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Telejornais em busca da juventude: algumas experiências

No documento barbaragarridodepaivaschlaucher (páginas 93-100)

4.2 A(S) JUVENTUDE(S) NA TV

4.2.2 Telejornais em busca da juventude: algumas experiências

Diante de um público a cada dia mais conectado e sedento por participação, as empresas (tele)jornalísticas começam a apostar em estratégias de aproximação que incorporam o uso de novas tecnologias de comunicação e informação à sua rotina de produção e distribuição de conteúdos. Temendo ficar em segundo plano, buscam se associar às mídias digitais, tomando emprestado as potencialidades de interação e participação que a natureza do veículo televisivo não oferece. Assim, estabeleceriam um vínculo mais próximo da realidade da nova geração de telespectadores/usuários.

Para além de interpelar a audiência, usar tons menos formais e incorporar o cidadão na narrativa midiática, convidariam o público a fazer parte do processo comunicativo de forma mais ativa, por meio do envio de imagens, sugestões, críticas e pautas e da possibilidade de assistir e compartilhar seus conteúdos online, participar de enquetes e chats e acompanhar os trabalhos de uma equipe jornalística via mídias sociais, blogs e diários de redação disponíveis na rede.

Em artigos recentes produzidos pela presente pesquisadora em co-autoria com Iluska Coutinho, foi possível observar como narrativas e formatos jornalísticos buscam se aproximar da audiência jovem por meio de linguagens e ações que remetem ao ciberespaço.

Um de nossos objetos de análise foi o Jornal Hoje, no ar pela Rede Globo desde 1974. A escolha foi motivada pelo público alvo do programa, formado por jovens e mulheres. Dois quadros, em especial, constituíram o foco de nosso interesse: “Câmera do JH” e “Jovens do Brasil”, que evocavam mais claramente a tentativa de aproximação do público por meio do uso de novas tecnologias, sendo que o último era produzido diretamente para atrair o gosto dos novos telespectadores.

O quadro “Camêra do JH” propõe, a cada mês, uma temática diferente e, com sua câmera exclusiva, promete sempre “um jeito novo de enxergar o mundo à nossa volta” (JORNAL HOJE, 2012). O texto online que explica o projeto destaca: “a câmera do Jornal Hoje vai focar nos assuntos que mais despertam o interesse dos nossos telespectadores” – de modo a colocar as expectativas de seu público cativo acima do interesse público. Dessa forma, a “câmera do JH quer chegar pertinho de você. Tão perto que você poderá fazer parte deste projeto”.

Na nossa página na internet, o telespectador poderá acompanhar as imagens captadas no país e enviar seu vídeo [link], imagens da sua cidade, do seu estado, que possam ser mostradas no Jornal Hoje. A nossa equipe vai viajar com um computador que enviará todas as imagens e informações para a nossa redação, em tempo real. O primeiro tema a ser discutido, por nós e por vocês, já foi definido [...]. Fique ligado no Jornal Hoje, porque em 2012, o nosso foco está em você. (JORNAL HOJE, 2012, grifo nosso)

Por meio de sua página na internet, o telejornal reafirma o poderio tecnológico da emissora e ressalta a utilização de seus recursos a fim de possibilitar a participação do público na produção de seus conteúdos. Além disso, deixa claro que o espaço eletrônico/digital está aberto a todos para a discussão dos temas exibidos e que o principal foco de interesse do noticiário são seus telespectadores (SCHLAUHCHER, 2012).

Por sua vez, o quadro “Jovens do Brasil” foi abordado tendo em vista sua proposta explícita de estabelecer um vínculo com a audiência juvenil por meio da TV e, principalmente, da internet, já que toda a participação dos jovens ocorre no ambiente virtual. A convergência midiática é utilizada aqui de forma estratégica para chegar aos telespectadores jovens e adolescentes (SCHLAUCHER; COUTINHO, 2013).

O quadro funciona da seguinte forma: tudo começa na escolha do tema principal. O assunto de cada reportagem é decidido em uma enquete na página do Jornal Hoje. Feito isso, é anunciado na TV, no site, no Twitter e no Facebook do telejornal a data e o horário do próximo bate-papo online. Assim, o JH prepara a audiência juvenil para mais uma edição do “Jovens do Brasil”. No dia marcado, em um espaço próprio, Evaristo Costa, apresentador do

telejornal, e duas editoras do site do programa conversam com os jovens, que participam via redes sociais ou página do JH na internet.

“Durante a conversa serão definidos os temas da reportagem e também encontraremos nossos personagens. Esse cara pode ser você, desde que tenha uma boa ideia, opinião ou história para contar” (SITE DO JORNAL HOJE, 2013)46. Depois do bate-papo virtual, gravado em um cenário próprio, a equipe do JH continua produzindo a matéria. Ainda é possível mandar vídeos e sugestões: “vamos ouvir com mais atenção os internautas que mandaram as melhores IDEIAS, OPINIÕES e HISTÓRIAS. Evaristo vai entrevistar você, pela internet, na sua casa ou escola” (SITE DO JORNAL HOJE, 2013, grifo do site). Em seguida, “as principais dúvidas, os casos mais curiosos e as histórias mais originais serão levados para ESPECIALISTAS, que irão opinar e dar conselho” (SITE DO JORNAL HOJE, 2013, grifo do site).

Por fim, “todo o material gravado, - com câmeras de estúdio, webcams, GoPro47 e

câmeras de celular - será editado, misturado e remixado. A REPORTAGEM, com a sua cara, será exibida para todo o Brasil pelo JORNAL HOJE” (SITE DO JORNAL HOJE, 2013, grifo do site). Ressaltamos, aqui, uma preocupação com o formato da matéria. A fase de pós- produção do conteúdo é destacada no site a fim de deixar claro o uso das novas tecnologias e a busca por uma linguagem próxima do universo juvenil, ainda que a partir do imaginário que os próprios profissionais têm dessa parcela da população. Essa preocupação se torna visível até mesmo na página do telejornal, principalmente por meio do vocabulário (“fala aí”, “mandando bem”, “o que rola?”, “cara”), do layout (que faz referência a interfaces digitais, com destaque para bate-papos online e redes sociais) e dos temas (skate, dança, música).

O produto final, apresentado em rede nacional uma semana após o bate-papo online, é composto por micronarrativas características do ambiente digital e da contemporaneidade. Parte dos registros audiovisuais é captada por webcams, com participação ativa dos jovens. No que diz respeito à incorporação desses sujeitos, encontramos três tipos diferentes de inserção: alguns enviam depoimentos que são lidos pelos jornalistas; outros enviam perguntas; e outros participam por meio de entrevista via Skype. Nos três casos,

46 www.jornalhoje.globo.com/jovensdobrasil. Acesso em 11/01/2013.

47 GoPro é uma empresa de câmeras digitais voltada para o publico esportista e aventureiro. Possui as

características de câmeras profissionais, porém é mais versátil para ser utilizada na captura de imagens de qualidade na prática de esportes variados, como surfe, paraquedismo, automobilismo, etc.

eles são os responsáveis pelo desencadeamento de conflitos na narrativa (COUTINHO, 2012)48.

Quanto ao formato, a busca por dramatização por meio de sons, cortes, enquadramentos e efeitos visuais se dá não só no sentido de compor o processo narrativo, mas, principalmente, tendo em vista o estabelecimento de uma relação de identificação com os jovens telespectadores e a reprodução da atmosfera de um bate-papo virtual. O ritmo das cenas é dinâmico e acelerado, os cortes são rápidos e os efeitos visuais abundantes.

Toda a identidade visual do quadro é construída com base nas cores do Jornal Hoje (tons de azul e amarelo), além de fazer alusão ao ambiente virtual. As mensagens enviadas pelos jovens, por exemplo, aparecem na parte de baixo da tela como uma caixa de messenger ou bate-papo. Entre outras referências utilizadas para criar as artes e efeitos, citamos as interfaces típicas de conversas via webcam, perfis de redes sociais, símbolos comuns no ambiente virtual (@, #) e a representação do conceito de rede por meio de animações que buscam passar o sentido de “conexão” e “interligação”.

Quanto aos efeitos de áudio e de transição, percebemos a utilização de sons que se aproximam dos ruídos e barulhos ouvidos quando determinados comandos ou ações são realizados no computador ou durante a navegação.

Destacamos ainda, no que diz respeito aos aspectos visuais, a utilização de enquadramentos e ângulos que reproduzem uma conversa por webcam. No caso dos jovens entrevistados, de fato, a imagem transmitida foi captada por uma câmera acoplada ao computador, o que compromete a qualidade do vídeo, se comparado ao conteúdo captado no estúdio. Porém, até mesmo os jornalistas aparecem na tela a partir de imagens semelhantes, alternadas com as gravadas profissionalmente. A junção de todos esses recursos somada à estrutura que organiza a reportagem resulta num produto de formato diferenciado, principalmente se comparado à reportagem telejornalística em seu modelo padrão. O ritmo dinâmico, como o de um clipe musical, e que tenta reproduzir a experiência de navegação na internet, busca prender a atenção do jovem telespectador por meio da identificação.

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Segundo Coutinho (2012), o estabelecimento de um conflito seria uma das principais características da narrativa de ficção, presente também nos dramas noticiosos. Ele seria o ponto de partida, aquele que impulsiona as ações das personagens em um drama. A criação de um conflito se daria a partir de uma expectativa, implícita ou explícita. Nesse sentido, a autora destaca: “o título em um produto impresso, e, em nosso caso,a chamada de cada matéria nos textos lidos pelos apresentadores, também poderiam ser usados como forma de apresentação da expectativa” (COUTINHO, 2012, p 107). Sendo assim, o desenvolvimento da narrativa seria, em linhas gerais, composto por fatos/ações que visam à resolução do conflito que aflige as personagens – ainda que no final ele não seja solucionado. Para mais detalhes, ver COUTINHO, 2012.

A partir dessas observações, constatamos que a convergência dos meios de comunicação é utilizada de forma estratégica a fim de manter e expandir o vínculo entre telejornais e audiência. No “Jovens do Brasil”, há uma profusão de vozes e dramas, todos interligados e oferecidos em um único pacote. A preocupação com a qualidade do som e da imagem às vezes é deixada de lado, mas de modo proposital, numa tentativa de aproximar TV e internet. Já os personagens, papéis representados e conflitos continuam os mesmos, ainda bem próximos das histórias narradas em videoclipes e seriados americanos – tudo para dialogar com a nova audiência.

Entretanto, tomando os dois quadros como exemplo, observamos que as formas de participação e interação entre público e emissora se dão nos termos dos produtores, fazendo com que o conteúdo que os telespectadores/usuários têm a oferecer ainda não seja aproveitado como uma real ponte de diálogo entre telejornalistas e audiência. As ações do programa, no que diz respeito à promoção de uma aproximação com o público por meio das mídias digitais, não exploram todo o potencial do atual cenário de convergência dos meios, podendo ser interpretadas, ainda que como uma hipótese a ser comprovada em estudos futuros, como estratégias que visam apenas alavancar o número de telespectadores.

Como coloca Jesús Galindo Cáceres (2013, p.109-110, tradução nossa),

As tentativas de articulação das formas de “difusão-dominação” com as plataformas com comportamentos de “interação-colaboração” não apenas têm êxito. Os comportamentos da “difusão-dominação” buscam adicionar a suas formas as mais novas configurações do possível no ciberespaço, investindo energia e recursos para alcançá-lo. Mas, ao mesmo tempo, as novas plataformas promovem as figuras da “interação-colaboração”, e a tensão resultante está presente, no momento, com configurações diversas, nem homogêneas e nem propensas à continuidade automática das formas sociais do passado49.

A partir do referencial teórico levantado ao longo dos capítulos dois, três e quatro, onde priorizamos a discussão acerca da televisão e do telejornalismo enquanto atores sociais de destaque nos processos de construção de identidades, suas transformações no cenário atual e suas relações com o público juvenil (nativo digital), acreditamos ter reunido, na medida do possível, o repertório necessário para nos guiar ao longo de nossa pesquisa empírica.

A seguir, relatamos nossos esforços no sentido de buscar compreender como os jovens telespectadores/usuários não só consomem, mas experimentam a informação

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“Los ensayos de articulación de las formas de difusión-dominación con las plataformas con comportamientos de interacción-colaboración no suelen tener éxito. Los comportamientos de la difusión-dominación buscan poner en su forma a las nuevas configuraciones de lo posible en el ciberespacio, invierten energia y recursos para lograrlo. Pero al mismo tiempo las nuevas plataformas promueven las figuras de la interacción-colaboración, y la tensíon resultante está presente, por el momento con configuraciones diversas, no homogéneas ni propensas en automático a la continuidad de las formas sociales del pasado” (CÁCERES, 2013, p. 109-110).

audiovisual na era digital. Nossa tentativa de responder a esse questionamento, entre outros relacionados à representação juvenil nos produtos jornalísticos veiculados na TV e às preferências e críticas desses sujeitos no que diz respeito a formatos e linguagens, se deu por meio da aplicação de entrevistas fechadas e da realização de um Grupo Focal entre jovens estudantes de jornalismo e jovens trabalhadores. Esses dados serão apresentados nos capítulos seguintes.

5 EM FRENTE À TV? COMO JOVENS ESTUDANTES DE JORNALISMO E JOVENS TRABALHADORES CONSOMEM A INFORMAÇÃO JORNALÍSTICA AUDIOVISUAL

A proposta desse capítulo é realizar um mapeamento empírico na tentativa de verificar como jovens estudantes de jornalismo e jovens trabalhadores entram em contato/experimentam o conteúdo jornalístico audiovisual na contemporaneidade – contexto em que a convergência de mídias é potencializada em função do advento das tecnologias digitais. Por meio de um estudo de recepção, buscamos responder à seguinte pergunta: como se dá o consumo da e a interação com a informação noticiosa em formato audiovisual, originalmente produzida para telejornais, entre essa parcela da população? Mais além, pretendemos também apontar as críticas e preferências desses sujeitos em relação ao conteúdo jornalístico veiculado na TV brasileira.

Ao longo de nosso estudo, levamos em consideração o lugar de destaque da juventude no que diz respeito ao uso das novas tecnologias da informação e da comunicação e das mídias sociais, que permitem uma comunicação mais participativa e um dialogo mais amplo entre telespectadores/usuários e entre estes e os profissionais da área.

Portanto, ressaltamos, mais uma vez, que a escolha dessa parcela da população como sujeito de nossa investigação é baseada, entre outros fatores, na concepção de que a ela corresponderia um perfil do consumidor moderno, conforme evidenciado anteriormente. Sua condição cidadã seria alcançada devido ao seu elevado potencial de consumo e à eterna busca pela juventude – enquanto status e “estado de espírito”. Seria pensando nos gostos, gastos e desejos desses sujeitos que os novos aparatos tecnológicos e mídias sociais, em sua maioria, seriam produzidos. O protagonismo das coletividades juvenis no uso e domínio das TICs, suas demandas e ritmo de consumo pautariam, assim, as inovações tecnológicas da era digital. A seguir, apresentaremos nosso percurso metodológico e analisaremos os dados resultantes do estudo de recepção realizado com jovens trabalhadores e jovens estudantes de jornalismo da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora e do curso de Comunicação Social do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, instituição de ensino privado da zona da mata mineira.

No documento barbaragarridodepaivaschlaucher (páginas 93-100)