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Capítulo 4 – O Discurso na Hipermídia

4.2 Hipertexto, hiperlink e hipermídia

Conforme Landow (2006), inicialmente, pode-se entender o hipertexto como textos compostos por bloco de palavras (ou imagens) ligados e/ou, conectados em uma rede, em uma teia e/ou trilhas, passagens, as quais são muitas e interagem entre si sem que qualquer uma de suas partes possa suprir as demais; estes tipos de texto podem ser vistos como uma galáxia de significados, não uma estrutura de significados.

Landow (2006, p. 2), afinado a Barthes e Michel Foucault, concebe a ideia de texto em termos de rede e ligações, onde as fronteiras de um texto nunca são claras, porque este sempre traz consigo um sistema de referências a outros livros, outras sentenças, ou seja, uma ligação com uma rede de ideias.

O termo hiperlink, Landow (Ibid.) concebe a partir da ideia de que os textos eletrônicos são formas radicalmente organizadas, uma nova tecnologia de informação e de modos de publicação, uma escrita não sequencial, textos que ramificam e autorizam o leitor a fazer escolhas, construindo não apenas uma ligação entre textos, mas sim outras formas de organização de dados - visual, sonora, etc. - caracterizando uma ampliação dos recursos, uma linguagem multimodal.

Nessa perspectiva, é possível notar que as ligações eletrônicas possibilitam agregar a um texto diferentes tipos de informações, comentários e referências de outros autores. Tais aspectos proporcionam experiências de leitura não lineares, ou melhor, multilineares ou multissequênciais, constituindo a experiência básica e o ponto de partida da hipermídia.

Nesse sentido, pode-se dizer que o leitor e o autor estabelecem uma contínua relação de construção de conhecimento, em que os papéis não estão estáticos, pois podem se inverter à medida que novas informações são compartilhadas e reordenadas através de ligações (links). Embora os livros possam ser mais confortáveis para a leitura do que o display do computador, sua estrutura de referenciais não possibilita, por conta de sua linearidade, uma reorganização das informações.

Vale destacar que, para Marcuschi (2004), tanto a hipermídia quanto o texto impresso são, em sua essência, fundamentos dos textos. O autor ainda afirma que ambos não devem ser contrastados a partir de uma visão dicotômica, frisando que os pontos distintivos não estão caracterizados pela linearidade e/ou não linearidade, mas sim pela ocupação que outras linguagens fazem do espaço do texto escrito - tais como vídeos, sons e imagens - que cada vez mais se fazem presentes no texto escrito digital e que, por suas características e conjecturas,

envolvem-se em um processo de ressemiotização na construção de significado, fato que não ocorre na mesma intensidade no texto escrito impresso, devido às limitações físicas:

(...) os hipertextos como os textos impressos são textos. Isto impede que se faça uma distinção nítida e definida entre textos e hipertextos em geral. É também possível afirmar que certos textos impressos são muitas vezes não lineares, assim como muitos hipertextos são absolutamente lineares. Não sendo este, pois, o caminho a seguir (...) não se deve colocar a questão numa visão dicotômica (MARCUSCHI, 2004, p.32, grifo do autor).

Para Landow (2006, p. 6), a leitura através do hipertexto pode produzir leitores ativos por conta dos múltiplos links, que proporcionam ao leitor fazer escolhas durante a leitura, de modo a satisfazer suas expectativas de pesquisa sobre determinado assunto. A quebra dos modelos tradicionais de leitura e de produção de literatura, por sua vez, gera novos conceitos de ficção e organização do saber.

Em harmonia com este argumento, Marcuschi (2005) também destaca que nenhum texto possui significado restrito ao seu próprio conteúdo, tampouco limitado a este. Não há texto de um único autor enquanto sujeito físico, pois a noção de intertextualidade está presente no campo semântico, no tema, na argumentação, o que faz com que todos os textos sejam polifônicos, estabelecendo diálogo entre autor/autor e autor/leitor:

Seguramente, se considerarmos que nenhum texto é apenas de um autor enquanto sujeito físico, já que, segundo o próprio Bakhtin notou, todos os textos são polifônicos ou, como lembrou Kristeva ao introduzir a noção de intertextualidade, todos os textos são intertextuais. Isto quer dizer que todos os textos refletem uma coautoria incontornável, ou seja, podemos quase dizer que a coautoria é inescapável (MARCUSCHI, 2005, p. 202, grifo do autor).

No que se refere ao link, Landow (2006, p. 8) destaca que este possibilita a aproximação entre leitores e escritores, que compartilham e criam redes, comunidades de adeptos de assuntos de interesse comum. À guisa de exemplo, destacam-se os blogs, um hipertexto atípico, um sistema que permite aos leitores adicionarem seus próprios links e materiais, postarem comentários sem desarranjarem o texto original postado, tal experiência conota uma participação ativa e criativa, constituindo um leitor-autor-crítico.

Prosseguindo nesse raciocínio temático e confirmando o potencial aferido ao instrumento em questão, Marcuschi (2004) acrescenta que os links não são simples interconectores ingênuos, tampouco conduzem a uma leitura objetiva e direta, pois todo o trabalho de conexão está vinculado à necessidade de pesquisa e de construção da rede temática

em que se opera, ou seja, cabe ao leitor estabelecer relações através de processos cognitivos que o conduzam aos seus propósitos investigativos e/ou produtivos:

(...) os links que sempre são tidos como interconectores que guiam de forma objetiva e direta a textos ou blocos informacionais novos, estão submetidos a uma complexa retórica de ação a ponto de não ser possível sequer controlá- los. Não são propriamente os links enquanto itens lexicais ou expressões linguísticas que fazem o trabalho de conexão, mas o propósito da busca ou da

construção do link (...). Eles são instrumentos interpretativos e não simples

instrumentos neutros e ingênuos de relações constantes e estáticas (MARCUSCHI, 2004, p.56, grifo do autor).

Ainda versando sobre a questão, Landow (2006, p. 12) argumenta que a maior força do hipertexto está na capacidade de permitir ao usuário encontrar, criar e seguir múltiplas estruturas conceituais em um mesmo corpo da informação.

Nessa direção, foi pensada a criação de um dispositivo, o memex15, que deveria imbuir mais eficiência, mais humanidade, um modo de manipular fatos e a imaginação, tal como os processos cognitivos da mente que trabalham por associação de ideias, pensamentos, de acordo com algumas redes imbricadas e através de trilhos utilizados pelas células cerebrais para a busca de informações solicitadas.

A proposta que o memex traz é de uma concepção de novas formas de leitura e escrita por meio de processos de associações de ideias (links), formando blocos de textos em um contexto digital.

Sendo o link o componente principal da estrutura do hipertexto, as formas de caracterizá-lo pautam-se na funcionalidade e praticidade que esses dispositivos oferecem ao usuário, para tal são estabelecidas algumas categorias:

1° direcional lexia to lexia;

2° bidirecional linking of two entire lexias to one another; 3° linking a string - that is, word or phrase;

4° linking joining a string to an entire lexia bidirecional (Linking HTML); 5° unidirecional string-to-string linking;

6° links bidirecional to navegate in hiperspace even easier;

7° one-to-many linking (obtém diferentes informações de um mesmo site de texto);

8° many-to-one linking (para criação de funções de glossário);

9° typed link (forma de limitar um link eletrônico para um tipo específico de relação).

Através das diferentes categorias e funcionalidades dos links, a capacidade da hipermídia aberta proporciona o compartilhamento de documentos de outras pessoas, outros softwares, construção de redes, comunidades; o que acaba por esbarrar em problemas de autoridade intelectual, políticas de direitos autorais, dentre outros, por conta de sua estrutura dinâmica e implícita.

É fato que, toda mudança nas mídias acarreta perdas e ganhos, como por exemplo, a influência do oral no escrito, a troca de dados sem autorização dos proprietários intelectuais, a quebra dos cânones etc.

É importante salientar que à medida que os avanços tecnológicos se dão, nossa cultura e sociedade precisam ser recaracterizada o que, por sua vez, gera o sentimento de perda dos modelos, dos meios e tradições. Contudo, há de se considerar os ganhos, principalmente, no que se refere à estandardização dos meios de produção da informação e do acesso a essa.

Para Landow (2006, p. 31), nos processos de assimilação da sociedade em torno das tecnologias de informação os quais são denominados de imidiação e remidiação16, cabe salientar que a tecnologia da informação já existia antes do digital, e que talvez o ponto a ser analisado seja a presença da tecnologia digital no meio social, pois esse pode vir a ser o ponto crucial para entendermos os impactos desta, e não apenas os aspectos de modificação nos meios de informação e em seus novos signos.

Em suma, a tecnologia digital de informação e seus componentes - hipertexto, links eletrônicos, web, etc. - recaracterizam a relação entre leitor e escritor, professores e alunos, suscitando a necessidade de reflexão dos efeitos sobre tais experiências, redefinindo, assim, papéis no trabalho docente.

Uma redefinição também dos direitos intelectuais e de propriedade; uma reavaliação dos conceitos da literatura tradicional em relação aos processos de ressignificação; uma análise dos impactos de sua presença na sociedade e nos meios de produção de informação, acesso e sociabilização destas tecnologias.

Nesse sentido, entendemos que a sociedade pós-moderna, ao passo que desenvolve cada vez mais novas tecnologias digitais, também sofre transformações recorrentes destas. O

16 Grifos do autor.

hipertexto digital, por sua essência multilinear e infinita, constitui um universo incomensurável de significados em que os paradigmas comunicacionais são modificados por influência de diferentes recursos midiáticos que passam a ter espaço no corpo dos textos que transitam nas redes.

O hipertexto digital pode ser visto como meio e produto das práticas sociais discursivas, sendo constituído de diferentes gêneros emergentes deste contexto, cujas características estão pautadas na multimodalidade que enfatiza a natureza multissemiótica das representações e na ressemiotização que explora as dimensões materiais e historiadas das representações17.

Sendo assim, entende-se que o hipertexto digital (hiperlink/ hipermídia), por sua natureza multissemiótica, tem o seu desenvolvimento diretamente influenciado pela multimodalidade e pelos fenômenos de ressemiotização, no que se refere a sua essência representativa e por ser instrumento de práticas discursivas sócio-historicamente constituídas.

Capítulo 5 - Metodologia e análise preliminar

17 “(...) maneiras socialmente constituídas de perceber, configurar, negociar, significar, compartilhar,

e/ou redimensionar fenômenos, mediadas pela linguagem e veiculadas por escolhas lexicais e/ou simbólicas expressivas que dão margem ao reconhecimento de um repertório que identifica o indivíduo em sua relação sócio-histórica com o meio, com outro e consigo mesmo” (FREIRE; LESSA, 2003 p. 174).