• Nenhum resultado encontrado

5.1 Refletir sobre as crenças e autoconceito na adolescência para pensar a prevenção

Os estudos que precederam a realização do programa de intervenção permitiram identificar as crenças envolvidas na legitimação da violência nas relações de intimidade, e as diferenças

parte iii. 5 – ConClusão Geral

encontradas de acordo com o sexo e a idade dos/as inquiridos/as. Possibilitaram ainda

conhecer o autoconceito de género e a sua relação com crenças de legitimação da violência nas relações de intimidade, assim como a opinião dos estudantes relativamente à perceção de terem sido ou não vítimas de violência nas suas relações de namoro.

Os resultados revelam que uma grande percentagem (68,9%) dos/das jovens inquiridos/ as discorda das crenças legitimadoras da violência, porém, foram ainda encontradas respostas de concordância, relativas a atitudes que desculpam as condutas violentas em 11,8% da amostra. Os valores mais elevados situam-se nas crenças fundamentadas na justificação da violência motivada por causas externas (o álcool, as drogas, o desemprego) e na preservação da privacidade familiar.

Estas evidências sugerem que, na opinião dos/as participantes, se explicam procedimentos violentos nas relações de intimidade em algumas circunstâncias, procurando justificação para estes comportamentos com base principalmente em causas que ultrapassam a vontade do agressor. Surge ainda de forma evidente a perspetiva de família como núcleo fechado, onde os problemas devem ser resolvidos sem interferência de “estranhos” e a preservação da família mantida independentemente do bem-estar de qualquer um dos seus elementos. São encontrados valores de maior legitimação da violência por parte dos indivíduos do sexo masculino. A existência de maior desculpabilização da violência pelos jovens pode estar associada a fatores de origem sociocultural, especialmente conceções mais tradicionais decorrentes da construção social da masculinidade, onde as atitudes violentas representam caraterísticas comuns e aceitáveis como manifestação do que é ser homem.

Apesar de a amostra apresentar pouca amplitude, foi encontrada maior percentagem de legitimação, nos/as estudantes mais velhos, nomeadamente a relacionada com desculpabilização da “pequena violência”. Tendo em conta que a normalização da violência é facilitadora para a prática das condutas violentas, esta verificação sugere que as intervenções sobre esta temática devem abranger o maior número de jovens de todas as idades, desde as mais precoces até aos jovens adultos, no sentido de promover a sua consciencialização sobre os diferentes tipos de violência e a importância de iniciarem e continuarem as suas relações de namoro de forma saudável.

No que se refere à perceção sobre o autoconceito de género e as diferenças encontradas de acordo com o sexo, alguns dos resultados indicam conceções mais tradicionais relacionadas com o sexo masculino e feminino, verificando-se nos fatores “Agressividade” e “Negligência” valores mais elevados nos elementos do sexo masculino e no fator “Emotividade” valores mais elevados para o sexo feminino. Contudo, no fator “Insegurança”, os valores superiores registados nos inquiridos do sexo masculino contradizem de certa forma os estereótipos ligados à construção dos papéis de género e da masculinidade.

PARTE III. 5 – ConClusão GERAl

Assim, pelos resultados apresentados, apesar de a maioria apontar para particularidades comportamentais determinadas da masculinidade e da feminilidade, algumas evidências podem perspetivar um maior empoderamento por parte das raparigas, não se identificando com algumas das caraterísticas ligadas aos papéis tradicionais de género.

As diferenças de sexo são legítimas mas as caraterísticas de género associadas a feminilidade e masculinidade não podem ser diferenciadas apenas com base nas crenças e nos estereótipos que fundamentam a construção da identidade de género.

Relativamente ao estudo da relação entre o autoconceito de género e as crenças de legitimação da violência nas relações de intimidade, os resultados sugerem que alguns dos fatores do IEAG como “Agressividade” e “Insegurança” e “Negligência” se relacionam com valores mais elevados de legitimação da violência, indicando que os/as estudantes que se identificam com estas caraterísticas aceitam/desculpabilizam algumas formas de violência na intimidade. Por outro lado, atributos ligados a fatores como a “Tolerância “ e a “Emotividade” mostram uma relação significativa negativa apontando para uma não concordância com todos os fatores de legitimação da violência.

Observamos, com base nos resultados apontados, que algumas caraterísticas comportamentais parecem influenciar a forma como os/as jovens percecionam a violência. Contudo, esta desculpabilização não pode ser fundamentada apenas pelas caraterísticas individuais de personalidade, pois as condutas violentas apresentam diferentes origens e são influenciadas por todo o contexto individual, familiar e social, com base numa combinação de valores socioculturais, onde se integram papéis que se revelam diferenciados pelo facto de se ser homem ou mulher.

Relativamente aos resultados de opinião dos/as estudantes, sobre a perceção de terem sido vítimas de violência nas suas relações de namoro, 23,0% respondem afirmativamente, comprovando que a frequência dos comportamentos violentos nas relações de namoro é elevada. Outros resultados revelam que não existe relação entre a ocorrência de violência e o sexo dos inquiridos, indicando, nesta amostra, que as raparigas apresentam comportamentos violentos, nas suas relações de namoro, com igual frequência que os rapazes.

A substancial percentagem de jovens que refere ter sido vítima de violência nas suas relações de namoro apresenta-se preocupante, assim como, o facto de ser uma prática utilizada, nesta amostra, pelos jovens de ambos os sexos. Estes resultados colocam a questão se as raparigas, ficaram mais violentas, ou se esta violência surge apenas como resposta à violência masculina.

As evidências apresentadas reforçam a importância da aplicação de programas de prevenção, para sensibilização e informação no sentido da prevenção de situações de violência. A informação/conhecimento dos/as jovens acerca deste fenómeno e das suas

parte iii. 5 – ConClusão Geral

repercussões na saúde é fundamental no sentido de revelar a importância da sua prevenção, da promoção da saúde e do desenvolvimento de comportamentos que favoreçam as suas relações de intimidade no namoro.