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Capítulo 6 Análise Sêmio Retórica do Evento Discursivo

6.3 Terceiro Episódio – 23 de outubro de 2012

Jornal Estado de São Paulo

Figura 6.3.1 Estadão - Terceiro Episódio – 23 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 23 de outubro de 2012.

Neste exemplar, constata-se que há uma continuidade da estratégia argumentativa apresentada no segundo episódio no que se refere aos ataques mútuos entre os candidato, conforme ilustra o excerto dois (02).

O tema em questão são as parcerias público-privadas no setor da saúde, sobre as quais o candidato do PSDB argumenta que seu adversário, Fernando Haddad, promoverá mudanças significativas, resultando na piora dos serviços prestados.

Grácio (2010, p. 51), fundamentado em Dan Hample, propõe três níveis de enquadramento para demarcar as repesentações dos argumentos na instância das pessoas comuns, ou como ele póprio denomina, “atores ingênuos”.

O primeiro nível seria o dos objetivos ou motivações, o segundo, o da conectividade entre os objetivos ou motivações entre as partes envolvidas, e o terceiro, o da compreensão reflexiva da própria ideia de argumentação.

No excerto em questão, destaca-se a presença de características do terceiro nível, ou seja, o das conotações que os argumentadores produzem no ato de argumentar, em que a presença do desacordo e da incompatibilidade de objetivos entre os argumentadores é o cerne da argumentação, estando assim ligada a um componente emocional, transgredindo a racionalidade e sem propriamente oferecer razões, podendo ser considerada como uma foma de violência verbal (GRÁCIO, 2010, p. 53).

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Este processo configura uma estratégia argumentativa fundamentada no páthos, estimulando as paixões por meio de signos em terceiridade de efeito funcional, de impacto profundo, pois geram um sentimento de insegurança, medo e desconfiança.

Segundo Grácio (2010, p. 63), a argumentação na perspectiva da comunicação está associada a uma indissociável dimenssão retórica, pois firma a tonicidade do processo argumentativo na tríade aristotélica páthos, lógos e éthos, tendo como motivação a persuasão e/ou adesão dos espíritos à causa em questão.

Nesta perspectiva, se comparados os excertos analisados no episódio (2) - em que a contenda em questão foi disseminada em comícios eleitorais e entrevistas - com o episódio (3), contata-se que novos auditórios são ocupados, sendo estes de maior alcance e audiência. Na figura 6.3.1 - Estadão, o auditório contemplado é a TV e na figura a seguir, 6.3.2 - Folha, o rádio.

Tais fatos evidenciam não só a valorização desta temática e a significação que dela emerge, incidindo diretamente na construção e desconstrução mútua de ambos os éthos enunciadores, bem como proporcionando oitiva aos enunciantes.

Jornal Folha de São Paulo

Figura 6.3.2 Folha -Terceiro Episódio – 23 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.folha.uol.com.br. Acesso em: 23 de outubro de 2012.

Outro aspecto recorrente nos exemplares em questão, e que se soma à figura 5.8.3.3 - O Globo, são as manchetes principais das front pages, que destacam a condenação de Marcos

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Valério, um dos réus do processo que julga desvios de verbas públicas dentre outros crimes, conhecido popularmente como “escândalo do mensalão”, ocorrido durante o governo do ex- presidente Lula do PT.

Jornal O Globo

Figura 6.3.3 O Globo -Terceiro Episódio – 23 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.oglobo.com. Acesso em: 23 de outubro de 2012.

Ainda no versa sobre o “escândalo do mensalão”, destaque-se o jornal o exemplar do jornal Estadão, pois este, além de noticiar, conforme os demais exemplares, informações acerca: do que? Para quem? Por quem? E, quanto? - Também há em sua dispositio o signo “mensalão”, evocando a memoria do enunciatário a fim de que este possivelmente relacione a condenação de Marcos Valério ao escândalo de propina denominado popularmente como “mensalão”.

Um argumento construído por meio do emprego de uma metonímia e por analogia, aproximando Marcos Valério » Lula » PT » Haddad.

A capa da revista Época de 30 de julho de 2012, de maneira singular e semioticamente argumentada, representa o que eclodiria nos jornais aqui analisados, em especial no terceiro episódio, intensificando cada vez mais a aproximação entre o éthos do petista, Fernando Haddad, ao de seus copartidários.

Figura: 6.3.4 Capa Revista Época – 30 de julho de 2012

Fonte: Disponível em: http://colunas.revistaepoca.globo.com/fazcaber/2012/07/27/capa-epoca- mensalao/.Acesso em: 15 de agosto de 2012.

A capa da Revista Época é composta de signos ideologicamente marcados e amplamente compartilhados, tornando o conteúdo e sua expressividade um argumento verbo- visual de forte impacto na desconstrução do éthos do PT.

Há uma coesa relação entre as expressões facial e gestual dos atores, ora dentro de uma estrela de cor opaca e apagada em meio ao todo vermelho, que por sua vez dialoga com o texto “tudo sobre o mensalão”.

Ainda nesta perspectiva, nota-se que o ilocucional de “todo vermelho” e de “tudo sobre o mensalão” evidencia o emprego da figura estilística paronomásia (trocadilho – TODO/TUDO) na construção das premissas que fundamentam o argumento, possibilitando assim a partir de um primeiro raciocínio abdutivo, formular inúmeras proposições e deduções, conforme ilustra o esquema na figura a seguir:

Fonte: autoria

A partir da análise que resultou na figura 6.3.5, recupera-se a premissa bakthiniana de que o homem é um ser dialógico, sua existência está vinculada ao relacionamento com o outro e nunca está completa ou mesmo fechada em si. É por meio do discurso - e tão somente por ele - que este se constrói dialogicamente. Uma forma de diálogo inconcluso, infinito e inacabável que nunca finda, está sempre em movimento, em semiose, produzindo novos sentidos à medida que se relaciona com outros contextos (BAKHTIN, 1979/1974, p. 413).

É inevitável estabelecer uma relação de contingência e analogia entre os atores enunciados na figura 6.3.5, pois as relações propostas são de extrema coesão, confirmando o argumento de que os indivíduos se constroem, dialogicamente, e que por sua natureza inconclusa está em constante transformação, assumindo novos significados no tempo/espaço de acordo com cada situação enunciativa.

Para Bakhtin, o diálogo pode ser compreendido sob duas perspectivas de tempo: a pequena temporalidade - na qual se encontra o diálogo em seu sentido estrito, aquele realizado numa situação determinada - e a grande temporalidade, na qual se encontra o grande diálogo em que:

Não há uma palavra que seja primeira ou a última, e não há limites para o contexto dialógico (este se perde num passado ilimitado e num futuro ilimitado) [...]. Em cada um dos pontos do diálogo que se desenrola, existe uma multiplicidade inumerável, ilimitada de sentidos esquecidos, porém, num determinado ponto, no desenrolar do diálogo, ao sabor de sua evolução, eles serão rememorados e renascerão numa forma renovada (num contexto novo). Não há nada morto de maneira absoluta. Todo sentido festejará um dia seu renascimento (BAKHTIN, 1979/1974, p. 413-414).

Fundamentando nesta reflexão, acredita-se que não só os três (03) exemplares de jornais – Estadão, Folha e O Globo – estão dialogicamente imbricados em torno da mesma temática, como também o exemplar da revista Época, que data três (03) meses de antecedência em relação aos jornais, reforçando a máxima de que “todo sentido festejará seu renascimento”, de modo a tornar a memoria um dos elementos retóricos mais fortes neste contexto argumentativo.

Aproximando este ensaio analítico da visão do linguista francês Patrick Charaudeau, o político pode ser caracterizado como um personagem histórico situado em um cenário, formado por diferentes grupos sociais que anseiam por status e poder.

Neste contexto conflituoso, para emergir como figura altiva, o político cria para si uma representação que vale como imagem de si, e que faz com que a construção do éthos tenha suas próprias características, uma vez que este não é constituído apenas pela imagem do orador e fora do âmbito discursivo, mas sim está relacionado ao exercício da palavra e suas habilidades retóricas.

Em suma, o éthos versa sobre o sujeito da enunciação, pois é ele que enuncia e que está em atividade enunciativa no momento da construção do discurso (CHARAUDEAU, 2008, p. 85). Em consonância com este pensamento, Amoussy (2008, p. 15) destaca a importância de não se confundir as instâncias internas do discurso, que são ficções discursivas, com o ser empírico que se situa fora da linguagem, ou seja, o sujeito sintático desprovido de mecanismo retórico, apenas representado por seus predicativos e não por sua atuação ideológica.

Baseado nos fragmentos analisados, destaca-se a diferença entre o enunciador real - fora do discurso, quase que impossível de ser percebido pelo discurso - e o enunciante como responsável pelos discursos políticos e pela projeção de uma imagem de si e pela depreciação da imagem do outro.

O sujeito enunciador apoia-se em recursos retóricos para tornar sua enunciação aceitável ou recusável, atua polifonicamente por meio do enunciante com lógos semelhante para inúmeros páthos, subordinando o éthos às condições de produção do discurso na tentativa

de associar a imagem discursiva de outrem e seu respectivo status institucional a tema depreciativo.

Por fim, atendendo às questões metodológicas em face dos objetivos deste trabalho, tal como apresentados nos episódios um (01) e dois (02), tem-se um quadro resumo das características e evidências de natureza retórica, semiótica e multimodal hipermidiática reveladas pela análise, onde são demonstradas as propriedades constitutivas dos enunciados analisados no episódio três (03), são elas:

Quadro 6.3.6 Síntese de propriedades do episódio.3.

SÍNTESE DAS PROPRIEDADES DO EPISÓDIO. 3

CATEGORIAS ESTADÃO FOLHA O GLOBO

ENUNCIADOS Na televisão, Serra e Haddad centram programa em parcerias da saúde. Mensalão: pena do STF a Marcos Valério já soma 11 anos e 8 meses.

Ataques entre Serra e Haddad marcam programa de rádio Condenado a pelo menos

11 anos, Valério cumprirá pena em regime

fechado.

Condenação de Marcos Valério no Supremo já soma 11 anos e oito meses de

prisão.

ENUNCIADORES

O próprio jornal O próprio jornal O próprio jornal

ENUNCIATÁRIOS 1.Leitor do jornal, 2. Eleitores favoráveis e do oponente 1.Leitor do jornal, 2. Eleitores favoráveis e do oponente 1.Leitor do jornal, 2. Eleitores favoráveis e do oponente AUDITÓRIOS CAMPO/ESFERA

Pública = web e Ruas Leitor do jornal. 2. Eleitores favoráveis e do oponente Pública = web e TV Leitor do jornal. 2. Eleitores favoráveis e do oponente

Pública = web e Ruas Leitor do jornal. 2. Eleitores favoráveis

e do oponente MODALIDADE

SÍGNICA

1. Signos verbais. 1. Signos verbais. 2. Signos imagéticos

1. Signos verbais, 2. Signo imagético INTERPRETANTE

IMEDIATO Imparcialidade Ataques mútuos Ataque implícito INTERPRETANTE

DINÂMICO Discussão temática Agressão mútua ao Éthos

Agressão ao Éthos de Haddad.

INTERPRETANTE FINAL

Discussão de

propostas Falta de propostas

Relação Haddad, PT e escândalos de corrupção FUNÇÃO RETÓRICA PREDOMINANTE 1. Docere 2. Movere 1. Docere 2. Movere 1.Docere 2. Movere

TIPO DE DISCURSO Deliberativo Deliberativo

Deliberativo TIPO DE ARGUMENTO 1. Argumento Ad hominem 2. Argumento de autoridade 1. Argumento Ad hominem 2. Argumento de autoridade 1. Argumento Ad hominem 2. Argumento de autoridade Fonte: autoria.