ser, sobretudo, críticos frente ao modelo social vigente, com vistas à transformação social na busca pela justiça e pela igualdade.

3.4.4 A interdisciplinaridade

A interdisciplinaridade refere-se a um princípio basilar que visa estabelecer elos de complementaridade, de convergência, de interconexões, de aproximações e de intersecção entre saberes de diferentes áreas. Do ponto de vista da materialização na prática, implica uma organização curricular e didático-pedagógica pautada na integração e na contextualização de conhecimentos. A interdisciplinaridade utiliza-se de estratégias de ensino e aprendizagem que possibilitam, ao mesmo tempo, um diálogo com as bases científicas, com a vida em sociedade, com a atividade produtiva e com as experiências subjetivas, favorecendo, aos alunos, uma formação integral.

Nesse entendimento, convém ressaltar que

a interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao