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Capítulo 6 Análise Sêmio Retórica do Evento Discursivo

6.8 Episódio Final – 28 de outubro de 2012

Jornal Estado de São Paulo, Jornal Folha de São Paulo e Jornal O Globo.

Figura 6.8.1 Episódio final – 28 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.estadao.com.br / www.folha.uol.com.br / www.oglobo.com. Acesso em: 28 de outubro de 2012.

Fundamentados em pesquisa publicada pelo Instituto Datafolha, encomendada pelo jornal Folha de São Paulo e pela TV Globo, os jornais já apontavam no dia 27 de outubro - episódio sete (07) - véspera das eleições, vitória do candidato do PT, Fernando Haddad. O prognóstico não apenas se concretizou, como também os dados estatísticos apresentados antes e pós o pleito também demonstraram coerência e coesão.

Os dados divulgados pela mídia indicavam uma vitória do petista sobre o tucano por 58% contra 42%. Após o encerramento da apuração, Haddad confirmou o favoritismo com 55,57% dos votos válidos, restando a José Serra a derrota, atingindo a marca de 44,43%. Ou seja, tudo se confirmou dentro da margem erro que, em geral, é de 3% para mais ou para menos.

Outro aspecto relevante divulgado após a conclusão da votação, foi o perfil do eleitor que votou em Haddad. O petista venceu na periferia enquanto Serra teve melhor desempenho no centro, ainda houve captação de votos em reduto alheio por parte Haddad, resultando na conquista de oito (08) zonas eleitorais conforme demonstra a figura a seguir:

Figura 6.8.2 Resultado final – 28 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.eleicoes.uol.com.br. Acesso em: 28 de outubro de 2012.

Tais fatos – Haddad vencer na periferia e Serra, no centro - podem ser justificados se consideradas as estratégia empregadas ao longo do processo, conforme observado no episódio um (01) e quatro (04), Estadão - figuras 6.1.1 e 6.4.1; Folha - episódio quatro (04), cinco (05) e seis (06), figuras 6.4.2, 6.5.3, 6.6.5 e 6.6.3; nas quais ocorrem ataques, investidas nos redutos adversários, projetos e contrapropostas de governo, visando à captação de votos pela conquista em detrimento da rejeição do oponente entre as diferentes classes sociais.

No quadro a seguir é apresentada uma síntese dos episódios investigados, elaborada a partir do raciocínio sintético a posteriori, fruto do processo analítico desenvolvido ao longo deste trabalho. Sua relevância se perfaz à medida que permite a visualização do todo de forma sintetizada:

Quadro 6.8.3 Relações Dialógicas

EPISÓDIOS ENCUNCIADOS ENUNCIADOS ENUNCIADOS

EPISÓDIO.1

Por votos, Haddad e Serra investem em redutos adversários

Lula compara Serra a Collor e diz que "tucano

acha que povo é tonto” (Tira-Teima)

Lula e Dilma atacam Serra durante comício de Haddad

em SP EPISÓDIO.2

Na TV, Haddad exibe padrinhos e Serra fala da gestão na saúde

Em Jundiaí, Lula ataca PSDB e diz que tucanos

são ‘predadores’

Serra sugere que Lula pauta discurso por oportunismo eleitoral EPISÓDIO.3 Na televisão, Serra e Haddad centram programa em parcerias da saúde

Ataques entre Serra e Haddad marcam programa de rádio

Condenação de Marcos Valério no Supremo já soma 11 anos e oito meses

de prisão Mensalão: pena do STF

a Marcos Valério já soma 11 anos e 8 meses

Condenado a pelo menos 11 anos, Valério cumprirá pena em regime

fechado EPISÓDIO.4

Ao vivo: Haddad ataca Serra por visão social; tucano vê inexperiência

Para contrapor Haddad, Serra promete dobrar

Bilhete Único

Julgamento do mensalão: pena de Marcos Valério já somam mais de 20 anos de

prisão Mensalão: Ministros do STF retomam cálculos de pena de 25 condenados EPISÓDIO.5 FHC defende Serra e Haddad afirma que reforçará parcerias com

o Estado

Ministro diz que Serra usa agentes de saúde

para espalhar boatos

STF condena Ramon Hollerbach, sócio de Marcos Valério, a mais de

14 anos de prisão EPISÓDIO.6

Mensalão: Gurgel pede ao Supremo a apreensão

de passaportes dos réus

Eleitor vê Haddad como mais inovador e Serra

mais preparado.

Defesa alega ‘valor social’ de José Dirceu na tentativa

de reduzir pena pelo mensalão. 23h: Haddad e Serra

fazem o último debate pela Prefeitura da cidade de São Paulo

José Serra chama Haddad de ‘delinquente’

após faixa apócrifa

PT vai ao TRE contra José Serra

EPISÓDIO.7

Candidatos trocam ofensas e intensificam

contrapropagandas às vésperas do 2º turno

Haddad será eleito prefeito de São Paulo neste domingo, aponta

Datafolha

Datafolha: Haddad tem 58% dos votos válidos;

Serra vai a 42% Tira-teima: Mensalão,

saúde e transporte dominam último debate

LEGENDAS49 CONTRA PT RELATIVAMENTE

NEUTRO A FAVOR PT

ATAQUE

MÚTUO CONTRA PSDB MENSALÃO A FAVOR PSDB

Fonte: autoria

A partir da organização e sitematizção obtida no quadro 6.8.3, foi possível elucidar o papel enunciativo dos sujeitos discursivos envolvidos neste evento discursivo. Em um primeiro momento, de forma ampla e geral, a partir das categorias criadas por temática e assim classificada por cores, foi mapeada a maneira como cada veículo jornalístico atuou argumentativamente, em meio a esta disputa eleitoral, com relação a ambos os candidatos, resultando nas seguintes premissas:

Gráfico 6.8.4 Proporcionalidade nas Relações Dialógicas.

Fonte: autoria.

49 Partindo do princípio de que a marca e o produto são indissociáveis e que um influencia diretamente

As relações dialógicas depreendidas dos três veículos jornalísticos analisasdos, dividos em sete (07) episódios, revelou, inicalmente, que 7% dos enunciados contribuíram de forma efetiva para a construção de um éthos positivo com relação a Haddad e ao PT.

Em contrapartida, 11% eram de enunciados depreciativos à imagem do petista e, se considerados os 32% destinados ao caso “mensalão”, que direta e indiretamente atinge o PT e respectivamente, Haddad, esse número chegaria a 43% de publicidade negativa contra 18% dos enunciados investidos contra Serra e o PSDB.

Os enunciados que relatavam ataques mútuos entre os candidatos ocuparam 11% das páginas dos tabloides onlines e, aqueles considerados relativamente neutros, obtiveram 21% de recorrência.

Com relação aos enunciados considerados neutros, é necessário que se considere a ausência de enunciatário marcado no discurso, isso, porém, não quer dizer que não esteja destinado a alguém e desprovido de qualquer intencionalidade discursiva, conforme orienta Cássia (2006, p.72) apoiada em Perelman e Mosca (2006):

Partindo do pressuposto de que não existe neutralidade livre das intencioanliddes do enuncador. Deste modo, por mais que os fatos tenham sido descritos de maneira fiel, eles passaram pelo crivo da subjetividade intencional dos enunciadores [...]. Pode-se dizer que a escolha dos termos que regem a argumentação contém a intenção de quem os seleciona e, como a argumentação é a ação que visa à mudança de estado de espírito, é possível afirmar que o portador dessa intencionalidasde argumentativa toma uma posição que lhe seja favorável e a propõe para o seu interlocutor.

Portanto, mesmo os enunciados aparentemente neutros, trazem consigo as intencionalidades dos enunciadores, estabelecendo diálogo com seus interlocutores, de modo que está exercendo atividade retórica, mesmo que despretenciosamente em favor de si, alguém ou algum empreendimento de outra natureza.

Para este trabalho, não cabe o julgamento desta questão; todavia, aparentemente, tanto Serra quanto Haddad se benefeciam desta “neutralidade”, pois o nome dos dois e seus respectivos projetos estão sendo veiculados, têm publicidade; portanto, há bônus e ônus para ambos.

Contudo, não se pode ignorar que há significação sendo produzido no interpretante final, cujos desdobramentos são de natureza desconhecida em razão das próprias limitações científico-metodológicas empregadas neste trabalho.

Embora os dados estatísticos apresentados apontem para outro sentido - para um auditório de representações e tensividade - esse é um raciocínio abdutivo que só poderá ser confirmado mais adiante.

A seguir, é possível observar em separado - jornal por jornal - a recorrência das categorias enunciativas, possibilitando uma aproximação maior e mais íntima com o objeto investigado e suas particularidades e individualidades.

A semiótica de Peirce argumenta que os signos em primeiridade possuem aspectos qualitativos enquanto quali-signo. Portanto, antes de qualquer coisa, deve-se observar a singularidade do signo e seus referentes, considerar a particularidade da mensagem no momento abdutivo, indutivo e, por fim, no dedutivo.

Isto porque, ao passo que somos abduzidos pelo primeiro insight interpretativo, somos levados a intuir; este processo desencadeia atividades de busca no repertório de representações, nas experiências colaterais e nos signos compartilhados, fomentado a produção de modelos interpretativos por meio de recursos metonímicos, metafóricos, símile, analogias etc, culminando em processos reflexivos que possibilitam as deduções necessárias a compreensão dos fenônenos discursivos através da decodificação dos signos.

Adiante, nota-se o gráfico de recorrências enunciativas proporcionais do jornal Estado de São Paulo:

Gráfico 6.8.5 Proporcionalidade nas Recorrências - Estadão.