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Entrar, permanecer e sair da gangue: norma e obediência

ANATOMIA E PERFORMANCE DAS GANGUES

5.3. Entrar, permanecer e sair da gangue: norma e obediência

O ingresso e a permanência numa gangue são regidos por códigos de honra, traduzidos na demonstração “espetacular” de coragem, força, temeridade e astúcia, predicados considerados de uma “pessoa de atitude”. Lealdade ao grupo, impiedade para com os outsiders e adversários, obediência às regras fundamentais, como a lei do silêncio, participam do mesmo código. Trata-se de valores essenciais na constituição de certo tipo de ordem destinada a tornarem previsíveis e confiáveis os comportamentos.

Assim, para tornar-se membro de uma gangue, um indivíduo tem que cumprir certas obrigações e pode ser submetido a várias provas, a fim de mostrar seu comprometimento com um determinado código de valores. Os jovens pagam “pedágios”, isto é, dão dinheiro para o grupo, mesmo que para isso tenham que roubá-lo. Ou têm que dar bebidas, sprays, bicicletas, roupas de marca – bermuda da “Ciclone”, blusa da “Píer”, sandália da “Kenner”, tênis “Adidas”, etc. Ou fazem roleta-russa. Normalmente são “batizados”, apanhando e

passando por um corredor polonês.

Entrar na gangue: o “batizado”

“O batizado era o corredor polonês, aí levava porrada de 38, bicudão, murro na cara se tu desse mole, se tu caisse no chão os caras te bicavam [...]. Tinha outro esquema: os caras falavam do ‘cu na quina’, o cara pegava você pelo braço, pela perna, pegava uma quina e lascava você lá”.

“Pra entrar tive que levar uma surra de todo mundo junto. Jogava no meio assim e só largava quando nós cansava. Não podia reclamar, e se chorar apanha mais ainda e sai do ar. [...] Surra, pau, pior que a polícia. Pau mesmo, de deixar no chão gemendo, sem dó”.

“Tem o batismo, você entra num corredor e a galera te quebra todo pra ver se você é forte mesmo pra entrar na gangue. [...] Só acontece uma vez, depois desse dia não quebra mais não”.

(Trecho de entrevistas com integrantes e ex-integrantes de gangues. Ceilândia, Samambaia e Planaltina)

Segundo Tephon, que fez parte de uma gangue da Ceilândia, um dos intuitos da realização dessas provações físicas é o de verificar se o candidato a membro do grupo conseguirá suportar apanhar sem denunciar nenhum dos pares em caso de ser apanhado pela polícia. Mas vale observar que, além do motivo exposto pelo informante, a resistência física é um elemento de extrema importância em meio a busca de prestígio e de reputação individual entre os jovens. Como comenta David Lepoutre,

[...] nesta idade da vida na qual os indivíduos são em grande parte dependentes de seus pais e, propriamente falando, não têm lugar na hierarquia social global ou mesmo local, a reputação individual não pode depender nem do capital econômico, nem do status profissional, nem mesmo do status familiar. Ela então reside inteiramente na pessoa física e nas condutas pessoais em acordo com os valores e ideais partilhados pelos membros do grupo (Lepoutre, 1997: 271-272).

Ocorrem casos em que os chamados pactos de sangue são feitos como prova de lealdade ao grupo. Os jovens autoflagelam, riscam-se, cortam-se, tatuam-se e queimam-se com cigarros, adquirindo uma marca identificatória como sinal de reconhecimento. Assim, o corpo passa a abrigar memórias que nele são cravadas, transforma-se numa espécie de “corpo-texto”, a partir do qual os jovens narram muitas das histórias de suas vidas8. Cicatrizes,

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O corpo enuncia não apenas narrativas individuais, como também condensa e expressa amplas dimensões culturais: “viver consiste em reduzir continuamente o mundo ao corpo, através do simbólico que este representa” (Le Breton, 2002:.7). Como diz Canevacci, “o corpo

hematomas e marcas de agressões corporais sofridas adquiridas ao longo da vida representam, no fundo, uma espécie de emblema usado para demonstrar o ethos da virilidade, a capacidade de se firmar como homem, a “força jovem”, ou mesmo a crença na invencibilidade diante da morte9.

Matar, brigar, desafiar e aceitar desafios, dar um tiro numa pessoa, roubar e beber sem limites podem também fazer parte dos ritos de entrada numa gangue. Todos esses atos revelam coragem e força, necessárias a aquisição de prestígio e reconhecimento entre os pares. Aqueles que se situam fora dessa ideologia da coragem não podem ser aceitos no grupo. É por isso que os chamados “Mané”, “Manezão”, “Zé Mané”, “Cuzão”, “Laranja”, não têm sequer direito de passar por essas provas: “A gente não vai querer Zé Mané no nosso meio”.10. Eles são desprezados pelos membros das gangues, que revelam persegui-los, roubando-lhes relógios, bicicletas, tênis, além de, sempre que têm chance, lhes agredir fisicamente.

Na percepção dos integrantes de gangues, aqueles que não as aderem são, de modo geral, considerados “Manés”, “mongóis”, “mongolzões”. Há, contudo,

é um mapa cultural” (Canevacci, 1990:23). Nesse sentido, vale lembrar o clássico ensaio de Pierre Clastres Da Tortura nas Sociedades Primitivas. O antropólogo assinala a importância do corpo como uma “superfície de escrita”, como superfície capaz de recebe o texto legível da lei. As cicatrizes das feridas, que durante o rito de iniciação provocam dor e sofrimento nos corpos dos jovens iniciados, são obstáculos ao esquecimento do pertencimento ao grupo. O corpo passa a desempenhar o papel de memória: “Sois um dos nossos. Cada um de vós é semelhante a nós, cada um de vós é semelhante aos outros. [...]. Nenhum de vós é inferior, nem superior. E não podereis esquecer disso. As mesmas marcas que deixamos sobre vosso corpo vos servirão sempre como uma lembrança disso” (Clastres: 1990: 129). A sociedade “dita a sua lei”, inscreve-a sobre a superfície dos corpos, e ninguém esquece da lei que serve de fundamento à vida social do grupo: “A marca sobre o corpo, igual todos os corpos, enuncia: tu

não terás o desejo do poder, nem desejarás ser submisso. E essa lei só pode ser inscrita num

espaço não-separado: o próprio corpo. [...]. A lei escrita sobre o corpo é uma lembrança inesquecível” (Clastres, op. cit: 131). Grifo do autor.

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O corpo é, sem dúvida, fundamental para o entendimento da construção social da masculinidade. Fátima Cecchetto (1998; 2004) focaliza este tema ao analisar três modalidades de lazer no Rio de Janeiro: o baile “de corredor”, uma vertente do baile funk, o jiu-jítsu, uma luta marcial, e o baile charme. O baile de “corredor” integra o confronto violento entre turmas de jovens do sexo masculino, que não temem os danos físicos que sofrem ou que provocam, ao contrário, os percebem como uma medalha. No caso do Jiu-jítsu, além do corpo atlético, forte, e o pleno domínio de técnicas de golpes de ataque e defesa, a capacidade de resistência à dor constitui um dos principais atributos do lutador. Este, tal como os jovens freqüentadores do baile de “corredor”, também costuma exibir as marcas no corpo, adquiridas nas lutas, como verdadeiros troféus. Já no baile charme, o estilo de masculinidade adotado pelos homens é não-confrontativo. A elegância – o “vestir bem” –, a sensualidade, a “educação”, a cortesia, o comportamento pacífico, consubstanciados no “corpo suave” dos charmeiros, se opõem contrastivamente ao ethos da virilidade, configurado a partir da força e da violência.

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Mané, Manezão, Zé Mané, Cuzão e Laranja são palavras usadas como sinônimo de bobo,

lugar para exceções, no qual se enquadram jovens que já deram alguma prova de valentia, força e coragem. Para estes, inclusive, não são colocadas restrições à entrada numa gangue. Afinal, já são “famosos”, ou são “muito doidões”, “de rocha”, “têm atitude”.

Assim como para ingressar numa gangue, também existem regras para o indivíduo permanecer fazendo parte de uma. O jovem deve manter-se fiel ao pacto inicial de não denunciar companheiros e seguir a lei do silêncio. Como disse um dos informantes, “tem que seguir a lei da favela”, aludindo à “cultura do

silêncio” institucionalizada nos morros cariocas, onde a população defende e protege os moradores, sejam trabalhadores ou bandidos, das agressões vindas do exterior, principalmente das perseguições policiais.

Impõem-se, ainda, como condição de permanência no grupo, não viver provocando e misturado a confusões, não correr de situações difíceis, não ter medo, “não dar mole para ninguém”. “Ter atitude” é uma expressão com a qual os informantes freqüentemente sintetizam os atributos daqueles que são aptos a integrarem uma gangue. E na periferia, segundo os jovens, para alguém mostrar que é uma pessoa de “atitude” é preciso aceitar os desafios, vingar-se, impor moral, não ser otário e nem bonzinho – “Neguinho que dá mole, todo mundo quer botar a mão” –, ter malandragem, “manha”, para solucionar os conflitos.

A “atitude”, principalmente no código masculino, é medida que estabelece o grau de reputação e respeitabilidade de uma pessoa. E alguém respeitado é alguém “considerado”, outra expressão usualmente evocada pelos jovens para se referir às qualidades dos que não permitem qualquer mácula ou desafio à sua reputação: “Pra ser considerado na periferia, você precisa roubar, matar, ser um cara grosso, tem que arranjar o que os outros tá querendo, não deixar ninguém te chamar de comédia, não deixar ninguém te tirar nada”, verbaliza Guga, 16 anos, integrante de uma gangue de pichadores 11.

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Como observa Goffman (1974b), um membro de qualquer grupo deve dar prova de que merece a consideração de seus pares e, para assegurar esta consideração, ele precisa agir em conformidade com a “linha de ação” que os outros supõem que ele adotou, caso contrário corre o risco de “perder a face”, caindo assim em descrédito. Diria que a “atitude” constitui-se exatamente numa “linha de ação” ou de conduta a qual os jovens procuram se conformar para garantir o seu valor social dentro do grupo de pares. A busca de “consideração” como elemento caracteristicamente masculino é um dos temas abordados por Lins & Silva (1990) no ensaio sobre Bandidos e Evangélicos: extremos que se tocam. O tema também vem à tona no estudo de Cecchetto (2004) sobre Violência e Estilos de Masculinidade no Rio de Janeiro, no qual a

Andar armado, carregar o “ferro” (arma de fogo), é apontado como outro elemento de linha de frente que assegura a reputação localmente, entre os pares, diante de outras gangues/galeras e também entre as meninas, que, segundo os jovens, sentem-se protegidas e “gostam de meninos que têm arma”.

Desse modo, possuir uma arma passa a ser uma necessidade dentro da lógica da busca de “consideração” e o “ferro”, símbolo visível de poder e prestígio, torna- se “fetiche” entre os jovens12.

A busca de “consideração” é uma batalha cotidiana em que a respeitabilidade deve ser alcançada a qualquer preço. Ser preso pode representar uma forma de mostrar valentia, “impor moral” e alcançar status. Uma outra maneira de se fazer respeitado, e também temido, é a disposição para matar: “Pra te respeitar você tem que chegar assim, derrubar e matar uma pessoa. Aí ninguém te critica”13. Quanto maior o número de homicídios cometidos, maior é a

reputação da pessoa, que ganha fama, prestígio e dá prova de grande virilidade. Esta, desse modo, se expressa como uma lógica de “ação” no sentido dado por Goffman (1974a), segundo o qual uma ação significa participar de situações fatídicas parecidas com os jogos de azar. Nessa perspectiva, a virilidade é o horizonte de sentido que se encarrega de desenvolver a capacidade de administrar a fatalidade, considerada inevitável e para a qual uma das respostas seria a demonstração da hombridade plasmada na capacidade de eliminar o “outro”, o inimigo, pela morte.

autora revela que, por exemplo, no circuito masculino das galeras funks, a aquisição de prestígio e consideração entre os pares depende da “disposição” permanentemente demonstrada para a luta. Nesse grupo, “ter disposição” é uma expressão que sintetiza uma espécie de norma local de masculinidade que privilegia a força física e uma moralidade da ação. O mesmo tema comparece ainda no estudo de Marcos Alvito sobre a favela carioca de Acari. Naquele contexto, “ser considerado é uma expressão que sintetiza a qualidade daquele que sabe ser amigo, companheiro e igual, que não busca elevar-se acima dos outros, mas tampouco permite qualquer arranhão ou desafio à sua reputação, que não ‘baixa a cabeça’ por nada”. (Alvito, 1998:195).

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O papel das armas de fogo na vida dos jovens é um tema que será um pouco mais aprofundado ainda nesta parte. Vale a pena, desde já, lembrar das palavras de Alba Zaluar sobre o trágico quadro com a qual se deparou meio à população pobre do Rio de Janeiro. Comentando sobre a participação dos jovens no crime organizado, a antropóloga fala do prestígio das armas entre eles: “estas armas tornaram-se fetiches na cintura de adolescentes franzinos e gatilhos mortífero nos seus dedos. ‘Revolver na cintura impõe respeito’, eu aprendo” (Zaluar, 1994a: 10).

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No Rio de Janeiro, Alba Zaluar encontrou uma situação idêntica: “‘Ser um matador’, ‘ter disposição para matar’, faz um garoto ‘criar fama’” (Zaluar, 1994a: 10). As noções de honra e respeito, presentes entre os jovens da periferia de Brasília, coincidem com as observadas pela antropóloga entre os jovens pobres da cidade do Rio. Ver também Zaluar (1985).

Tephon, que hoje integra um grupo de Rap e está distante de seus ex- companheiros de gangue, reproduz, no entanto, ao nível do discurso, a valorização do homicídio como dimensão fundamental da virilidade e da honra. A história de seu pai, assassinado num bar da Ceilândia, dá a medida exata de como essa valorização pode ser internalizada e desempenhar um papel fundamental na personalidade e atitudes do indivíduo. Tephon conta que o assassino de seu pai o fez por vingança, como um acerto de contas antigo. Tratava-se de um homem muito respeitado e temido na cidade, ele próprio o respeitava, pois ao longo dos anos acumulara para si, em número, além dos assassinatos que cometera com as próprias mãos, os assassinatos cometidos por aqueles a quem matara, inclusive os cometidos pelo pai de Tephon. Fantasia do rapaz? O que importa não é tanto a veracidade de sua história, mas sim a insistência do jovem em repeti-la, numa valorização excessiva do homicídio como medida de respeitabilidade e honra do indivíduo. Além disso, acredito que Tephon, com essa e outras de suas histórias semelhantes, no fundo queria transmitir à pesquisadora a certeza de que, embora tivesse deixado a gangue, continuava sendo “homem” e, como tal, não perdera a sua disposição para matar.

Nem todos os jovens com quem conversei estiveram presos ou chegaram a matar alguém. Interessa, porém, chamar a atenção para o fato de haver uma avaliação moral positiva dessas situações, o que pode ser um passo importante na adesão à vida criminosa. Além disso, revelam ter em mente um modelo de honra que em nada contribui para conter a avalanche de violência e brutalidade que permeia a sociedade brasileira, sendo a maior prova disso a facilidade com que “bandidos formados” (Zaluar, 1985) jogam com a morte alheia – e a sua própria – para assegurar sua reputação e prestígio.

Para entrar e permanecer numa gangue é necessário, como disse, “ter atitude”, dela decorrendo a “consideração” pelo grupo. A saída, no entanto, depois de partilhadas experiências e vivências, de assumido o compromisso com pactos preestabelecidos, normalmente, torna-se difícil, pois pode redundar em quebra dos princípios de fidelidade e honra acordados pelo grupo. Quem

deseja sair é mal visto, pode apanhar e sofrer agravos provocados pelos companheiros.

Há casos em que os jovens, ao desligarem-se de sua gangue, são obrigados a desaparecer, a mudar de endereço e de cidade satélite: “Pro cara sair assim tem que passar mais de dez anos sem aparecer aqui, ele tá marcado, nem virando crente ele escapa”, diz o integrante de uma delas. Um ex-membro de gangue,

explica as dificuldades, as perseguições e ameaças que enfrenta por deixá-la, após entrar para a Igreja Universal: “eles ainda estão atrás de mim. Eu tenho que viver fugindo. É de Planaltina pra Ceilândia, pra Samambaia. Onde eu vou parece que eu enchamo”.

Os obstáculos impostos para um integrante sair de uma gangue não são os mesmos em todas as situações, podendo variar em função do tipo de gangue ou da imagem do indivíduo, de sua reputação. Afastar-se, por exemplo, das gangues que se dedicam apenas à pichação, em que os membros não têm envolvimento com as “paradas” – roubos, assaltos, tráfico de drogas... –, é mais fácil do que de outras gangues: “Não vão bater, não vão jurar de morte. Isso não existe em pichação”. No caso dos indivíduos que são muito respeitados e “considerados”,

basta explicar a razão e comunicar a saída. Eles continuam transitando no território do grupo na medida em que seus comportamentos ainda são confiáveis.

Há também casos de jovens que, quando são presos, imediatamente deixam a gangue para proteger o grupo da polícia, pelo risco sempre presente de terem que revelar os nomes dos companheiros. Essas saídas não têm, de fato, efeito de verdade, sobretudo porque os jovens continuam, nos espaços carcerários e/ou correcionais, a responder pelo coletivo e a respeitar o princípio de fidelidade ao grupo diante de outros grupos. Uma vez colocados em liberdade, adquirem um status maior entre os pares.

As motivações que levam os jovens a abandonarem as gangues são diversas: estar no alvo de outras gangues; estar “jurado”, ameaçado de morte; tornar-se maior de idade; aderir a uma religião; pressão familiar; fugir das drogas. Alguns jovens afirmam ter deixado o grupo porque não viam futuro, tinham muitos gastos com o jet (spray usado nas pichações); outros falam que não queriam correr o risco de serem presos, de levarem tiros, de morrer; ou

que temiam tornarem-se ambiciosos e verdadeiros bandidos, como narra um ex-integrante de uma gangue da Samambaia:

Você começa a roubar coisinha pouca. Aí você quer uma coisa mais alta. Nisso o lucro está aumentando só que você está caindo mais. Você vai ter mais dinheiro pra comprar uma bermuda, uma camisa, drogas e você está só se acabando. Uma hora você vai cai e aí os policiais vão estar mais perto de você

Observa-se que, diferentemente da entrada, não há nenhum sinal simbólico ritual da saída das gangues. Os jovens não elaboram ritos que marcam uma ruptura, simplesmente as abandonam paulatinamente, alguns enfrentando mais, e outros menos, obstáculos impostos pelo grupo. Acontece, de modo não raro, deixarem as gangues e encontrarem noutras atividades signos de outros sentidos relativos a “ser jovem”, como no caso daqueles que aderem ao Hip Hop, a grupos jovens de igrejas ou a alguma modalidade esportiva (ver capítulo 6).

Do que registrei de conversas e de entrevistas com jovens integrantes ou não de gangues, procurei repetir pedaços de entendimento recolhidos deles próprios sobre as motivações que levam jovens a formarem, integrarem e abandonarem uma gangue. Embora esse entendimento se mostre muitas vezes contraditório, é certo que a maneira como descrevem tais situações revela valores culturais importantes, como honra masculina, solidariedade grupal e determinadas condutas morais. Isso fica ainda mais claro quando mergulhamos um pouco mais fundo na tentativa de compreensão das dinâmicas das gangues.