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Capítulo 6 Análise Sêmio Retórica do Evento Discursivo

6.4 Quarto Episódio – 24 de outubro de 2012

Jornal Estado de São Paulo

Figura 6.4.1 Estadão - Quarto Episódio – 24 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.estadao.com.br. Acesso em: 24 de outubro de 2012.

Neste episódio, constata-se no excerto um (01), retirado do exemplar do Estadão – figura 6.4.1, um dado recorrente ao longo deste trabalho investigativo. Observa-se que, ao se referir a Haddad, o enunciainte emprega novamente o verbo de ação “atacar”, ao passo que para Serra, utiliza-se do verbo sensorial “ver”.

A partir desta constatação, torna-se cada vez mais latente a estratégia argumentativa de agregar ao éthos do petista predicativos pejorativos que conotem uma personalidade bárbara e rude, enquanto que o psdbista recebe atributos que o qualificam como intelectual e erudito, pois o verbo “ver” neste enunciado conota “pensar”.

Outro aspecto relevante deste enuciado é a exploração do campo semântico do verbo “ver” em processo de derivação regressiva “visão”, que é empregado na investida de Haddad contra Serra, gerando um argumento autoexcludente e paradoxal, pois como pode Serra não ter visão, se ele vê a inexperiência de Haddad? Embora “visão” neste cenário conote “consciência”, em linhas gerais, a visão é atributo de quem vê.

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Há também a presença de uma aliteração em favor deste argumento: VIVO – visão – vê; fato que contribui para o direcionamento das atenções para o conjunto sintagmático em questão e que trabalha em favor do candidato José Serra.

Jornal Folha de São Paulo

Figura 6.4.2 Folha - Quarto Episódio – 24 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.folha.uol.com.br. Acesso em: 24 de outubro de 2012.

No exemplar da Folha, na figura 6.4.2, ambos os candidatos aparecem em mais duas manchetes que, no entanto, não somam a este episódio grande valor argumentativo. Talvez, mesmo que minimamente, o excerto dois (02) explicite uma estratégia de contra-argumentação sobre a temática do Bilhete Único, cujo propósito seria desclassificar o lógos de Haddad, prometendo o dobro. Uma espécie de argumento hiperbárico em busca da captatio benevolentiae do páthos.

Entretanto, o que realmente se evidencia aos olhos desta investigação - devido a sua recorrência ao logo deste trajeto analítico - é a constante presença de manchetes a respeito do “valérioduto” ou “mensalão”, nomenclaturas que foram disseminadas e popularizadas, e que dizem respeito a um grande esquema de corrupção investigado pela Polícia Federal, que indiciou e levou à condenação de empresários e políticos da alta cúpula do PT, colocando o partido no epicentro deste crime contra o patrimônio brasileiro.

Neste episódio, observa-se nas figuras 6.4.1 Estadão, 6.4.2 Folha e 6.4.3 O Globo (a seguir), em seus respectivos excertos um (01), que são manchetes que evidenciam a notícia crime - “mensalão” - apresentando a punição do condenado com total destaque. Tal conclusão

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é possível, pois a dispositio dos discursos das respectivas front pages ocupam o campo central ou à esquerda do campo superior, ou seja, enquadramentos cientificamente difundidos e legitimados como sendo de primeira atenção do olhar.

Jornal O Globo

Figura 6.4.3 O Globo - Quarto Episódio – 24 de outubro de 2012.

I Fonte: Disponível em: www.oglobo.com. Acesso em: 24 de outubro de 2012.

Tais proposituras culminam em conclusões que vão além das questões até aqui apresentadas, pois revelam uma relação dialogicamente efusiva entre os veículos de comunicação aqui analisados – enunciantes – e os interesses do(s) enunciador(es) do PSDB.

Ao darem ênfase às notícias de escândalos de corrupição envolvendo membros do PT, corroboram o candidato do PSDB em seu projeto de construção de um éthos ilibado e, em contrapartida, fortalecem a depreciação e deturpação da imagem de Haddad, além de fomentarem, de forma elíptica, analogias metonimicamente embricadas.

O incidente do “mensalão” é signo ideológico constituído, tornando-se símbolo da corrupção do governo petista na esfera federal. Constitui uma experiência colateral altamente compartilhada capaz de deflagrar e incitar a colera por parte do páthos - eleitor- uma vez que ele é o maior prejudicado com os efeitos das práticas ilícitas que foram cometidas pelos entes envolvidos.

Deste modo, a recorrente e constante apresentação dos fatos relativos a este caso dividindo espaço com manchetes sobre a disputa para a prefeitura de São Paulo, afeta diretamente o éthos do PT e, respectivamente, o do candidato Haddad. Prova disso é que o próprio site oficial de campanha de Serra explora o fato, operacionalizando a intellectio com o slogan: “ O PT só cuida do PT”, insinuando que há cooporativismo e cumplicidade amoral dentro das esferas administradas por parte dos políticos petistas.

Figura 6.4.4 Site oficial Serra45 - 23 de outubro de 2012.

Fonte: Disponível em: www.serra45.com.br. Acesso em: 23 de outubro de 2012.

Aprofundando esta questão, é possível inferir que a estratégia argumentativa é construída por contigência, fundamentada na aproximação dos escandalos de corrupção à imagem de Haddad, buscando a ratificação do argumento e visando à sua confirmação.

Este ciclo de validação se dá por meio da recorrência dos temas e pelas unidades de significado que massivamente são compartilhadas, passando a povoar as mentes e/ou o conjunto de espíritos - alusão proposta por Perelman ao que chamamos de auditório que se objetiva convencer, no caso, o eleitor.

A constante aproximação entre as notícias negativas sobre o PT na esfera administrativa federal e os eventos discursivos que permeiam o 2º turno das eleições municipais paulistanas, visa conduzir o raciocínio do páthos a uma lógica de contingência e analogia, pois torna possível o desencadeamento de inúmeras premissas e proposições com desfecho quase que irrefutável, como ilustra a figura a seguir:

Figura 6.4.5 Argumento Metonímico e análogo.

Fonte: autoria.

Para melhor explicar de que forma este episódio da análise culmina nesta figura aqui denominada como “argumento metonímico e análogo”, entende-se que o caráter análogo está no fato de que o PT está envolvido em escândalos de corrupção na esfera federal, logo, o que poderá garantir que Fernando Haddad - que também é do PT - não esteja envolvido, uma vez que era Ministro da Educação deste governo liderado pelo presidente Lula, seu apoiador e maior cabo eleitoral? Basta comparar, se ocorreu na esfera federal por que não aconteceria na municipal?

O aspecto metonímico se dá na medida em que o eleitor (páthos) conclui que Haddad é membro do PT, ou seja, está contido no todo, logo, deve compactuar do mesmo modus operandi, julgando assim a parte pelo todo.

Essas questões, certamente, não estão fechadas e sem respostas, nem sequer são verdades absolutas, contudo, constituem-se como argumentos lógicos e fortes, com certa maestria sofística no emprego da dispositio em articulação com a inventio, a elocutio e a memoria.

Em suma, um lógos retoricamente estruturado e capaz de desencadear no eleitor uma sensação de desconfiança, medo e incertezas. É impreterível considerar também que tão

poderoso quanto um discurso bem elaborado, é o meio pelo qual este é vinculado, seja pelos níveis de audiência e/ou pela abrangência e/ou seja pelo éthos legitimado ao longo dos tempos.

Neste sentido, Ciotola (2015) argumenta que:

A força da mídia não está apenas em construir a realidade, mas também em ocultá-la. Quem tem poder para difundir notícias, tem poder para manter segredos e difundir silêncios. Podemos concluir que uma parte do que de importante ocorre no mundo, ocorre em segredo e em silêncio, fora do alcance dos cidadãos. A média de horas que um brasileiro fica diante da TV é de 4 horas, recebendo uma grande 'carga de informação', porém cabe a nós perceber que a mídia não é onipotente. Devemos exercer de forma pacífica e legítima o nosso poder, diria o quinto poder, lutando pela democratização dos meios de comunicação, pois com isso certamente a mobilização popular e as iniciativas de mudanças serão muito mais fáceis e rápidas.

Queiroz (2004, p. 129), França (2004, p. 39) e Gregolin (2006, p. 12), ao constatarem o poder de influenciar dos meios, evocam o pensamento de Foucault apresentado na citação seguinte como resposta aos fenômenos discursivos veiculados na mídia. Este pensamento se ajusta às diferentes circunstâncias discursivas em análise neste trabalho, motivo pelo qual fecha de forma efusiva as proposições e inferências levantadas neste episódio:

Cada sociedade tem seu regime de verdade, sua “política geral” de verdade. Isto é, os tipos de discursos que ela acolhe e faz funcionar como verdadeiros; os mecanismos e as instâncias que permitem distinguir os enunciados verdadeiros dos falsos, a maneira como se sanciona uns e outros, as técnicas e os procedimentos que são valorizados para a obtenção da verdade; o estatuto daquelas que têm o encargo de dizer o que funciona como verdadeiro. Foucault (1979, 12).

Frente ao exposto e atendendo às questões metodológicas em face dos objetivos deste trabalho, tal como apresentados nos episódios um (01), dois (02) e três (03), há abaixo um quadro resumo das características e evidências de natureza retórica, semiótica e multimodal hipermidiática reveladas pela análise, onde são demonstradas as propriedades constitutivas dos enunciados analisados no episódio quatro (04), são elas:

SÍNTESE DAS PROPRIEDADES DO EPISÓDIO. 4

CATEGORIAS ESTADÃO FOLHA O GLOBO

LÓGOS

ENUNCIADOS

AO VIVO: Haddad ataca Serra por visão social; tucano vê inexperiência.

Mensalão: Ministros do STF retomam cálculos de

pena de 25 condenados

Para contrapor Haddad, Serra promete dobrar Bilhete Único Julgamento do mensalão: pena de Marcos Valério já somam mais de 20 anos de prisão ENUNCIADORES 1. Haddad = explícito 2. Ministros STF = explícito

1. Serra = explícito 1. Jornal 2. Ministros do STF

ENUNCIATÁRIOS Jornal

Poder Judiciário Jornal

Jornal Poder judiciário AUDITÓRIOS

CAMPO/ESFERA

Pública = web e Ruas 1. Leitor do jornal, 2. Eleitores favoráveis e do oponente Pública = web e TV 1. Leitor do jornal, 2. Eleitores favoráveis e do oponente

Pública = web e Ruas 1. Leitor do jornal, 2. Eleitores favoráveis

e do oponente MODALIDADE

SÍGNICA 1. Signos verbais

1. Signos verbais

1. Signos verbais

INTERPRETANTE IMEDIATO

Serra prioriza classes altas e Haddad é

inexperiente

Serra está apelando para o exagero

Depreciação do Éthos de Haddad. INTERPRETANTE

DINÂMICO Agressão mútua ao Éthos

Agressão mútua ao Éthos Agressão ao Éthos de Serra INTERPRETANTE FINAL

Serra governa para os ricos e Haddad é

inexperiente

Serra apela para o desespero, para falácias

O partido de Haddad está envolvido em corrupção FUNÇÃO RETÓRICA PREDOMINANTE 1. Delectare 2. Movere 1. Delectare 2. Movere 1. Delectare 2. Movere 3. Docere TIPO DE

DISCURSO Deliberativo Deliberativo Deliberativo

TIPO DE ARGUMENTO 1. Analogia 2. Comparação 3. Argumento de autoridade 1. Alegórico = Lula 2. Falacioso = Serra 1. Argumento de autoridade 2. Argumentos ad hominem Fonte: autoria.