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A equidade nas práticas médicas: possibilidades para a formação Nas considerações acima, equidade em saúde contempla formulações

No documento EDUCAÇÃO POPULAR, EQUIDADE E SAÚDE (páginas 44-47)

conceituais, tecnologias sociais de conhecimento e intervenção, práticas relacionais entre Estado e cidadãos e destes entre si. Nesse sentido, as práticas de saúde e a prática médica em particular expressam relações de equidade ou iniquidade considerando que, como qualquer prática humana, compreendem a

episteme, ou seja, o plano do conhecimento geral reconhecido como ciência, a techne, a dimensão técnica que expressa o saber transformado em instrumento,

e a dimensão da práxis, das interações subjetivas entre população, profissionais e gestores que acontecem nos espaços coletivos e os modos singulares como cada indivíduo vive, interpreta e expressa essas exigências (AYRES, 2008).

A centralidade na ênfase na equidade em saúde aponta possibilidades mais objetivas de apropriação da temática no rol de competências, habilidades e atitudes a serem desenvolvidas durante a formação médica por meio de dispositivos institucionais como o lançamento do Edital Nº 24/2010 – CAPES/ DPB/CGPE/CII - PRÓ-ENSINO NA SAUDE que fomentou estudos e formação pós-graduada sobre o ensino da saúde, a criação do Programa Mais Médicos, em 2013, que tinha como um dos eixos o reordenamento da formação médica descentralizando o acesso, e, em 2014, a publicação das Diretrizes Curriculares para os cursos de Medicina.

Outro dispositivo é o que possibilita a aproximação do processo de formação do que se encontra preconizado, aqui denominado de dispositivo social por agregar forças de movimentos de discentes, docentes e entidades da sociedade civil em direção a mudanças na formação médica, e de movimentos sociais respaldados nas políticas nacionais de Promoção da Equidade no SUS e Educação Popular e Saúde.

A EQUIDADE EM SAÚDE NA FORMAÇÃO MÉDICA EDUCAÇÃO POPULAR, EQUIDADE E SAÚDE

O lançamento do PRO-ENSINO pela CAPES, teve a participação de várias Instituições de Ensino Superior (IES) desenvolvendo linhas de pesquisa que refletiam sobre as condições institucionais e os referenciais teóricos e metodológicos do ensino da saúde na formação de profissões da saúde.

Contemplada no edital, a UFPI apresentou o Projeto Ensino na saúde: Educação e Saúde: bases epistemológicas e metodológicas da formação de profissionais para o Sistema Único de Saúde, constituindo grupo de pesquisa sobre o tema em articulação com o Núcleo de Estudos em Saúde Pública (NESP), composto por mestrandos e docentes dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem, Políticas Públicas, Ciências e Saúde, alunos e docentes da graduação de Medicina, Odontologia e Farmácia, fundamentando pesquisas e dissertações sobre vários aspectos das condições de formação.

A Lei 12.871, de 22 de outubro de 2013, que institui o Programa Mais Médicos para o Brasil (PMMB), além do objetivo de provimento emergencial de profissionais médicos em locais de difícil acesso, indica o reordenamento da oferta de cursos de Medicina e de vagas para residência médica, priorizando regiões de saúde com menor relação de vagas e médicos por habitante; estabelece ainda novos parâmetros para a formação médica no país como responsabilidade social e vinculação do curso a um território; e institui o aperfeiçoamento de médicos na área de atenção básica em saúde, mediante integração ensino-serviço, inclusive por meio de intercâmbio internacional nessas regiões (PEDROSA, 2019).

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) de 2014 (MEC/CNE, 2014) definem conhecimentos, habilidades e atitudes a serem desenvolvidos na formação médica em torno de três áreas-base: atenção à saúde, gestão em saúde e educação em saúde, de modo a atingir o perfil necessário, qual seja:

O graduado em Medicina terá formação geral, humanista, crítica, reflexiva e ética, com capacidade para atuar nos diferentes níveis de atenção à saúde, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, nos âmbitos individual e coletivo, com responsabilidade social e compromisso com a defesa da cidadania, da dignidade humana, da saúde integral do ser humano e tendo como transversalidade em sua prática, sempre, a determinação social do processo de saúde e doença (MEC/CNE, 2014).

E no que se refere à dimensão da atenção à saúde individual e coletiva, acrescenta em seu Artigo 5º:

Na Atenção à Saúde, o graduando será formado para considerar sempre as dimensões da diversidade biológica, subjetiva, étnico-racial, de gênero, orientação sexual, socioeconômica, política, ambiental, cultural, ética e demais aspectos que compõem o espectro da diversidade humana que singularizam cada pessoa ou cada grupo social (...) (MEC/CNE, 2014. p.2).

Os incisos seguintes que detalham o Artigo fazem referência ao acesso universal e à equidade como direito à cidadania, sem privilégios nem preconceitos de quaisquer espécie, tratando as desigualdades com equidade e atendendo as necessidades pessoais específicas, segundo as prioridades definidas pela vulnerabilidade e pelo risco à saúde e à vida, observado o que determina o Sistema Único de Saúde (SUS); integralidade e humanização do cuidado por meio de prática médica contínua e integrada com as demais ações e instâncias de saúde; preservação da biodiversidade com sustentabilidade; ética profissional; comunicação, por meio de linguagem verbal e não verbal, com usuários, familiares, comunidades e membros das equipes profissionais; promoção da saúde, como estratégia de produção de saúde; cuidado centrado na pessoa sob cuidado, na família e na comunidade, no qual prevaleça o trabalho interprofissional, em equipe; promoção da equidade no cuidado adequado e eficiente das pessoas com deficiência, compreendendo os diferentes modos de adoecer nas suas especificidades.

Em relação à gestão em saúde, as DCN pontuam a gestão do cuidado articulando saberes para a construção de planos terapêuticos, a valorização da vida, a tomada de decisões com base nas evidências científicas, a escuta das pessoas, grupos e comunidades, a comunicação apropriada, a liderança exercitada na horizontalidade das relações interpessoais que envolvam compromisso, comprometimento, responsabilidade, empatia, o trabalho em equipe, a construção participativa e a participação social articulando ensino, serviço e comunidade.

Na área de educação em saúde, as diretrizes expressam que “o graduando deverá corresponsabilizar-se pela própria formação inicial, continuada e em serviço, autonomia intelectual, responsabilidade social [...]” (seção III, Art. 5º), sendo para tanto necessário aprender a aprender, aprender com autonomia, aprender em ambientes protegidos, aprender interprofissionalmente, ao tempo

A EQUIDADE EM SAÚDE NA FORMAÇÃO MÉDICA EDUCAÇÃO POPULAR, EQUIDADE E SAÚDE

em que se compromete com a formação das futuras gerações de profissionais de saúde e o estímulo à mobilidade acadêmica e profissional.

Ao lado disso, vinham sendo acumuladas várias ações voltadas para modificações na formação médica, como as iniciativas da Associação Brasileira de Educação Médica (ABEM) — propiciando formação docente em metodologias ativas, processos de avaliação de aprendizagem e formação de preceptores.

É importante destacar a atuação de docentes e estudantes que discutiam a articulação do ensino em saúde com o SUS como a do projeto Vivência e Estágio na realidade do SUS (VERSUS), iniciativa do MS apoiada pela Associação Brasileira da Rede Unida, Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Saúde (CONASS), Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (CONASEMS), Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no sentido de qualificar a formação de profissionais de saúde engajados, críticos e mobilizados para a radical melhoria do sistema de saúde brasileiro, conduzido pelo coletivo de discentes envolvidos.

Digno de destaque também se encontra o Programa Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET SAÚDE), instituído pelo MS e Ministério da Educação (MEC), em 2008, com objetivo de ampliar, promover, articular e apoiar ações e atividades de formação voltadas às mudanças das graduações na saúde e à integração ensino-serviço-comunidade articulados à educação permanente, tendo como pressupostos a educação pelo trabalho e a integração ensino-serviço-comunidade, envolvendo docentes, estudantes de graduação e profissionais de saúde que tomam como objeto de pesquisas e intervenções as necessidades dos serviços.

Cabe dizer ainda que o processo de institucionalização do Curso de Medicina da UFDPar inicia ao mesmo tempo que o PRO-ENSINO, é implantado no contexto do PMM e de políticas públicas de saúde votadas para a inclusão social e integralidade do sistema, no momento de adequação às DCN Medicina de 2014 — sugerindo indagações a respeito dos efeitos desses dispositivos em seu desenvolvimento.

Metodologia

As reflexões aqui levantadas têm como base informações contidas nos documentos referentes ao Curso, pesquisa de atualização da bibliografia nacional

e internacional sobre o tema e vivências e anotações do pesquisador que participou ativamente da elaboração e implantação do curso analisado.

O universo da pesquisa é o Curso de Medicina na atual UFDPar, inicialmente caracterizado como descentralização da formação para o Campus Ministro Reis Velloso (CMRV) em Parnaíba, distante 340 km da capital Teresina. O CMRV na cidade de Parnaíba foi contemplado no Plano de Expansão da UFPI em 2001, dispondo de oito blocos, divididos entre Diretoria, blocos de salas de aula, departamentos e laboratórios, funcionando nos turnos manhã, tarde e noite, ocupando uma área de 7.193 m2. Oferece 11 cursos de graduação: Ciências Econômicas; Ciências Contábeis; Administração de Empresas; Engenharia de Pesca; Licenciatura em Pedagogia, Biologia e Matemática; Psicologia; Fisioterapia; Biomedicina; Turismo; e, a partir de 2014, o curso de Medicina.

Com base na Lei no 13.651 de 11/04/2018 (Brasil, 2018), foi criada a Universidade Federal do Delta do Parnaíba (UFDPar) a partir do desmembramento da UFPI,que integra ao campus de Parnaíba, com a transferência automática dos cursos de todos os níveis e dos alunos regularmente matriculados, assim como os cargos ocupados e vagos do quadro de pessoal da UFPI alocados nesse campus.

O curso iniciou suas atividades em 19 de setembro de 2014, tendo como atribuição a formação de acordo com o perfil explicitado nas DCN Medicina 2014, ofertando 80 vagas anuais com entrada semestral por meio do Sistema Unificado de Seleção Universitária (SISU). Dos 55 docentes efetivos, 20 (36,36%) são contratos em regime de Dedicação Exclusiva (TIDE), 23 (41,82%) são contratados em Tempo Integral (TI-40) e 12 (21,82%) são contratados em regime de Tempo Parcial (TP-20). Conta, atualmente, com 148 alunos ativos.

Para as DCN Medicina 2014,

o Projeto Pedagógico que orientará o Curso de Graduação em Medicina deverá contribuir para a compreensão, interpretação, preservação, reforço, fomento e difusão das culturas e práticas nacionais e regionais, inseridas nos contextos internacionais e históricos, respeitando o pluralismo de concepções e a diversidade cultural (DCN Ar 27).

Dessa forma, o Projeto Pedagógico do Curso (PPC) do Curso de Medicina da UFDPar foi tomado como principal fonte de informações para análise da

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aproximação ou distanciamento das possibilidades para o ensino da temática da equidade em saúde, dialogando com as observações registradas pelo pesquisador.

Em seguida identifico na matriz curricular os módulos cujos conteúdos evidenciam questões relativas à equidade em saúde por meio de palavras chave contidas em seu ementário e a bibliografia recomendada.

Resultados e discussão

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