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O programa de intervenção “Não à violência. (Re) aprender competências” planeado e desenvolvido pela investigadora, é organizado com base na experiência de trabalho noutros projetos de educação para a saúde, assim como, em pesquisa abrangente sobre o fenómeno da violência nas relações de intimidade, mais especificamente nas relações de namoro e na sua prevenção.

Todo o trabalho desenvolvido nesta fase se orienta no sentido da informação e sensibilização dos estudantes, sobre o fenómeno da violência nas relações de namoro, o seu impacto na saúde e no bem-estar das pessoas, assim como, na importância do desenvolvimento de algumas competências sociais promotoras de relações saudáveis.

O programa foi concretizado através da realização de sete sessões formais de 90 minutos, a 20 turmas (grupo experimental), de duas escolas secundárias, num total de 310 alunos. A sua realização foi integrada na disciplina de Área de Integração numa das Escolas, na outra, dentro do tempo planeado para diferentes disciplinas do plano curricular. Acontece sempre com a presença de professores da respetiva escola/disciplina.

O programa foi cumprido em todas as turmas. Na apresentação dos diferentes conteúdos são utilizadas predominantemente metodologias ativas, com envolvimento do grupo, no sentido da reflexão, discussão e partilha de aprendizagens, porém, nem sempre se revela fácil conseguir motivação e participação ativa de todos os participantes. Alguns dias, com maior número de sessões, estas são concluídas com alguma dificuldade, principalmente em turmas menos envolvidas e menos disciplinadas. Contudo, duma forma geral, os/as estudantes mostraram-se interessados/as e motivados/as, e muitos docentes que assistiam às sessões, principalmente os/as que seguiam o programa duma forma mais assídua, envolveram-se no trabalho a desenvolver e incentivaram os alunos à participação ativa. No sentido de refletir acerca do conceito de sexo e género e a forma como o masculino e o feminino são construídos, desenvolveu-se um estudo integrado na primeira sessão da intervenção. Os resultados confirmam que o género, baseado nas caraterísticas anatomofisiológicas, constitui um componente relevante no desenvolvimento dos rapazes e das raparigas, na construção da sua masculinidade ou feminilidade e na forma como participam na vida familiar e social. Sendo que as diferenças de género começam a ser

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diferenciadas desde cedo, onde os comportamentos, as brincadeiras, as tarefas e a imagem exterior se revelam com perspetivas de adequação diferentes de acordo com o sexo biológico.

Sugerem ainda os resultados, que se mantêm em evidência muitos aspetos ligados a uma sociedade de domínio patriarcal, onde por tradição para o homem é expectável maior acesso ao exterior, maior liberdade de ação (“ser mais independente”, “ser trabalhador e responsável”), sendo-lhe permitidas algumas caraterísticas (“ser duro” “não demonstrar fraquezas/ emoções”), que podem revelar não apenas diferenças de género mas o perpetuar das desigualdades e alguma permissão para as condutas violentas.

O trabalho desenvolvido relativamente à perceção acerca das causas e consequências da violência nas relações de namoro verificamos, pelas respostas dos/as estudantes, que a opinião aponta principalmente para as causas relacionadas com fatores individuais, o ciúme, o álcool e as drogas, revelando desta forma alguma desculpabilização da violência praticada, imputando a culpa a causas externas e fora do controle do agressor, sendo possível a justificação ser baseada no comportamento da vítima que o provoca, nomeadamente a violência legitimada pelo ciúme. Estes resultados vêm também ao encontro do estudo previamente referido, com uma percentagem relevante de jovens e adolescentes com percepções acerca da violência no sentido da sua desculpabilização.

Relativamente às consequências da violência, os achados sugerem que as lesões físicas são as mais relevadas para esta amostra, as marcas no corpo, principalmente no rosto, são uma evidência do que representa a violência, constituindo-se enquanto imagem social que carateriza o fenómeno. Contudo, também se salientam os problemas psicológicos e comportamentais, sendo expostos por um número elevado de indicadores, assim como, as consequências fatais apontadas por muitos dos estudantes, revelando um reconhecimento da abrangência e gravidade deste tipo de violência.

No que se refere à perceção sobre a frequência das práticas violentas nas relações de namoro, apesar de a maioria dos/as jovens referir que são muito frequentes, uma percentagem significativa considera ainda estes acontecimentos pouco frequentes. A sustentação destas respostas pode estar relacionada com a falta de clarificação do que são condutas violentas, sendo estas, muitas vezes, consideradas regulares durante os relacionamentos amorosos e a normalização de alguns comportamentos desculpáveis principalmente pelo ciúme, pode ofuscar por vezes o que é um relacionamento de namoro saudável.

Quando questionados sobre a ajuda a prestar, neste tipo de situações, a maioria dos/as estudantes, refere que se propõe ajudar. Observando a importância que representa para esta faixa etária o grupo de pares, esta intervenção pode ser facilitadora, mas a interferência só será possível se houver capacidade e conhecimento para identificar, em primeiro lugar,

parte iii. 5 – ConClusão Geral

que a violência está a acontecer, em segundo lugar, o risco envolvido e, em terceiro, os procedimentos necessários para intervir de forma adequada.

Muitas vezes as/os jovens querem acabar com a violência mas não com o namoro. Apesar de difícil, se houver o reconhecimento da situação, a sinalização poderá ser um passo importante para a ajuda por outros intervenientes como pais, professores, técnicos de saúde e outros/as técnicas/os especializadas/os.

Na avaliação final da realização do programa, pelas pontuações obtidas, o programa foi, no geral, considerado bom. Como participante direta, não só em todo o planeamento mas também na execução do programa, a avaliação indica, nas suas diferentes dimensões, o que é importante manter e o que deve ser alterado, no sentido da qualidade dos programas a desenvolver.

Os resultados mostram que a participação no programa foi a dimensão menos conseguida. O envolvimento dos/as estudantes em atividades fora do âmbito educativo formal da instituição não se apresenta ainda como muito relevante para a vida da escola. Não obstante, envolver os/as jovens nas questões importantes relacionadas com a sua saúde é um trabalho essencial e prioritário para os profissionais de enfermagem, planeando, executando e avaliando intervenções de educação para a saúde nas escolas, permitindo um trabalho efetivo e continuado com participação de toda a comunidade escolar.

Neste sentido, julgamos fundamental a sensibilização e informação a desenvolver com as/os jovens no sentido de os capacitar para a identificação de situações de violência que possam estar a acontecer nas suas relações de namoro ou com os seus pares. O reconhecimento, a ajuda e ou denúncia destas situações devem representar para os jovens um dever cívico, valorizando cada acontecimento e atuando direta ou indiretamente com auxílio de familiares, professores, técnicos de saúde e outras/os técnicas/os especializadas/os, no sentido colaborar na resolução deste tipo de situações e na prevenção das consequências que daí podem ocorrer.

5.3 - Impactos do programa de intervenção e implicações para a prevenção da