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Analisando os dados relativamente ao grau de tolerância/aceitação dos inquiridos quanto á violência nas relações de intimidade (física ou emocional), e procedendo à percentagem do somatório dos itens, verificamos que, no geral, os estudantes inquiridos são discordantes com as crenças legitimadoras da violência, com percentagem maior de respostas no “Discordo totalmente” (40,40%). Contudo, 19,30% das respostas situam-se no “não concordo nem discordo” e 11,8% no “concordo”, “concordo totalmente”. (Gráfico 2.1).

Gráfico 2.1 – Percentagem de estudantes relativamente a discordância/concordância das crenças legitimadoras da violência

A média do score da ECVC é de 51,19, com o desvio padrão de 15,06 com valor mínimo de 25 e máximo de 106, sendo nesta escala o valor mínimo possível 25 pontos e máximo de 125 pontos, revelando os valores mais elevados uma maior legitimação das crenças sobre violência conjugal.

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Relativamente aos fatores de legitimação das crenças sobre violência conjugal, os valores mais elevados das respostas situam-se no fator 3, legitimação da violência motivada por causas externas e preservação da privacidade familiar” (21,02), seguindo-se o fator 1 “Legitimação e banalização da pequena violência” (20,88) (Quadro 2.1 3).

Quadro 2.1.3 - Médias dos scores da Escala de Crenças sobre a Violência Conjugal

ECVC n Média DP Min Max

Fator 1“Legitimação e banalização da pequena violência”

688 20,88 8,11 11 55

Fator 2“Legitimação da violência pela conduta da mulher”

688 9,33 3,96 5 25

Fator 3“Legitimação da violência motivada por causas externas e preservação da privacidade familiar”

688 21,02 5,37 9 38

Total 688 51,19 15,06 25 106

No que se refere à hipótese formulada: H1- Os estudantes do sexo masculino revelam uma maior legitimação das crenças sócio – culturais sobre a violência nas relações de intimidade? Pela aplicação do teste de Mann-Whitney para amostras independentes, os resultados das médias indicam que a hipótese formulada foi corroborada, existindo diferenças significativas, entre os sexos, em cada um dos três fatores e na ECVC total, com valores superiores de legitimação de violência nos estudantes do sexo masculino (Quadro 2.1.4).

Quadro 2.1.4 - Resultados das diferenças de média dos Ranks na ECVC pela aplicação do teste Mann-Whitney U de acordo com o sexo.

ECVC Sexo Média do Rank p

Fator 1“Legitimação e banalização da pequena violência” M (n=418) F (n=264) n r (n=6) 364,94 257,34 - ** Fator 2“Legitimação da violência pela conduta da mulher” M (n=418)

F (n=264) n r (n=6) 376,52 263,00 - ** Fator 3“Legitimação da violência motivada por causas

externas e preservação da privacidade familiar”

M (n=418) F (n=264) n r (n=6) 370,75 251,05 - ** Total M (n=418) F (n=264) n r (n=6) 355,80 228,49 - ** *Significativo ao nível 0,05 ** Significativo ao nível 0,001

parte iii. 2 - estudo 2 – 1ª fase – pré programa

Relativamente à hipótese 2: H2- Os/as estudantes mais jovens revelam uma maior legitimação das crenças sobre a violência nas relações de intimidade? Pela aplicação da Correlação de Spearman, a hipótese formulada não foi corroborada. Verifica-se a existência de diferenças significativas no fator Fator 1“Legitimação e banalização da pequena violência” e na ECVC total, mas com valores superiores de legitimação nos estudantes mais velhos.

No fator 2“Legitimação da violência pela conduta da mulher “e 3 “Legitimação da violência motivada por causas externas e preservação da privacidade familiar” os resultados mostram a não existência de diferenças significativas de acordo com a idade, com valores de p ›0,05.

Quadro 2.1.5 - Resultados da aplicação da Correlação de Spearman entre as dimensões da ECVC e a idade dos estudantes

ECVC Idade

Spearman’s p

Fator 1“Legitimação e banalização da pequena violência” 0,083 *

Fator 2“Legitimação da violência pela conduta da mulher” 0,009 ns

Fator 3“Legitimação da violência motivada por causas externas

e preservação da privacidade familiar” 0,058 ns

Total 0,082 *

*significativo ao nível 0,05 ** Significativo ao nível 0,001

2.1.4 - Discussão

Os resultados da aplicação da Escala de Crenças sobre Violência Conjugal (ECVC) revelam discordância com as crenças legitimadoras da violência, com percentagem maior de respostas no “Discordo totalmente” (40,40%). Porém, encontram-se ainda 11,8% das respostas situadas no “concordo” e concordo totalmente”. Na pesquisa desenvolvida por Mendes e Cláudio (2010), os/as estudantes também mostram, no geral, discordância relativa à legitimação da violência conjugal, com 54% das respostas situadas no “Discordo totalmente” e 30% no “Discordo” e uma reduzida frequência de respostas no “Concordo” (5%) e o “Concordo totalmente” (1%), inferiores às verificadas neste estudo. Na opinião de Afonso (2010), muitas das crenças que legitimam a violência relacionam-se com a desigualdade entre homens e mulheres, quando se considera que os homens têm direito ao controle dos membros da

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família. Esta perspetiva com frequência é aprovada pelas mulheres, crianças e sociedade, sendo perpetuada e transferida pelos adultos na educação das crianças.

A percentagem de respostas assinaladas no “não concordo nem discordo” (19,30%), é superior ao verificado no estudo de Mendes e Cláudio (2010). Podemos considerar que estes resultados podem indicar algum desinteresse face a este tipo de violência, tendo por base a existência de uma disposição cultural para aceitar a violência como natural e comum, sendo interpretados, por vezes, os atos agressivos como normais no quotidiano (Machado, 2010; Mendes & Cláudio, 2010).

Os valores da média dos scores da ECVC, (51,19), revelam uma baixa tolerância aos comportamentos violentos e são próximos dos encontrados no estudo de Caridade (2011). Os resultados relativos aos fatores de legitimação das crenças sobre violência conjugal apresentam valores mais elevados no fator “Legitimação da violência motivada por causas externas e preservação da privacidade familiar”, representadas na ECVC, entre outras justificações, pela tolerância á violência relacionada com desemprego, consumo de drogas e álcool e importância da união da família mesmo em presença de violência.

Seguem-se os valores relacionados com a “Legitimação e banalização da pequena violência”, que inclui itens que desculpabilizam atos de violência considerados mais “leves”, nomeadamente julgar normal a existência de insultos entre casais e uma bofetada como um ato habitual e sem gravidade. Estes resultados são similares aos encontrados no estudo de Mendes e Cláudio (2010).

Na investigação de Caridade (2011), o fator com valores mais elevados situa-se na “Legitimação e banalização da pequena violência”, esta diferença, comparativamente com esta pesquisa, pode estar relacionada com o número de fatores da escala que se apresenta diferente nos dois estudos, o fator “Legitimação da violência motivada por causas externas e preservação da privacidade familiar”, poderá corresponder na investigação referida, aos fatores “Legitimação da violência pela sua atribuição a causas externas” e “ Legitimação da violência pela preservação da privacidade familiar”, verificamos que, nessa amostra, os valores referentes a estas condutas, quando analisados conjuntamente, são também elevados. A atribuição da culpa a fatores externos diminui a responsabilidades do agressor pelo abuso, transferindo esta culpa para causas como o álcool e a droga, também a propensão para manter a privacidade familiar, pesando aqui os fatores ligados à preservação do núcleo familiar, onde a importância das relações vinculadas e os fatores emocionais, podem evitar a procura de ajuda e apoio (Caridade, 2011).

Estes resultados favorecem a conceção de família e de lar como um contexto pessoal e particular, onde todas as situações que ocorrem são pertença apenas das pessoas que o compõem. Para reforçar esta perspetiva, baseamo-nos em Afonso (2010) que refere o

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conceito de “lar” como lugar privilegiado de bem-estar e segurança da mulher representando um local privado, onde a entrada de pessoas estranhas à família não deve ser permitida e em que todos os problemas devem ser resolvidos pelos seus membros.

Relativamente à hipótese formulada H1, se os estudantes do sexo masculino revelam uma maior legitimação das crenças sócio-culturais sobre a violência nas relações de intimidade, verificamos que esta foi confirmada, existem diferenças estatisticamente significativas nos valores encontrados entre os dois sexos, tanto nos resultados referentes à Escala de Crenças sobre a Violência Conjugal (ECVC) global como em cada um dos três fatores, com valores superiores de legitimação de violência nos inquiridos do sexo masculino. Estes resultados corroboram os encontrados noutros estudos (Afonso, 2010; Caridade, 2011; Mendes & Cláudio, 2010; Matos et al, 2006). No estudo de Ribeiro e Sani (2008), os resultados mostram equivalência no geral, na opinião acerca das crenças em relação à violência, entre inquiridos/as de ambos os sexos, contudo, apresentam diferenças significativas nos fatores socioculturais, onde os rapazes revelam maior concordância com estes argumentos na justificação da violência.

No que se refere à hipótese H2, se os/as estudantes mais jovens revelam uma maior legitimação das crenças sócio – culturais sobre a violência nas relações de intimidade, esta não foi confirmada. Contudo, nesta amostra, encontramos diferenças significativas no fator Fator 1 “Legitimação e banalização da pequena violência” e na ECVC total, mas com valores superiores de legitimação nos estudantes mais velhos. No fator 2 “Legitimação da violência pela conduta da mulher” e 3 “Legitimação da violência motivada por causas externas e preservação da privacidade familiar” os resultados mostram a não existência de diferenças significativas de acordo com a idade.

Estes resultados não corroboram os encontrados noutros estudos onde são os estudantes mais jovens que revelam valores significativamente mais elevados de legitimação (Caridade, 2011; Mendes & Cláudio, 2010). A pouca amplitude das idades da amostra neste estudo poderá relacionar-se com estes resultados, porém, espera-se que a maior consciencialização face a este fenómeno produza nos jovens uma tendência para a diminuição da violência e da sua legitimação, promovendo a procura de relacionamentos saudáveis.

2.1.5 - Conclusões

Os resultados desta investigação permitem corroborar muitos dos encontrados em outros estudos. Verificamos que, na sua maioria (68,9%), os/as jovens inquiridos/as discordam das crenças legitimadoras da violência, contudo, foram encontradas ainda respostas de concordância (11,8%), relativas a este tipo de atitudes que justificam as condutas violentas.

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Os valores mais elevados relacionados com justificação da violência pelas causas externas como o álcool, as drogas, o desemprego e a preservação da privacidade familiar, indicam que, na opinião dos/as participantes, se explicam e se justificam, em alguns contextos, comportamentos violentos nas relações de intimidade. Esta perspetiva pode sugerir, não só, alguma desculpabilização do agressor, mas também, a indicação de alguma culpa por parte da vítima, aspeto pouco promissor na construção de relações de intimidade que devem ser baseadas na igualdade e no respeito mútuo.

Os resultados mostram também, um maior nível de legitimação da violência nos indivíduos do sexo masculino, o que poderá estar relacionado com fatores de origem sociocultural, particularmente as conceções mais tradicionais resultantes da construção social da masculinidade, com resistência a atitudes mais afetivas e emocionais e com assimilação de papéis relacionados com força física e conflitos relacionais, para evidenciar o seu poder e domínio das situações, validando deste modo algumas condutas de controlo e violência na intimidade.

No que se refere à idade, os resultados indicam que num dos fatores de legitimação e na Escala no global, os/as estudantes mais velhos revelam valores superiores de legitimação. Esta constatação sugere que as intervenções sobre esta temática devem incluir o maior número de jovens abrangendo todas as idades, desde as mais precoces até aos jovens adultos, para a sua consciencialização sobre esta temática e promoção de relações saudáveis.