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PARTE II ESTUDO EMPÍRICO

7. Objectivos e Hipóteses do Estudo

7.2 Hipóteses

8.2.2 Escala de Desenvolvimento Mental de Ruth Griffiths

As Escalas de Desenvolvimento Mental de Ruth Griffiths têm sido amplamente utilizadas, desde os anos 50, para avaliação, diagnóstico e aconselhamento educacional (Griffiths, 1984, 1986). A primeira publicação destas escalas ocorreu em 1954, tendo como objectivo a avaliação de crianças dos 0 aos 2 anos.

No seu trabalho de aconselhamento educacional com crianças, Ruth Griffiths sentiu a necessidade de criar uin instrumento de avaliação para o primeiro período de vida. Foi sua intenção criar uma escala que medisse as sequências do desenvolvimento, considerando que, em situações de risco de alterações do desenvolvimento, é fundamental fazer, o mais cedo possível, um diagnóstico da condição mental da criança para que se possa intervir e compensar os défices precocemente (Ferreira, 2003).

A fim de manter uma continuidade coerente na avaliação das crianças após os 2 anos, Ruth Griffiths desenvolveu um prolongamento da escala inicial, publicando em 1970 a 2a versão da Escala de Desenvolvimento Mental de Ruth Griffiths, com uma Revisão da Escala dos 0 aos 2 anos, e uma extensão da Escala para a faixa etária dos 2 aos 8 anos (Griffiths, 1986).

Esta extensão da escala (2 aos 8 anos), permite fazer o seguimento da criança desde a Ia infância até aos primeiros anos escolares, o que possibilita observar, não só o ritmo do seu

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desenvolvimento, mas também a forma e o momento em que emergem novos processos cognitivos, e ainda, quando a criança domina as estratégias essenciais para a aprendizagem escolar (Ferreira, 2003).

As escalas de Ruth Griffiths, para além de serem um teste de despiste, possibilitam uma avaliação global e compreensiva através da análise do perfil de desenvolvimento e dos retestes periódicos. Através destes é possível estabelecer, em cada etapa do desenvolvimento, programas educativos e terapêuticos adaptados às potencialidades e/ou necessidades que se vão revelando (Griffiths, 1986).

Desenvolvidas primeiramente em Inglaterra para a população inglesa, as Escalas de Ruth Griffiths foram posteriormente estudadas e adaptadas em diversos países onde se têm revelado de grande interesse clínico na avaliação, no diagnóstico e no aconselhamento educacional, constituindo ainda uma referência para o estudo do desenvolvimento em diversos trabalhos de investigação (Ferreira, 2003).

A fim de manter a coerência necessária entre as adaptações das Escalas às diversas línguas e populações, e a homogeneidade na forma de aplicação e nas normas utilizadas, no final dos anos 50 Ruth Griffiths e Brian Bume fundaram a Association fo r Research in Infant and Child Developmení (ARIÇD) que tem sido a entidade responsável pelo estudo, aferição e actualização das Escalas, assim como pela formação e supervisão dos Tutores reconhecidos pela ARICD, que promovem os cursos para formação dos utilizadores das Escalas nos diferentes países.

Segundo Ferreira (2003) as normas para aplicação das Escalas em Portugal foram elaboradas pelos Tutores Portugueses, reconhecidos pela ARICD, em 1991. Estas normas têm sido, desde então, divulgadas nos cursos de Formação que têm vindo a ocorrer em Lisboa (20), Porto (2), Évora (1), Funchal (1) e Coimbra (1).

Em 1996, na sequência de estudos sobre a fidelidade e a sensibilidade das Escalas, foi produzida e publicada uma nova versão da Escala dos 0 aos 2 anos, tendo sido, no entanto, preservada a forma geral da versão original que propõè a avaliação global das capacidades da criança agrupando essas capacidades em sub-escalas ou áreas específicas do desenvolvimento (ver Anexo 4):

• A - Locomotora (avalia as capacidades da criança ao nível da sua motricidade global - equilíbrio, coordenação e controlo dos movimentos);

• B — Pessoal/Social (avalia a socialização, a autonomia e as competências ao nível da realização de actividades da vida diária);

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C - Audição /Linguagem (avalia a linguagem da criança ao nível da compreensão

e expressão linguísticas);

D - Coordenação Olho/Mão (avalia a destreza manual, competências visuo- perceptivas e motricidade fina);

!• E - Realização (avalia a rapidez e precisão relacionadas com a motricidade fina).

Estas áreas são extensíveis à escala para crianças mais velhas, mas para as crianças com idade superior a 3 anos é avaliada uma capacidade adicional, através de uma sexta sub- escala ou área específica do desenvolvimento - sub-escala F, Raciocínio Prático (Griffiths, 1984; Griffiths, 1986; Victoria, Victoria, & Barros, 1990). Esta escala avalia a capacidade da criança para resolver problemas práticos, nomeadamente ao nível de tarefas relacionadas com conceitos matemáticos básicos e com a compreensão e uso dos conceitos.

Em cada área ou sub-escala os itens estão organizados em sequências de comportamentos que màrcam o crescimento mental.

As normas portuguesas referentes a esta escala de 1996, bem como o novo material, têm sido apresentados nos cursos de Portugal desde 1998.

A cotação da escala é realizada de acordo com as indicações descritas no manual de aplicação (Griffiths, 1986). Assim, cada item executado com sucesso é cotado com 1 ponto, sendo somados, para cada escala de desenvolvimento, todos os itens realizados com sucesso, j Após o insucesso em 6 itens consecutivos em cada escala, é interrompida a aplicação dessa

escala, passando-se à aplicação da seguinte.

O instrumento permite a obtenção de um resultado global (Quociente Geral - Q.G.) e de resultados parciais (Quocientes Parcelares) para cada sub-escala do desenvolvimento (QA, í QB, QC, QD, QE, QF), correspondendo o resultado global à média aritmética das 6 sub- . escalas do desenvolvimento. É ainda possível a obtenção de um perfil (representação gráfica de Quociente Geral e dos Quocientes Parcelares) que indica as áreas de desenvolvimento mais favorecidas e as mais desvalorizadas em relação ao Quociente Geral de Desenvolvimento da Criança e em relação à média da faixa etária correspondente (ver Anexo 4).

O perfil permite:

• Comparar o desenvolvimento dè uma criança em avaliações sucessivas, informando sobre o seu ritmo de desenvolvimento;

• Comparar os resultados obtidos por uma criança com os resultados da média da sua faixa etária;

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• Verificar se o resultado baixo numa área corresponde a um défice isolado ou se corresponde a um atraso global de desenvolvimento;

• Avaliar a repercussão do eventual défice sobre os diferentes parâmetros do desenvolvimento;

• Interpretar as divergências de resultados nas diferentes áreas.

Dos estudos desenvolvidos em Portugal (e.g. Carneiro et al., 2003; Diniz et al., 2001) e noutros países (e.g. Hanson, 1982; Luiz, Foxcroft, & Stewart, 2001; Smith, Bidder, Gardner, & Gray, 1980; Victoria, Victoria, & Barros, 1990) pode inferir-se que:

• As escalas Griffiths medem um constructo que se revelou consistente para diferentes culturas e diferentes épocas;

• As escalas Griffiths medem um factor - Quociente Geral - que parece ser semelhante em diferentes culturas e que traduz uma capacidade geral;

• Cada sub-escala avalia um processo de desenvolvimento / uma via de aprendizagem / um domínio de funcionamento;

• Na generalidade não há diferenças significativas de desempenho entre diferentes grupos étnicos quando os ambientes sócio-económicos são equiparáveis.

Diversos estudos têm demonstrado a validade e garantia do instrumento (e.g., Griffiths, 1984; Griffiths, 1986; Hanson, 1982; Luiz, Foxcroft, & Stewart, 2001; Smith, Bidder, Gardner, & Gray, 1980; Victoria, Victoria, & Barros, 1990).

Num estudo realizado em Portugal (Carneiro et al., 2003) com cinco grupos etários (3, 4, 5, 6 e 7 anos) conclui-se que a escala apresenta uma boa consistência intema em todos os grupos etários e que a. sua estrutura oferece uma solução unidimensional para todos estes grupos, o que vai ao encontro do racional que presidiu à sua construção.