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Entrevistas individuais

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 75-78)

CAPÍTULO 3 – DESENHO DA PESQUISA

3.2 Procedimentos de geração dos registros e sistematização dos dados

3.2.3 Entrevistas individuais

Esse terceiro procedimento ocorreu após a observação prévia dos registros coletados no GF e o retorno às subperguntas de pesquisa no intuito de verificar que direcionamento deveria dar a entrevista para que nos depoimentos dos participantes fossem contempladas questões, sobretudo as de cunho linguístico, que não foram mencionadas no GF. As entrevistas semiestruturadas individuais foram realizadas em Santa Elena33, nas residências dos participantes. Antes da última visita para realizar as entrevistas fui à fronteira Brasil/Venezuela duas vezes mais (4ª e 5ª visita). Na 4ª visita coletei os endereços residenciais dos alunos em suas fichas escolares e tentei localizá-los em Santa Elena, mas não consegui encontrar seus endereços. Na 5ª visita, com a ajuda de um morador de Pacaraima, localizei os endereços de 04 participantes que se dispuseram a realizar a entrevista na semana seguinte. No que diz respeito ao participante que não realizou a entrevista consegui localizá-lo apenas por telefone, o qual se negou a participar por falta de tempo. Na 6ª visita, após entrar em contato com todos os cinco participantes e confirma a participação de 04 deles realizei o segundo momento da coleta.

Para a entrevista elaborei um roteiro de entrevistas com perguntas abertas que contemplavam três eixos norteadores (anexo 3): 1) o sujeito da (na) fronteira; 2) o processo de aquisição e ensino da língua no espaço fronteiriço e 3) uso, frequência e função da língua portuguesa e espanhola. No momento da entrevista, antes de iniciá-la, solicitei a cada participante que fizesse uma breve apresentação, informado os dados pessoais, o tempo de residência na Venezuela e, de forma geral, os familiares que ali residem com ele. Após a entrevista organizei quadros

33 Exceto a de JÚLIA, embora more em Santa Elena com as irmãs, foi entrevistada em Pacaraima-BR na residência do pai.

individuais com a síntese dessas informações que me ajudaram a compor o perfil dos sujeitos da pesquisa (anexo 4).

Em seguida fiz a roteirização das entrevistas, registrando a cada 5 minutos a síntese dos pontos principais de cada eixo norteador que apareceram nos relatos dos alunos, dentre os quais foram selecionados uma parte dos dados para a análise, posteriormente transcritos. Adiante apresento uma amostra da roteirização para ilustrar melhor a forma como sistematizei os registros coletados:

ROTEIRIZAÇÃO DA ENTREVISTA julho de 2011 IDENTIFICAÇÃO: DANIEL

MIN PONTOS RELATADOS TRIANGULAÇÃO

00 ...

10

1. O sujeito da (na) fronteira

■ Relato sobre as vantagens de morar em Santa Elena:

1. custo de vida; 2. clima agradável; 3. tranquilidade; etc

■ Relatos que confirmam as vantagens de morar em Santa Elena (EIJ e EIS) ■ Relatos sobre as desvantagens de morar em Santa Elena:

1. cobrança de propina a brasileiros na alfândega (GF, p. 9)

2. humilhação que brasileiros sofrem em território venezuelano (GF, p. 10 e 15);

3. críticas à vestimenta brasileira (GF, 16 e 17)

1. O sujeito da (na) fronteira

■ Relação língua e nacionalidade: falar bem espanhol e português = ser brasileiro e venezuelano

■ Relação língua e nacionalidade: 1. falar espanhol com pronúncia de brasileiro = ser brasileiro (EIS)

2. falar português sem a pronúncia de brasileiro = ser venezuelano legítimo (EIS).

3. Realizar fonema consonântico /r/ = ser venezuelano (GF, p.12).

4. Realizar fonema consonântico /h/ = ser brasileiro (GF, p. 12)

2. O processo de aquisição e ensino da língua no espaço fronteiriço

■ Representação dos sistemas escolares:

1. preferência pelas escolas brasileiras.

2. localização das escolas em relação ao comércio.

■ Preferência pelas escolas brasileiras (DC, p. 2).

■ Representações do sistema escolar venezuelano (EIS):

1. calendário escolar; 2. currículo escolar;

3. normativa interna (cobrança do uniforme e do material didático).

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2. O processo de aquisição e ensino da língua no espaço fronteiriço

■ Espanhol ensinado na escola é diferente da variedade usada pelo participante em Santa Elena:

1. relatos das diferenças lexicais;

■ Outros depoimentos de confirmação da diferença entre o espanhol da escola e o espanhol de Santa Elena (EIJ, EIC e IES).

2. variedade peninsular ensinada no sistema escolar.

■ A língua como símbolo de

identificação ■ Outros símbolos que marcam a identidade: 1. território (GF, p.07);

2. moradia (GF, p.07)

3. marca fonética da palavra 4. arroz (GF, p. 12);

5. vestuário (GF, p.17); 6. carro venezuelano (EIJ)

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2. O processo de aquisição e ensino da língua no espaço fronteiriço.

■ Relato da aquisição da língua espanhola...

■ Relatos das dificuldades iniciais na utilização do espanhol:

1. episódios intitulados engraçados e constrangedores (EIC e EIS).

2. aquisição da língua na interação (EIJ, EIC e EIS).

3. variação fonética e lexical (EIJ e EIC).

...

Legenda:

EIJ: entrevista individual com Júlia; EIC: entrevista individual com Camila; EIS: entrevista individual com Sara; GF: grupo focal;

DC: diário de campo

No quadro acima, a segunda coluna expõe o conteúdo da gravação em áudio e na terceira fica um espaço reservado para outros registros do diário de campo, do grupo focal e até mesmo das entrevistas dos demais participantes que servem à triangulação do material roteirizado, que ao serem entrecruzados permitem sua confirmação ou contestação e, consequentemente, a seleção dos dados para a análise de forma a responder a pergunta de pesquisa desta investigação a qual reitero a seguir:

De que forma as diversas representações das línguas, português e espanhol, interagem na construção identitária de brasileiros, alunos de uma escola estadual no município de Pacaraima-BR, em contexto de mobilidade geográfica e linguística na fronteira Brasil/Venezuela?

Conforme já mencionei essa pergunta de pesquisa se completa nas seguintes subperguntas:

a) Enquanto sujeitos residentes em Santa Elena-VE e estudantes em Pacaraima-BR, como os alunos brasileiros se sentem nessa mobilidade geográfica e linguística que vivenciam?

b) Em quais contextos e com quais interlocutores os estudantes brasileiros interagem em língua portuguesa e espanhola?

c) Como se dão as práticas linguísticas dos alunos brasileiros na fronteira enquanto resultado do contato linguístico e intercultural entre os venezuelanos e brasileiros?

d) Que relação os indivíduos em foco estabelecem entre a fronteira geopolítica e as línguas, ditas oficiais, faladas nela?

As convenções para transcrição dos dados gerados pela atividade do GF e pelas entrevistas foram adaptadas do projeto “Vertentes do português popular da Bahia”34:

CONVENÇÕES PARA A TRANSCRIÇÃO

P. Participante

(inint) trecho ininteligível

[ ] trecho sobre qual não há certeza na audição “ ” discurso direto produzido pelo participante.

{ } recursos não verbais empregados pelo

participante

... pausa e hesitações durante a fala.

(xxx) comentário da pesquisadora pertinentes para compreensão do trecho.

MAIÚSCULA ênfase ou acento forte.

? Interrogação

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