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1.2 Bem-Estar no Trabalho (BET)

1.2.3 Dimensões constituintes do modelo de Siqueira e Padovam (2008) para BET

1.2.3.3 Envolvimento com o trabalho

A ênfase conceitual dada ao envolvimento com o trabalho foi proposta por Lodahl e

Kejner (1965 em Siqueira & Padovam, 2008), que definiram-no como “[...] grau em que o

desempenho de uma pessoa no trabalho afeta sua autoestima” (p.206). Outra definição foi

elaborada por Muckinsky (2004 em Siqueira, 2008), em que seria o “grau de identificação

psicológica da pessoa com seu trabalho e a importância do trabalho para a autoimagem” (p.139). Siqueira (1995) sugeriu que tal construto evidenciaria o quanto o trabalho é

importante e envolvente para o trabalhador. Atualmente, o envolvimento com o trabalho é visto “como um estado de completa absorção e assimilação pelo trabalho” (Siqueira, 2008, p.139).

Outra concepção contemporânea para entender o envolvimento com o trabalho foi proposta por Csikszentmihalyi (1999 citado por Siqueira, 2008), acerca do estado de fluxo que “acontece no momento em que se harmoniza o que se pensa, sente e deseja” (p.41), ou seja, os pensamentos, sentimentos e desejos entram em sintonia. Ou ainda, entendido quando “o trabalho executado é capaz de absorver e manter o trabalhador imerso na tarefa” (Csikszentmihalyi, 2004 citado por Leal, 2008, p.41).

Esse mesmo autor entende estado de fluxo por momentos que costumam ocorrer quando alguém encara metas que exigem respostas apropriadas. É fácil entrar em fluxo em jogos de xadrez, tênis ou pôquer, porque eles possuem metas e regras para a ação que tornam possível ao jogador agir sem questionar o que deve ser feito e como fazê-lo (Csikszentmihalyi, 1997/1999 em Siqueira & Padovam, 2008).

Para ocorrer envolvimento no trabalho com os funcionários em estado de fluxo, é preciso concentrar-se em um conjunto de metas claras, receber feedback interno acerca de suas atividades no trabalho (reconhecimento da atividade e do desempenho da tarefa) e ter habilidades especiais estimuladas por altos desafios. Ou melhor, encarar desafios condizentes com a sua habilidade e capacidade (Covacs, 2006), de modo que permita executar tarefas situadas no limiar entre o dominar o conhecimento necessário para tal execução e ter o desafio apresentado (Csikszentmihalyi, 2004 em Leal, 2008).

Dominar a função plenamente contribui para “elevar o nível de concentração do empregado, uma vez que ele não precisa se preocupar com os passos que deve obedecer para a realização desta, pois ele já a conhece bem” (Csikszentmihalyi, 2004 em Leal, 2008, p.42). Assim, entende-se que, à medida que o funcionário possui o domínio pleno da sua

função e tem sua atenção integralmente dedicada à realização da tarefa, atinge um grau de concentração que o permite entrar em estado de fluxo e realizar suas tarefas sem necessitar se preocupar com cada etapa de realização do trabalho.

Dito de outra forma por Resende, Martins e Siqueira (2010), no estado de fluxo “a energia psíquica volta-se para a realização da tarefa, o que mantém o trabalhador completamente imerso, concentrado na atividade que realiza” (p.48). Outra interpretação para a teoria do estado de fluxo seria o quanto as pessoas se sentem engajadas à medida que realizem atividades que considerem importantes, e estimuladas por desafios alcançáveis (Covacs, 2006).

Portanto, o envolvimento com o trabalho se refere a um estado de fluxo porque apresenta, principalmente, uma sensação de perda da noção do tempo, a partir do fato de o sujeito estar absorto pelas atividades laborais, as quais controlam suas ações mediante o estado de fluxo que encapsula o sujeito. Dessa forma, no estado de fluxo as ações dos sujeitos são limitadas pela atividade laboral, que englobam o sujeito, controlam suas ações e impõem-lhe limites.

Dessa maneira, o envolvimento com o trabalho é entendido como uma medida que descreve o quanto o trabalhador se encontra absorvido pelo seu trabalho, mergulhado nele, ou ainda, o grau em que o trabalho realizado consegue prover satisfações para o indivíduo, absorvê-lo completamente enquanto realiza as tarefas e ser importante para a sua vida

(Siqueira, 2008). O envolvimento com o trabalho se torna importante por buscar descrever

a ligação que o indivíduo tem com o seu trabalho e essa ligação, mediante Lodahl e Kejner

(1965 em Siqueira & Gomide Jr., 2004), começa ainda no período de socialização do

indivíduo, fase de transmissão de valores sociais relativos ao trabalho.

De acordo com Siqueira (2008), esse fenômeno condizente com o ambiente laboral, fomenta consequências positivas para o indivíduo e para a organização em que trabalha.

Resulta ao indivíduo experimentar uma percepção satisfatória de realização das aptidões, alcançar objetivos pessoais e profissionais e verificar adequações entre a tarefa executada e o trabalho designado, por meio da execução de tarefas ao entrar em um estado de fluxo.

À organização o envolvimento proporciona o aumento de possibilidades de atendimento de metas e ainda colabora para a competitividade empresarial e a conquista de mercados (Siqueira, 2008). Os indivíduos ainda ganham forças para suplantar “as expectativas normais de seu desempenho no trabalho” (Moorhead & Griffin, 1995 em Covacs, 2006, p.30).

O envolvimento com o trabalho possui uma escala construída e validada por Lodahl e Kejner (1965 em Siqueira, 2008) e adaptada ao Brasil por Siqueira (1995). Inicialmente, a escala foi proposta com 20 itens, sendo escolhidos oito dentre estes e adicionados dois para a análise brasileira. Após os cálculos estatísticos de uma aplicação da escala, verificou-se que havia cinco itens com uma frágil homogeneidade, o que reduziu a Escala de Envolvimento com o Trabalho (EET) a cinco itens (α=0,78) a serem respondidos numa escala de 7 pontos, variando de 1 (discordo totalmente) a 7 (concordo totalmente).

É interessante ressaltar que, como qualquer construto psicológico, o envolvimento não é estável e é influenciado pelas características da tarefa e do líder no ambiente de trabalho, além das características pessoais do trabalhador (Siqueira, 2008). Para tanto, deve-se analisar o contexto a ser estudado e levar em conta os movimentos e as ações que abrangem o indivíduo no contexto laboral.

Esta pesquisa teve por objetivo geral testar empiricamente um modelo teórico desenvolvido para o construto bem-estar no trabalho como fenômeno determinado por comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento com o trabalho.

1.3 Modelo Teórico de BET

Para realizar o teste empírico do modelo de bem-estar no trabalho é necessário demonstrar que as variáveis que supostamente o compõem se vinculam de algum modo. Esta seção tem a pretensão de expor algumas pesquisas que demonstram existir uma relação entre os construtos comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento com o trabalho.

Deve-se destacar que há estudos que simplesmente assumem bem-estar no trabalho como constituído pelos construtos citados acima, sem, contudo, ter comprovação empírica para o referido modelo. Apesar de não terem evidências empíricas, esses estudos se apoiam nas relações próximas que as variáveis COA, ET e ST possuem, pois quando o sujeito experiencia bem-estar no ambiente de trabalho tende a apresentar altos índices de comprometimento organizacional afetivo, satisfação no trabalho e envolvimento com o trabalho.

Numa pesquisa empreendida por Traldi (2009) para identificar a influência do comprometimento organizacional na satisfação no trabalho, a autora identificou junto a docentes do curso de Administração de uma IES, que o componente afetivo do comprometimento organizacional se relaciona com algumas dimensões da satisfação no trabalho. Através de regressão múltipla, ela encontrou que o COA colabora para explicar 23% da satisfação com a chefia, em que ao passo que o professor se mantém na instituição porque gosta dela, tende a ser mais satisfeito com a capacidade profissional de seu chefe, além do entendimento e do relacionamento com a figura de comando.

O COA também ajuda a explicar a satisfação com promoções em 16,2%, ou seja, o professor que se mantém ligado afetivamente à instituição tende a se sentir satisfeito com as oportunidades de promoção e a forma como é realizada. Outra relação encontrada foi