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] tem que ser pensada como uma ideia reguladora de alta abstração e não como sinônimo de modelos

e normas a serem seguidas. A história da ciência

revela não um “a priori”, mas o que foi produzido

em determinado momento histórico com toda a

relatividade do processo de conhecimento. (SANTOS,

2003, p. 12).

Santos (2003) enfatiza, ainda, que a ciência é comprometida e veicula interesses e visões de mundo construídas historicamente. Também ressalta que as ciências físicas e biológicas participam, de forma diferente, do comprometimento social, dada a natureza própria de essas áreas conceberem o objeto científico. Já com relação às ciências humanas, a visão de mundo está mais implicada no processo de construção do conhecimento. Trata-se de um processo cujo objeto científico é, essencialmente, qualitativo.

Para Raupp (2008), a ciência, no século XXI, deve ser capaz de promover processos educacionais de qualidade social, fluência entre a geração de conhecimento e a sua transformação em bens com valor econômico e interdependência entre as sustentabilidades ambiental, econômica e político- social. Assim sendo, pode-se afirmar que, na particularidade brasileira, um dos maiores desafios, no campo da ciência, é desenvolver projetos que deem um alcance cada vez mais homogêneo aos sujeitos, melhorando, assim, a qualidade de vida, conforme destaca a UNESCO (2009).

Ante esse breve histórico sobre a concepção de ciência, pode-se inquirir sobre o papel que o IFRN deve exercer junto aos sujeitos educativos e à sociedade na qual está inserido. Na resposta a essa inquirição, considere- se que é inadmissível qualquer defesa a favor da neutralidade da ciência,

entendendo-se, ainda, que o desenvolvimento científico não pode ficar restrito a um pequeno grupo de privilegiados. Também é necessário considerar que a ciência não seja tratada como uma mercadoria vinculada a interesses hegemônicos e que o conhecimento não seja concebido fora de uma perspectiva integradora e comprometida em diluir distinções artificiais entre as chamadas ciências da natureza e as humanidades.

3.1.5 Concepção de tecnologia

Tecnologia, técnica e ciência são conceitos específicos que precisam ser entendidos a partir de suas particularidades. Nesse sentido, é possível pensar a técnica como um procedimento determinado que, quando articulado com outros procedimentos, forma um conjunto de saberes configurado, por sua vez, como tecnologia. Pode-se entender, por exemplo, a arte de produzir o fogo com o choque entre duas pedras polidas como uma técnica.

O salto da técnica isolada para a articulação de saberes a partir do desenvolvimento de uma tecnologia é um elemento importante na constituição do humano. Não seria possível pensar o humano sem pensar também a tecnologia, tendo em vista que o desenvolvimento de tecnologias diversas caminha junto à eclosão da própria humanidade. Assim, pode-se pensar em técnicas particulares articuladas em uma rede de saberes que as une a outras técnicas, criando, desse modo, uma tecnologia específica.

Existe também a possibilidade de se produzir fogo e se cozinhar um determinado alimento sem que seja necessário desenvolver um conhecimento teórico acerca de alguma categoria científica. Pode-se, portanto, produzir tecnologias sem o desenvolvimento de uma ciência que formule, com um método específico, um saber teórico qualquer.

Concebe-se, então, tecnologia a partir de um paradigma mais amplo, que não se restringe a entendê-la apenas como arte de produzir coisas ou mesmo como um atributo exclusivo das engenharias. A concepção de tecnologia sustentada pelo IFRN baseia-se na compreensão de uma articulação íntima envolvendo as ideias de humanidade, de saber e de ciência.

A civilização ocidental desenvolve-se com base nessa articulação, que estabelece correlações fortes entre a técnica, a tecnologia, a ciência, o mundo do trabalho e as expressões da cultura. Nesse sentido, não há como pensar a civilização sem considerar esse inter-relacionamento.

e nomeou a civilização ocidental de “civilização da técnica”. Isso evidencia que a humanidade, atualmente, configurou sua experiência e seu contexto de eclosão a partir do uso de uma metodologia científica determinada, cuja meta fundamental é potencializar e desenvolver tecnologias possibilitadoras da previsão e do controle de fenômenos naturais. Nesse sentido, a tecnologia não se dissocia do humano e é, na verdade, a mais pura expressão da humanidade.

Assim, a ciência, na civilização da técnica, é entendida como um mecanismo de produção e de multiplicação de tecnologias decisivo para o avanço do humano sobre o meio natural. Há uma imbricação entre o surgimento dessa civilização e uma concepção humanista definidora do posicionamento do homem tanto acima quanto apartado do mundo natural. O homem é posto em foco como um proprietário privilegiado desse mesmo mundo, senhor das coisas e possuidor dos segredos ocultos da Terra.

Nesse entendimento, o que diferencia as sociedades tradicionais da sociedade atual não é a tecnologia propriamente dita. Não existem povos tecnológicos e povos não tecnológicos. Nada do que é humano está fora do campo de abrangência da tecnologia. As artes, a linguagem e os rituais sociais, ao lado das técnicas de produção da vida social e da organização da economia, são também expressões da tecnologia humana. Povos considerados pré-modernos também desenvolvem tecnologia, porque o desenvolvimento tecnológico é um elemento característico do uso próprio do imaginário radical configurador da condição humana. O que diferencia a civilização atual das sociedades tradicionais é a articulação íntima entre humanismo, ciência, mercado de trabalho e tecnologia, uma associação que promove a ideia de descontinuidade entre os homens e as coisas (ROULAND, 2003).

A civilização da técnica, exaltada no século XIX por uma ideologia positivista (visão que enxergava a articulação íntima entre humanismo, ciência, mercado e tecnologia como o estágio superior da evolução da humanidade), passou a ser problematizada, no século XX, em dois momentos fundamentais: o primeiro, a partir do período das grandes guerras (1914 – 1945); e o segundo, a partir dos anos cinquenta. O primeiro momento revela que o uso da tecnologia produzida pela civilização da técnica pode promover uma catástrofe social e humana e respaldar – se houver dissociação das implicações éticas, políticas e econômicas – ferramentas de dominação, de exploração e de genocídio. O segundo momento demonstra a urgência de se

pensar tanto no impacto ambiental que o uso das tecnologias vinculadas a essa articulação íntima causa quanto no modo de garantir a sustentabilidade.

Nesse contexto, a compreensão do tipo de educação tecnológica a ser oferecida pelo IFRN deve levar em consideração a busca por uma associação natural e social entre homem e meio ambiente, uma associação que reconfigure e redimensione as relações dos homens entre si e com o meio ao qual pertencem. Deve buscar uma associação que possa também oferecer, em conformidade com paradigmas científicos capazes de atender às demandas da contemporaneidade, um modelo alternativo de produção de tecnologias.

Além disso, a educação tecnológica a ser oferecida pelo IFRN não deve deixar de levar em consideração a contribuição das ciências ditas “teóricas” e das humanidades. As políticas de gestão, no que se refere à associação entre o ensino, a pesquisa e a extensão, devem contribuir para a construção de tecnologias sustentáveis e socialmente comprometidas com a melhoria da qualidade de vida da população. Precisam não se submeter ao domínio e ao controle do mercado que descaracterizam os sujeitos de suas particularidades e de suas potencialidades humanas e que produzem alienação no trabalho, desigualdade social e graves desequilíbrios socioambientais. Essas políticas de gestão não devem privilegiar uma concepção arcaica de tecnologia, uma visão que dissocie as engenharias das ciências teóricas e das humanidades. Isso criaria a ilusão de uma separação entre áreas de primeira, de segunda e de terceira classe, no que diz respeito à educação tecnológica.

Assim sendo, cabe, aos processos tecnológicos desenvolvidos no IFRN, a tarefa de redimensionar os modos de produção tecnológica na perspectiva de buscar a isonomia social e a emancipação dos sujeitos ante relações autoritárias e alienantes de trabalho e de subsistência; de contribuir para a constituição de uma sociedade ambientalmente sustentável; e de articular paradigmas científicos que concebam o ser humano em sua omnilateralidade, sua complexidade e sua pluralidade multifacetada.

3.1.6 Concepção de trabalho

A concepção de trabalho vem sofrendo modificações, conforme o tempo histórico e as relações políticas, socioeconômicas e culturais que se estabelecem entre os sujeitos e o seu meio. A acepção a ser perseguida está associada à visão de Marx, focalizada por Ciavatta (2005, p. 92) como

[...] atividade ontológica, estruturante do ser social,