• Nenhum resultado encontrado

ENTRE O SCRIPT E O IMPROVISO: A ELABORAÇÃO DO ROTEIRO

No documento barbaragarridodepaivaschlaucher (páginas 185-188)

Tão logo aplicamos os questionários e tabulamos os dados obtidos124, começamos

os preparativos para a realização do grupo focal entre uma parcela dos jovens respondentes. A primeira providência tomada foi a construção de um roteiro que nos permitisse guiar as discussões de modo flexível. As perguntas e estímulos elaborados visavam criar um ambiente favorável à troca de opiniões. Nossa principal preocupação era possibilitar a livre expressão dos sujeitos por meio de uma conversa coletiva, de modo que fosse possível a todos os participantes se posicionar, criticar, persuadir, concordar e abrir nossos olhares para a questão trabalhada não só sob vieses previamente pensados, mas também a partir de novas perspectivas que pudessem emergir no calor das discussões.

O roteiro elaborado nos proporcionou a organização da reunião em cinco momentos distintos, porém relacionados (apêndice B). Os trabalhos do grupo de oito pessoas começaram com uma recepção calorosa e informal dos jovens participantes. Após agradecermos a presença de todos, partimos para uma breve apresentação da presente pesquisadora, que também atuou como moderadora das discussões, e dos dois pesquisadores observadores125. Além disso, explicitamos o tema da dissertação, os critérios para a escolha

dos sujeitos, os objetivos do encontro e nossas expectativas.

Nesse primeiro momento, buscamos baixar os níveis de ansiedade dos jovens presentes ao explicitarmos o funcionamento de um grupo focal. Além da dinâmica do encontro, deixamos claro que todas as opiniões e manifestações eram relevantes e que todos

124

Ver capítulo cinco dessa dissertação.

125 Os mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFJF, Roberta Braga e Allan Gouvêa,

atuaram como documentadores na sessão de grupo focal realizada para esse estudo. Os pesquisadores desenvolvem seus trabalhos na mesma linha de pesquisa da presente autora, Comunicação e Identidades, com foco no estudo do telejornalismo. Além disso, ambos atuam no Grupo de Pesquisa Jornalismo, Imagem e Representação, coordenado pela professora doutora Iluska Coutinho.

estavam livres para concordar e discordar uns dos outros, já que o surgimento de diferentes pontos de vista é algo natural e esperado. Sendo assim, não existiam posicionamentos certos ou errados, de modo que todos poderiam se sentir à vontade para participar. Outro aspecto observado foi o papel do moderador: era preciso esclarecer que a conversa deveria acontecer entre os participantes, não sendo necessário se reportar ao facilitador a todo o momento.

O trabalho não se caracteriza como entrevista coletiva, mas, sim, como proposta de troca efetiva entre os participantes. O moderador deve explicitar o seu papel, que é o de introduzir o assunto, propor algumas questões, ouvir, procurando garantir, de um lado, que os participantes não se afastem muito do tema e, de outro, que todos tenham a oportunidade de se expressar, de participar (GATTI, 2005, p. 29).

Vale ressaltar, ainda, nosso cuidado em respeitar o princípio da não diretividade, exposto por Bernardete Angelina Gatti (2005), para quem o facilitador deve agir de modo a não incorrer em ingerências indevidas, como intervenções que demonstrem sua opinião pessoal, apoio ou discordância em relação a determinado comentário do grupo.

Explicitamos, também, a forma de registro do grupo focal. Conforme expomos anteriormente, lançamos mão de dois relatores, “que não interferem no grupo e fazem anotação cursiva do que se passa e do que se fala” (GATTI, 2005, p. 24). A função dos documentadores, segundo Maria Eugênia Belczak Costa (2006), é facilitar a análise dos dados, já que eles se preocupam apenas com o registro dos comentários verbais e não verbais dos participantes. Além disso, gravamos o encontro em áudio e vídeo. Ao todo, utilizamos dois gravadores e duas câmeras filmadoras a fim de garantir o maior número de dados possíveis e capturar as expressões faciais dos participantes.

Vale ressaltar nossa preocupação em garantir o sigilo dos registros e dos nomes dos jovens envolvidos, aspecto que foi enfatizado nessa primeira parte do grupo focal. Para facilitar esse processo, os participantes foram identificados por meio de etiquetas com nome e número, sendo o último utilizado para se referir a eles nessa dissertação.

Em seguida, apresentamos a rotina da reunião, que contou com a exibição de dois vídeos, um no início e outro no final do encontro, perguntas e discussões, além de uma confraternização entre os participantes, quando foi servido um lanche. O bate-papo entre os jovens durou, aproximadamente, duas horas e sete minutos.

Para “quebrar o gelo” dos minutos iniciais do grupo focal, solicitamos que cada um dos participantes se apresentasse para, então, darmos sequência aos nossos trabalhos. Chegamos, assim, ao segundo momento previsto no roteiro para o encontro entre os sujeitos de nosso estudo. O objetivo era promover uma espécie de “aquecimento”, por isso, optamos

por começar com a exibição de um vídeo, cujos detalhes serão explicitados no item a seguir, como uma forma de estimular a participação dos jovens.

Cientes de que “a investigação qualitativa permite identificar a satisfação e a percepção que produtos culturais, como programas de TV, revistas, seriados, textos populares, provocam no receptor desses conteúdos” (COSTA, 2006, p. 182), ao exibirmos uma compilação de reportagens criamos um ambiente propício a perguntas menos estruturadas, como “de qual programa vocês gostam mais?”, entre outras de fácil entendimento e diretamente relacionadas à reação dos participantes ao estímulo.

Essa primeira abordagem visava introduzir o tema principal das discussões por meio de questões mais amplas – o que não significa a ocorrência de perguntas que pouco contribuem para fomentar a conversa e gerar dados e interpretações na análise posterior. Um exemplo seriam aquelas que levam a manifestações do tipo “sim” e “não”, evitadas ao longo de todo o processo.

Desse modo, a primeira bateria de perguntas teve como tópico principal questões relacionadas à representação dos jovens nos telejornais e programas jornalísticos da TV aberta brasileira. A partir de suas impressões sobre o assunto, motivadas não só pelo vídeo, mas em suas experiências cotidianas, demos início as interações do grupo, que se revelaram enriquecedoras.

Vale lembrar que, na prática, a presente pesquisadora buscou adotar uma postura flexível, não ficando presa ao roteiro. No âmbito desse trabalho, seguimos a sequência prevista no script apenas como uma forma de organizar nosso relato. Desse modo, ao longo das discussões surgiram novas perguntas, outras foram respondidas sem a necessidade de intervenção e outras tiveram que ser remanejadas, a fim de dar continuidade às interações.

Passado esse momento de introdução ao tema, seguimos para a terceira fase do grupo focal, que compreendia questões relativas a formatos e narrativas jornalísticas. Buscamos, assim, aprofundar a conversa por meio da identificação das preferências e críticas dos sujeitos em relação aos conteúdos veiculados. Em seguida, chegamos ao núcleo principal da discussão, com foco no acesso, consumo e apropriação da informação jornalística, especialmente aquela veiculada em formato audiovisual. Por fim, abordamos questões relativas à atuação dos jovens enquanto produtores, tópico explorado com o auxílio de um vídeo que mostrava quadros de telejornais e iniciativas independentes que “promoviam” uma participação mais ativa dos jovens.

A seguir, explicitamos o processo de escolha dos participantes e do local e data de realização do grupo focal.

No documento barbaragarridodepaivaschlaucher (páginas 185-188)